• Nenhum resultado encontrado

UM EXEMPLO DE PARTILHA DETALHADA DE UMA ÁREA DE ATIVIDADE PROFISSIONAL REPLETA DE “SOMBREAMENTOS”: O

No documento FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO (páginas 68-71)

CASO DO PARCELAMENTO DO SOLO URBANO

Como exemplo notável das situações geradas pelo formalismo das atribuições profisionais, comentamos a regulamentação definida pelo Sistema CONFEA / CREAs acerca das atividades profissionais relacionadas ao PARCELAMENTO URBANO. A Decisão Normativa nº 047, de 16 de dezembro de 1992, dispôs sobre as atividades de Parcelamento do Solo Urbano. Essa Decisão Normativa indica claramente a dependência entre as atribuições profissionais e as disciplinas constantes (e seus conteúdos) dos currículos acadêmicos das profissões regulamentadas.

Cada atividade relacionada ao Parcelamento do Solo Urbano é sistematicamente cotejada com a fundamentação legal que ampara a inclusão de cada profissão nessas atividades detalhadas. Mas ocorrem algumas determinações francamente estranhas, como a exclusão do Arquiteto (e dessa sub-espécie, o Urbanista) do levantamento aerofotogramétrico65; da inclusão de engenheiros eletricistas nos serviços topográficos e no desmembramento e remembramento de lotes, da exclusão do urbanista do projeto geométrico dos parcelamentos, em especial; bem como a inclusão do engenheiro civil em praticamente todas as atividades de parcelamento do solo urbano. Os civis aparecem aqui como “os profissionais” desse tipo de empreendimento, com vantagens sobre todos os demais, esmagadoramente.

E, de acordo com as regras que se vem acolhendo para o julgamento das competências profissionais, cria-se um importante precedente para que se relativize a verdadeira identidade de trabalho profissional multidisciplinar que nada menos é que o próprio projeto urbanístico.

Na verdade, o que se vê plenamente recolocado é esse tipo de projeto, de modo a convertê-lo numa série de aspectos técnicos isolados.

Ora, se o parcelamento do solo urbano é operação fundamental para o projeto urbanístico, a Decisão Normativa nº 47 / 92 acabou por retalhar esse tipo de projeto entre profissionais que têm formação extremamente limitada para sua concepção integral.

Está aí tudo menos a integralidade do projeto de urbanismo, decomposto em peças de um modo mais adequado à sua retalhação, de modo mais adequado ao ajuste de cada aspecto técnico às atribuições paulatinamente acumuladas por algumas profissões no âmbito do próprio Sistema CONFEA / CREAs.

Essa leitura do resultado do tipo de composição realizada na Decisão Normativa nº 47 / 92, entre as atribuições profissionais, faz constatar que a regulamentação profissional pode ser fundamentadamente distorcida.

65 Exclusão que, no caso específico da FAUUnB, apresenta ainda o irônico paradoxo de ter-se centrado

aqui os recursos de um grande projeto de processamento de imagens aerofotográficas e obtidas via satélites, por computador, no Laboratório de Informática aplicada à Arquitetura e Urbanismo.

Isso é afirmado por que as definições das profissões, suas palavras-chave e seus desdobramentos - sobretudo quanto: a) às “afinidades” entre as áreas profissionais, seus objetos e campos conquistados, e; b) a interpretação dos próprios currículos universitários - podem conduzir a interpretações divergentes, mais ou menos inclusivas, ao ponto de se ter definições de atribuições fundamentada mas artificialmente detalhadas, a partir da regulamentação acumulada.

No ambiente político do sistema, ocorre ainda de a inclusão ou exclusão de uma profissão do exercício uma determinada atividade identificada - de agum modo cogitada ou redescoberta, como é o caso - passa a também ser uma questão de poder, de conquista de área de atuação, “em benefício dos profissionais”.

A “engenharia” da negociação entre as atribuições profissionais parece ter atingido seu “ponto máximo” nessa Decisão Normativa 47 / 92, extremamente detalhada. O nível de detalhamento (contrastante em relação às demais decisões normativas) trai a importância do tema, sobretudo para as grandes empresas, empreiteiras e sub- empreiteiras, pois as obras de parcelamento e urbanização envolvem significativos capitais (sobretudo os de origem pública), e é cada vez mais rara a ocorrência dos parcelamentos e urbanizações realizadas por proprietários isolados de solo peri- urbano, com recursos próprios66 - o que é indício de ordenamento da administração pública.

Mas a Decisão Normativa 47 / 92, que pretende organizar a concorrência profissional nesse mercado (dos “parcelamentos do solo urbano”), acaba por desfocar a questão profissional que está por trás das concepções urbanas, de um modo integral.

De forma resumida, as atividades relacionadas ao Parcelamento do Solo Urbano e os respectivos profissionais que podem desenvolvê-las, são as seguintes:

a) LAUDOS TÉCNICOS para atender à Lei 6.466, Art. 3º, Parágrafo Único (de acordo com / e a depender do tipo de laudo, o Engenheiro Civil, o Arquiteto ou Engenheiro Arquiteto, o Engenheiro de Fortificações e Construção, o Geógrafo, o Engenheiro Geógrafo, o Agrimensor, o Sanitarista, o Geólogo, o Engenheiro Geólogo, o Industrial, o Mecânico, o Eletricista, o Florestal, o Agrônomo, o Agrícola, o Engenheiro de Minas, o Cartógrafo, de Geodésia e Topografia, o Urbanista - e este, como o Arquiteto, apenas no laudo específico que atesta se o terreno objeto do loteamento tem ou não declividade igual ou inferior a 30%);

b) SERVIÇOS TOPOGRÁFICOS (o Engenheiro Civil, o Arquiteto ou Engenheiro Arquiteto, o Engenheiro de Fortificações e Construção, o Agrimensor, o Sanitarista, o Geógrafo, o Engenheiro Geógrafo, o Geólogo, o Industrial, o Mecânico-Eletricista, o Eletricista, o Florestal, o Agrônomo, o Agrícola, o Engenheiro de Minas, o Cartógrafo, de Geodésia e Topografia, o Urbanista, o Tecnólogo em Topografia, os Técnicos em Agrimensura, em Estradas, em Saneamento);

c) LEVANTAMENTO AEROFOTOGRAMÉTRICO (o Engenheiro Civil, o Agrimensor, o Cartógrafo, de Geodésia e Topografia, Geógrafo, Engenheiro Geógrafo, o Agrônomo,

66 Nesse sentido, é notável a ocorrência dos “loteamentos irregulares” à volta do Plano Piloto de

Brasília, desde meados da década de 80, realizado em glebas privadas e em glebas públicas, sem a autorização governamental, mas com investimento público (em redes de eletrificação e telefonia, especialmente).

o Agrícola, o Florestal, o Geólogo, o Engenheiro Geólogo - o Arquiteto e o Urbanista estão fora do levantamento aerofotogramétrico);

d) PLANEJAMENTO GERAL BÁSICO / PROJETO DE LOTEAMENTO - tem dois itens:

d.1) PLANEJAMENTO GERAL BÁSICO / PROJETO DE LOTEAMENTO PROPRIAMENTE DITO (o Engenheiro Civil, o Arquiteto ou Engenheiro Arquiteto, o Engenheiro de Fortificações e Construção, o Urbanista);

d.2) DESMEMBRAMENTO OU REMEMBRAMENTO - que consistem na subdivisão da gleba em lotes ou na junção de lotes, respectivamente, desde que não implique na abertura de novas vias e logradouros públicos, nem o prolongamento, modificação ou ampliação dos já existentes (o Engenheiro Civil, o Arquiteto ou Engenheiro Arquiteto, o Engenheiro de Fortificações e Construção, o Agrimensor, o Geógrafo, o Engenheiro Geógrafo, o Industrial, o Mecânico-eletricista, o Eletricista, o Agrônomo, o Agrícola, o Florestal, o Geólogo, o Engenheiro Geólogo, o de Minas, o Cartógrafo, o de Geodésia e Topografia, o Urbanista, o Tecnólogo em Topografia, o Técnico em Agrimensura);

e) PAISAGISMO - tem dois itens:

e.1) PAISAGISMO PROPRIAMENTE DITO (Arquiteto ou Engenheiro Arquiteto, Urbanista)

e.2) PARQUES E JARDINS (Engenheiro Florestal, Agrônomo, Arquiteto ou Engenheiro Arquiteto, Urbanista);

f) SONDAGENS GEOTÉCNICAS (Engenheiro Civil, Engenheiro de Fortificações e Construção, de Minas, Geólogo, Engenheiro Geólogo);

g) OBRAS DE TERRA E CONTENÇÕES (Engenheiro Civil, Engenheiro de Fortificações e Construção, de Minas, Agrimensor);

h) OBRAS DE ARTE, ESTRUTURAS, FUNDAÇÕES E ESTRUTURAS DE CONTENÇÕES (Engenheiro Civil, Engenheiro de Fortificações e Construção);

i) SISTEMA VIÁRIO - tem dois itens:

i.1) TRAÇADO GEOMÉTRICO / PROJETO GEOMÉTRICO (Engenheiro Civil, Engenheiro de Fortificações e Construção, Agrimensor, Arquiteto ou Engenheiro Arquiteto - o Urbanista está fora do projeto geométrico);

i.2) PAVIMENTAÇÃO (Engenheiro Civil, Engenheiro de Fortificações e Construção, Agrimensor);

j) SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA (Engenheiro Civil, Engenheiro de Fortificações e Construção, Agrimensor, Engenheiro Mecânico-eletricista, Eletricista, Sanitarista);

l) SISTEMAS DE ESGOTO CLOACAL E ESGOTO PLUVIAL (Engenheiro Civil, Engenheiro de Fortificações e Construção, Sanitarista);

m) SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA (Engenheiro Mecânico- eletricista, Eletricista).

O CONTRÁRIO DO “SOMBREAMENTO”: ÁREAS DE ATRIBUIÇÕES

No documento FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO (páginas 68-71)