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“EXPLICANDO UM POUCO OS PROCESSOS DE INFRAÇÃO” (UMA APRESENTAÇÃO PRELIMINAR QUE AVANÇA ALÉM DOS ASPECTOS

No documento FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO (páginas 49-52)

ÉTICOS)

O fundamento de todos os procedimentos específicos do exercício profissional da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia está na Lei 5.194 / 66. A definição da “infração” de qualquer aspecto do exercício profissional deve encontrar nela amparo, sobretudo os de natureza ética.

O processamento de infrações não se restringe ao comportamento ético dos profissionais, mas atinge um universo bem mais amplo de eventos, relacionados, por exemplo, à regularidade das obras e serviços ou das empresas / empreendimentos que devam contar com profissionais habilitados, entre outros aspectos contemplados pela Lei 5.194 / 66.

No caso dos profissionais, todas as infrações que cometam terão, necessariamente, conseqüências éticas - o que não tem implicado em seu julgamento formal em todos os casos de infração à legislação profissional. Nem sempre a infração do profissional se torna um caso para o julgamento ético, embora devesse - até pelo desconhecimento e/ou descumprimento da legislação profissional e do Código de Ética.

Esse julgamento formal é realizado, em geral, nos casos de denúncias contra profissionais feitas por seus clientes, por outros profissionais e mesmo pela autoridade pública, com claras evidências de desvio de conduta pelo profissional denunciado. Erros técnicos graves, com prejuízo ao patrimônio de terceiros, danos pessoais e mortes podem acarretar penalizações extremas - e podem ainda depender de perícias e de conclusão de julgamento do profissional pelo Poder Judiciário.

As infrações não se restringem aos erros profissionais: quaisquer cidadão ou organização podem ser autuados, na medida em que descumpram a legislação do exercício profissional. Nesses casos, as infrações mais comuns são relacionadas ao exercício ilegal da profissão de Engenheiro, Arquiteto ou Engenheiro-Agrônomo. Esse é aspecto fundamental do sistema profissional perante a sociedade. O sistema profissional não é concebido para “defender o profissional”, mas para auxiliar o Estado na fiscalização de profissões que empenham grande responsabilidade social em suas realizações. Todo o aparato regulamentador tem como objetivo “defender a sociedade”, num sentido amplo, do interesse coletivo, de modo algum no interesse estrito da corporação de profissionais.

Apresenta-se aos CREAs denúncias de clientes contra profissionais em campos que tem remota ligação com a questão ética, relacionadas a especificidades do cumprimento de contratos e até mesmo desavenças pessoais. Grande parte desse tipo de questão deve ser tratada pela justiça comum, de pequenas causas, sendo o sistema profissional desprovido de competência para efetivamente solucioná-las.

O advento do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078 / 90) representa imenso avanço no campo da defesa dos interesses da sociedade contra os maus prestadores de serviços. Seu conhecimento deve ampliar a consciência da importância dos atos profissionais e da sua responsabilidade perante a comunidade.

Vale ter conhecimento de alguns elementos dos processos de infração, como se originam e se desenvolvem no interior dos CREAs.

Apresentamos a seguir uma súmula da Resolução 207, de 28 de janeiro de 1972, do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, que dispõe sobre os processos de infração, definindo ainda o quê é “reincidência” e “nova reincidência”. • Os processos de infração tem origem nos Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - CREAs. São apresentados de diferentes formas: a) através de relatórios circunstanciados - AUTOS DE INFRAÇÃO - feitos pela Fiscalização do

Conselho Regional (exercida por funcionários do próprio CREA, que têm esse poder com base no Art. 77 da Lei 5.194, que diz: “são competentes para lavrar autos de infração das disposições a que se refere a presente Lei, os funcionários designados para esse fim pelos Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia nas respectivas regiões”) e que devem ser assinados pelo infrator ou por duas testemunhas; b) por denúncia de Conselheiro Regional (sendo seu circunstanciamento mais genérico, e não dispensando a necessária diligência e apuração da denúncia, eventualmente feita pela própria Fiscalização do CREA) e; c) por denúncia de terceiro devidamente identificado, com firma reconhecida (podendo ser ou não um profissional habilitado). Essas denúncias envolvem todo o espectro da regulamentação profissional, e devem ser bem fundamentadas: a falsa acusação contra um profissional ou contra qualquer outra pessoa física ou jurídica tem conseqüências legais severas38. • Toda denúncia deve ser formulada por escrito, detalhando a ocorrência, oferecendo dados para a sua apuração e, eventualmente, julgamento. Há denúncias que podem ser rejeitadas preliminarmente, seja por se tratar de assunto que ultrapasse (ou simplesmente não atinja) a competência do Conselho Regional, seja por sua apresentação e fundamentação inconsistente.

• A falta de assinatura do infrator ou de testemunhas no Relatório da Fiscalização não invalida o Auto de Infração. Ou seja: o funcionário que lavra o Auto de Infração tem a fé do Conselho Regional, e seu registro será acatado para o início do processo de apuração. Caso seja inconsistente o Auto de infração, o funcionário do Conselho Regional poderá ser punido - a não ser que prove ter sido enganado, de algum modo. • A capitulação da infração - ou seja, a sua classificação, o que implica também sua aceitação ou rejeição -, a aplicação de penalidade e a lavratura do Auto de Infração serão determinadas pelo Coordenador da Câmara Especializada.

• Cabe observar que a maioria dos CREAs tem pelos menos as Câmaras Especializadas de Arquitetura, Engenharia Civil, Agronomia, Engenharia Elétrica e

38 Ver, por exemplo o Art. 339 do Código Penal, que diz:

“DAR CAUSA A INSTAURAÇÃO DE INVESTIGAÇÃO POLICIAL OU DE PROCESSO JUDICIAL CONTRA ALGUÉM,

IMPUTANDO-LHE CRIME DE QUE O SABE INOCENTE - PENA: RECLUSÃO, DE DOIS A OITO ANOS, E MULTA.

§1º- A PENA É AUMENTADA DE SEXTA PARTE, SE O AGENTE SE SERVE DE ANONIMATO OU DE NOME SUPOSTO.

Engenharia Mecânica; no caso do DF, soma-se a de Engenharia Florestal (e está em estágio de Comissão Permanente o grupo da Engenharia de Segurança do Trabalho, da qual podem fazer parte arquitetos, caso portem o título de especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho39).

• Quando não existir a Câmara Especializada competente, o próprio Presidente do CREA exercerá essas atribuições.

• Uma vez lavrado o Auto de Infração, o Conselho Regional deve notificar o infrator para que: a) efetue o pagamento da multa no prazo de 10 dias, se for o caso, ou; b) oferecer defesa da infração, no mesmo prazo. Esse envio de cópia do Auto de Infração ao interessado (possível infrator), é feito por meio de registro postal (a correspondência é registrada, havendo controle de sua entrega a tempo). Caso o infrator se negue a receber o Auto de Infração ou obstruir o seu recebimento, essa atitude será também registrada, e o processo prosseguirá. PRAZO DE DEFESA • A Resolução nº 391, 17 de março de 1995 dispôs que o prazo para defesa contar- se-á a partir da entrega comprovada ao autuado do Auto de Infração. Eliminou a obrigação de publicação no Diário Oficial dos autuados semana a semana.

• Caso o infrator não apresente defesa nem pague a multa, será considerado revel - ou seja, será julgado a partir dos dados do Auto de Infração, bem como dos elementos obtidos mediante apuração. Em alguns casos, a critério do Coordenador da Câmara, o prazo para a apresentação de defesa poderá ser prorrogado por mais 10 dias.

• Caso o possível infrator apresente defesa, o processo será relatado (analisado e tomadas as eventuais providências para a apuração) por membro (Conselheiro) da Câmara Especializada; inexistindo Câmara Especializada, o julgamento será feito diretamente do Plenário (conjunto de todos os Conselheiros) do Conselho Regional - indicado seu membro para proceder ao relato.

• Feito o julgamento ao nível da Câmara, e considerado culpado, o infrator será notificado a pagar a multa ou, dentro do prazo de 60 dias contados a partir da data da notificação da decisão da Câmara, interpor recurso ao Conselho Regional.

• Da decisão do Conselho Regional cabe ainda recurso ao Conselho Federal, dentro do prazo de 60 dias - também contados a partir da data de notificação da decisão do Conselho Regional.

• Esses recursos tem efeito suspensivo: durante sua apreciação são suspensas quaisquer providências de cobrança da multa - o que não impede que, a qualquer tempo do prazo de recurso, o infrator solucione seu débito junto ao Conselho Regional. Com o pagamento, o processo é arquivado.

• O infrator não pode recorrer diretamente ao Conselho Federal: seu encaminhamento deve ser feito pelo Conselho Regional, devidamente instruído (analisado), dentro de 30 dias contados a partir do ingresso, pelo infrator, de seu recurso. Caso não seja atendido esse prazo, o infrator pode se remeter diretamente ao Conselho Regional, solicitando a avocação do processo - ou seja, sua compulsória remessa para a apreciação pelo Conselho Federal.

• Julgado o recurso, os autos baixarão para o Conselho Regional executar a decisão, não cabendo recurso administrativo dessa decisão do Conselho Regional (o infrator deverá, se o desejar, representar junto à Justiça Federal).

39 O título de Engenheiro de Segurança do Trabalho pode ser portado por engenheiros e arquitetos que

• A multa que não for paga amigavelmente, transitada a decisão em julgado40, será inscrita na Dívida Ativa e cobrável por via executiva.

• Se a infração apurada constituir violação do Código Penal ou da Lei de Contravenções Penais, o Presidente do CONFEA deve comunicar o assunto à autoridade competente.

• Observe-se que a persistência de uma infração por prazo superior a 15 dias, contado da última notificação, autoriza que o CREA lavre novo Auto de Infração, se o infrator não tiver apresentado defesa. A apresentação de defesa ou de recurso têm o “efeito suspensivo” também nesse sentido.

• Reincidência: se o infrator praticar novamente ato pelo qual foi condenado, transitada em julgado uma infração, dá-se a sua reincidência. Também se considera reincidência a infração ocorrida em outra obra, serviço ou atividade técnica, desde que capitulada ao mesmo dispositivo legal daquela transitada em julgado.

• Nova reincidência: considera-se ainda a nova infração como “nova reincidência”, caso a reincidência transite em julgado, e o infrator repetir a falta incriminada. A multa aplicável ao caso de uma “nova reincidência é igual à da reincidência - podendo ainda ser imposta, pelas Câmara Especializada, a suspensão temporária do exercício profissional por prazos variáveis de 6 meses a 2 anos e, pelos Conselhos Regionais, em Plenário, suspensão de 2 a 5 anos do exercício profissional.

No documento FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO (páginas 49-52)