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Exemplos contemporâneos de descentralização da ação pública no espaço intra-urbano

Capítulo II – Ação urbana descentralizada

6. Exemplos contemporâneos de descentralização da ação pública no espaço intra-urbano

O crescimento da cidade altera substancialmente sua estrutura urbana à medida que surgem novos bairros. A expansão da ocupação e o aumento da população estimulam o aparecimento dos centros de bairros, áreas voltadas ao comércio e à prestação de serviços, atendendo às demandas presentes nas novas áreas da cidade. Este movimento deve ser considerado positivo, pois reduz a quantidade e extensão dos deslocamentos, diminuindo a necessidade de transporte coletivo, facilitando, ainda, o acesso aos serviços públicos e ao comércio. Além disso, estas centralidades assumem um papel importante na constituição da identidade das comunidades locais, funcionando como um ponto de referência e expressão simbólica das condições de vida e das aspirações dos seus moradores.

São grandes as probabilidades, no entanto, de que esses novos usos produzam uma configuração que não é a mais desejável. E, então, em decorrência da forma como se dá a consolidação da estrutura urbana, o centro do bairro enfrenta obstáculos ao seu

Nos parece importante a discussão de propostas que já estão em desenvolvimento no país, principalmente no âmbito do poder local, no entanto, é fundamental registrar o risco da transposição de propostas sem que haja uma profunda pesquisa de reconhecimento das especificidades vividas por cada cidade, região ou mesmo situação objeto de intervenção institucional. Este reconhecimento e a necessária adaptação de diretrizes e procedimentos podem representar parte siginificativa do sucesso de intervenções que se pretendem construtoras de qualidade urbana e inclusão social.

Em Porto Alegre, durante as discussões do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental – PDDUA, a proposta apresentada, “busca uma cidade policêntrica e

descentralizada” que significa estimular múltiplas centralidades que possam representar

novos focos de interesse no espaço urbano. A "centralidade", no processo de elaboração do PDDUA, é vista no seu sentido mais amplo incluindo as noções “de densificação,

concentração, fluxos, animação e diversidade de atividades”23, sem estímulos diferenciados nos índices de aproveitamento para atividades que representem, numa mesma área, diferentes funções.

Para o urbanista Jorge Wilheim, se a cidade de São Paulo estabelecer políticas públicas destinadas a enfrentar os seus problemas mais importantes, como a localização habitacional, os transportes, e mesmo, o desenvolvimento econômico, em pouco tempo haverá uma metrópole caracterizada pela descentralidade, “com centros nos bairros, num

conjunto ligado e articulado por eixos de transporte e adensamento ao longo dela.”

Esses centros, eixos e ocupações poderiam ser alvo de operações urbanas. “Sua

realização deveria ser proposta e negociada com a sociedade e os empresários.” Para ele,

o perfil econômico desses centros seria determinado pelas necessidades de cada bairro.

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“Seria importante que tivessem desde o comércio do dia-a-dia até os serviços

descentralizados.”

Como Wilheim, Raquel Rolnik também defende a descentralização, como forma de promover inclusão social, “não dá mais para subexistir uma metrópole centralizada e

excludente.” A criação de novos pólos, nos bairros, é a forma de garantir qualidade urbana

e ambiental além de desenvolvimento econômico diminuindo inclusive a enorme concentração de renda. Para tanto, Rolnik defende ser necessário haver, nestes locais um conjunto diversificado de atividades e a possibilidade de convivência de diferentes grupos sociais.

Multiplicam-se experiências em cidades brasileiras que, recentemente, propuseram- se a implementar políticas públicas de remodelação ou revitalização urbana de áreas de centros de bairros, estruturando pequenas ou médias regiões, com o objetivo do fortalecimento da relação de centralidade ali representada e da identidade de seus moradores, resgatando não apenas os níveis de sociabilidade de outras épocas, mas também melhorando a disponibilidade de equipamentos públicos, diminuindo o impacto do trânsito naquelas regiões onde, normalmente, se pretende dar prioridade ao fluxo de pedestres e, de modo mais recente possibilitando desenvolvimento econômico melhor distribuído pela malha urbana do município.

Esta aposta na policentralidade e na construção de espaços urbanos qualificados que, combinam oferta de serviços públicos, de espaços de lazer e encontro, de comércio e serviços privados diversificados, busca principalmente a criação de pressupostos que possibilitem o desenvolvimento de novas dinâmicas sociais e econômicas, fortalecendo a identidade do bairro e deste com a cidade.

Com diferentes matizes de intervenção, diversas cidades brasileiras, como Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, entre outras, vêm desenvolvendo programas de qualificação de sub-centros urbanos ou fortalecendo a policentralidade intra-urbana. Estes programas são bastante variados, partindo, em alguns casos, da criação e aplicação de instrumentos legais de fomento ao desenvolvimento de recortes da malha urbana com a finalidade de estruturar esses sub-centros a partir da regulação estatal do investimento privado, da implantação de equipamentos públicos que, buscam definir centralidades em novos aglomerados urbanos (novos bairros) ou, ainda a identificação destas centralidades em

moradores, através da inter-relação dos programas e equipamentos sociais e comunitários, dos novos projetos e programas propostos e das necessidades da comunidade.

Inicialmente foram definidos doze locais de intervenção com base nas tendências de uso e ocupação do solo, sendo que no decorrer do trabalho, outros locais poderiam ser incorporados. De modo geral, as áreas de intervenção se caracterizavam por sua implantação recente e quase total inexistência de equipamentos e serviços públicos, atuando assim como um programa que indicava diretrizes para a estruturação daqueles espaços, porém sem desempenhar nenhum papel na concepção original dos parcelamentos existentes, mesmo sendo estes empreendimentos, em sua maioria, promovidos pela COHAB local.

É importante salientar que apesar da utilização, em diferentes intensidades, nos conceitos e pressupostos das Unidades de Vizinhança, os projetos mais recentes desenvolvidos com objetivo de dotar a cidade de maior qualidade de vida para seus habitantes foram realizadas sobre a cidade existente, não se tratando de projetos de novos espaços urbanos planejados dentro de conceitos próprios. Estes projetos, portanto, se propõem a intervir sobre a realidade instalada, enfrentando enormes dificuldades na consecução de objetivos que, em geral, dariam conta de construir espaços de absoluta qualidade de vida para os cidadãos, qualidade esta que, no conceito das UVs estariam contidas principalmente, em saudáveis relações de vizinhança.

Outras experiências que consideramos importantes no contexto das iniciativas públicas locais, no Brasil, para o fomento da policentralidade urbana estão sendo desenvolvidas nas cidades de Porto Alegre – RS e Belo Horizonte – MG, que buscaram desenvolver programas não necessariamente, de intervenção física mas, no campo jurídico

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e de produção de informações qualificadas no sentido de respaldar intervenções físicas visando o fortalecimento e a diversificação de centralidades intra-urbanas.

7. Porto Alegre – da conceituação de centralidade à intervenção descentralizada – O