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Porto Alegre – da conceituação de centralidade à intervenção descentralizada – O

Capítulo II – Ação urbana descentralizada

7. Porto Alegre – da conceituação de centralidade à intervenção descentralizada – O

Flexibilidade, clareza e simplificação foram palavras chaves no processo de reformulação do Plano Diretor da cidade que gerou o PDDUA, Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental. Deste modo, o desenho urbano deveria refletir também estas palavras associando-as com os conceitos de “cidade miscigenada,

policêntrica e descentralizada” (PDDUA, 1995).

Na proposta apresentada, buscar uma cidade mais miscigenada significava admitir a convivência da atividade residencial com o maior número de atividades não residenciais, mesmo em zonas com predominância residencial. A proposta buscava propiciar que a vida cotidiana incorporasse, também, entre outras, a atividade econômica desvinculada da habitação, desde que considerada compatível com a atividade habitacional. Assim, algumas unidades espaciais de comércio e serviços vigentes de acordo com a legislação, destinados às necessidades diárias da população e com localizações espaciais projetadas, passaram a ser totalmente desnecessários, uma vez que no conceito de cidade miscigenada estas atividades podem estar em qualquer lugar.

O conhecimento da cidade pelos técnicos, confirmado por processos de articulação com as comunidades, deu a noção de que as atividades não residenciais urbanas encontram-se combinadas com as residenciais em grande medida, caracterizando, desta forma, uma situação de uso misto generalizado. Um espalhamento desigual de atividades econômicas, de diferentes tipos e portes tenderia a "borrar" a definição de "centros". Por esse caminho, acreditavam os coordenadores do processo, o tradicional método de mapear as atividades buscando determinar concentrações de diferentes tamanhos, tal como foi feito há 20 anos por ocasião da formulação do Plano anterior, sofreria sérias restrições de precisão. Métodos estatísticos, em que atividades econômicas são ponderadas segundo seu porte e/ou importância, superariam a restrição quantitativa do método anterior, mas ainda

Desta forma, a vinculação declarada entre a magnitude de usuários; quantidades, qualidades e atratividades de atividades e localizações relativas, concorrem para a formação do conceito de centralidade. Além disto, a descrição precisa ser sistêmica, ou seja, vincular as variáveis acima declaradas umas as outras rigorosamente, de forma que a qualquer mudança em uma delas, ocorra mudanças correspondentes em todas as outras.

A noção mais básica e fundamental utilizada durante o processo, que presidiu a definição de "centralidade urbana", “é a de que duas unidades mínimas quaisquer, de

forma edificada, contendo atividades identificáveis, podem ser alcançáveis, de uma a outra, mediante o uso de alguns trechos de espaço público”. A centralidade final pode ser

obtida pelo cômputo das centralidades devidas a cada par do que foi chamado de Unidades de Forma Edificada (UFEs), atribuídas em frações a todos os segmentos de espaço público do sistema.

Desta forma, a medida de centralidade é atribuída ao espaço público. Aqueles trechos de espaço público mais utilizados para promover a acessibilidade entre as diversas UFEs do sistema serão os mais centrais. Por este método se obtém uma descrição da situação da centralidade urbana de Porto Alegre, para aquele momento. As virtudes desta descrição seriam:

− “baseadas nas variáveis sistema viário, estoques e atividades.

Isso significa ter uma descrição da cidade a partir dos parâmetros definidos pelo Plano;

− sistêmicas, o que vale dizer, traz as variáveis acima citadas

estreitamente vinculadas entre si através de relações estáveis e conhecidas. Isto permite descortinar alterações no sistema provocadas pela mudança de qualquer uma das três variáveis incluídas;

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− quantitativas e grandemente desagregada, o que significa uma

maior precisão na medida, decorrente da consideração da grandeza de cada elemento incluído no sistema, e a possibilidade de, por um lado, medir impactos relativos com mais poder discriminatório e, por outro, investigar um largo espectro de relações paralelas entre a medida obtida e manifestações comportamentais urbanas como fluxo, nível de atividade, valor de localização etc.” (PDDUA, 1995).

- O Projeto Centros de Bairros de Porto Alegre.

A Prefeitura de Porto Alegre – RS desenvolve o Projeto Centros de Bairros onde definiu como objetivos reforçar as centralidades já existentes e criar novas centralidades nos bairros na cidade. Estes objetivos fazem parte de uma política de descentralização da ação municipal e buscam a constituição de uma rede de centros autônomos, que possa suprir as demandas dos bairros.

A partir de um grupo de trabalho técnico que reuniu profissionais do município, do estado, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e representantes de entidades comunitárias, foram realizadas atividades de levantamento de dados e caracterização ambiental em áreas escolhidas, tomando conhecimento das principais demandas locais.

Na etapa seguinte foram realizadas "Oficinas de Projetos" nos bairros, para que as diretrizes de intervenção nos bairros fossem identificadas com a participação das comunidades envolvidas. Após um trabalho de discussão no grupo técnico responsável pelo projeto, os resultados das "oficinas" foram submetidos à apreciação dos envolvidos, em reuniões nos bairros. O resultado final desta etapa foi chamado de "catálogo de idéias", que apresentava o potencial de desenvolvimento dos centros de bairros.

Verificando a impossibilidade de implementação de todos os projetos com recursos unicamente municipais, a prefeitura buscou desencadear um processo de consolidação dos centros de bairros que, necessariamente, segundo a formulação oficial, passa pela participação de vários segmentos sociais para sua implantação. Nesta linha de atuação, os investimentos públicos devem ter o caráter de indutores do investimento privado. Ou seja, as ações da prefeitura, previamente discutidas com a população, deverão viabilizar

Os resultados sociais esperados com a implantação de uma política de revitalização ou desenvolvimento dos centros de bairros seriam o aparecimento de novas relações e dinâmicas sociais na vida urbana. A reconfiguração dos espaços públicos do cotidiano do cidadão deveria possibilitar a valorização das identidades locais, estimulando a convivência e a integração dos moradores e usuários. No caso dos bairros periféricos, onde há uma ocupação recente e na maioria das vezes dada por migrantes, este reforço da identidade reduziria a alienação da cidade. Segundo a prefeitura o morador recém-chegado teria mais condições de integrar-se na nova realidade, deixando de ver seu bairro apenas como dormitório.

Outro resultado social importante e de especial relevância em cidades maiores, onde a estrutura urbana torna penoso o deslocamento até o centro da cidade, poderá ser a possibilidade de ampliar o acesso da população aos serviços públicos.

O reforço dos centros de bairros deverá criar condições para o desenvolvimento do comércio e da rede de serviços locais, inclusive gerando empregos para beneficiar os moradores do próprio bairro.

As intervenções urbanísticas nos centros de bairros devem alterar a configuração urbana, estabelecendo novas relações entre cidade e cidadãos. A redução da necessidade de deslocamentos motorizados para trabalho e consumo e aumento da oferta e da qualidade da infra-estrutura, dos serviços e equipamentos de lazer deverão configurar uma tendência. Desta forma, contribuirão para o desenvolvimento de um modelo de cidade que privilegia a qualidade de vida dos cidadãos.

A articulação com empresários locais para a implantação dos projetos poderá criar oportunidades para vencer eventuais resistências que alguns governos do campo

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democrático-popular encontram por parte desse setor. Poderá criar, também, condições para abertura de novos canais de negociação política, inclusive em outras questões.

Por exigir um grande esforço de contato e discussão com os interessados, o processo de intervenção amplia a capacidade de articulação do governo municipal com a sociedade. Pode, ainda, democratizar as decisões sobre projetos e usos do espaço urbano, na medida em que estiver integrado a um projeto mais amplo de descentralização do poder e de participação popular.

8. Índice de Qualidade de Vida Urbana (IQVU) de Belo Horizonte – construindo