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1. OS PARADIGMAS DA CIÊNCIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA: A ESCOLHA RACIONAL E O NOVO INSTITUCIONALISMO

1.1. O paradigma da racionalidade: a Teoria da Escolha Racional

1.1.1. Características da Teoria da Escolha Racional

1.1.1.2. A premissa da racionalidade

1.1.1.2.2. Exigências fortes de racionalidade (thick rationality)

Em se tratando das exigências fortes para que um ator seja considerado racional, pelo contrário, o agente desloca-se de seu mundo subjetivo e passa a estabelecer conexões com a realidade. As exigências fortes de racionalidade (thick rationality), para Tsebelis (1998), estabelecem uma correspondência entre crenças ou comportamento e o mundo real (TSEBELIS, 1998, p. 41).

Assim como são três os requisitos fracos de racionalidade, são

também três seus requisitos fortes: em situações de equilíbrio,32 os atores

obedecem às prescrições da teoria dos jogos; em situações de equilíbrio, as probabilidades subjetivamente estimadas aproximam-se das freqüências objetivas; e em situações de equilíbrio, as crenças aproximam-se da realidade (id. ibid., p. 41).

A primeira exigência forte impõe que, em situações de equilíbrio, os atores obedecem às prescrições da teoria dos jogos. A teoria dos jogos baseia-se na interação estratégica entre atores que se comportam

racionalmente (FIANI, 2004, p. 9).33 Morrow (1994) define-a como uma teoria

destinada a explicar como as decisões individuais estão interrelacionadas e como essas decisões produzem resultados. Em suas palavras, “é uma teoria de decisões interdependentes – quando as decisões de dois ou mais indivíduos, em conjunto, determinam o resultado de uma situação” [Tradução livre]

(MORROW, 1994, p. 1).34

De acordo com Rua e Bernardes (1998), a interdependência de decisões sobre a qual erige-se a teoria dos jogos pode ser descrita em termos de três postulados: o ganho de cada um depende da escolha de todos; o ganho de cada um depende do ganho de todos; e a escolha de cada um depende da escolha de todos. Posto de outro modo, a idéia é a de que em qualquer jogo existem vários jogadores e cada um deve escolher sua estratégia ou ação (RUA & BERNARDES, 1998, p. 327).

O primeiro postulado, o ganho de cada um depende da escolha de todos, significa que, quando todos houverem escolhido suas estratégias, cada um ganha de acordo com a estratégia que ele próprio escolheu e com as estratégias que os outros escolheram (id. ibid., p. 327).

32 Diz-se que uma situação está em equilíbrio quando nenhum dos atores tem interesse em dela se afastar, ou ainda, quando não recebe quaisquer incentivos para dela desviar-se.

33 Lessa (1998) explica que as escolhas e decisões dos indivíduos em sociedade são freqüentemente decisões “coletivas”, no sentido de que os resultados de suas ações isoladas são dependentes de decisões e ações de outros indivíduos com os quais eles interagem. Este tipo de interação, segundo a autora, pode ser teoricamente representado como interação estratégica e modelado como um jogo (LESSA, 1998, p. 1). Embora Lessa (1998) utilize a expressão “decisões coletivas” com outra conotação, é válido acrescentar que a idéia de ação política como sendo uma ação individual em escala aumentada é muito antiga. Elster (1999), contudo, tece uma crítica ferrenha a essa concepção, concluindo que “o processo de tomada de decisões sociais tem, no melhor dos casos,

uma semelhança grosseira com a escolha individual” (ELSTER, 1999, p. 13).

34No original: “it is a theory of interdependent decisions – when the decisions of two or more individuals jointly

Pelo segundo postulado, o ganho de cada um depende do ganho de todos, entende-se que, ao decidir, o ator não considera apenas seu ganho individual, mas também inclui em seus cálculos aquilo que os demais jogadores poderão possivelmente ganhar no jogo (id. ibid., p. 327).

O último postulado, por fim, a escolha de cada um depende da escolha de todos, diz respeito à ação estratégica: o ganho de cada um depende das escolhas de todos, ou seja, o jogo é sempre uma situação de interação que obriga cada um, ao escolher sua estratégia, a considerar o que os outros vão fazer. Assim, cada um deve procurar prever as decisões dos outros, sabendo que eles também estarão tentando prever a sua (id. ibid., p. 327).

O primeiro requisito forte de racionalidade, portanto, significa que o comportamento dos atores “ajusta-se ao mundo real” quando os três postulados da teoria dos jogos são levados em consideração (RUA & BERNARDES, 1998, p. 327). Para Tsebelis (1998), a exigência de que os atores se ajustem às prescrições da teoria dos jogos significa que os jogadores procuram atingir o equilíbrio: ao escolherem estratégias mutuamente ótimas, eles atingem uma combinação da qual nenhum tem interesse em desviar-se

(TSEBELIS, 1998, p. 41; RUA & BERNARDES, 1998, p. 327).35

O segundo requisito forte de racionalidade prescreve que, em situações de equilíbrio, as probabilidades subjetivamente estimadas aproximam-se das freqüências objetivas. Tsebelis (1998) esclarece esta exigência com o seguinte exemplo: suponha-se que alguém adote a crença de que, caso aposte coroa em um cara-ou-coroa, terá exatamente 50% de probabilidade de ganhar a aposta. Mas, suponha-se também que a moeda seja de tal forma cunhada que seja de apenas um terço a probabilidade de dar coroa. Depois de tornar-se evidente que as perdas são mais freqüentes do que os ganhos, o jogador irá rever sua estimativa de probabilidade, logo em seguida alterando suas apostas (TSEBELIS, 1998, p. 43). Assim, caso as estimativas das probabilidades não se aproximem das freqüências objetivas, os atores racionais buscarão melhorar suas oportunidades, fazendo uma reavaliação de suas estimativas iniciais (RUA & BERNARDES, 1998, p. 328).

35 Matemático americano e um dos criadores da teoria dos jogos, John Nash formulou o conceito fundamental dessa teoria, conhecido como o equilíbrio de Nash. Uma situação é um equilíbrio de Nash quando a escolha de cada jogador é ótima, consideradas as escolhas dos demais (VARIAN, 2000, p. 542).

A terceira e última exigência forte de racionalidade impõe que, em situações de equilíbrio, as crenças aproximam-se da realidade. O raciocínio adotado para a avaliação das probabilidades é o mesmo adotado para as crenças. As estratégias escolhidas expressam crenças e fornecem a cada jogador informações sobre as crenças de seus oponentes. Essas informações, por sua vez, são utilizadas para atualizar estratégias: um jogador modifica suas crenças ou o outro modifica sua estratégia (id. ibid., p. 328).

Dos axiomas fortes de racionalidade decorre que as preferências, crenças e comportamentos – avaliações de probabilidades e ações estratégicas – não apenas têm de ser compatíveis entre si, mas também têm de corresponder, em equilíbrio, ao mundo real (TSEBELIS, 1998, p. 43; RUA & BERNARDES, 1998, p. 328). A penalidade para desvios da racionalidade forte será um nível reduzido de bem-estar (TSEBELIS, 1998, p. 43).

1.1.1.3. A distinção entre informação perfeita e imperfeita e entre risco e