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3 A DIMENSÃO DA INFORMAÇÃO NO PROCESSO DE ADOÇÃO E

4.1 A implementação da Convenção 182

4.1.1 A implementação da Convenção 182 no Brasil

4.1.1.4 Existência de órgãos jurídicos e tribunais especiais para resolução de

No campo jurídico, destaca-se a relevância das Coordenadorias da Infância e da Juventude, que tem atuação na esfera estadual. Encontra-se, em meio às principais funções da Coordenadoria da Infância e da Juventude, assessorar a presidência do tribunal, a segunda vice-presidência e a Corregedoria-Geral de Justiça no desenvolvimento de políticas, treinamentos e ações relacionados com a proteção à criança e ao adolescente, além de facilitar a interlocução do tribunal com a imprensa e com a sociedade civil em relação à população abrangida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Ainda dentre as atribuições das Coordenadorias estaduais, está a tarefa de facilitar a interação dos Juízes da Infância e da Juventude com a administração do tribunal, nos assuntos e projetos relativos à criança e ao adolescente, e promover a articulação com órgãos públicos, entidades públicas e privadas e organizações não governamentais voltados à formação, à proteção e à promoção social de crianças e adolescentes.

Como se observa, as Coordenadorias Estaduais não integram o sistema jurídico de proteção à infância, todavia prestam serviços de apoio aos tribunais por meio de elaboração de sugestões para o aprimoramento da estrutura do Poder Judiciário no âmbito da infância e da juventude. Além disso, os magistrados e servidores da área da infância e da juventude recebem suporte das Coordenadorias Estaduais através de informações especializadas, de sugestões de procedimentos e de outras atividades que colaboram para a melhoria da prestação do serviço jurisdicional.

Ainda integrando os atores do campo judiciário estadual, encontram-se as Delegacias para o Adolescente Infrator, As Delegacias Especializadas para a Repressão de Crimes Contra a Criança e ao Adolescente e as Varas da Infância e da Juventude.

A Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI) é o órgão vinculado à Polícia Civil responsável pelas investigações para apuração de atos infracionais atribuídos a adolescentes. É tarefa dessa delegacia adotar medidas de prevenção em relação a tais atos. Ressalta-se que a DAI deverá sempre contar com a presença de um Defensor Público para ocasiões de apreensão em flagrante de menores de dezoito anos. Já as Delegacias Especializadas para a Repressão de Crimes Contra a Criança e ao Adolescente são órgãos da Polícia Civil, encarregados de investigar e apurar fatos em que crianças ou adolescentes são vítimas de crimes. Encaminha-se, portanto, para a Delegacia Especializada para a Repressão de Crimes contra a Criança e ao Adolescente (DERCA) todas as queixas e denúncias de violência contra crianças e adolescentes. Os procedimentos desempenhados pela DERCA iniciam-se quando é instaurado o inquérito policial. Dessa maneira, o delito é investigado por profissionais especializados na área de proteção ao segmento infanto- juvenil que ouvem as partes e instruem o inquérito sob a responsabilidade do delegado, que, por sua vez, deve garantir e efetuar o atendimento especializado, realizar diligências, interrogatórios e perícia técnica. Ressalta-se que denúncias de negligências e maus tratos, ocorridos no próprio âmbito familiar da vítima, são a maioria dos casos atendidos nessas delegacias.

As Varas da Infância e da Juventude são as instâncias judiciais responsáveis diretamente por resguardar os direitos de crianças e adolescentes no Brasil. Essas varas têm como autoridade máxima o Juiz da Infância e da Juventude ou o Juiz que exerce essa função, na forma da Lei de Organização Judiciária Local. Determina-se a competência da Vara da Infância e da Juventude por meio do domicílio dos pais ou responsável legal e pelo lugar onde se encontra a criança ou o adolescente, à falta dos pais ou responsável.

A competência da Justiça da Infância e da Juventude se estende nos casos de aplicação de penalidades administrativas para infrações contra normas de proteção à criança ou adolescente. Indica-se, adicionalmente, que é para essas Varas que são encaminhadas as controvérsias relacionadas ao trabalho infantil.

As Varas da Infância e da Juventude são divididas em dois setores: a vara cível e a vara infracional. A Vara Cível é responsável por julgar casos em que exista denúncia de violação dos direitos de crianças e adolescentes, sendo, nesse caso, aplicadas medidas protetivas. Além disso, a Vara Cível é também responsável por fiscalizar estabelecimentos onde não é permitida a entrada de crianças e de adolescentes, o que, em não raros casos, é fundamental para que não se concretizem violações relacionadas, por exemplo, à exploração sexual. A Vara Infracional, por outro lado, é responsável por julgar crianças e adolescentes acusados de cometer algum ato contra a lei, casos em que o juiz da Vara Infracional poderá estabelecer tanto medidas protetivas quanto medidas socioeducativas.

No que é relativo ao âmbito federal, tem-se a atuação do Ministério Público e do Ministério Público do Trabalho.

O Ministério Público (MP) é o órgão responsável pela fiscalização do cumprimento da lei de modo geral. Existe atualmente uma forte parceria entre os promotores de Justiça e os movimentos sociais de defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. Em alguns estados brasileiros, o MP criou o Centro Operacional e as Coordenadorias da Infância, um instrumento eficaz na

aplicação e fiscalização do cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

O Ministério Público do Trabalho (MPT), um dos ramos do Ministério Público da União, é uma instituição permanente, que tem autonomia funcional e administrativa e, dessa forma, atua como órgão independente dos poderes legislativo, executivo e judiciário. Também no âmbito do Ministério Público do Trabalho, foi criada a Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho de Crianças e Adolescentes. Tal Coordenadoria é integrada pelas Procuradorias Regionais do Trabalho, por intermédio de dois Procuradores que atuam na área, e está vinculada a uma coordenação nacional, cujo principal objetivo é integrar as Regionais em uma atuação uniforme e coordenada de combate ao trabalho infantil e de regularização do trabalho do adolescente, bem como fomentar a troca de experiências e discussões sobre a temática.

Reflexo do que ocorre com as legislações, o aparato sociojurídico brasileiro apresenta notável consonância com o paradigma de proteção à infância vigente no cenário internacional. Por meio de entidades especializadas, o governo brasileiro consegue estabelecer um forte aparato institucional com foco na salvaguarda dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes.