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3 A DIMENSÃO DA INFORMAÇÃO NO PROCESSO DE ADOÇÃO E

3.1 A relação entre a informação e a adoção das normas da Organização Internacional

A adoção das Normas Internacionais do Trabalho é um processo que se baseia diametralmente em dispositivos informacionais. De modo diverso da proposta de regulamentação normativa apresentada pela Organização das Nações Unidas e por outras de suas agências especializadas, a OIT apresenta necessidades de informação específicas e contínuas para o desenvolvimento de todas as etapas do processo de adoção de um instrumento normativo, seja ele uma convenção ou uma recomendação.

A OIT, através do manual de procedimentos para a adoção das normas do trabalho40, apresenta detalhadamente todas as etapas percorridas para a

adoção das normas internacionais do trabalho.

40 Instrumento elaborado com o objetivo de descrever os procedimentos em vigor no domínio da

Organização Internacional do Trabalho a respeito da adoção e da implementação das convenções e recomendações. A última versão deste documento data de 2006.

O processo inicia-se com a inscrição de um tema na ordem do dia junto à Conferência Internacional do Trabalho. Esse procedimento é realizado pelo Conselho de Administração e deve ser aprovado por, no mínimo, dois terços dos delegados representantes. A partir de então, opta-se por um procedimento de discussão simples ou dupla discussão.

Como informa o manual de procedimentos da OIT (2006), os estágios de dupla discussão são os seguintes:

a) A Repartição Internacional do Trabalho (RIT) prepara um relatório contendo informações sobre a legislação e a prática em diferentes países sobre determinado tema relacionado ao trabalho ou ao emprego, além disso, um questionário é anexado a esse relatório. O referido relatório e o questionário são enviados aos governos que, por sua vez, solicitam que as organizações mais representativas de empregadores e de empregados sejam consultadas, antes que as respostas finais sejam preparadas. A consulta a essas organizações deve ser realizada, no mínimo, dezoito meses antes da abertura da sessão da Conferência na qual esse tema será discutido.

b) As respostas dos governos devem ser enviadas à Repartição Internacional do Trabalho, no mínimo, onze meses antes da abertura da referida sessão. c) A Repartição Internacional do Trabalho redige, com base nas respostas dos governos, um novo relatório, contendo informações sobre os principais pontos a serem examinados pela Conferência. Esse relatório é normalmente comunicado aos governos quatro meses, ou menos, antes da abertura da sessão.

d) Tais relatórios são examinados pela Conferência Internacional do Trabalho. Se a Conferência decidir que a questão é suscetível de se tornar objeto de uma convenção ou de uma recomendação, a Conferência adota as conclusões e decide pela inscrição da questão na ordem do dia da sessão seguinte ou pela inscrição dessa questão na ordem do dia de uma sessão posterior.

e) Com base nas repostas das questões e da primeira discussão da Conferência, a Repartição Internacional do Trabalho prepara os projetos de convenções ou de recomendações e os comunica aos governos, dois meses após o fechamento da sessão da Conferência.

f) Os governos são novamente solicitados a consultar as organizações de empregados e empregadores, que passam a dispor de um período de três meses para fornecer informações, contendo suas sugestões e comentários. g) Com base nessas novas informações dos governos, um relatório final, contendo os textos alterados das convenções ou recomendações é enviado aos governos com, no mínimo, três meses de antecedência em relação à sessão na qual eles devem ser discutidos pela Conferência.

h) Os textos dos instrumentos aprovados pelo comitê de redação são enviados à Conferência para uma votação final sobre sua adoção.

i) Se este texto for rejeitado como uma convenção no âmbito da Conferência, ele pode ser reenviado ao comitê de redação, a fim de que se transforme a pretensa convenção em uma recomendação.

j) Quando uma convenção não obtém, no momento da votação final, a maioria de dois terços dos votos requisitados para sua adoção, mas somente a maioria simples, a Conferência deve decidir se a convenção deve ser reenviada ao comitê de redação para ser transformada em recomendação.

Existe, do mesmo modo, o procedimento de adoção através de discussão simples, que é caracterizado de maneira geral pelos mesmos procedimentos da discussão dupla. Entretanto, no caso de discussão simples, informações são solicitadas aos governos uma única vez e, por consequência, os representantes dos empregadores e empregados são também consultados apenas uma vez. Os prazos vinculados ao fluxo da informação também são diferenciados no caso de discussão simples.

A necessidade de informação apresentada pela OIT quanto ao processo de adoção das normas internacionais do trabalho é caracterizada pelo que a teoria das necessidades de informação de Le Coadic (2007) denomina como Necessidade de Informação Derivada. Esse tipo de necessidade de informação geralmente surge em decorrência da existência de um problema prático ou devido à execução de uma tarefa. A informação, nesse momento, é apropriada como um aporte pontual, com o objetivo de resolver o problema ou de desenvolver da melhor maneira possível uma determinada atividade.

Ressalta-se, todavia, que os processos de percepção das necessidades de informação individuais são distintos dos organizacionais. Faz-se esclarecer que, neste trabalho, enfatiza-se a análise da dimensão coletiva e social na obtenção de informação e não, a perspectiva individual.

As necessidades de informação ligadas ao processo de adoção das normas internacionais do trabalho são, mormente, derivadas do objetivo da OIT concernente ao estabelecimento de normas claras, objetivas e que tenham conexão com a realidade de todos os Estados-membros, do ponto de vista de governos, empregados e empregadores. Ademais, a necessidade de obter informações sobre as opiniões de empregadores e de empregados é originada pela estrutura tripartite da OIT, pelo status igualitário que essas classes ostentam frente aos representantes dos governos. É necessário que essas classes estejam de acordo para a adoção e, portanto, para uma aplicação eficaz das normas internacionais do trabalho.

3.2 A relação entre a informação e o monitoramento das normas da