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CAPÍTULO 1 A MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL: SITUANDO AS

1.5 Expansão, diferenciação e diversificação da educação superior

A educação superior, na assertiva reformista neoliberal, é considerada não-prioridade, nas políticas públicas, ao mesmo tempo em que é importante para a modernização do país, ao formar profissionais para atender a demanda de mercado e colocar o país em nível de competitividade internacional, como assinala Lima (2000).

Temos, então, gestada a concepção de educação como um elemento de competitividade [...]. As políticas sociais mudam de caráter, começando a ser trabalhada a relação competitividade x produtividade, que vai estar presente nos anos 90 (LIMA, 2000, p. 177).

A afirmação de Lima (2000) fortalece o entendimento acerca do processo competitivo instaurado pelo Estado, que se isenta de promover a educação como direito público, lançando-a como um bem público, ou seja, como um produto igual a tantos outros a serem comercializados no mercado.

Das universidades brasileiras é cobrada cada vez mais produtividade, que é valorizada quantitativamente sobrepondo-se à dimensão qualitativa, pois, para o mercado, não interessa a qualidade do produto, mas o quanto é produzido.

Como bem público, a educação superior é vislumbrada como algo possível somente para aqueles que têm condições econômicas de acesso, pois trata-se de um nível de estudo não obrigatório, podendo adentrá-la somente os que tiverem possibilidades de pagar pelo serviço. Esse serviço, considerado como público não-estatal, pode ser ofertado por qualquer instituição pública ou privada que atenda aos requisitos postos pelo Ministério da Educação (MEC).

Dessa forma, nos últimos anos, vem se expandindo o número de instituições de educação superior, no Brasil, ofertando cursos, cujo ensino ocorre em pouco tempo e, em alguns casos, à distância, por via tecnológica, como a internet, além de dissociado da pesquisa e da extensão.

Entendemos que a educação superior, nesse emaranhado de mudanças, além de não prioritária nas políticas educacionais, vai sendo submetida ao processo de privatização, publicização e terceirização. De acordo com Bresser-Pereira,

Privatização é um processo de transformar uma empresa estatal em privada. Publicização, de transformar uma organização estatal em uma organização de direito privado, mas pública não-estatal. Terceirização é o processo de transferir para o setor privado serviços auxiliares ou de apoio (BRESSER-PEREIRA, 1995, p. 19).

Na lógica de Bresser-Pereira, a dimensão do privado tem como mote central possibilitar a criação de diversas instituições, bem como a expansão das faculdades e institutos privados, o que evidencia, ainda mais, a condução da educação superior para o mercado como um bem a ser consumido pelos indivíduos “empreendedores”.

Sobre a política da educação superior, em nível nacional, Silva Júnior (2002) enfatiza que o mercado assume várias vertentes: uma delas dá-se quando Bresser-Pereira apresenta o “programa de publicização”, que transporta as entidades estatais para o setor das “organizações sociais”, ou seja, passam a ser assumidas como “entidades públicas não- estatais” ou “fundações públicas de direito privado”.

Percebemos que a reforma do Estado fortalece, no âmbito da educação superior, uma crescente demanda na sua expansão e diversificação, em todos os âmbitos do ensino e da pesquisa. As instituições e os cursos de graduação seqüenciais ou à distância de curta duração se proliferam, dado que existe um novo e promissor mercado.

O mercado da educação superior envolve desde os cursos de graduação até mesmo a pós-graduação, acarretando, segundo Silva Júnior (2005), gravíssimas conseqüências para a pesquisa e suas respectivas avaliações. Essa expansão gera fragilidades na qualidade da formação dos indivíduos.

São conseqüências da visão do “consenso” mercadológico impregnado nas políticas educacionais, haja vista que “O movimento reformista na educação é parte das mudanças sociais demandadas pela universalização do capitalismo” (SILVA JÚNIOR, 2002, p.51).

Na educação superior isso se manifesta no conjunto de medidas direcionadas no sentido de privatizar, diferenciar e diversificar as instituições de educação superior, inserindo- as num ranking de competitividade, ao mesmo tempo em que o Estado se desresponsabiliza de suas obrigações de promover a educação pública, gratuita e de qualidade.

Nesse crescente movimento de reforma, o mercado privatista e o quase-mercado25 são outras marcas da desresponsabilização estatal, dentre outras apontadas por Amaral (2003), na análise abaixo, como manifestação dos direcionamentos para a educação superior, em nível mundial, e, conseqüentemente, nacional.

[...] As mudanças ocorridas no ensino superior mundial após a crise do Estado de Bem-Estar Social europeu caracterizaram-se por uma uniformidade de políticas públicas fundamentadas nas seguintes linha básicas: expansão das atividades próprias do quase-mercado como agente importante na definição das ações institucionais, expansão e diversificação das instituições, compressão dos recursos do Fundo Público disponíveis ao desenvolvimento das atividades das instituições, ida ao mercado à procura de fontes alternativas de recursos financeiros e exigências de eficiência, qualidade e responsabilidade (AMARAL, 2003, p. 149-150).

O autor expõe que o processo de privatização ocorre de diversas formas e ressalta que o quase-mercado é uma das possibilidades de engendrar recursos para o desenvolvimento das instituições, pois estas são levadas a arrecadar recursos próprios, no mercado, devido à ausência do Estado em arcar com suas responsabilidades.

Tal situação está justificada, pelos neoliberais, por meio de argumentos que ressaltam as idéias de ineficiência e ineficácia dos serviços ofertados. E, em contrapartida, criou-se mecanismo de validação da expansão dos cursos superiores, por meio da iniciativa privada. Paralelamente, para as Instituições Federais de Educação Superior (IFES), a política vem respaldar a diversificação das fontes de financiamento privado, através das fundações de apoio, que exercem as mediações do quase-mercado educacional nas universidades públicas, como argumenta Chaves (2005):

A flexibilização do padrão de educação superior fortaleceu-se com a construção de um consenso sobre a ineficiência e a ineficácia dos serviços públicos em geral. No caso específico da universidade pública, ganha força o argumento da necessidade da diversificação das fontes de financiamento, via setor privado, e o fortalecimento da expansão do ensino superior privado, por meio da liberalização dos serviços educacionais (CHAVES, 2005, p.110).

A argumentação acima clarifica o quanto a educação superior faz parte da atual estratégia do não-investimento no setor social, ao mesmo tempo em que deve suprir as exigências de mercado.

25 O quase-mercado se caracteriza pela ida das instituições ao mercado à procura de fontes alternativas de recursos

Morosini (2004) chama a atenção, ainda, para o problema do mercado globalizado que exige a transnacionalização da educação, por meio do credenciamento de instituições e(ou) reconhecimento dos cursos – processos esses designados accreditation, no jargão internacional – e a possibilidade da circulação de títulos de nível superior entre países. Para a acreditação tem-se como critério principal a qualidade universitária, institucional, verificada pela avaliação.

É oportuno enfatizar o que Lima (2000) analisa a qualidade requerida para as instituições educacionais dos diversos níveis escolares, que se aplica, também à educação superior.

Ressalto que a escola de qualidade para todos, difundida nos discursos políticos, é questionada pela prática escolar vivenciada com unidades escolares e limitada em recursos, com professores desqualificados, mal remunerados e em condições precárias de trabalho. Com isso, a lógica de mercado seleciona os mais capazes para atuarem na sociedade, fazendo entender aos demais que foram excluídos por uma seleção natural dadas as suas condições sociais (LIMA, 2000, p 329).

Pelo exposto, a autora chama a atenção para a política educacional materializada nos programas, diretrizes, enfim, nas legislações educacionais, em geral impregnadas da logicidade das teorias do capital humano que enfatizam a competitividade educacional: a igualdade, no ponto de largada, e a diferenciação, no ponto de chegada. Assim sendo, os desfavorecidos economicamente dificilmente conseguem permanecer no processo educacional sistemático.

A seguir, enfatizaremos as políticas de avaliação institucional da educação superior, como um ponto importante nos debates políticas dos anos de 1990, pois está relacionada à regulação do Estado e à diminuição dos gastos públicos, como mencionamos anteriormente, pois os neoliberais instigam as instituições ao ranking de mercado e vêem a educação como “bem” de consumo individual, deixando de ser “direito”, já que ocorre a negação de seu caráter social e transformador.

São fatores que refletem a articulação da economia mundializada, na qual a educação superior faz parte dos acordos “consensuais”, pois os organismos internacionais, como o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), o Acordo Relativo aos Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados com o Comércio (TRIPS), a Organização Mundial do Comércio (OMC), incluem a educação na suas pautas de negociações (MOROSINI, 2004).

1.6 A avaliação institucional da educação superior como centralidade na