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A expansão das políticas de EaD para o ensino superior a distância no Brasil

CAPÍTULO 3. A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL

3.3 A expansão das políticas de EaD para o ensino superior a distância no Brasil

Levantamentos sobre o ensino superior a distância no País, feitos por Kipnis (2009) e Azevedo (2012), salientaram que, no final da década de 1970, a Universidade de Brasília começou a oferecer cursos a distância. Para iniciar esse processo, essa Universidade, em 1979, “assinou convênio com a United Kingdom

Open University e recebeu gratuitamente os direitos de tradução e de distribuição de

todo o seu acervo para a língua portuguesa” (AZEVEDO, 2012, p.3). Era o início de um novo processo. Os primeiros cursos foram de curta duração e ocorreram entre 1979 e 1985. Utilizavam materiais impressos produzidos na própria Universidade e publicados por sua própria editora. Um marco da Instituição foi a oferta do Telecurso de 1º grau, em convênio com a Fundação Roberto Marinho, que contava com recursos do Governo Federal. Em 1985, foi criado um curso de extensão sobre a Assembleia Constituinte para 20 mil alunos. A Universidade de Brasília também recebeu recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento e do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento. Houve a intenção de se criar a

Open University brasileira, mas, sem o apoio do MEC à época, o projeto não

avançou (AZEVEDO, 2012).

Em 1980, surgiu a Universidade Aberta do Nordeste que oferecia cursos de extensão por meio de um consórcio de 20 entidades de ensino superior públicas e privadas. Essa ideia de universidade aberta também apareceu no Distrito Federal, em 1998, com o projeto Universidade Aberta do Distrito Federal.

Nesse contexto, a EaD começou a se institucionalizar nas universidades, a partir de 1990, de forma isolada em todo País. Outros exemplos podem ser citados

como o da Universidade Federal do Mato Grosso que ofertou, em 1995, em caráter experimental, um curso de Pedagogia a distância. Em 1996, a Universidade Federal de São Carlos apresentou uma experiência inovadora com a utilização de videoconferência em um programa de pós-graduação. Seguindo o aumento dos cursos a distância no País, no ano 2000, a Universidade Federal de Ponta Grossa, em parceria com a Universidade Eletrônica do Brasil11, lançou o curso Normal

Superior com mídias interativas para o atendimento de 23 municípios do Paraná. No ano seguinte, em 2001, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo também ofereceu um curso, nos mesmos moldes, para professores em serviço. Essa Secretaria fez convênio com a Universidade de São Paulo, a Universidade Estadual de São Paulo e a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo para oferta de um programa especial de licenciatura plena para professores das séries iniciais do ensino fundamental. No mesmo ano, a Universidade de Brasília, em parceria com a Secretaria de Educação do Distrito Federal, ofertou um curso especial de graduação a distância, de Pedagogia, para professores em exercício nas primeiras séries da educação básica.

Em Minas Gerais, em 2002, a Secretaria de Estado de Educação, em parceria com universidades públicas do Estado e prefeituras, lançou o Projeto Veredas para formação superior de professores da educação básica que estavam em efetivo exercício.

Dessa forma, a EaD entrou para a agenda das políticas governamentais fazendo surgir, em 2006, a UAB, tema de discussão da próxima seção. A questão da EaD passou, então, a pautar a agenda dos governantes aparecendo como alternativa para a necessidade de formação de professores em grande escala no País.

Sobre a questão da oferta de cursos de licenciatura a distância ter estado presente na agenda política brasileira, Zárate e Gariglio (2009) argumentam que

A EAD pode ser uma alternativa para a formação de professores [...], desde que os projetos sejam concebidos em uma perspectiva de formação ampla e que tenham como princípio garantir aos professores uma

qualificação técnico-científica e cultural que lhes permita atuar na sociedade de forma crítica e transformadora. (ZÁRATE e GARIGLIO, 2009, p.2).

A EaD pode ser, então, uma alternativa da formação de professores, ainda mais em um País com dimensões continentais e com limitadas oportunidades de acesso ao ensino superior, sobretudo em um momento de crescimento econômico em que as necessidades de educação são maiores. Nesse sentido, Mota (2009) expressa que as

[...] atuais políticas de melhoria do ensino médio com perspectiva de universalização de atendimento desse nível educacional em curto prazo, que tem gerado pressão por aumento do número de vagas no ensino superior, bem como aumento das exigências do mercado de trabalho, sinalizam para uma expressiva demanda por educação superior e de formação continuada. (MOTA, 2009, p.299).

Pode-se dizer que o desenvolvimento das TIC's e a promulgação da LDB fizeram com que o número de cursos aumentasse significativamente após o ano 2000. Esse crescimento provoca debates acerca das potencialidades da EAD enquanto uma modalidade de ensino que pode contribuir para a democratização do acesso ao ensino superior, tendo em vista que permite novas possibilidades para a reorganização e a flexibilização das atividades de ensino e de extensão desenvolvidas nas instituições públicas. A expansão dessa modalidade de ensino pode ser verificada pelos dados dos últimos Censos da Educação Superior, de acordo com a Tabela 1 a seguir:

TABELA 1

Número de Instituições que oferecem cursos de graduação a distância e o número de concluintes no período de 2001 a 2012, de acordo com o Censo da Educação Superior

Ano do Censo Instituições privadas % em relação ao ano anterior Matriculados Instituições privadas % em relação ao ano anterior Instituições públicas % em relação ao ano anterior Matriculados Instituições públicas % em relação ao ano anterior 2001 - - - - 10 - 5.359 - 2002 9 - 6.392 - 16 60% 34.332 540% 2003 16 77% 10.107 58% 22 38% 39.804 15% 2004 22 37% 92.613 816% 23 5% 20.847 - 47% 2005 39 77% 77.494 118% 22 - 4% 37.148 78% 2006 47 20% 169.588 - 16% 30 36% 38.439 3% 2007 50 6% 50.483 - 70% 7 - 76% 74.601 94% 2008 58 16% 448.973 789% 56 700% 278.998 275% 2009 - - 665.429 48% - - 172.696 - 38% 2010 72 - 802.407 20% 63 - 127.772 - 26% 2011 73 1% 859.995 7% 69 9% 132.932 4% 2012 70 - 4% 979.005 13% 74 7% 130.127 7%

Fonte: Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/superior-censosuperior-sinopse>. Acesso em: 11 out. 2013.

No período analisado, a expansão da EaD foi notável, conforme demonstrado na Tabela 1. É evidente o aumento do número de instituições que aderiram à modalidade e de alunos matriculados.

Nota-se que nas instituições privadas houve um crescimento maior de matrículas entre os anos de 2003 e 2004, com aumento de 816%. Houve queda de matrículas nos anos de 2006 e 2007, mas que foi recuperada em 2008 com aumento vertiginoso de 789% de matriculados em cursos a distância particulares. Após esse período, o aumento passou a ser mais homogêneo ano a ano. Em relação ao número de instituições, o aumento maior ocorreu de 2002 para 2003 e de 2004 para 2005, 77%. Nos últimos anos, esse aumento diminuiu ocorrendo queda de 1% entre 2011 e 2012.

Nas instituições públicas, também houve significativo aumento de matrículas no período, sendo 5.359 em 2001 e 130.127 em 2012, o que equivale a 2.328% de aumento. O aumento maior ocorreu entre 2001 e 2002, 540%. Em relação ao número de instituições, a tendência foi de aumento também. Houve quedas nos

anos de 2005 e 2007, mas os aumentos dos outros anos compensaram as quedas. Destaca-se que, de 2007 para 2008, o número de instituições públicas a oferecer cursos a distância cresceu 700%, o que deve ser explicado pela implementação do Sistema UAB.

Junto a esse crescimento, tem-se também, a partir de 2004, a possibilidade de inserção de disciplinas a distância em cursos presenciais. Conforme a LDB atual e a Portaria n. 4.059, de 10 de dezembro de 2004, é possível que a EaD seja adotada em até 20% do total previsto da carga horária para cursos presenciais (BRASIL, 2004). O art 1º dessa Portaria estabelece que “as instituições de ensino superior poderão introduzir, na organização pedagógica e curricular de seus cursos superiores reconhecidos, a oferta de disciplinas integrantes do currículo que utilizem modalidade semi-presencial” e, no seu primeiro parágrafo, caracteriza semi- presencial como “quaisquer atividades didáticas, módulos ou unidades de ensino- aprendizagem centrados na auto-aprendizagem e com a mediação de recursos didáticos organizados em diferentes suportes de informação que utilizem tecnologias de comunicação remota” (BRASIL, 2004). No segundo parágrafo desse artigo, está exposto que “poderão ser ofertadas as disciplinas [...] desde que esta oferta não ultrapasse 20% (vinte por cento) da carga horária total do curso” (BRASIL, 2004).

Ao pensar em educação, seja em qualquer nível ou modalidade, o que se almeja é que ela tenha enfoque dialógico e abarque a colegialidade, o compromisso com a emancipação, a autocrítica e, no caso da formação docente, que seja também de profissionalidade docente, de debate e de investigação sobre as questões da profissão. A formação docente dialógica é o que se pretende quando se visa formar um docente que seja sujeito participante, que defenda uma educação emancipadora, reflexiva e solidária.

O sistema educacional não pode deixar de pensar na qualidade da formação proporcionada. Assim, a EaD deve ser pensada como meio de formação adequada, mesmo com ampliação da população atendida, e assim como possibilidade de promover o compartilhamento do conhecimento. Essas considerações são válidas para qualquer modalidade de ensino, pois é preciso investimento na educação, seja ela presencial ou a distância.