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A expansão urbana no Brasil iniciou-se com um conjunto de mudanças estruturais na economia e na sociedade a partir da década de 1930, mas apenas em 1970 a população urbana superou a rural. As cidades, mesmo com dimensões demográficas restritas, já existiam desde os períodos da colônia e do Império. As relações mercantis entre as regiões brasileiras passaram a se ampliar desde a República Velha (1889-1930), seja com a expansão da economia cafeeira, seja com o surto de industrialização, proporcionando uma maior migração. O estado impunha certos limites à expansão do deslocamento populacional interno, levando a uma rota prioritária para estados de São Paulo e Rio de Janeiro, onde a economia mais se expandia (BRITO et al., 2005).

As regiões brasileiras se desenvolviam em torno das atividades agrícolas e geraram um sistema de cidades polarizadas formadas, geralmente, pelas capitais dos estados. A população urbana estava localizada basicamente nas áreas litorâneas e na região Sudeste. Mas, a partir da República Velha, as regiões passam a se comunicar e integrar o sistema mercantil lideradas pelo complexo da economia cafeeira capitalista.

A partir dos anos 1930, a urbanização assume uma dimensão estrutural onde a sociedade brasileira se transforma cada vez mais em urbana. Mais tarde, a partir da segunda metade da década de 1950 a urbanização foi acompanhada por um acelerado processo de industrialização da economia, acompanhado de uma expansão dos sistemas de transporte e meios de comunicação de massas. Neste sentido, Brito et al. (2005) destaca que:

Essa grande transformação deve ser entendida como a construção irreversível da hegemonia do urbano, não só como o locus privilegiado das atividades econômicas mais relevantes e da população, mas também como difusora dos novos padrões de relações sociais – inclusive as de produção – e estilos de vida.

Neste sentido, observou-se que no ano de 1920 a população urbana passou de 19 milhões para 138 milhões, multiplicando-se 7,3 vezes, com uma taxa média anual de crescimento de 4,1%. Ou seja, a cada ano, em média, nessa última metade de século, 2.378.291 habitantes eram acrescidos à população urbana. Esse crescimento

Talitha Lucena de Vasconcelos

demográfico urbano deve ser explicado pelo intenso fluxo migratório rural urbano, observado principalmente entre as décadas de 1960 e 1980 quando se estimou que 43 milhões de pessoas saíram do campo em direção à cidade (CARVALHO et al., 2003).

Essa tendência de crescimento perdura até os dias atuais. Segundo o censo de 2010 realizado pelo IBGE, o Brasil tinha mais de 190 milhões de habitantes naquele ano, demonstrando um crescimento de 12,3% em relação ao censo de 2000. O censo revelou também que a população brasileira é mais urbanizada que há 10 anos: em 2000, 81% dos brasileiros viviam em áreas urbanas, agora são 84%. O Nordeste apresentou em 2010 uma população de mais de 53 milhões de habitantes, ficando atrás apenas da região Sudeste em termos de população total. A mesma tendência de urbanização se observou para o Nordeste.

A reorganização do território brasileiro em consequência do crescimento populacional, das migrações e das transformações da atividade agropecuária no Brasil tem resultado em novos arranjos territoriais. De acordo com Elias (2011), as Regiões Produtivas Agrícolas representam novos arranjos produtivos agrícolas, os territórios das redes agroindustriais, escolhidos para receber investimentos produtivos inerentes ao agronegócio globalizado. Nelas encontram-se partes dos circuitos espaciais da produção e círculos de cooperação de importantes commodities agrícolas, evidenciando a dinâmica territorial do agronegócio.

Para esta autora as corporações concernentes às redes agroindustriais são os maiores agentes produtores do espaço agrário e urbano, pois intensificam as relações campo-cidade e a urbanização, uma vez que as redes agroindustriais necessitam também de processos que se dão no espaço urbano próximo às áreas de produção agrícola e agroindustrial, incrementando o crescimento de cidades totalmente funcionais ao agronegócio, as quais passam a ter novas funções, tal como a de gestão desse agronegócio globalizado.

Insere-se nesta realidade o cultivo da cana-de-açúcar e a industrialização dos seus derivados. No século XX, a produção da cana-de-açúcar no Brasil ganhou impulso, devido ao estímulo do estudo da tecnologia para a produção de álcool. Com a criação do

Talitha Lucena de Vasconcelos

Instituto do Álcool e Açúcar (IAA) por Getúlio Vargas em 1933, o setor foi regulamentado, recebendo incentivos para a produção e exportação do açúcar, estimulando o crescimento do setor no estado de São Paulo, que faria a região sudeste superar a região nordeste em área plantada de açúcar (THEODORO, 2011). Até então, Alagoas e Pernambuco se apresentavam como os estados com maior destaque na produção de cana-de-açúcar no Brasil. Em 1955, a área ocupada por cana-de-açúcar no Brasil atingiu cerca de 1 milhão de hectares (ROSSETO, 2008).

A crise do petróleo em 1973 possibilitou a consagração da agroindústria da cana- de-açúcar, levando a criação do Proálcool em 1975, que objetivou diminuir a dependência de importação de combustíveis derivados de petróleo que oneravam a balança comercial do Brasil (NATALE NETTO, 2007). Em apenas 10 anos após sua criação, a área plantada de cana-de-açúcar no Brasil dobrou (THEODORO, 2011).

Dados do terceiro levantamento da safra 2010/2011 CONAB (2011) mostram que, atualmente, a cana-de-açúcar ocupa 9% da superfície agrícola do país e é a terceira cultura mais importante em superfície ocupada, depois da soja e do milho. A produção nacional de cana-de-açúcar moída pela indústria sucroalcooleira, em 2010, foi de 624,99 milhões de toneladas, 3,4% superior à produção total de 2009/2010. Para produção de 2012/2013 a CONAB (2012) prevê que a safra de cana moída será de 602,2 milhões de toneladas, representando um aumento de 5,4% em relação à safra 2011/12, que foi de 571,4 milhões de toneladas.

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