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4.1 PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO DE ADOLESCENTES MASCULINOS

5.1.3 Expectativas em Relação à Primeira Vez

Para Tadeu, a iniciação sexual não provocou nenhuma mudança em sua vida. Ao falar da necessidade, ou não, de um momento adequado para que a iniciação aconteça, Tadeu diz: “acho que precisa, a partir do momento que as duas pessoas se gostem, só se os dois quiserem porque se só um quiser é mesmo que nada”. Reconhece que deve haver esse momento, aponta não questões da ordem da temporalidade cronológica, mas elementos significativos com relação a outro tempo, que aponta para a construção afetividade, que envolve a relação de cumplicidade, do respeito pelo próprio desejo e pelo desejo. Com relação às suas expectativas:

Mais ou menos do jeito que eu pensava, eu esperava que ela fosse uma coisa mas realmente era outra. Eu pensava que ela fosse muito avançada prá mim e tudo. Eu pensava que ela já tinha feito isso, mas não, eu era virgem, ela era virgem, todos dois, foi tipo assim uma química, foi como eu espera que fosse”.

Percebemos aí um misto de desapontamento e de uma certa frustração. Em parte, pela expectativa dele com relação ao desempenho dela, que ela fosse avançada, experiente em relação a ele. A “química”, contudo, parece tirá-lo desse desapontamento e o coloca num lugar mais confortável, agradável: “foi como eu esperava”, o que nos leva a pensar que havia nele, no seu imaginário, na sua fantasia, questões fabricadas com relação à virgindade. O “comportamento avançado” pode se relacionar com a forma com que a parceira se apresentava, se comportava, e também com a forma com que ele a percebia: como “avançada”, como se ser avançada correspondesse a já ter-se iniciado sexualmente. Esse conflito entre o que ele pensava dela e a forma como ele a conheceu na intimidade parece ter gerado o fio de desapontamento apresentado por ele. Em relação à mútua atração, à química, foi como ele esperava, ou seja, houve correspondência em relação às suas expectativas.

Robson apontou suas expectativas em relação à sua primeira vez: “eu esperava uma coisa mais especial, assim, a gente tanto como ela tivesse achado uma coisa boa porque eu acho que ela também não achou. Não foi como eu pensava que seria”. Há frustração em relação ao esperado e, principalmente, preocupação em que tivesse sido algo especial para ele, da forma como ele pensou. Ele imagina que sua companheira também não tenha gostado. A inexperiência dele o deixou inseguro. Apontou que percebeu mudanças na sua vida após sua iniciação sexual: na forma de pensar em como exercer sua sexualidade, como poder praticá-la.

Esse conhecimento do ato, do contato físico dos corpos, da atração do desejo, da prática sexual parece que lhe serviu como experiência e melhorou seu desempenho sexual.

Sim houve a mudança em termo de pensar, como eu posso praticar. Foi uma experiência prá mim também porque com isso eu adquiri um conhecimento carnal do desejo da gente e tal essas coisas. Eu evolui muito depois da primeira vez depois eu arranjei outra namorada e tal.

Ele disse que deve haver um momento adequado, ideal, para que ocorra a primeira vez; atribuiu a escolha desse momento ao tempo de cada um, que pode não ser apenas, a o tempo do desejo de uma das pessoas da relação. A entrega deve ser dos dois para que seja um acontecimento agradável na vida de ambos:

Acho que existe sim, na vida tudo tem seu momento porque a vida é feita de momento. Quando a coisa tem de acontecer, acontece, quando não, não acontece. Porque se eu gosto de uma menina e eu quero fazer com ela e ela não quer, ela quer dá um tempo e tal, se eu for com meu impulso talvez aquilo que eu quero não vai do jeito que tem de acontecer, do jeito que ela quer, vai depender também dela. Os dois é que vão se entregar, tá entendendo, prá acontecer o que tem que acontecer.

Os adolescentes, Cláudio e Paulo, afirmaram que nunca tinham pensado sobre sua primeira relação sexual. Cláudio disse que não sabia da existência da primeira vez, que desconhecia esse assunto. Tomou conhecimento através da pessoa com quem se relacionou. Apontou que o uso do dvd de sexo e os ensinamentos dela o ajudaram na prática de sua iniciação: “não esperava por nada, não tinha pensado não. Antes disso, nunca tinha ouvido falar da primeira vez. Quando ela falou, fiquei assim, ela botou o dvd de sexo e ficou me ensinando”.

Paulo falou que nunca havia pensado sobre como seria sua primeira relação sexual. A partir dela, não percebeu nenhuma mudança na sua vida. Para Paulo, a primeira relação sexual pode ocorrer na vida a partir do reconhecimento e respeito do próprio desejo e do desejo do outro da relação: “qualquer hora o cara não pode ter não. Se o cara quiser e a menina também. Se um querer e outro não querer aí eu acho que não rola nada não”.

Mauro disse não ter sido do jeito que ele esperava porque pensava que ia ser ruim e, na realidade, não foi. A experiência vivida superou suas expectativas, o que pode vir a potencializar o exercício da sexualidade a partir da sua iniciação sexual: “eu já imaginava como era. Não foi do jeito que eu imaginava, pensei que ia ser ruim assim mas não foi, pensei que ia ser um pouquinho difícil prá mim”.

igual a ele, mas, na realidade, constatou o contrário e parece ter se desapontado e se frustrado em relação a esse acontecimento: “não, eu imaginava, eu pensava que eu ia pegar uma comade virgem também, assim, do meu jeito assim, nenhum saber, aí peguei outro, ela já sabia”.

A percepção de si, após o início da vida sexual, sofreu alteração, mudança sentida por alguns adolescentes. Dois destes apontaram sinais de identificação sexual e também afirmação da virilidade, da masculinidade através do desempenho, a que um deles atribui sua “normalidade”. A norma, mais uma vez, fazendo parte da constituição da relação saber-poder, tomada como referência de aprendizagem de Jorge. A iniciação sexual passando pelo padrão da norma, de um padrão social produzido e controlado. “É, mudou que eu fiquei diferente, não conhecia mulher, eu não tinha feito relação com ninguém fiquei do bom, normal, mesmo” (Jorge).

Apontamos elementos de sedução, da conquista, o se pôr à prova com as mulheres, passando também um certo ar de se sentir “o tal”, sedutor tudo isso foi percebido a partir da realidade da iniciação sexual e parece da sua “normalidade”: “notei que eu agora tô, antigamente, eu era mole prá mulher, agora não sou mole, agora direto, fiquei mais gaiato com as meninas. Não posso ver uma menina assim que eu chego mermo”.

Fernando observa mudanças, através do uso do seu corpo. Antes da iniciação, era virgem; agora, não é mais. Apesar disso, expressou dúvida: “acho que mudou, que eu não sou mais virgem, acho que foi isso”.

Cláudio, Mauro, Tadeu e Paulo falaram que não perceberam mudanças neles próprios após o exercício da sua iniciação sexual.

As expectativas ligadas à primeira relação sexual foram apresentadas de forma que Fernando, Romário, Edu e Dário falaram que a realidade correspondeu ao que eles haviam imaginado que iria acontecer. Os pensamentos, as idealizações, corresponderam ao que aconteceu, ao que eles vivenciaram na sua primeira relação sexual:

Esperava do jeito que aconteceu, do jeito que esperava (Fernando).

Foi do jeito que eu esperava. Esperava conversar com ela prá mim ir (Romário). Sim, positivo que ia dá certo (Edu).

Esperava que fosse bom e foi (Dário).

Tadeu, Robson, Paulo e Edu afirmaram que deve haver um momento certo, adequado, ideal, na vida, para acontecer a primeira relação sexual. Os três primeiros apontaram esse momento como o tempo escolhido pelos dois envolvidos na relação afetiva. Observamos que

alguns adolescentes consideraram o outro diferente de si, o respeito pelo outro, pelo desejo dos dois, a existência do tempo necessário para os dois se vincularem afetivamente; o cuidado com o outro da relação, a necessidade dos desejos convergirem numa mesma direção, pois eles afirmaram que os dois têm de querer, desejar esse momento.

Jorge associou o momento certo para o início da vida sexual ao fato de ter ou não preservativo, ao uso da camisinha, por causa da possibilidade, do risco de gravidez. Aponta modelo de regulação e controle da sexualidade através de saberes e práticas utilizados pela atuação das biopolíticas. Ele associou sexo ao risco de gravidez, sexo à reprodução:

Existe, precisa ter o momento, precisa porque tem gente que espera pelo parceiro pra fazer relação, se ele tem camisinha ou não, não vai não, dá um tempo porque você se controla, se vai sim ou não na hora exata pra mim é só isso. A pessoa tem de se prevenir com camisinha senão dá bucho.

Fernando explicou que o momento certo depende do tipo de envolvimento, dos sentimentos investidos na relação: se for só para ficar com a menina, não precisa desse momento, mas se houver sentimentos, então deve existir um momento certo para o relacionamento dos dois:

Prá mim, acho que não precisa não, se eu ficar com a menina e ela quiser. Só se você gostar muito da menina, gostar dela, aí acho que existe o momento certo no relacionamento com ela, acho que existe. Tem muitas aí que só quer ficar, você fica, e só fica uma vez e pronto, tem relação. Você fica com a menina e no outro dia você já tem relação com ela.

Percebemos que em relação às expectativas da primeira vez, alguns adolescentes não tinham imaginado como esse momento poderia acontecer, nesse sentido, a primeira vez ocorreu de forma não planejada, de acordo com o momento que eles estavam vivenciando. Outros adolescentes se referiram a esse momento como algo idealizado, fantasiado e esperado. Apenas um deles apresentou desconhecimento da existência da iniciação sexual. Apontamos essas diferenças em relação ao que se espera da sexualidade a questões que constituem o processo de ser, estar e sentir desses adolescentes.