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CHECAR E AGIR

3.3.9 A experiência brasileira

O Brasil é um dos países que participam do projeto piloto da CDS, tendo sido o Ministério do Meio Ambiente - MMA a entidade coordenadora em um primeiro momento. Na reunião de Praga, janeiro de 1998, o Brasil informou que o programa de indicadores de desenvolvimento sustentável seria operado pelas agências estaduais de meio ambiente, por meio de uma rede de monitoramento integrada no nível nacional (MONITORE), o que entretanto não ocorreu. Desde o ano 2000 os IDS estão a cargo de uma comissão formada pelo MMA e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, que é a agência federal responsável por todas estatísticas nacionais.

O projeto do IBGE tem como referência o Livro Azul da CDS e as recomendações adicionais que o sucederam, adaptando seu conteúdo às peculiaridades brasileiras. A publicação do IBGE, Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, Brasil, 2002, apresenta 50 indicadores organizados nas quatro dimensões – social, ambiental, econômica e institucional – abrangendo os temas da eqüidade, saúde, educação,população, habitação,

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 103 segurança, atmosfera, terra, oceanos, mares e zonas costeiras, biodiversidade, saneamento, estrutura econômica, padrões de produção e consumo estrutura e capacidade institucional.

Os indicadores estão organizados em fichas, contendo a descrição de sua construção, sua justificativa, vínculos com o desenvolvimento sustentável e explicações metodológicas, acompanhadas de Tabelas, Figuras, gráficos e mapas ilustrativos que expressam sua evolução recente e diferenciações no Território Nacional (IBGE, 2002).

Os indicadores, agrupados pelas respectivas dimensões, são os seguintes: Dimensão Social

1- taxa de crescimento da população 2- Concentração de renda – Índice de Gini 3- Taxa de desemprego aberto

4- Esperança de vida ao nascer 5- Rendimento familiar per capita 6- Rendimento médio mensal por sexo 7- Rendimento médio mensal por cor ou raça 8- Taxa de mortalidade infantil

9- Prevalência de desnutrição total

10- Imunização contra doenças infecciosas infantis 11- Taxa de uso de métodos contraceptivos

12- Acesso à saúde

13- Escolaridade (adultos)

14- Taxa de escolarização/ população infanto juvenil 15- Taxa de alfabetização

16- Taxa de analfabetismo funcional

17- Taxa de analfabetismo funcional por cor ou raça 18- Densidade inadequada de moradores por dormitório 19- Coeficiente de mortalidade por homicídios

Dimensão Ambiental

1- Consumo Industrial de substâncias destruidoras da camada de ozônio 2- Concentração de poluentes no ar em áreas urbanas

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 104 3- Uso de fertilizantes

4- Uso de agrotóxicos 5- Terras aráveis

6- Queimadas e incêndios florestais 7- Desflorestamento da Amazônia legal

8- Áreas remanescentes e desmatamentos na Mata Atlântica 9- Produção da pesca marítima e continental

10- População residente em áreas costeiras 11- Espécies extintas e ameaçadas de extinção 12- Áreas protegidas

13- Acesso ao serviço de coleta de lixo doméstico 14- Destinação final do lixo

15- Acesso a sistema de abastecimento de água 16- Acesso a esgotamento sanitário

17- Tratamento de esgoto Dimensão Econômica

1- Produto Interno Bruto – PIB, per capita; 2- Taxa de investimento

3- Balança Comercial 4- Grau de Endividamento

5- Consumo de Energia per capita

6- Intensidade energética (razão entre consumo e PIB) 7- Participação de fontes renováveis na oferta de energia 8- Reciclagem

9- Coleta Seletiva de lixo

10- Rejeitos radioativos: geração e armazenamento Dimensão Institucional

1- Ratificação de acordos globais

2- Gastos com pesquisa e desenvolvimento 3- Gasto público com proteção ao meio ambiente 4- Acesso aos serviços de telefonia

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 105 Na Tabela 3.3 a seguir é apresentada a comparação entre os indicadores propostos pela CDS e aqueles que vêm sendo desenvolvidos pelo IBGE, representando a participação brasileira no projeto. Dos 57 propostos, o Brasil vem testando 38, além de 12 outros que estão sendo desenvolvidos por decisão do governo brasileiro, que são:

1- acesso a sistema de coleta de esgotos sanitários; 2- acesso a sistema de coleta de lixo;

3- disposição adequada de lixo; 4- queimadas e incêndios florestais;

5- área remanescente e desflorestada na mata atlântica e nas formações vegetais litorâneas;

6- desflorestamento na Amazônia legal; 7- renda familiar per capita;

8- renda média mensal por cor e raça; 9- taxa de escolarização;

10- taxa de analfabetismo funcional;

11- taxa de analfabetismo funcional por cor ou raça; e 12- gasto público com proteção ao meio ambiente.

Tabela 3.3 - Comparação entre indicadores do CDS e IBGE

Tema Subtema Indicadores CDS IBGE

Implement. estrategia desenvolvimento

suntentavel

- Estratégia nacional de desenvolvimento

Sunstentavel X

Cooperação internacional - Acordo e convênios globais ratificados X X Acesso o informação - n° de ligações à internet por 1000

habitantes X

Infra-est. Comunicação - n° de ligações telefônicas por 1000

habitantes X X

Ciência e tecnologia - Gastos em pesquisa e desenvolvimento %

PIB X X

Pretaração e resposta aos desastres naturais

- Perdas humanas/economicas por desastres

naturais X Marco Institucional Capacidade Institucional INSTITUCIONAL

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 106

Tema Subtema Indicadores CDS IBGE

Mudança climática - Emissões de gases estufa X Camada de Ozônio - Consumo substâncias destruidoras

camada de ozônio X X

Qualidade do ar - Concentração poluição atmosfera em área

urbanas X X

- Áreas aráveis e cultivadas X X

- Uso de fertilizantes X X

- Uso de agrotóxico X X

- Porcentagem de áreas florestais X - Intensidade de exploreção X Desertificação - Solos em processo de desertificação X

Urbanização - Áreas de assentamentos urbanos formais e

informais X X

- Concentração de algas em águas costeiras X - Porcentagem da população vivendo em

áreas costeiras X X

Pesca - Captura anual de especies adultas X X Quantidade de água

- Extração anual de água subterrânea e superficial em relação ao total de água disponível

X - Demanda biológica de oxigênio (DBO) X - Concentração de coliformes fecais em águas

doces X

- Área de ecossistema chaves selecionados X - Áreas protegidas em relação a área total X X Especies - Abundancia de especies chaves selecionadas X X Biodiversidade Ecossistema Oceanos, mares e costas Zona costeira Água Potável Qualidade da água Florestas Atmosfera AMBIENTAL Agricultura Terra

Tema Subtema Indicadores CDS IBGE

- % de população abaixo da linha da

pobreza X

- Índice de Gini X X

- Taxa de desemprego X X

Equidade de Gênero - Relação salário promédio entre homens e

mulheres X X

Nível educação - Taxa de escolaridade X X

Alfabetismo - Taxa de alfabetismo adulto X X Equidade

SOCIAL

Pobreza

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 107 Habitação Condições de Habitação - Área habitada / pessoa X X Segurança Crime - Numero de ocorrencias criminais para

cada 100,000 habitantes X

- Taxa de crescimento populacional X X - População assentamento normais formais

e informais X

Nutrição - Nível nutricional infantil X X

- Taxa de mortalidade infantil X X - Esperança de vida ao nascer X X Esgotos domésticos - % de população servida c/ tratamento X X

Água Potavel - % de população abastecida c/ água

potável X X

- % de população c/ acesso cuidados

primários X X

- Imunização contra enfermidades infantis

infecciosas X X

- Taxa de prevalência anticonceptiva X X Saúde

Mortalidade

Acesso a serviços de saúde

População Mudanças demográficas

SOCIAL

Tema Subtema Indicadores CDS IBGE

- PIB per capita X X

- Porcentagem do PIB em investimentos X X Comércio - Balança comercial de bens e serviços X X - Porcentagem da dívida em relação ao PIB X X - Porcentagem PIB aplicado para o

desenvolvimento X

Consumo materiais - Intensidade do uso de materiais X X - Consumo de energia anual per capita X X - Porcentagem consumo de energia

renóvavel X X

- Intensidade enargética X X

- Geração de residuos sólidos industriais e

doméstico X

- Geração de residuos perigosos X - Geração de residuos radioativos X X - Reciclagem e reutilização de resíduos X X Transporte - Distância viajada per capita por tipo de

tansporte X Geração e gerenciamento de résiduo Produção e Padrões de Consumo Estrutura Econômica Desempenho Economico Nivel financeiro Uso de energia ECONOMIA

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 108 3.3.10 A experiência de Minas Gerais

A Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM vem procurando estabelecer as bases de um processo de avaliação por meio de indicadores que representem os resultados da implementação da política ambiental no Estado, no que concerne à chamada Agenda Marrom, que compreende as atividades industriais, mineração e infra-estrutura.

A seleção dos indicadores foi feita a partir de sugestões dos diversos setores da FEAM, com o objetivo de traduzir, de forma ampla, a situação ambiental, bem como permitir a aferição das medidas de controle das atividades da Agenda Marrom (ASSIS e MENESES, 2002).

O modelo adotado foi o Pressão/Estado/ Resposta e os indicadores selecionados foram:

Pressão:

Emissão de material particulado pelas indústrias de ferro gusa; Geração de carga orgânica expressa em DBO por curtumes e têxteis; Áreas de titularidade de lavra requeridas nas bacias do Velhas e Paraopeba; Supressão de vegetação para reservatórios de hidrelétricas;

Postos de combustíveis com vazamento; e

Postos com tanques subterrâneos com idade igual ou superior a 20 anos.

Estado:

Áreas impactadas pela mineração nas bacias do Velhas e Paraopeba; IQA – Índice de Qualidade das Águas superficiais do Estado; Contaminação por tóxicos nas águas superficiais do Estado; e

Número de dias de ultrapassagem dos padrão de qualidade do ar para PM10 no eixo Belo Horizonte / Contagem / Betim.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 109 Resposta:

Redução da emissão de material particulado pelas indústrias de ferro gusa; Redução de DBO em efluentes de curtumes e têxteis;

Criação de unidades de conservação em compensação às hidrelétricas; População atendida por tratamento de esgotos; e

População atendida por disposição adequada de lixo.

Em maio de 2002 foi realizado seminário promovido pelo Programa Nacional de Meio Ambiente – PNMA II, sob a coordenação da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SEMAD, para discutir a definição de indicadores ambientais para o Estado de Minas Gerais, agregando, além da FEAM, o Instituto Estadual de Florestas – IEF e o Instituto Mineiro de Gestão das Águas – IGAM, quando foi discutida uma proposta inicial de sessenta indicadores, segundo o modelo P-E-R.

Verifica-se, ainda, nessas agências ambientais, a tendência de adotar indicadores de desempenho de processo, ou de saída, como largamente adotado pela agência americana EPA. O grande desafio está em medir a efetividade desses resultados. No Estado de Minas Gerais a questão está sendo rediscutida dentro do Projeto Minas Gerais no século XXI, que deverá priorizar os indicadores de resultado.

A Municipalidade de Belo Horizonte vem utilizando o Índice de Qualidade de Vida Urbana – IQVU, desde 1997, para subsidiar a tomada de decisão no orçamento participativo. Tal índice foi desenvolvido em parceria entre o Instituto de Desenvolvimento Humano e Social IDHS/ PUC Minas e a Prefeitura de Belo Horizonte, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD. Trata-se de índice composto por 75 indicadores, na sua grande maioria relativa à oferta de serviços urbanos e vulnerabilidade à exclusão social. Na dimensão ambiental, propriamente dita, contempla apenas a cobertura vegetal, conforto acústico e áreas com risco geológico.

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 110 3.3.11 Outras Experiências nacionais

No Estado de São Paulo foi estabelecido pelo Conselho Estadual de Saneamento Ambiental – CONESAM, em 1999, o Índice de Salubridade Ambiental – ISA, que abrange a caracterização qualitativa e quantitativa dos serviços de abastecimento de água, esgotos sanitários e limpeza pública, controle de vetores, situação dos mananciais e condições socioeconômicas dos municípios, com o objetivo de ser utilizado como subsídio para adoção de políticas públicas mais eficazes para a promoção da melhoria da qualidade de vida das populações e orientar ações compatíveis com as realidades regionais e locais. Na Tabela 3.4 apresenta-se a composição dos indicadores que integram o ISA (SÃO PAULO,1997).

No âmbito do Programa Cidades Saudáveis e Sustentáveis foi desenvolvido o projeto estruturante “Indicadores de Salubridade Ambiental Local – ISAL”, com base nessa metodologia, com o objetivo de indicar as deficiências existentes nos serviços públicos prestados e suas conseqüências para o desenvolvimento socioeconômico (SÃO PAULO, 2004).

Em Salvador, Bahia foi desenvolvida experiência para determinação do índice de Salubridade Ambiental – ISA, com base na metodologia paulista, com o objetivo de avaliar o impacto das ações de saneamento ambiental na saúde da população (BORJA e MORAES, 2003).

Os indicadores utilizados foram relativos ao abastecimento de água (cobertura, consumo e qualidade); esgotamento sanitário (cobertura de coleta); drenagem urbana (ocorrência de inundações e tipo de pavimentação); habitação (tipo de acabamento, rede hidráulica e sanitária); sócio economia (número de habitantes/cômodo, renda mensal familiar, escolaridade e hábitos de higiene) e saúde (presença de vetores e distância de depósitos de resíduos).

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 111 Tabela 3.4 - Composição dos indicadores que integram o ISA

Nº Indicadores Sub-Indicadores Observações

ICA-Indicador de Cobertura de Abastecimento

Visa a quantificar os domicílios

atendidos por sistemas de abastecimento de água com controle sanitário

IQA-Indicador de Qualidade da Água Distribuída

Visa monitorar a qualidade da água fornecida

ISA-Indicador de Saturação do Sistema Produtor

Compara oferta e demanda para

programar novos sistemas e/ou ações que reduzam as perdas

ICE-Indicador de cobertura em coleta de esgoto

Visa quantificar os domicílios atendidos por redes de esgotos e/ou tanques sépticos

ITE-Indicador de Esgotos Tratados e Tanque

Sépticos

Quantificar e qualificar os domicílios atendidos por redes de esgotos e/ou tanques sépticos

ISE-Indicador de

Saturação do Tratamento de Esgotos

Compara oferta e demanda das

instalações existentes e programar novas instalações ou ampliações

ICR-Indicador de Coleta de Lixo

Quantificar os domicílios atendidos por coleta de lixo

IQR-Indicador de Tratamento e Disposição Final de Resíduos

Qualificar a situação da disposição final dos resíduos

ISR-Ind. de Saturação do Tratamennto e Disposição Final dos Resíduos Sólidos

Indicar a necessidade de novas instalações

IVD-Indicador de Dengue Identificar a necessidade de programas preventivos IVE-Indicador de

Esquistossomose

Identificar a necessidade de programas preventivos

IVL-Indicador de Leptospirose

Identificar a necessidade de programas preventivos de redução e eliminação de resíduos III IRS- Indicador de Resíduos Sólidos IV ICV-Indicador de Controle de Vetores I IAB-Indicador de Abastecimento de Água II IES- Indicador de Esgotos Sanitários

Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 112

Nº Indicadores Sub-Indicadores Observações

IQB-Indicador da

Qualidade da Água Bruta Monitoramento da qualidade da água IDM-Disponibilidade dos

Mananciais

Mensurar a disponibilidade dos

manaciais para abastecimento em relação à demanda

IFI-Indicador de Fontes Isoladas

Analisar o abastecimento de água por fontes alternativas como bicas, fontes, poços...

ISP-Indicador de Saúde

Pública Avaliar os serviços de saneamento IED-Indicador de

Educação

Indicar a capacidade de pagamento da população pelos serviços e a capacidade de investimento dos municípios

IRF-Indicador de Renda

Indicar a linguagem de comunicação das campanhas de educação sanitária e ambiental V IRH-Indicador de Riscos de Recursos Hídricos VI ISE- Indicador Sócio Econômico

Fonte: São Paulo (1997)

A municipalidade do Rio de Janeiro vem desenvolvendo trabalhos, por meio de sua Secretaria de Meio Ambiente, para definição de indicadores ambientais, com o objetivo de avaliar suas ações. Segundo informações da Secretaria, os trabalhos em fase de elaboração deverão ser concluídos em 2005, não estando disponíveis informações a respeito.

A organização não-governamental “O Direito por um Planeta Verde” vem desenvolvendo trabalhos para definição de indicadores de cumprimento e aplicação de norma ambiental no Brasil. Os trabalhos estão inseridos em um programa internacional para a América Latina, com a participação de organizações de outros países. O projeto piloto é desenvolvido com a metodologia do ECE comentada no item 3.3.7 e considera indicadores de qualidade do ar, das águas e preservação da vegetação.

3.3.12 Experiências internacionais de avaliação ambiental por meio de índices