• Nenhum resultado encontrado

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2 Evidências de empoderamento dos participantes no contexto acadêmico e

4.2.2 Experiência como monitor nos CLLE

O trabalho dos monitores nos CLLE da FALEM envolve acompanhar, por um período de um semestre a um ano, as aulas de um professor efetivo de inglês, observando suas práticas e colaborando em algumas atividades ou em pequenas intervenções em sala de aula. A seguir destaco os relatos dos participantes acerca desta experiência:

[66] Foi muito boa minha experiência, eu aprendi bastante, não participei tanto assim

dando aula, mas foi bem gratificante assim observar e ver a metodologia do professor e aprender também (Entrevista, Marília).

[67] Foi uma experiência boa, eu conseguir a monitoria, fiquei uma ano com uma

professora que não era muito legal, teve uma vez, nos Cursos Livres que ela me hostilizou na verdade, porque eu já tinha falado pra ela que eu tinha um inglês assim não muito bom, aí ela falou que não era problema dela, eu falei pra ela que eu não estava preparada assim pra dar aula, porque eu sei assim que às vezes os professores colocam assim pra dar aula. E eu não tinha essa segurança ainda, mas ela falou pra mim que o problema não era

dela, que eu tinha que falar com a xxx79. Aí eu fique assim, isso ela falou no primeiro dia pra mim. Nisso eu ficava assim no canto, as vezes ela me chamava pra tentar conversar com os alunos, eu até conseguia na verdade. Mas teve uma vez que eu tive que escrever os nomes

79

das profissões no quadro, e aí ela falava as profissões e eu escrevia, aí teve um que não tava conseguindo escrever, aí eu fiquei assim parada, aí ela pegou o piloto da minha mão muito grosseiramente e escreveu lá, aí ela falou as coisa lá e eu fiquei me sentindo muito lixo

naquele dia, porque ela não confiou em mim, também eu fiquei parada, porque eu não me

lembrava como era que se escrevia a palavra, aí ela pegou, “me dá isso aqui, não sei que”, escreveu assim e eu fui sentar. Mas no resto foi uma experiência muito boa, eu me dava

muito bem com os alunos e eles sempre me procuravam e o que eu conseguia, eu ajudava. Eu pensei em desistir também por causa disso, da hostilidade dessa professora, mas eu não desisti e eu fui até o fim, eu consegui bastante horas, eu gostei da experiência. [...] Eu me identifiquei porque eu achei legal eu ajudar os alunos assim. Eles achavam que eu

sabia, eu achava engraçado, é porque minha turma era do primeiro nível, era legal, eu tentava ajudar eles muito com a pronúncia dos fonemas, eu posso até falar errado gramaticalmente às vezes, mas no terceiro semestre eu tive uma disciplina que era sobre os fonemas, era até um professor que dava aula, eu aprendi muito, foi muito bom, foi importante pra minha pronúncia das palavras em inglês, então eu ajudava com os fonemas.

E aí eu me senti útil, eu comecei a pensar, eu vou ensinar o inglês, eu gostava muito dos alunos, gostava bastante, fiz amizade com eles, acho que foi até por isso que eu continuei, porque eu gostei muito deles. Na monitoria eu acho que foi o começo dessa paixão pra ensinar, foi legal na monitoria, mas não no treinamento. No treinamento eu tive muita

apreensão, não conseguia sentir essa paixão, mas na monitoria sim (Entrevista, Esther).

Marília avalia positivamente a participação na monitoria. Apesar de não ter tido muitas oportunidades de intervenção, propiciou a ela a aprendizagem acerca da metodologia usada pelo professor. Esther, no entanto, avalia essa experiência de forma positiva e negativa. Ela sentia-se insegura devido às suas limitações no uso do inglês e despreparada para fazer as intervenções que porventura fossem propostas pelo professor tutor em suas aulas. Além disso, sentiu-se hostilizada por esse professor em algumas situações, conforme relata no excerto 67. Ressalto que nesse contexto, o professor tutor deveria ser um membro veterano da CoP disponível a acolher os professores em formação e a ―oferecer aos novatos conhecimentos acerca da comunidade, informações culturais, práticas e estratégias‖80 (OXFORD, 2003, p. 87). Agindo da forma relatada pela participante, o professor contribuiu para que ela se mantivesse, por um período, em uma posição marginalizada nessa comunidade, ao invés de sentir-se emocionalmente e culturalmente empoderada em relação a ela (NICOLAIDES, 2017). Apesar dos conflitos relatados, Esther orgulha-se por ter se superado e não ter abandonado a monitoria, na qual estagiou por um ano. Para Nicolaides (2017), o lapso entre o que os aprendentes aspiram e o que vivenciam pode, por um lado fazê- los sentir-se excluídos, mas por outro lado, também pode empoderá-los para superar dificuldades. O constrangimento e o sentimento de hostilidade não a levaram à desistência. De certa forma, contribuíram para seu empoderamento, pois Esther foi capaz de cumprir com

80

No original: ―[...] to provide the insider knowledge, cultural understandings, practice, and strategies to newcomers‖.

sucesso sua experiência como monitora, sentindo-se, assim, um membro mais ativo em sua CoP.

Por outro lado, a participante ainda avalia positivamente a experiência de ajudar os estudantes, respondendo suas dúvidas quando eram de seu alcance, como por exemplo, colaborando no ensino da pronúncia dos fonemas. Sob o aspecto do ensino da pronúncia, a participante demonstrou sentir-se capaz, confiante e empoderada. Essa ênfase na pronúncia correta das palavras é uma crença forte sustentada pela aprendente desde os primeiros semestres do curso da graduação, como discuti na subseção 4.1.2, em que retrato sua trajetória de aprendizagem. Tal crença foi transformada quando adotada como uma de suas prioridades no contexto em que vivenciou o papel de professora em formação. Ademais, Aragão (2008, p. 296) reforça que ―ao mudar de emoção, mudamos de ação‖, o que quer dizer que as emoções têm o potencial de contribuir para mudanças de estado de fase na trajetória de aprendizagem de LAd. No caso de Esther, ser capaz de ajudar e ensinar os estudantes elevou sua autoestima antes abalada pelos conflitos com o professor tutor, levando-a a assumir novos comportamentos e a sentir-se empoderada.

Fábio também atuou como monitor dos CLLE por um ano, porém não descreve sua experiência em sua entrevista, pois deu maior ênfase à sua atuação posterior como professor de inglês, conforme discuto a seguir.