• Nenhum resultado encontrado

3 METODOLOGIA

3.6 Procedimentos de análise de dados

Após o período de geração dos diários, esses foram os primeiros dados a serem analisados. Para a análise das narrativas dos participantes, seguiu-se o modelo proposto por Lieblich, Tuval-Mashiach e Zilber (1998) quanto à unidade de análise e ao foco de análise.

No que se refere à unidade de análise, as autoras propõem a abordagem holística, na qual se analisa o texto como um todo; e a categórica, na qual o texto é analisado a partir de categorias pré-estabelecidas. Para a análise dos dados, foram utilizadas tanto a abordagem holística quanto a categórica.

No que se refere ao foco que se objetiva dar à análise, as autoras distinguem o foco na forma ou no conteúdo. O primeiro enfatiza a estrutura do texto por meio de aspectos como sequências de eventos e escolhas gramaticais; ao passo que o segundo enfatiza tanto os conteúdos presentes na superfície do texto, relacionados ao que aconteceu e como se deu esse processo, quanto os conteúdos subjacentes nas entrelinhas do texto, referentes a motivações e intenções do participante ou a relevância de determinado evento para ele (LIEBLICH; TUVAL-MASHIACH; ZILBER, 1998). Nesta pesquisa, portanto, enfatizou-se a análise de

PERÍODOS

DISCIPLINAS INSTRUMENTOS OBJETIVOS

1º semestre (4º/2014) Aprender a Aprender LE Narrativa de aprendizagem Selecionar e descrever o perfil dos participantes 1º-5º semestre (4º/2014 - 4º/2016 intercalados por greves)

Língua Inglesa I a V Diários de aprendizagem

Descrever a trajetória de autonomização na aprendizagem de inglês 6º-8º semestre (2º/2017 - 2º2018) Diversas e TCC Entrevista Descrever a trajetória de autonomização no âmbito acadêmico e profissional

conteúdo dos dados gerados, a fim de compreender os eventos narrados pelos aprendentes, bem como as motivações, intenções, dificuldades e episódios de sucesso em suas trajetórias de aprendizagem de inglês.

A análise acerca do processo de autonomização na trajetória de aprendizagem dos graduandos deu-se em dois planos que, devido ao caráter complexo desse fenômeno, inevitavelmente se inter-relacionaram, conforme busco explicitar na figura 14:

Figura 14 – Etapas, instrumentos e objetivos da análise dos dados

Fonte: Elaborada pela autora

Na primeira etapa, portanto, para estudar a trajetória dos participantes, foram realizadas, em um primeiro momento, leituras globais dos diários e sublinhados trechos que evidenciassem, dentre outros aspectos, elementos, agentes, estados atratores e evidências de autonomia na trajetória dos aprendentes. Em um segundo momento, os excertos foram destacados e agrupados segundo as principais categorias que emergiram, em consonância com as perguntas de pesquisa que nortearam este estudo. Em um terceiro momento, na redação do texto, a trajetória de cada participante foi narrada utilizando os excertos selecionados. Essas trajetórias foram analisadas à luz do paradigma da complexidade.

A descrição das trajetórias foi complementada com a análise da entrevista. Em um primeiro momento, a partir de uma leitura global, foram sublinhadas evidências de empoderamento de cada participantes. Em um segundo momento, os excertos foram agrupados nas categorias que emergiram. Em um terceiro momento, na redação do texto, os

excertos foram descritos e analisados de forma categórica, de acordo com as evidências em comum entre os participantes.

Na segunda etapa, no estudo do processo de autonomização dos participantes, foram retomadas as leituras dos diários e da transcrição da entrevista, a fim de observar e analisar os aspectos emergentes em suas trajetórias em consonância com o modelo dinâmico de desenvolvimento da autonomia proposto nesta tese, dentre eles: os movimentos do processo de autonomização; os elementos contextuais; os instrumentos de suporte à autonomização; e a influência que os diversos subsistemas aninhados, como a motivação, as crenças, as identidades e as emoções, exerceram nesse processo. Em seguida, na redação do texto, discutiu-se esses fatores emergentes na trajetória de cada participante.

A perspectiva da complexidade, portanto, favoreceu uma visão abrangente na análise dos dados, necessária para melhor compreender o processo de autonomização dos participantes. Na próxima seção, discutirei algumas questões éticas envolvidas na geração e análise dos dados, bem como na redação da tese.

3.7 Questões éticas

Na reunião com os graduandos selecionados para explicar como se daria a pesquisa e a geração de dados, esclareci que seus relatos não seriam avaliados ou julgados pela pesquisadora, deixando-os livres para narrar suas trajetórias de aprendizagem de inglês de forma realista, pois tudo o que pudesse ocorrer em seus percursos seria relevante para a investigação: dificuldades, conquistas, sucessos, fracassos etc.

Comentei sobre o caráter longitudinal da pesquisa e sobre suas contribuições a longo prazo, por meio da escrita dos diários acerca de sua aprendizagem de inglês, nos cinco primeiros semestres do curso, e da entrevista a ser realizada ao final da graduação. Informei ainda que teriam a liberdade de se desligar a qualquer momento, caso assim o desejassem. Após esclarecer suas dúvidas, os graduandos assinaram o termo de consentimento.

Durante a geração dos dados, os participantes foram assíduos na entrega dos diários. Apesar de alguns terem passado por problemas pessoais e afetivos no decorrer do curso, não falharam em contribuir com seus textos, com a exceção de uma graduanda que deixou de entregar o último diário ao final do segundo semestre, quando foi deflagrada a primeira greve. Além disso, embora duas graduandas tenham desistido do curso (Gabriela, após o 4º semestre, e Esther, após o 5º semestre), ambas aceitaram participar da entrevista final.

Na redação da tese, foi preservado o anonimato dos participantes, atribuindo-lhes pseudônimos. Em alguns momentos, porém, senti dúvida se alguns trechos dos seus diários ou entrevistas poderiam expô-los de alguma forma. No entanto, em conversas com os participantes, os mesmos me deram total liberdade de citar quaisquer reflexões que expusessem em seus textos.

Fui professora da turma de calouros na disciplina ―Aprender a aprender LE‖, na qual os participantes foram selecionados, podendo conhecer suas necessidades e anseios, por meio de suas narrativas de aprendizagem e das atividades da disciplina. Tendo em vista que alguns desses graduandos foram os primeiros membros de suas famílias a ingressarem numa universidade, senti-me impelida a intervir em algumas ocasiões com conselhos ou algum tipo de ajuda nos momentos de dificuldade quando pensaram em desistir do curso. Porém, como pesquisadora, mantive-me neutra para não interferir em suas trajetórias.

No momento da escolha dos participantes, optei por selecionar apenas aprendentes iniciantes no inglês por dois motivos: a possibilidade de descrever suas trajetórias desde seus primeiros contatos com a língua-alvo no contexto universitário; e o desejo de colaborar, a partir dos resultados dessa pesquisa, para a defesa do livre acesso ao curso de Letras, independentemente do nível de proficiência na LAd. Pouco antes do início desta pesquisa, foram realizadas discussões na faculdade em que se cogitou não mais admitir calouros com nível iniciante de inglês, mas sim aprendentes a partir do nível intermediário de conhecimento da língua, mediante testes de proficiência. Diante desse debate, defendo que todos tenham a possibilidade de aprender a língua e de trilhar novos rumos em suas trajetórias de vida, inclusive como aconteceu comigo, pois também me enquadrava nesse perfil de graduandos que ingressaram no curso de Letras, onde hoje sou professora, sem o domínio do inglês.

Para Ortega (2005), a relevância da pesquisa depende de seu retorno social. Espero, portanto, contribuir para que todos os aprendentes possam ter o direito de ingressar e de se manter nos cursos de licenciatura, principalmente aqueles que não tiveram a possibilidade de custear cursos particulares de línguas adicionais previamente.

Além disso, em agradecimento aos participantes, que aceitaram voluntariamente narrar suas próprias histórias, pretendo, em retorno, compartilhar com os mesmos os resultados dessa pesquisa, almejando contribuir, de alguma forma, com suas trajetórias futuras.

A partir dessas reflexões, concluo este capítulo, cujo objetivo central foi apresentar as escolhas metodológicas que orientaram esta pesquisa. No próximo capítulo, apresentarei a análise e a discussão dos dados, correlacionando-as com o referencial teórico discutido neste trabalho.