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Experiências negativas Exposição fora de controle

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3.1 Método de Explicitação do Discurso Subjacente (MEDS)

3.3.6 Experiências negativas Exposição fora de controle

A maioria dos participantes já tiveram experiências negativas relacionadas à priva- cidade em redes sociais. Foram identificados quatro tipos principais de problemas ocorridos nesses ambientes: falta de controle sobre o que terceiros fazem com uma informação pessoal, falta de controle sobre o nível de exposição de uma informação, o discurso indesejado da rede social em nome da pessoa e problemas causados pelo mau uso da rede social por seus usuários.

O primeiro tipo consiste nos inconvenientes que são causados pelas ações de terceiros e envolvem a falta de controle sobre as ações que outras pessoas podem fazer com as informações dos entrevistados. Um exemplo, citado por

vários entrevistados, é a postagem de fotos ou vídeos que incluam a pessoa sem seu consentimento. E15 passou por uma situação assim, e relatou-a ao ser perguntada sobre experiências negativas que já teve em redes sociais:

E15: “Então, a experiência que eu tive no aniversário [...] você seleciona al- gumas pessoas, porque, apartamento, espaço pra ocupar... Aí, uma amiga divulgou no Facebook umas fotos que eu não queria que tivesse ido pro Facebook, porque teve uma pessoa especificamente que eu não convidei”

Ainda em relação a problemas causados por terceiros, outro tipo de experiência bastante citado pelos participantes foram os comentários inconvenientes. E16, ao falar sobre sua experiência negativa relacionada à privacidade no Facebook, disse:

E16: “[...] pessoas fazerem comentários indelicados, fazerem al- guma brincadeira sem graça, invadindo o seu limite, da sua privaci- dade.”

O segundo tipo de problema seria a falta de controle sobre a exposição das informações postadas. Assim, embora o usuário tenha feito certa ação, e tenha ciência de que ela está visível para seus amigos, ele pode se sentir mais exposto se souber que sua ação aparece em destaque, por exemplo. Os entrevistados citaram diversas experiências nas quais se sentiram expostos ou vigiados na rede social, muitas vezes sem saber o que fazer para evitar tal situação. A entrevistada E7 mostrou que se sentia exposta pelo recurso de visualizar as atividades dos seus amigos no Facebook, o qual ela não conseguia desabilitar, para que outras pessoas não acompanhassem o que ela estava fazendo:

E7: “Uma das coisas que aconteceram foi no Facebook , não que aconte- ceram, acontecem, só que ontem retiraram, eu acho que deve ter tido tanta reclamação que ontem sumiu uma janelinha no lado direito que tudo que você faz, comenta, curte, todo mundo vê e eu, pelo menos, nunca tinha achado uma maneira de impedir que as pes- soas vissem isso, porque tá no meu círculo de amigos, mas não significa que eu quero que veja o que eu tô curtindo aquela foto específica, ou tô fazendo um comentário pra uma terceira pessoa que não faz sentido com a primeira, né? Aí, por exemplo, eu tô fa- lando que tô dando uma desculpa pra alguém: ‘Ah, agora não dá pra falar

com você, porque eu tô ocupada’, aí, vô no Facebook e comento, aí a pessoa vem me cobrar: ‘Ah, não, mas eu vi naquela hora, tal dia, que você tava lá comentando a foto’.”

O recurso ao qual essa usuária se referiu não foi retirado do Facebook. O que aconteceu foi que a rede recebeu um novo design e para algumas pessoas ele não aparece, mas pode ser exibido caso a pessoa deseje3. Desse modo, o problema continua, mas

agora essa usuária, e outros que tiveram a mesma impressão, não têm mais ciência da sua existência. Ainda nesse sentido, a entrevistada E1 também comentou sobre um recurso do Facebook de ver ações dos melhores amigos, que possibilitava que uma pessoa vigiasse o que ela estava fazendo, deixando-a incomodada:

E1: “Eu descobri que existe isso, porque meu namorado colocou a mim como melhor amiga dele. Tudo que eu faço, ele sabe, é um ab- surdo! Tipo, isso é muito obsessivo, não é? Como assim? (risos) [...] Tem uma lista que ele entra que só tem as coisas que eu faço.”

O terceiro tipo de problema observado é quando a rede social faz um dis- curso em nome do usuário, de forma automática, podendo causar situações constrangedoras. Um exemplo é o fato do Facebook mostrar se uma mensagem en- viada para alguém já foi visualizada pelo destinatário. O entrevistado E12 teve uma experiência negativa em relação a isso:

E12: “Aí, um belo dia, não sei o que eu tava fazendo no computador, eu abri o Facebook dessa forma que eu te falei, bem rápido, e simultaneamente eu abri o outro site, e fui olhar o outro site que tava mais importante pra mim. Aí esse cara [...] conversou comigo no bate-papo, aí quando eu vi que o Facebook tava aberto eu mudei pra aba do Facebook, fui lá e fechei, direto. Aí depois, esse cara, meu amigo de, antigo, me mandou uma mensagem muito mal-educada falando que eu fui grosso com ele de não ter respondido a pergunta que ele me fez, né, porque... que ele achava aquilo um absurdo [...]”

Conforme havia sido mencionado por E12 na entrevista, ele costumava estar on- line no bate-papo. Possivelmente, o que houve foi que enquanto ele deixou a aba com o Facebook aberta e mudou de aba para utilizar outro site, esse amigo lhe enviou uma

3

Uma resposta oficial da equipe do Facebook sobre esse assunto pode ser encontrada neste link: https://www.facebook.com/help/community/question/?id=607629589247866

mensagem. Quando E12 voltou para a aba do Facebook, a fim de fechá-la, provavel- mente o Facebook considerou a mensagem como visualizada. Então, o sistema fez um discurso em nome do usuário, enviando ao remetente da mensagem a informação de que ela foi visualizada. O remetente, por sua vez, ao receber o discurso do sistema de que mensagem foi vista e percebendo que não foi respondida, se sentiu ignorado.

O último tipo seria o mau uso da rede social por seus usuários. Um exemplo de experiência citado alguns participantes foi a criação de perfis falsos com seu nome ou sua foto. E2 contou a seguinte experiência:

E2: “[...] Tive perfis falsos com meu nome, no Facebook e no T witter. São duas redes sociais que eu costumo usar com muita frequência. E eu vi que tem uma, tinha lá perfis com o mesmo nome que eu. Tentei clicar lá, denunciando, dizendo que querem se passar por mim, mas ainda assim não sei se teve o efeito esperado.”

Embora esse tipo de problema possa estar além do controle das redes sociais, seria interessante que a rede social possibilitasse ao usuário acompanhar o seu andamento das denúncias que fez e ter um retorno do que foi feito em relação àquela situação. No caso do Facebook, quem fez a denúncia não recebe nenhum aviso sobre o que houve4

. Se as redes sociais adotassem a ação de responder aos usuários que criam as denúncias possivelmente aumentaria seu sentimento de segurança em relação ao sistema.

3.3.7

O senso comum é que as pessoas estão se expondo