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As informações consideradas muito privativas podem não estar nas redes sociais

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3.1 Método de Explicitação do Discurso Subjacente (MEDS)

3.3.2 As informações consideradas muito privativas podem não estar nas redes sociais

Existem vários graus do quão pessoal pode ser uma informação [Turn, 1976; Comber, 1969]. Nas entrevistas, observou-se que os participantes definem quais informações pessoais irão ser colocadas nas redes sociais, e quais não irão, dependendo do quanto elas são consideradas privadas. Portanto, quanto mais privativa é uma informação, menor seria a chance de ela ser compartilhada de alguma forma no Facebook.

Em geral, eles disponibilizam na rede informações que consideram pessoais, mas apenas até certo ponto. Então costumam se limitar a informações sobre gostos, links, compartilhamento de postagens feitas por outras pessoas e fotos, além de curtir ou comentar as postagens de outras pessoas.

Mesmo aqueles que deixam suas informações visíveis apenas para os amigos difi- cilmente postam informações que consideram mais privativas. O entrevistado E3, por exemplo, contou que coloca fotos suas na rede social, e que restringiu todas as informa- ções para serem visualizadas apenas por seus amigos. Porém, demonstra não colocar informações que seriam mais pessoais:

E3: “Ah, eu costumo colocar mais uma música, uma notícia internacio- nal, nacional, alguma piada que eu ache engraçada, mas coisa minha, mesmo, que eu esteja falando, não coloco, não”.

E2: “[...] Já esqueci o meu facebook aberto e aí uma colega teve acesso a ele. Foi, é uma coisa inusitada, mas não chega a ser constrangedor porque, exatamente, eu não sinto que o meu facebook é um lugar cheio de segredo, eu não sinto que eu compartilho ali a minha privacidade”.

Assim, embora haja informações pessoais sendo postadas no Facebook, aquelas que têm um grau maior de criticidade, sendo consideradas mais pessoais, não são colo- cadas na rede. Pôde-se perceber que eles evitam colocar informações como problemas pessoais ou detalhes de seus relacionamentos, e outras informações que consideram mais pessoais relativas à sua vida. Esse evento é bem claro na fala de E5, quando fala sobre o que compartilha na rede social:

E5: “Então, as informações que eu, atualmente, estou divulgando são mais do cunho de princípios, questões religiosas e... mais isso, nada de infor- mações pessoais, nem sentimentos e nem emoções nem nada, só mais de cunho espiritual.”

Vale salientar que os conceitos do que seriam informações pessoais e o que seria uma informação privativa demais para ser colocada na rede social são subjetivos. Por exemplo, nesse trecho a participante E4 conta que às vezes coloca desabafos na rede social:

E4: “Mas pensando em redes sociais e coisas do tipo, eu me preservo até certo ponto, mas, ao mesmo tempo, é um lugar de desabafo em alguns momentos.”

Ela não considera os desabafos que faz on-line uma informação tão pessoal que não possa ser colocada em sua linha do tempo. Porém, ao compararmos a visão dela com a do participante E5, que afirmou anteriormente que não coloca sentimentos, por considerá-los privativos, percebe-se que a definição do que é pessoal pode ser subjetiva. Alguns entrevistados chegaram a falar sobre isso diretamente, mostrando que entendem que o conceito do que é ou não pessoal é subjetivo, como nessa fala da participante E7, ao ser perguntada sobre o que considera ser informações pessoais:

E7: “Isso, cada um decide o que é, imagino que cada um decide aquilo que é pessoal ou não, o que é público e o que é privado, acho que não existe uma rotulação geral, depende da pessoa definir isso.”

Assim, a maioria dos participantes adota uma estratégia mista, que consiste basicamente na avaliação do quanto a informação é privativa, para definir se ela será ou não postada na rede social. Apenas alguns entrevistados adotam a estratégia de não postar nada que consideram pessoal. Pode ser que eles definam o quão pessoal é uma informação a partir dos possíveis riscos indesejáveis que podem advir da divulgação. Quanto maior o risco, menor seria a chance da informação ser postada. Por exemplo, a entrevistada E16, além de colocar muitas fotos visíveis apenas para seus amigos, coloca outras informações que considera terem um menor risco de serem criticadas:

E16: “Eu mais compartilho aquelas tirinhas, coloco algumas informações de alguns planos, algumas conquistas, mas nada, efetivamente, que possa gerar muita inveja, muito deboche.[...]”

As falas dos entrevistados dão indícios de possíveis causas para que as pessoas não queiram colocar informações que julgam como mais privativas na rede social. Uma das possibilidades seria que eles não estão disponibilizando essas informações pelo fato de que, apesar de muitas vezes esses ambientes oferecerem recursos para gerenciamento de quem tem acesso às informações postadas, restringir o acesso adequadamente a essas informações pode demandar grande esforço e tempo.

Um exemplo disso seria o baixo uso, por parte dos entrevistados, do recurso de “listas” oferecido pelo Facebook. Esse recurso opcional2 que possibilita agrupar os

amigos a fim de facilitar o compartilhamento de informações para determinados grupos. Esse recurso pode ser utilizado para gerenciamento de privacidade. Porém, os poucos participantes que utilizam essa ferramenta para este fim o fazem apenas utilizando a lista de membros da família, que é gerada automaticamente pelo Facebook. Eles não personalizam o gerenciamento de privacidade com a criação de listas específicas.

O fato das pessoas optarem por não postar a informação na rede, ao invés de postá-las configurando adequadamente quem poderia acessar aquela informação, pode ser uma indicação de que se faz necessária uma mudança ou reformulação dos recursos oferecidos para restrição do acesso a conteúdos, pois da forma como são apresentados eles não têm sido utilizados. A fala da entrevistada E11, ao ser perguntada se utiliza o recurso de “listas” do Facebook, demonstra que ela considera o custo de tempo para utilização desse recurso muito alto, e que por isso prefere não utilizá-lo:

E11: “Eu sei que elas existem, uma vez eu tentei, mais ou menos, classi- ficar, mas aí eu vi que eu tinha amigo demais pra ficar perdendo tempo em

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classificar [...]. O tempo que eu passo no Facebook não chega a ser suficiente pra ficar classificando meus amigos nisso aí, não (risos)”. A participante E10, também demonstrou ter uma visão parecida. Quando expli- cava como utiliza o recurso de Listas, disse:

E10: “Eu acabo separando [com a lista automática], assim, um pouco, só família e amigo. Eu não cheguei a separar [manualmente], nunca tive paciência pra sair separando, não.”

Nessa fala pode-se perceber que a entrevistada não considera fazer um refinamento mais adequado das restrições de acesso por não ter paciência, ou seja, por acreditar que isso custaria uma quantidade de esforço ou tempo que ela não considera aceitável. Assim, uma vez que a estratégia disponibilizada pelo projetista do Facebook não é bem aceita entre os usuários, eles acabariam optando por formas alternativas de gerenciar sua privacidade, entre elas a estratégia de não postar certas informações.

Outra possibilidade para explicar o porquê das pessoas não colocarem as infor- mações mais pessoais no Facebook, que não exclui a anterior, é a de que as pessoas não querem colocar essas informações devido a uma falta de confiança geral de que, no mundo virtual, a privacidade de seus dados será mantida. Isso parece estar ocorrendo pelo fato de que as pessoas não sabem a forma como seus dados poderão ser utilizados por outras pessoas através da rede, ou até mesmo o destino que a empresa responsável pela rede social dará aos mesmos.

Nesse sentido, percebeu-se que a maioria dos entrevistados demonstrou uma des- crença em relação à segurança dos dados mantidos por companhias. Um exemplo disso pode ser visto na resposta de E5 sobre possíveis ações que poderiam ser realizadas para se preservar a privacidade:

E5: “[...] uma forma legal de fazer uma restrição nos sites que fazem cadas- tro, essas coisas, de difundirem essas informações, porque o que acontece hoje é: você se cadastra no site e suas informações vão pra dez sites diferentes [...]”.

A entrevistada E11 fala claramente que quando tem uma informação mais pessoal, prefere entrar em contato com as pessoas para passar a informação por outros meios que não a rede social:

E11: “O Facebook, eu entendo como uma coisa que é pública [...] se eu pus ali, não é mais meu, eu não sou dona daquele espaço, eu posso

até apagar, mas eu sei muito bem que eu apago, não aparece lá no perfil, mas não foi apagado lá da base de dados [...]”

3.3.3

Os níveis de compartilhamento off-line não se refletem