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2. ASPECTOS DA TEOLOGIA WESLEYANA DA SANTIFICAÇÃO

2.2 Expiação

A expiação pode ser entendida de forma geral como um ato ou dom que ajuda em reconciliar dois partidos separados um do outro (Ibid., p. 97). Para Wesley, expiação em Cristo era um tema de bastante importância, pois apenas através da expiação da culpa do pecado, que o ser humano poderia se libertar do poder do pecado. A expiação pela culpa literalmente libertava o pecador do poder do pecado (WESLEY, 1976, p. 517-518).

Wesley acreditava que Cristo era a única fonte para a salvação do homem. Era através da justiça de Cristo que o homem podia ser tido como justo perante Deus. Nossos pecados foram pagos pelo sacrifício expiatório de Cristo. Sua justiça se torna nossa. Em seu sermão de 1765, O Senhor justiça nossa (Nº 20), Wesley defende que

Nossa justificação procede livremente da simples misericórdia de Deus. Porque, quando o mundo inteiro não era capaz de pagar sequer uma parte de nosso resgate, aprouve a Deus, sem nenhuma intervenção de nossos merecimentos, preparar-nos o corpo e o sangue de Cristo, para que por eles fosse pago nosso resgate e satisfeita sua justiça. [...] Em consideração a isto – que o Filho de Deus provou a morte por todos os homens, Deus agora reconciliou o mundo consigo mesmo, não lhe imputando seus primitivos pecados. De modo que, em atenção a seu bem-amado Filho, ao que Ele sofreu por nós, Deus agora nos outorga, sob uma única condição (que Ele próprio também nos habilita a preencher), tanto a remissão da pena merecida pelos nossos pecados, como nossa restauração em seu favor e a recondução de nossas almas mortas à vida espiritual, como penhor da vida eterna (WESLEY, 1986, v. 5, p. 239-240).

Wesley entendia que a morte de Cristo satisfazia a justiça de Deus e a penalidade de nossos pecados. Este conceito não fora inventado por ele, mas adotado do anglicanismo. Cristo havia vivido uma vida de justiça, e sua morte tomava o lugar da morte do pecador. A justiça de Cristo poderia ser nossa também. Ele a oferece a todos e não nos é forçada ou irresistível, como o afirmavam os calvinistas. Ele evitava afirmar que a perfeição de Cristo era transferida para o pecador, sendo que este já seria considerado perfeito e não necessitaria de santificação. Se assim fosse, Cristo imputaria sua justiça ao pecador, e este, por sua vez, seria considerado justo independentemente de seu comportamento (MADDOX, p. 104).

2.3 Justificação

Wesley reconhece que o termo “justificação” pode, na Bíblia, ser tão amplo a ponto de abarcar a santificação também (WESLEY In: OUTLER, v. 1, p. 187). Por “justificação” intencionamos identificar aqui o primeiro momento do processo da salvação, aquele em que os pecados do ser humano são perdoados e ele é visto por Deus como justo. Como vimos anteriormente, Wesley defende, no caminho da salvação, uma sinergia humana/divina. Não aplicamos este conceito apenas ao tema da santificação, mas também ao da justificação. Cada um, o Pai, o Filho, o Espírito Santo e o pecador estão presentes no momento em que ocorre a justificação. A participação do pecador não deve ser considerada como possuindo mérito em si, mas ela é necessária. Deus, de sua parte, participa “com sua misericórdia e graça; a parte

de Cristo satisfazendo a justiça de Deus, oferecendo seu corpo, derramando seu sangue; e de nossa parte, fé verdadeira e viva nos méritos de Jesus Cristo” (WESLEY, v. 8, p. 361).

O pecador também deve anteceder o momento da justificação com seu arrependimento. Tal arrependimento não é possível apenas por parte do ser humano. Ele também é um dom de Deus, capacitando-o a entender sua condição lastimável e levando-o a um “profundo sentimento da ausência de todo bem e da presença de todo mal” (WESLEY In: OUTLER, v. 1, p. 194). A justificação não marca o começo da obra de Deus no coração do homem, pois Ele já está atuando, através de sua graça preveniente, muito tempo antes deste momento.

Salvação começa com o que é usualmente denominada (e muito apropriadamente) graça preveniente, inclusive o primeiro desejo de agradar a Deus, o primeiro alvorecer da luz concernente à sua vontade, e a primeira leve e passageira convicção de se ter pecado contra Deus. Tudo isso implica em alguma tendência com respeito à vida, algum grau de salvação, o começo da libertação de um coração cego e insensível, totalmente insensível a Deus e às coisas de Deus. Esta salvação é continuada pela graça convincente, usualmente, denominada, nas Escrituras, de arrependimento, a qual produz um autoconhecimento maior, para alcançar a mais completa libertação do coração de pedra (WESLEY In: OUTLER, v. 3, p. 203).

Justificação, além de alterar a forma como Deus nos vê, também afeta a forma como nós vemos a Deus. Ela transforma nosso relacionamento com Deus. A partir da justificação, Deus nos vê como filhos, e nós passamos a vê-lo como Pai. De inimigo, Ele passa a ser visto como Pai.

Wesley nem sempre compreendeu justificação da mesma forma. Em Um apelo adicional para homens de razão e religião, Wesley admite que “ignorava totalmente a natureza e a condição da justificação. Às vezes, eu a confundia com a santificação” (WESLEY, v. 8, p. 111). Em 1730, por exemplo, Wesley chegou a escrever para sua mãe comentando sua leitura de Jeremy Taylor e o que aprendeu: “No evangelho, o perdão dos pecados é a santificação” (BAKER, 1980, v. 1, p. 245). É apenas em 1938, em seus encontros com Peter Böhler, que Wesley passou a entender justificação e seu relacionamento com a fé, o perdão e a santificação.

Em seu sermão A justificação pela fé (Nº 5), Wesley defende que justificação não deve ser entendida como uma negação das acusações de Satanás ou mesmo da Lei de Deus. A justificação do pecador de forma alguma cala a voz da Lei se este vier a infringi-la novamente (WESLEY In: OUTLER, v. 1, p. 187-188). O ato justificador de Deus também não O engana a ponto de levá-Lo a nos ver de forma que não somos. A justificação não nos “maquia” diante

de Deus a fim de sermos vistos santos e justos, quando na realidade não somos. Pela justificação Deus não nos confunde com Cristo, Davi ou Abraão (Ibid., p. 188). Wesley rejeita a possibilidade de haver alguma obra boa, ou a possibilidade de alguém se tornar santo antes da justificação. Ao justificar, a graça de Deus é oferecida gratuitamente ao pecador, e não ao santo. “A própria suposição não é apenas completamente impossível […] mas também grosseiramente, e intrinsecamente absurda, e contraditória em si mesma. Porque não é um santo, mas um pecador que é perdoado, e sob a noção de um pecador. Deus não justifica o devoto; não aqueles que já são santos, mas o ímpio”. Ele termina seu pensamento, lembrando que “afirmar a precedência da santidade é dizer que o Cordeiro de Deus tira somente os pecados que previamente tenham sido tirados” (Ibid., p. 191).

No entanto, Maddox no lembra que existe um tipo de justificação que requer anteriormente a santificação: a justificação final (Ibid., p. 171). Na conferência de 1770, Wesley argumentou que tanto as boas obras internas e externas são necessárias na vida do cristão como “condição” para salvação final. Aparentemente, Wesley não estaria defendendo um tipo de salvação por mérito, mas apenas estabelecendo “pré-requisitos” para a aceitação divina final (WESLEY, v. 8, p. 337).

2.4 Obediência

Por obediência, entendemos aqui como obediência à Lei de Deus. Para Wesley, a Lei de Deus é boa e santa. Neste caso, Wesley se refere à lei moral. Ela é

um retrato incorruptível do Alto e Santo Ser que habita a eternidade. É a manifestação visível a homens e anjos daquele que, em sua essência, nenhum homem jamais viu nem pode ver. É a face de Deus descoberta; Deus revelado a suas criaturas de modo acessível a elas; Deus manifestado para dar vida, e não para a destruir, – para que os homens possam ver a Deus e viver. É o coração de Deus patenteado ao homem (WESLEY, v. 5, p. 438).

Em seu sermão A origem, a natureza, características e funções da Lei (Nº 34), Wesley aponta para a origem da lei moral como sendo muito antes de Moisés, Noé ou Adão. Conforme ele defende, a Lei de Deus foi estabelecida “nos anais da eternidade” mesmo antes da criação dos anjos (WESLEY In: OUTLER, v. 2, p. 6). Esta lei era gravada no coração dos seres criados. Mas, conforme o homem desobedeceu a Deus, esta Lei apagou-se de seu coração, “obscurecendo-se a visão de seu entendimento à medida que sua alma se tornava ‘alienada de Deus’”. O ser humano hoje, em seu estado decaído, é incapaz de compreender a altura, a profundidade, a extensão e a largura dessa lei. Somente através do Espírito de Deus é

que este pode alcançar a compreensão da Lei de Deus. Ela nos fornece o padrão de comportamento e vida, levando o pecador até Cristo.

Para ele, uma das características fundamentais de um metodista e daquele que está experimentando a santificação é a obediência à Lei de Deus e aos seus mandamentos. Para tal cristão,

não há uma moção em seu coração que não seja conforme Sua vontade. Todo pensamento levantado aponta para Ele, e está em obediência com a lei de Cristo. A arvore é conhecida por seus frutos. Ele ama a Deus, portanto guarda seus mandamentos; não apenas alguns, ou a maioria, mas todos, desde o menor até o maior. [...] Ele é “percorre os caminhos dos mandamentos de Deus”, colocando seu coração em liberdade. Esta é a sua glória; esta é a sua coroa diária de alegria, “fazer a vontade de Deus na terra, assim como é feita nos céus”. [...] Ele guarda todos os mandamentos de Deus com toda sua força. Sua obediência é proporcional ao seu amor, a fonte de onde ele flui. Amando a Deus com todo seu coração, ele O serve com todas as suas forças (WESLEY, v. 8, p. 344).

Wesley retoma este último pensamento em A justificação pela fé (Nº 5), defendendo que a obediência à lei deve brotar do amor plantado por Deus em nós. Nenhuma obra é considerada boa se esta não for gerada pelo amor. Isto significa que não é possível obedecer ou fazer obras boas antes da justificação, pois o amor do Pai ainda não foi plantado no coração do pecador. É a partir da justificação que o ser humano é capacitado para obedecer a Lei de Deus (WESLEY In: OUTLER, v. 1, p. 193).

Mais adiante, em A Lei estabelecida pela fé (Nº 35 e 36), ele procura mostrar que a obediência à Lei de Deus não está em contradição com a fé. Ela é fundamental para o processo de santificação e achar que a fé anula a lei simplesmente destrói todo o processo de santificação (Ibid., p. 26). De certa forma, santificação acaba sendo equiparada à obediência. Conforme ele afirma, é incorreto o conceito de que uma vez debaixo da graça, estamos “livres” da Lei. O ser humano não era mais obrigado a obedecer a Lei do que o somos agora. Se assim o fora, a fé substituiria a santidade.

A observância da Lei não é um meio de salvação, mas ela deve seguir à justificação. “O apóstolo assevera que a santidade não pode preceder à justificação, mas não que esta não tenha necessidade de ser seguida por aquela” (Ibid., p. 28). O que o ser humano não conseguia fazer antes para ser salvo, isto é, obediência à Lei, agora o faz livremente. “Obedece, não por motivo de medo servil, mas por um mais nobre princípio, que é o da graça de Deus predominando em seu coração e determinando que todas as suas obras sejam operadas em amor” (Ibid., p. 29).

2.5 Perfeição Cristã

Salvação, segundo a definição wesleyana está muito além de apenas manter um conjunto de crenças e rituais.

Por salvação, eu intento dizer não apenas libertação do inferno ou ir para o Céu, como vulgarmente consideramos; mas uma libertação presente do pecado, uma restauração da alma à saúde primordial, à sua pureza original; uma recoberta da natureza divina; uma renovação de nossas almas após a imagem de Deus, em retidão, verdadeira santidade, justiça, misericórdia e verdade. Isto implica todos os temperamentos santos e celestiais e, por conseqüência, toda santidade de conversão” (WESLEY, v. 8, p. 47).

Para que tudo isto se concretize na vida do cristão, Wesley acreditava na necessidade de uma santificação completa (perfeição cristã). A forma de esperar até esta segunda santificação é “em obediência vigorosa e universal, em observância zelosa de todos os mandamentos, em vigilância e em aflição, em negação de nós mesmos e tomando nossa cruz todos os dias” (WESLEY, v. 11, p. 402). Tais não seriam formas de obter salvação, mas seriam “canais comuns por meio dos quais Deus transmite a graça da santificação completa aos crentes” (COLLINS, 2010, p. 374). Sendo assim, o fiel não pode se contentar com a primeira benção, mas buscar e aguardar a segunda obra de graça no cristão. “Então, e somente então, o leproso se purificará. Somente então a raiz do mal, a mente carnal, se destrói: o pecado inato não mais subsiste” (WESLEY, v. 5, p. 165).

Esta “segunda mudança” não seria estática. Mesmo sendo perfeito, o fiel continua crescendo. É impossível o cristão perfeito permanecer inerte.

Sim, e quando você tiver obtido a medida do amor perfeito, quando Deus tiver circuncidado seu coração, e te permitido a amá-Lo, com todo seu coração e com toda sua alma, não pensem em descansar. Isto é impossível. Vocês não podem sustentar-se ainda; você pode tanto levantar-se quando cair; levanta-se mais alto ou cair mais baixo. Portanto, a voz de Deus, para os filhos de Israel, os filhos de Deus, é, ‘Prossiga!` ‘Esquecendo-se das

coisas que ficaram para trás, e siga, para frente com aqueles que avançam para o alvo, para o prêmio de seu alto chamado de Deus em Jesus Cristo!’”

(WESLEY, v. 7, p. 202).

Portanto, até para aquele que é um cristão santificado existe a possibilidade de se perder. Lindström acredita que o pensamento em graus é o elemento mais característico de Wesley. Lindström encontra no pensamento de Wesley graus de bem, mal, inimizade contra Deus, sinceridade, paz, alegria, amor, santificação interna e externa. Segundo ele existem graus de fé, graus de contemplação de Deus, graus no favor ou descontento de Deus.

Conforme ele comenta, Wesley acreditava que haveria graus maiores de perfeição a serem atingidos após a morte (LINDSTRÖM, p. 120-121). Diante de tal compreensão, podemos captar melhor a junção que Wesley fazia da santificação contínua e instantânea, onde era um processo que sempre continuaria, mas que cada nível ou cada nova fase era “alcançado” instantaneamente. Todo o processo (contínuo) é composto por etapas (instantâneo), procurando alcançar a perfeição do homem, porém nunca parando.

Com isto em mente, Lindström acerta o ponto quando critica a associação limitada que é feita, por estudiosos do pensamento de Wesley, entre santificação e o aspecto instantâneo, isto é, a “segunda benção”. Muitos deixam de considerar a ênfase wesleyana no processo de santificação que tira a pessoa do estado de pecador condenado, passa pelo arrependimento, purificação, vitória sobre o pecado, erradicação da natureza pecaminosa e crescimento constante. A “segunda benção” só pode ser corretamente interpretada tendo uma visão panorâmica do pensamento de Wesley (Ibid., p. 120-125).

Outra forma de entender a perfeição cristã é estudando aquilo que Wesley afirmou não ser santificação completa. Na perfeição cristã: 1) o crente não é perfeito em conhecimento; 2) nenhuma condição de graça é tão elevada que a pessoa não possa cair de novo em pecado; 3) a perfeição do cristão não está livre de fraquezas, fragilidades, e pensamentos confusos; 4) o amor perfeito não elimina as tentações, e; 5) não é estática, sem admitir uma melhoria e progresso contínuo do crente (COLLINS, p. 388-391).

Além do mais, Wesley acrescenta em Um simples relato da perfeição cristã:

Creio que não há perfeição nesta vida que exclua transgressões involuntárias, as quais entendo ser conseqüência natural da ignorância e erros inseparáveis da mortalidade. Portanto, perfeição sem pecado (sinless perfection) é uma frase que nunca uso, a menos que venha a me contradizer. Creio que uma pessoa preenchida pelo amor de Deus ainda é passível de tais transgressões involuntárias (WESLEY, 1986, v. 11, p. 396).

2.6 A santificação em síntese

Conforme foi visto neste capítulo, em Wesley encontramos um caminho da salvação: O homem se encontra em seu estado natural, possuindo a natureza do pecado e escravo deste. Ele recebe o conhecimento da lei, da ira de Deus e de sua perdição. Ao perceber sua total incapacidade de salvar-se, lhe é apresentado a justiça de Cristo e seu sacrifício. O pecador aceita, pela fé, a justiça de Cristo é então justificado. Seus pecados são perdoados e sua culpa é removida. Logo em seguida, o Espírito Santo passa a trabalhar na purificação daquele ser, dirigindo-o ao alvo da religião: Libertação total do pecado e uma vida de inteira justiça. A

obra de regeneração iniciada na vida do ser humano marca o começo da santificação. Enquanto que justificação é entendida como “libertação do pecado e a recuperação do favor divino”, santificação é vista como “libertação do poder inerente e da raiz do pecado e a restauração da imagem de Deus” (LINDSTRÖM, p. 19).

Na justificação, o pecador recebe perdão pelos seus pecados e lhe é eliminada a culpa. A partir da libertação de sua culpa, o pecador recebe a liberdade do domínio do pecado inerente:

Se alcançarmos o primeiro resultado, o segundo naturalmente se lhe seguirá: se nossas dívidas nos são perdoadas, as cadeias se nos desprendem dos pés e dos pulsos. No mesmo instante em que, pela livre graça de Deus em Cristo, ‘recebemos o perdão dos pecados’, também recebemos ‘herança entre os que são santificados , pela fé que nele há’. O pecado perdeu seu poder: não mais tem domínio sobre os que estão debaixo da graça, isto é, no favor de Deus (WESLEY, v. 5, p. 339-340).

Apesar de haver um arrependimento antes do momento da justificação, o conhecimento e o arrependimento de pecado precisa continuar todos os dias para que o caminho da santificação possa prosseguir. Santificação completa não pode ser alcançada se não houver arrependimento. “Não há lugar para arrependimento naquele que crê não possuir pecado em sua vida ou coração. Conseqüentemente, não é possível haver aperfeiçoamento no amor, para o qual o arrependimento é necessário” (WESLEY, v. 6, p. 51).

Em seu sermão Sobre a perfeição (Nº 76), Wesley indica que “perfeição é outro nome para a santidade universal: retidão interior e exterior: Santidade de vida, surgindo da santidade de coração”. Neste sermão, ele enumera diversas características da santificação. Em primeiro lugar, santificação é “amar a Deus de todo coração e o próximo como a si mesmo” (WESLEY, v. 6, p. 413). Klaiber e Marquardt mostram quatro identificações da santificação com o amor: 1) “Santificação é dom de Deus, assim como o amor de Deus o é”. Para Wesley, este é o “cumprimento do novo nascimento e princípio da santificação, bem como única e verdadeira marca de todo ‘metodista’”. 2) “Santificação e santidade recebem do amor a marca que a define”. Viver a santidade é uma resposta à santidade de Deus e de seu amor. Esta característica não se define no negativo, ou seja, por aquilo que o cristão não é ou não faz, mas no positivo, levando a uma atitude ativa. 3) Santificação é amor, portanto, ela é “necessariamente santificação social”. A santificação possui sempre seu horizonte na comunicidade, incluindo o correto relacionamento com as pessoas. 4) Já dizia Wesley, “quem ama vive a vida eterna”. (KLAIBER e MARQUARDT, 2006, p. 301-302).

Além da santificação ser entendida como “amar a Deus de todo o coração e o próximo como a si mesmo”, Wesley continua mostrando que santificação também é

2) ter a mente de Cristo; 3) produzir o fruto do espírito (de acordo com Gálatas 5); 4) restauração da imagem de Deus na alma, recuperação da imagem moral de Deus, que consiste em “retidão e santidade genuínas”; 5) ter retidão interior e exterior, “santidade de vida que brota da santidade de coração”; 6) santificação divina no corpo, na alma e no espírito; 7) perfeita consagração individual à Deus; 8) entrega contínua, por intermédio de Jesus, dos pensamentos, palavras e ações do indivíduo como sacrifício de louvor e ações de graça à Deus e 9) salvação de todo o pecado (WESLEY, v. 6, p. 413-415).

Devido às muitas objeções levantadas à última característica de santificação mencionada acima (salvação de todo pecado), Wesley passou a maior parte do seu sermão argumentando em favor desta posição. No entanto, ele lembra que “esta salvação do pecado, de todo o pecado, é outra descrição da perfeição: embora, na verdade, ela expressa apenas o menor, o ramo mais inferior dela, apenas a parte negativa da grande salvação” (Ibid., p. 415). Santificação é muito mais do que apenas a remoção do pecado no crente.

Em outro sermão – Sobre a vinha de Deus (Nº 107) – Wesley explica que na santificação, existe um “dualismo”: a combinação de pureza externa, através de atos de amor santo, e pureza interna, através da fé. Os cristãos deveriam ser “tão obstinados da santidade interior, como qualquer místico; e, da exterior, como qualquer fariseu” (Ibid., p. 205). Ele adverte, no entanto, contra a tendência de enfatizar apenas um destes aspectos em detrimento do outro. Aqui encontramos uma perfeição interna, de caráter, personalidade, paixões, fé e motivação; como também uma perfeição externa, de atos, amor, obediência. É um crescimento equilibrado e harmonioso.

Outro dualismo que podemos encontrar na teologia de Wesley, é aquela popularizada por George Croft Cell. Cell nota que a teologia de Wesley acarreta a “necessária síntese da ética protestante de graça com a ética católica de santidade” (1984, p. 361). Um exemplo que podemos dar desta percepção “católica” de graça em Wesley é quando ele escreve em seu diário, em 1765 que “é impossível alguém reter o que recebe sem melhorar o que recebeu”, enfatizando a necessidade de trabalhar a graça concedida por Deus (WARD E REITZENRATER, v. 4, p. 499). Wesley, em outro momento, escrevendo para uma moça de nome March, diz: “Usar a graça recebida é o caminho correto para obter mais graça. Usar