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2. ASPECTOS DA TEOLOGIA WESLEYANA DA SANTIFICAÇÃO

2.1 Natureza do homem e pecado

White entendia o pecado como sendo, conforme as palavras de 1 João, “a transgressão da lei”. Em um discurso que ela proferiu na Conferência de Minneapolis, White chegou a afirmar que esta é “a única definição de pecado” (WHITE, 1987, v. 1, p. 128). É uma definição que ela utiliza inúmeras vezes em seus escritos. Dois anos depois de Minneapolis, por exemplo, ela volta a tocar neste assunto afirmando que não existe outra definição para transgressão (pecado), que não seja “transgressão da lei” (Ibid., p. 537). Devemos entender que, transgressão e pecado são termos utilizados para se referir à mesma coisa; e que por “lei de Deus”, ela não se limita apenas aos dez mandamentos. Toda ordem, mandamento, ordenança que venha de Deus deve ser considerada como “lei de Deus”.

No entanto, muitos intérpretes de Ellen White observam em suas obras uma segunda forma de ver o pecado, sendo esta a condição de depravação no qual o homem se encontra (KNIGHT, 2008, p. 39-40). Isto inclui propensões inerentes, inclinações e tendências para o mal. “Há em sua [do ser humano] natureza um pendor para o mal, uma força à qual, sem auxílio, não poderá ele resistir” (WHITE, 1998, p. 29).

Hábitos maus se formam mais facilmente do que bons hábitos, e os hábitos maus são abandonados com mais dificuldade. A depravação natural do coração é responsável por esse fato muito conhecido: que dá muito menos trabalho desmoralizar os jovens, corromper suas idéias sobre moral e religião, do que incutir-lhes no caráter esses duradouros, puros e incorruptos hábitos de justiça e verdade. A condescendência consigo mesmo, o amor dos prazeres, a inimizade, o orgulho, presunção, inveja, ciúme, crescem espontaneamente, sem exemplo nem ensino. Em nosso presente estado decaído, tudo que é necessário é abandonar às suas tendências naturais a mente e o caráter (WHITE, 1968, p. 195).

O motivo para o atual estado da humanidade se encontra na queda de Adão e Eva. Seu pecado levou à humanidade a herdar propensões inerentes para desobediência. Obedecer a Deus não é algo natural ao ser humano. “O ser humano foi corrompido em sua própria fonte. Desde então têm o pecado desenvolvido sua obra odiosa, alcançando mente após mente. Cada pecado cometido relembra os ecos do pecado original” (WHITE, 1901, p. 1). Esta última expressão nos leva à questão do conceito de pecado original levantado por Agostinho. Existe certo debate dentro da Igreja Adventista quanto ao posicionamento de Ellen White sobre o assunto (WHIDDEN, p. 129-132). Em certos momentos, White aparenta defender que o ser humano herdou a culpa de Adão, além de sua natureza e condenação: “Com relação ao primeiro Adão, os homens nada receberam dele senão a culpa e a sentença de morte”

(WHITE, 1996, p. 475). Nesta citação, ela parece ser bastante agostiniana. Por outro lado, há aqueles que sustentam que White se distanciava do conceito agostiniano enfatizando textos como este: “É inevitável que os filhos sofram as conseqüências das más ações dos pais, mas não castigados pela culpa deles, a não ser que participem de seus pecados” (WHITE, 2009, p. 305). Nesta citação, White se aproxima mais de Wesley. Ela talvez não negue que herdamos a culpa, mas rejeita que os filhos paguem pela culpa dos pais.

White reconhecia a inclinação que o ser humano possui para o mal, mas aparentemente não se preocupou em perscrutar os detalhes teológicos relacionados à culpa herdada. Woodrow Whidden interpreta a preocupação de White como sendo de natureza prática. Já que o ser humano já se encontra nesta situação, o que fazer daqui em diante (Ibid., p. 131)?

2.2 Expiação

O tema da expiação era tão importante para White que ela escreveu: “o sacrifício de Cristo como expiação pelo pecado, é a grande verdade em torno da qual se agrupam as outras” (WHITE, 1993, p. 315). Expiação só se faz necessária porque a lei de Deus foi quebrada pela humanidade. Uma vez que surgiu o pecado no coração da humanidade, houve separação entre ela e o criador (WHITE, v. 1, 2009, p. 232). Para White, expiação esta relacionada ao conceito da “re-união” da humanidade para com seu criador. O termo empregado por White em inglês (atonement), permite uma compreensão mais extensiva do que na língua portuguesa. “At-one-ment” é utilizado para representar o processo de unir aquilo que estava separado. O objetivo era manter a união entre “a lei e o governo divino. [...] O pecador é perdoado através do arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Há perdão do pecado, e a lei de Deus ainda permanece imutável e eterna como o Seu trono” (IGREJA ADVENTISTA, 2009, p. 479).

Lesher enfatiza que em White, a expiação procura restaurar a humanidade à sua “perfeição original” transformando o caráter de cada indivíduo. Ele indica que no pensamento whiteano, santificação e expiação possuem o mesmo propósito. Assim sendo, “santificação é a aplicação prática da expiação” (1970, p. 165). Whidden, por outro lado, acredita que o conceito de expiação em White é muito mais amplo, e anda de mãos dadas com seu tema do “grande conflito”. A visão de White sobre os esforços de Deus na sua reconciliação com a humanidade envolvia muito mais do que a morte de Cristo na cruz. Enquanto que a expiação foi completa através do sacrifício de Cristo na cruz, o processo continua até o pecado ser

extirpado do universo e a harmonia novamente instalada. Segundo ele, expiação também envolve o

pecado, provisão para o perdão (resultando na transformação do caráter), intercessão por pecadores como Sumo Sacerdote, glorificação dos remidos, juízo (tanto antes de sua vinda como depois) do pecado e pecadores, a revisão milenar das decisões tomadas durante o juízo pré-advento, destruição final através de um juízo executivo sobre os pecadores impenitentes (no final do milênio), e a criação de um novo céu e uma nova terra (Ibid., p. 150-151).

Whidden continua, mostrando que, enquanto White dialoga com as diferentes teorias sobre expiação (resgate, satisfação, influência moral, exemplo, Cristo vitorioso e substituição penal), sua percepção não envolve apenas a “reconciliação de pecadores, mas o tema da vindicação de Deus perante o Universo” (Ibid., p. 120). A expiação, no entanto, possui implicações experimentais que resultam de realizações legais: o conceito de penalidade, substituição e satisfação também se tornam o fundamento de toda vitória significativa sobre o pecado e a pecaminosidade. Em outras palavras, “o coração de seu [White] pensamento sobre a expiação girava em torno da dialética da lei e da graça, justiça e misericórdia e a demonstração de sua correta relação na vida de Cristo – e em última instância – no crente”. Desta forma, a morte de Cristo se torna a base da vindicação cósmica de Deus. “Esta dialética de justiça e misericórdia é revelada em tudo que Deus faz para trazer a reconciliação através da expiação” (at-one-ment) (Ibid., p. 125-126).

2.3 Justificação

Em White, a única forma do pecador poder ser justificado é “mediante a fé no sacrifício expiatório feito pelo amado Filho de Deus, que Se tornou um sacrifício pelos pecados do mundo culpado”. Ninguém pode ser justificado por qualquer “obra própria” ou tentativa própria. “Só pode ser liberto da culpa do pecado, da condenação da lei, da pena da transgressão, pela virtude do sofrimento, morte e ressurreição de Cristo. A fé é a condição única de obter a justificação”. Uma vez que a fé é a “única condição” para a justificação, o pecador precisa manter esta fé para manter sua salvação. Ao contrário de Calvino, White não acreditava em “uma vez salvo, salvo para sempre”. White enfatiza, no entanto, que esta fé “abrange não só a crença mas também a confiança” (WHITE, v. 1, 2009, p. 389). Ou seja, não basta apenas um assentimento intelectual de doutrinas cristãs, faz-se necessário uma vida de fé e confiança na obra de Cristo pelo pecador.

Discutindo a relação da justificação com santificação e como estas são transmitidas ao pecador, White mostra que a justiça pela qual somos justificados é imputada, enquanto que

“aquela pela qual somos santificados, é comunicada. A primeira é nosso título para o Céu; a segunda, nossa adaptação para ele” (WHITE, 2002, p. 35). Para que esta primeira obra de justificação possa ser realizada, o pecador precisa se arrepender e se entregar a Cristo. Wesley indica que antes da graça justificadora, há uma graça preveniente que habilita o pecador a se arrepender, pois este não é capaz de fazê-lo por si mesmo. Apesar de não usar o termo “preveniente”, White concorda com Wesley: “o pecador não pode produzir em si o arrependimento, ou preparar-se para ir a Cristo. [...] O primeiro passo em direção de Cristo é dado graças à atração do Espírito de Deus; ao atender o homem a esse atrair, vai ter com Cristo a fim de que se arrependa” (WHITE, 2009, v. 1, p. 390).

2.4 Obediência

Dentro da discussão sobre santificação, White se refere muitas vezes à “obediência”, indicando o objeto desta obediência como sendo Deus e suas leis, instruções, palavra, vontade, preceitos, mandamentos, verdade e termos parecidos. Devido ao espaço proporcionado para este estudo, nos ateremos apenas à lei de Deus, embora todos estes termos podem, em algum momento ou outro, ser sinônimos.

Para White, um conceito equilibrado e correto da lei de Deus é fundamental para o desenvolvimento harmônico do cristão.

A lei de Deus, como é apresentada nas Escrituras, é ampla em suas reivindicações. Cada um de seus princípios é santo, justo e bom. A lei coloca os homens sob obrigação a Deus; alcança os pensamentos e a sensibilidade; e produzirá convicção de pecado em todo aquele que tenha ciência de ter transgredido suas reivindicações. Se a lei alcançasse apenas a conduta exterior, os homens não seriam culpados em seus maus pensamentos, desejos e desígnios. Mas a lei requer que a própria alma seja pura e a mente santa, para que os pensamentos e a sensibilidade estejam de acordo com a norma de amor e justiça (WHITE, 2009, v. 1, p. 211).

White reconhece a pré-existência da lei de Deus ao evento no monte Sinai. Esta lei poderia ser encontrada, inclusive, antes da criação e queda de Adão e Eva.

A lei de Deus existia antes de o homem ser criado. Os anjos eram governados por ela. [...] Os princípios dos Dez Mandamentos existiam antes da queda e eram de caráter apropriado à condição de uma santa ordem de seres. Depois da queda os princípios desses preceitos não foram mudados, mas foram dados preceitos adicionais que viessem ao encontro do homem em seu estado decaído (WHITE, 2008, p. 145).

Os princípios encontrados na lei de Deus não são inventados ou distintos dele, mas são “a expressão da sua própria natureza”. Eles são uma “personificação do grande princípio do

amor, sendo, por isso, o fundamento do Seu governo no Céu e na Terra” (WHITE, 2005, p. 60). Sendo assim, da mesma forma que Deus não muda, sua lei é “imutável, inalterável, infinita e eterna” (WHITE, 2009, v. 1, p. 240).

Conforme ela defende, a lei de Deus requer obediência perfeita. Nada é amenizado ou passado por cima. Deus de forma alguma trata o pecador de forma “paternalista”, isto é, fechando os olhos aos erros que a humanidade comete. O mínimo desvio das reivindicações da Sua lei, “por negligência ou transgressão deliberada, é pecado, e todo pecado expõe o pecador à ira de Deus” (Ibid., p. 218). Portanto, para aquele que busca a perfeição, a obediência à lei de Deus é extremamente importante, pois é através da lei que o pecador toma conhecimento de seu pecado. “A santificação é o resultado de uma obediência que dura a vida toda”. Algumas páginas adiante, ela complementa este pensamento: “A verdadeira santificação significa perfeito amor, perfeita obediência, perfeita conformidade com a vontade de Deus. Devemos santificar-nos para Deus mediante a obediência à verdade” (WHITE, 2004, p. 561, 564-565).

É importante lembrarmos que a obediência à lei de Deus, de forma alguma, concede salvação ao ser humano. Caso assim fosse, seria considerada salvação pelas obras. O ser humano que já está justificado obedece a Deus pois o ama e deseja se assemelhar a Cristo. “A vida de Cristo na terra foi uma expressão perfeita da lei de Deus, e quando os que professam ser Seus filhos receberem caráter semelhante ao de Cristo, obedecerão aos mandamentos de Deus. Então o Senhor pode contá-los com toda a confiança entre os que formarão a família do Céu” (WHITE, 2007, p. 315). Portanto, a obediência a Deus não concede ao pecador o direito ao céu, mas pode lhe tirar a oportunidade: “Se falhares em obter a vida eterna, foi porque falhastes em guardar os mandamentos de Deus” (WHITE, 1905, p. 8).

2.5 Perfeição Cristã

Como já vimos em uma das seções anteriores, “a lei exige obediência perfeita, inamovível” (WHITE, 2001, p. 440). Se esta é a exigência, White acredita que tal perfeição é possível. Em vários momentos podemos encontrá-la defendendo esta posição. “Podemos vencer. Sim, plena e inteiramente. Jesus morreu a fim de prover-nos um caminho de escape, de modo a podermos vencer todo mau temperamento, todo pecado, toda tentação, e por fim, sentar-nos com Ele” (WHITE, 2000, v. 1, p. 144). “Nós devemos ter como alvo essa perfeição, e vencer como Ele venceu” (v. 3, p. 336).

Estes são apenas alguns exemplos de uma multidão de textos onde ela incentiva o cristão a crescer no processo da santificação em busca da perfeição cristã. Este é um processo

que não acontece instantaneamente, mas dura a vida inteira e alcança a eternidade. “Deve ser a obra de nossa vida estar constantemente procurando avançar adiante para a perfeição de caráter cristão, sempre almejando alcançar conformidade com a vontade de Deus. Os esforços iniciados aqui continuarão pela eternidade” (WHITE, 1956, p. 327). No entanto, White adverte aqueles que estão no caminho da perfeição lembrando que estes não devem se exaltar afirmando serem perfeitos ou estarem libertos da tentação ou do pecado. “Os que mais perto vivem de Jesus, mais claramente discernem a fragilidade e pecaminosidade do ser humano, e sua única esperança está nos méritos de um Salvador crucificado e ressurgido” (2006, p. 471).

Para White, o modelo de perfeição é Jesus Cristo. Todo cristão deve procurar seguir o exemplo deixado por Cristo enquanto esteve nesta terra. Nesta discussão, Whidden relembra que era “o exemplo de Cristo que se tornou o argumento principal de Ellen White ao combater os desafios levantados por seus oponentes, afirmando que é impossível para pecadores obedecerem perfeitamente à lei de Deus” (Ibid., p. 335). Se Cristo, humano como nós, conseguiu vencer, nós também o podemos. Contudo, deve ser enfatizado que, apesar de Cristo ser um exemplo a ser seguido e imitado, ele não pode ser igualado. “Ele é um perfeito e santo Exemplo, dado a nós para imitação. Não podemos nos igualar ao Modelo; mas não seremos aprovados por Deus se não O imitarmos e nos assemelharmos a Ele, de acordo com a capacidade que o Senhor nos dá” (2000, v. 2, p. 549).

Diante desta citação e outras que poderiam ser mencionadas, percebemos que em White, encontramos “níveis” de perfeição. Um dos termos empregados por White para descrever este conceito é “esfera”. “Assim como Deus é perfeito em sua própria esfera, assim devem Seus filhos ser perfeitos na humilde esfera em que se encontram” (WHITE, 1969, v. 2, p. 225). Aparentemente, existem esferas diferentes, pois até os anjos, que não caíram em pecado, possuem um tipo de perfeição diferente que a de Deus. No quarto volume de Testemunhos para Igreja, White admoesta seus leitores a buscar a perfeição “até que chegue à perfeição da inteligência e a uma pureza de caráter apenas um pouco inferiores às dos anjos” (2000, v. 4, p. 93).

Para White, um dos fatores que deveria motivar o crente a buscar a perfeição é a volta de Jesus e o juízo que é realizado antes de sua vinda. Adventistas do Sétimo Dia, assim como White, acreditam que ocorrerá um juízo antes da segunda vinda de Cristo. Este juízo “investigativo” analisará a vida de cada ser humano e ali a sorte de cada ser humano será decidida. Enquanto que é através da fé na morte expiatória de Jesus Cristo que o pecador é perdoado e justificado, ele precisa viver em conformidade com a vontade de Deus. Uma vez

salvo, não significa salvo para sempre. Este juízo investigativo, realizado pelo próprio Jesus, verificará se o crente tomou para si os méritos salvíficos de Cristo, e viveu uma vida de acordo com a vontade de Deus. Enquanto que é pela fé que o pecador é salvo, é pelas suas obras que ele é julgado.

Desta forma, o cristão deve estar constantemente avançando em santificação. Ele não deve ser motivado pelo medo ou egoísmo (WHITE, 1992, p. 99), mas pela aproximação de seu salvador. Da mesma forma que a expectativa pela volta de Cristo motivava White e os milleritas a buscar a santificação, tal esperança deve também motivar cada crente a crescer em perfeição.

Outro fator distintivo em White é a ligação que ela faz entre as lutas e angústias que Jesus passou enquanto viveu nesta terra e aqueles que viverão nos dias logo antes da segunda vinda de Cristo. Da mesma forma que Cristo passou por provações e por um tempo de angústia, aqueles que estiverem seguindo o exemplo de Cristo experimentarão o mesmo. Da mesma forma que Cristo venceu as tentações de Satanás, aqueles que viverem nos últimos dias desta terra repetirão a vitória de Cristo. “Satanás nada pôde achar no Filho de Deus que o habilitasse a alcançar a vitória. Tinha guardado os mandamentos de Seu Pai, e não havia nEle pecado que Satanás pudesse usar para a sua vantagem. Essa é a condição em que devem encontrar-se os que subsistirão no tempo de angústia” (2006, p. 623). Uma de suas declarações mais famosas nesta linha de pensamento se encontra em Parábolas de Jesus onde ela afirma: “Quando o caráter de Cristo se reproduzir perfeitamente em Seu povo, então virá para reclamá-los como Seus” (WHITE, 2007, p. 69).

Um dos conceitos bastante repetidos por White era a perfeição de caráter. “O Senhor requer perfeição de sua família remida. Ele convida para perfeição na formação do caráter” (WHITE, 1986, p. 172). Para ela, o caráter é composto de pensamentos e sentimentos. Se estes forem bons, haverá um bom caráter. “Se os pensamentos forem maus, maus serão também os sentimentos; e os pensamentos e os sentimentos, combinados, constituem o caráter moral” (WHITE, 1996, vol. 1, p. 660). Conforme estes pensamentos são manifestos em atos e hábitos, o caráter da pessoa é formado. Por isso, o cristão precisa sempre cuidar com seus pensamentos, pois estes podem gerar ações, hábitos e moldar seu caráter.

White fala de perfeição de caráter, não perfeição de natureza (WHIDDEN, p. 134). Enquanto que apenas a glorificação transformará a natureza física do ser humano, é o caráter que é transformado pela santificação. Aqueles que almejam estar prontos para a segunda vinda de Cristo devem buscar perfeição de caráter: “todos os que entrarão no Céu devem ter

um caráter perfeito, a fim de encontrarem o Senhor em paz” (WHITE, 1994, p. 112). Nesta linha de pensamento, White afirma que

Deus somente aceitará os que estão decididos a ter um alvo elevado. Coloca cada agente humano sob a obrigação de fazer o melhor. De todos é requerido perfeição moral. Nunca devemos abaixar a norma de justiça com o fim de acomodar à prática do mal, tendências herdadas ou cultivadas. Precisamos compreender que imperfeição de caráter é pecado (WHITE, 2007, p. 330).

2.6 Santificação em síntese

No momento em que o pecador é justificado, começa o processo de santificação em sua vida. A mudança básica que ocorre no ser humano através do processo da santificação é o redirecionamento do “amor supremo para si mesmo” para “amor supremo para Deus e Cristo” (WHITE, 1974, p. 118). Nas próprias palavras de White, “amar a Deus de forma suprema e ao próximo como a si mesmo é a genuína santificação” (WHITE, 1959, p. 120). Este amor se manifesta na observação dos mandamentos de Deus, que são a representação do caráter de Deus. “Verdadeira santificação será evidenciada por uma consideração consciente de todos os mandamentos de Deus” (WHITE, 1981, p. 53). Uma vez que o amor é desviado de si e redirecionado para o outro, o cristão deixa de olhar para si mesmo e passa buscar entender as necessidades daqueles que estão ao seu redor. Santificação não produz cristãos centrados em si mesmos, mas os habilita para o serviço.

À medida que os que foram purificados e santificados através do conhecimento da verdade bíblica se empenham de coração na obra de salvação das almas, tornar-se-ão sem dúvida um cheiro de vida para a vida. E ao beberem diariamente das inesgotáveis fontes da graça e conhecimento, verificarão que seu próprio coração está a transbordar com o Espírito de seu Mestre, e que através de seu nobre ministério muitos são beneficiados física, mental e espiritualmente. Os cansados são refrigerados, é restaurada a saúde ao enfermo, e o carregado de pecados é libertado (WHITE, 1995, p. 234).

Todo este processo de santificação acontece durante a vida do cristão onde este vai “amadurecendo”. Como já foi dito antes, é um processo. Mas dentro deste processo, podemos perceber estágios do amadurecimento. White exemplifica este conceito fazendo um paralelo com o crescimento de uma planta.

A germinação da semente representa o começo da vida espiritual, e o desenvolvimento da planta é uma figura do desenvolvimento do caráter. Não pode haver vida sem crescimento. A planta ou deve crescer ou morrer. Assim como o seu crescimento é silencioso e imperceptível, mas contínuo, assim é