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4 EXPLICITAÇÃO DO PROCESSO METODOLÓGICO

A experiência como docente, na área específica de enfermagem de reabilitação, habituou-nos a um questionamento sistemático sobre os modos de ser profissional, partindo de duas ordens de pressupostos: em primeiro lugar, as intervenções das enfermeiras assentam essencialmente no pensamento reflexivo, isto é, na prática do quotidiano. Em segundo lugar, o enfermeiro tem que deter competências específicas, para realizar as várias etapas do processo de enfermagem: avaliação inicial da situação do doente; planeamento onde é valorizado um momento de reflexão, em que se questiona sobre os problemas dos indivíduos e seus objectivos, a fim de delinear as suas práticas e intervenções específicas, para a execução onde as competências surgem em domínios do saber fazer e se relacionam com a anterior, para a avaliação final onde o enfermeiro terá que desenvolver competências que o levam à reformulação de todo o processo anterior pela identificação dos resultados das suas intervenções.

Actualmente, identificamos como necessário aplicar resultados de investigação específicos e caminhar para uma atitude de reflexão contínua sobre as práticas e os processos de intervenção empírico reflexiva. Defendemos assim, que a eficácia e a eficiência dos cuidados de enfermagem se alicerçam em processos de formação, sendo estes estruturantes do processo de desenvolvimento de competências.

Essas competências não se restringem à esfera do saber fazer, relevância major no passado histórico de enfermagem, mas constroem-se na tripla teia do saber-fazer, saber- ser e saber-saber.

De facto, a evolução tecnológica, científica e mesmo social que se verificou nas últimas décadas do século passado, reconfiguram o quadro de exigências aos profissionais em geral, e em particular aos profissionais de saúde, nomeadamente os de enfermagem. As competências hoje exigidas são complexas e dinâmicas, isto é, há que continuamente construir e reconstruir o quadro de competências face as exigências que se impõem, pois, também, essas exigências se alteram de acordo com a evolução da ciência, mas também fruto das alterações sócio-económicas e políticas. No entanto, apesar das mutações ocorridas a nível da enfermagem, existe um fio condutor que se pode considerar transversal ao longo da sua evolução histórica. A finalidade da intervenção dos enfermeiros centra-se no bem-estar global do indivíduo, e para isso torna-se imperativo o desenvolvimento de competências para poder ajudar, substituir, orientar ou supervisar na satisfação das necessidades individuais. Esta intervenção tem vindo a

complexificar-se, exigindo um saber multifacetado, e com exigência de competências nos vários domínios. Esta preocupação leva-nos a centrar o problema no percurso e no esforço que se deverá efectuar ao nível académico para que a formação seja um contributo real para a finalidade da profissão.

Assim, o presente estudo visa contribuir para o processo de identificação da relação entre a formação inicial e especializada e o desenvolvimento de competências, identificando a existência ou não, de diferenças entre as competências identificadas nos profissionais de enfermagem generalistas (com formação básica) e os enfermeiros especialistas (neste caso, com a especialidade na área de enfermagem de reabilitação), e qual a satisfação do doente quando cuidado por estes profissionais de saúde. Neste sentido, desenvolvemos um quadro teórico que nos permitisse “mergulhar” numa aproximação ao objecto de estudo abordando a qualidade em saúde (capitulo 1), contextualizando em seguida a qualidade em enfermagem numa explanação, quer dos percursos formativos, quer no desenvolvimento de competências (capitulo 2). Mas, porque a qualidade em saúde, em termos globais, e a qualidade em enfermagem, em termos particulares, tem como objectivo os resultados, debruçamo-nos sobre a satisfação do utente, que de algum modo é a expressão desses mesmos resultados (capítulo 3).

O princípio norteador deste trabalho alicerçou-se no modelo das necessidades de Virgínia Henderson, que deram corpus à identificação das competências que visam contribuir para a melhoria da qualidade de cuidados dos utentes com dependência ou limitação na satisfação das suas necessidades humanas. O modelo foi ajustado quer aos enfermeiros generalistas, quer aos especialistas.

É neste âmbito, que se pretende auscultar a voz dos utentes, inquirindo-os no sentido de avaliar a sua satisfação (como resultado da qualidade de cuidados), quando cuidado por enfermeiros generalistas ou especialistas.

Subjacente às preocupações já referidas, e tendo já realizado um percurso de reflexão teórico-prática, onde englobamos um estudo versando o tema “Das práticas às competências dos enfermeiros de Reabilitação” no âmbito do curso de Mestrado em Ciências de Enfermagem, estamos agora sensibilizados para investir com profundidade no problema, isto é, saber se o processo de cuidados de enfermagem de reabilitação contribuiu para a satisfação do utente.

Partimos dos resultados da investigação anterior, onde identificamos as competências que emergiram das práticas diárias com maior frequência para a avaliação inicial, planeamento, execução e avaliação final.

Esta pesquisa foi direccionada para um tipo de estudo exploratório e descritivo, pois, a investigação descritiva procura descrever características de grupos enfermeiros e doentes, situações e acontecimentos e intervenções específicas dos enfermeiros.

O aspecto exploratório implica que os planos de observação, os temas de investigação, os fenómenos significantes não podem aparecer senão à medida que decorre a recolha e análise da informação, isto é, no decurso da própria pesquisa (Gil 1994; Polit e Hungler 1997). Ao decidir enveredar por um estudo exploratório – que aceita a colocação de um problema, formulado provisoriamente, mas permitindo a escolha de procedimentos metodológicos que assegurem a pertinência das informações a recolher – as hipóteses a serem verificadas cedem o lugar a uma linguagem hipotética mais flexível que constitui um quadro de problematização e de orientação ao trabalho de investigação.

Trata-se também de um estudo transversal, porque analisa a realidade num determinado momento (Fortin,1999)

Ainda podemos considerar um estudo de natureza correlacional, cuja finalidade é investigar sistematicamente e explicar a natureza da relação entre as variáveis no contexto de estudo. E, ainda, um estudo observacional porque há o recurso à observação de documentos para produzir dados numéricos.

A nossa opção centrou-se numa abordagem quantitativa, por nos parecer a mais adequada ao estudo.

As decisões no campo metodológico foram concebidas de acordo com princípios de estruturação demarcada pelo percurso deste estudo, tendo em conta o problema em estudo, os objectivos e perguntas de investigação formuladas, que viabilizem a compreensão do fenómeno.

Neste capítulo descrevem-se os sujeitos da amostra, os instrumentos para produzir informação, os procedimentos adoptados e o tratamento da informação produzida. É o capítulo que se propõe traduzir o quadro conceptual, que suportou este estudo num articulado de vários contributos teóricos que deram sustentabilidade a esta investigação, e que ajudaram, de alguma forma, a compreender o processo de cuidados de enfermagem de reabilitação como uma mais-valia para a satisfação do utente.

Assim, no presente capítulo iremos debruçarmo-nos sobre as questões metodológicas.

4.1 - OBJECTIVOS DO ESTUDO

Pretende-se com o desenvolvimento deste trabalho atingir os seguintes objectivos: • identificar as competências dos enfermeiros generalistas e de reabilitação;

• conhecer a opinião dos Enfermeiros sobre o contributo da especialidade no desenvolvimento da actividade de enfermagem;

• analisar o pensamento científico desenvolvido nas práticas de cuidados pelos enfermeiros generalistas e especialistas de reabilitação;

• relacionar as diferenças das práticas de cuidados entre enfermeiros generalistas e especialistas de reabilitação na óptica dos utilizadores de serviços de saúde; • relacionar a qualidade dos cuidados na vertente dos resultados na óptica dos

utilizadores de serviços de saúde similares;

• compreender as diferenças das práticas de cuidados entre enfermeiros generalistas e especialistas de reabilitação na óptica dos utilizadores de serviços de saúde;

• analisar a inter relação entre os registos efectuados pelos enfermeiros generalistas e especialistas de reabilitação e a satisfação dos utentes.

O presente estudo pretende, ainda, analisar o contexto dos cuidados, considerando a interacção enfermeiro doente, levando-nos a delinear duas áreas: uma, de observação a partir dos registos, e outra, da percepção dos doentes face a quem os cuidou durante o internamento.

Tendo em conta os objectivos atrás enunciados, a finalidade do estudo é: identificar os eixos estruturantes em que assenta a qualidade de cuidados em doentes, com dependência ou limitação na satisfação das necessidades, contribuindo assim para o desenvolvimento das práticas dos enfermeiros de reabilitação e sua interelação com a satisfação do utente.

4.2 - QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO

Partilhamos a ideia de Talbot (1995) de que as “questões de investigação são as premissas sobre as quais se apoiam os resultados de investigação”. Neste sentido, formulamos as seguintes questões orientadoras do estudo:

• Que diferença existe no contributo da formação para o desenvolvimento de competências nas concepções de cuidados entre enfermeiros generalistas e enfermeiros especialistas de reabilitação.

• Que diferença existe no contributo da formação para o desenvolvimento de competências na prática de cuidados entre enfermeiros generalistas e especialistas de reabilitação.

• Há diferenças significativas de cuidados entre enfermeiros generalistas e especialistas de reabilitação de acordo com o grau de dependência do doente. • Há diferenças significativas de resultados de qualidade face à percepção dos

• Há diferenças significativas de resultados de qualidade da assistência face à percepção dos doentes cuidados por enfermeiros generalistas e especialistas de reabilitação.

• Há diferenças significativas de resultados na individualização da informação face à percepção dos doentes cuidados por enfermeiros generalistas e especialistas de reabilitação.

• Há diferenças significativas de resultados no envolvimento do doente face à percepção dos mesmos quando cuidados por enfermeiros generalistas e especialistas de reabilitação.

• Há diferenças significativas de resultados na informação dos recursos face à percepção dos doentes cuidados por enfermeiros generalistas e especialistas de reabilitação.

• Há diferenças significativas de resultados na formalização da informação face à percepção dos doentes cuidados por enfermeiros generalistas e especialistas de reabilitação.

• Há diferenças significativas entre as práticas dos enfermeiros generalistas e dos enfermeiros especialistas de reabilitação na satisfação dos doentes.

• Há diferenças significativas nos registos de cuidados entre os enfermeiros generalistas e especialistas.

4.3 - VARIÁVEIS EM ESTUDO

Atendendo ao tipo de pesquisa, seleccionamos um conjunto de variáveis que definimos como variáveis principais, isto é, aquelas que se constituem como imprescindíveis para responder aos objectivos traçados, e as secundárias que são complementares às primeiras porque ajudam ao seu esclarecimento.

Variáveis principais

Foram seleccionadas as variáveis relacionadas com:

• Contributos da formação na óptica dos enfermeiros generalistas e especialistas para o desenvolvimento do pensamento científico em enfermagem

• Satisfação do utente quando cuidado por enfermeiros generalistas e/ou especialistas com os cuidados de enfermagem no hospital.

• Análise no processo clínico dos registos de enfermagem Variáveis secundárias

Variáveis sócio-demográficas (utentes): género, idade, estado civil, habilitações académicas e profissão.

Variáveis sócio-demográficas (profissionais de enfermagem) género, idade, estado civil, categoria profissional e área de cuidados,

Variáveis clínicas: dados de saúde - tempo de internamento, motivo de internamento e grau de dependência.

4.4 - POPULAÇÃO E AMOSTRA

Uma vez abordadas as várias perspectivas teóricas pelas quais pode ser encarado o objecto de estudo, a finalidade da pesquisa, as perguntas norteadoras desta investigação, e, por fim, a metodologia que entendemos ser adequada, identifica-se agora a população em estudo. A população que pretendemos estudar é constituída por três grupos:

• os enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação; • enfermeiros generalistas;

• doentes portadores de uma ou mais dependências na satisfação das necessidades humanas básicas (segundo Virgínia Henderson).

Para o grupo enfermeiros especialistas realizou-se uma amostra de conveniência, tendo sido seleccionados os enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação, que exercem na área da prática de cuidados de diferentes hospitais: dois hospitais centrais da região norte, um hospital central da região centro e um hospital central especializado em reabilitação. Para o grupo dos enfermeiros generalistas foi realizada uma amostra de conveniência, tendo sido seleccionados enfermeiros não especializados, a exercerem funções na prática de cuidados e oriundos de um conjunto diversificado de hospitais da região norte e centro. Para o grupo de doentes foi realizada uma amostra intencional de forma a homogeneizar os doentes pelas características demográficas e clínicas.

Foram seleccionados os doentes que estavam internados nos hospitais já referidos e que cumpriam os seguintes critérios de inclusão:

• estarem internados em serviços de medicina;

• serem adultos, isto é, com idade igual ou superior a 18 anos; • estarem internados há pelo menos três dias;

• estarem orientados no tempo e espaço; • serem capazes de comunicar verbalmente;

• serem portadores de dependência para uma ou mais necessidades humanas (segundo Virgínia Henderson).

Foi nossa preocupação estudar este conjunto de sujeitos, dado que evidenciam a descrição sistemática dos factos e dos elementos que compõem o fenómeno que

queremos estudar; por outro lado, os indivíduos em estudo estão directamente relacionados com o problema (Huberman, & Milles 1991).

Em seguida, apresentamos a caracterização das amostras referidas anteriormente.