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2.3 Internacionalização

2.3.3 Formas de Atuação no Mercado Internacional

2.3.3.1 Exportação

O conhecimento existente sobre a empresa exportadora é proveniente, em sua maior parte, dos Estados Unidos e de países europeus, particularmente do Reino Unido, Escandinávia, Alemanha e Áustria (ROCHA e CHRISTENSEN, 2002). Grande parte dos estudos realizados

em todo o mundo em relação ao comportamento exportador das empresas é de natureza cross- sectional, ou seja, um determinado flagrante da atividade empresarial internacional é analisa- do no tempo. São poucos os estudos que analisam a evolução internacional das empresas ao longo do tempo, ou que realizam comparações em distintos momentos da trajetória das mes- mas, ou seja, de natureza longitudinal (CARVALHO e ROCHA, 2002).

Teoricamente, a exportação deve ser baseada numa pesquisa prévia de mercado e dirigida aos mercados que apresentam as condições mais rentáveis, ou seja, com um mínimo custo e risco. Porém, na prática, as empresas geralmente exportam para mercados que possuem as seguintes características (MINERVINI, 2001):

a) proximidade geográfica; a) crescimento rápido;

b) maiores similaridades culturais; c) competitividade menos agressiva; e d) grande quantidade de consumo.

A exportação é considerada uma atividade de médio e longo prazo e através da qual as em- presas freqüentemente alcançam uma excessiva diversificação de mercados, clientes e produ- tos (MINERVINI, 2001). Assim como outras formas de internacionalização, a exportação permite a uma empresa elevar seus lucros e crescer conforme vem sendo enfatizada pela lite- ratura de marketing internacional (ROCHA, BLUNDI e DIAS, 2002). A exportação gera em- pregos internos e expõe o produtor nacional a uma competitividade internacional de custos e qualidade (PENNA, 1996). Muitas vezes, as empresas exportam mais do que seus próprios produtos, ou seja, exportam também suas capacidades de projetar, produzir, gerenciar, entre outras. Isto pode ser descrito como a capacidade de entender os mercados. No entanto, uma

capacidade isolada, como, por exemplo, a de produção, não representa a capacidade para in- gressar ou entender novos mercados externos (MINERVINI, 2001).

Em relação ao desempenho exportador, este tem sido mensurado de formas distintas e combinadas, como, por exemplo, através do total das vendas de exportações, do percentual de participação das exportações nas vendas totais, do crescimento das exportações e da lucrativi- dade da atividade exportadora (ROCHA, BLUNDI e DIAS, 2002). Além disso, a intensidade do comprometimento gerencial com a exportação tem sido utilizada como variável importante para predizer o desempenho exportador. Em suma, alguns problemas são apontados nos estu- dos sobre desempenho exportador, tais como: a multiplicidade de fatores e variáveis que in- fluenciam o desempenho exportador propostos por pesquisadores, o grande número de formas diferentes para medir estes fatores e a falta de uma estrutura teórica consistente para guiar a escolha dos fatores independentes (ZOU e STAN, 1998).

Rocha, Blundi e Dias (2002) realizaram uma pesquisa com o intuito de explorar algumas variáveis associadas à continuidade da atividade exportadora e à própria sobrevivência das empresas exportadoras. Esta pesquisa foi realizada com uma amostra de 152 empresas, brasi- leiras exportadoras de produtos industrializados, as quais já tinham sido pesquisadas inicial- mente, em 1978. No entanto, apenas 101 das 152 empresas da amostra original estavam atu- ando em 1999 (ano da pesquisa de campo), o que se pode concluir que 51 empresas inicial- mente escolhidas haviam deixado de existir. Restringindo um pouco mais a amostra, 84 das 101 empresas sobreviventes continuavam a exercer atividades exportadoras em 1999. Em suma, os resultados indicam que as empresas mais comprometidas com a exportação tinham menos chances de permanecer em ambientes específicos, o que contraria a crença de que as empresas que possuem um maior comprometimento com a internacionalização serão mais

fortes em relação à concorrência devido às economias de escala, à aprendizagem e à diversifi- cação dos riscos de mercado. Além disso, os resultados também sugerem que exportar pode não ser benéfico para a empresa, pois a exportação eleva o risco da mesma à medida que ope- ra em ambientes menos familiares.

De acordo com a literatura brasileira, alguns estudos mais antigos apresentam os motivos reativos com maior freqüência como justificativa da atividade exportadora. No final dos anos 60 e meados de 70, as empresas brasileiras se beneficiaram com o boom exportador vivido pelo País e com os recursos alocados pelo Governo destinados a estimular as exportações. Em estudos posteriores, os entrantes tardios tiveram menos acesso a recursos governamentais, menos oportunidades e mais dificuldades para iniciar as exportações. Portanto, seus motivos para exportar eram, de início, mais proativos (aumento da competitividade da empresa, au- mento dos lucros, entre outros) num ambiente menos favorável, comparativamente ao anteri- or. Isto indica que a motivação para exportar provavelmente muda com o tempo (ROCHA e CHRISTENSEN, 2002).

O mercado doméstico saturado e os incentivos governamentais vêm sendo alguns dos mo- tivos mais freqüentes indicados pelas empresas exportadoras brasileiras como justificativa de suas atividades externas. O recebimento de pedidos inesperados do exterior e a possibilidade de reduzir riscos também são motivações que levaram algumas empresas a se lançarem no mercado externo. Em geral, as motivações para exportar das empresas brasileiras são mais reativas do que proativas, pois a diversificação de mercados tornou-se uma alternativa estraté- gica atraente frente às turbulências do ambiente político, social e econômico, especialmente as ocorridas nos anos 80 (ROCHA e CHRISTENSEN, 2002).

A percepção dos obstáculos à exportação, baseada em algumas evidências empíricas cole- tadas junto aos exportadores brasileiros entre 1978 e 1990 por Rocha e Christensen (2002), tende a ser contingente a uma situação específica, na maior parte dos casos. Esta contingência está relacionada ao setor de atuação, ao tempo de exportação, ao envolvimento com a expor- tação, à agressividade na exportação e a outras características da própria empresa. Estes pes- quisadores concluíram que as empresas exportadoras brasileiras possuem um baixo controle da estratégia de marketing e um baixo poder de barganha em relação ao intermediário. Isto indica que as empresas exportadoras brasileiras se limitam às atividades de produção, enquan- to os importadores se ocupam de outras atividades como a de marketing.

A pesquisa de Bauerschmidt, Sullivan e Gillespie (1985), uma das mais importantes sobre os obstáculos percebidos à exportação, apresenta cinco fatores que agrupam os mesmos, a saber:

a) política nacional de exportações: pode ser tanto um estímulo quanto uma barreira. Nesta última forma, pode estar representada através do excesso de burocracia, ausência de incenti- vos, falta de apoio diplomático e outras questões que dificultam o acesso aos mercados inter- nacionais;

b) distância relativa entre mercados: envolve tanto a distância cultural quanto física. Esta úl- tima pode implicar custos de transporte elevados, embalagens especiais, entre outros;

c) falta de comprometimento com a exportação: pode ser manifestada de diversas formas, por exemplo:

c.1) consideração da atividade exportadora como pouco importante, através da alocação de poucos recursos financeiros e humanos para a mesma;

c.2) priorização do mercado interno, através da exportação somente dos excedentes de produ- ção;

c.3) estrutura organizacional: diluição das atividades referentes à exportação entre os vários setores da empresa devido à inexistência de um departamento responsável ou posição hierár- quica do executivo responsável pela atividade exportadora no terceiro ou quarto escalão; d) impedimentos econômicos exógenos: obstáculos derivados do ambiente externo em que a empresa se insere. Por exemplo: falta de intermediários, ausência de infra-estrutura de trans- portes, exigências do país importador, ausência de canais de distribuição, entre outros; e e) rivalidade competitiva: ação da concorrência tanto no mercado doméstico da empresa ex- portadora quanto nos mercados de destino de suas exportações.

Dentre os principais pontos que fragilizam as empresas no mercado internacional, Miner- vini (2001) destaca: falta de informação; desconhecimento do tipo de apoio existente nas ex- portações; desconhecimento de como gerenciar a exportação; dificuldade de adaptar-se a ou- tras culturas; estruturas inadequadas; e falta de atitude.

A revisão de estudos sobre exportação, realizados entre 1978 e 1990, efetuada por Rocha e Christensen (2002), demonstra que, em linhas gerais, há pouco conflito da literatura brasileira em relação à literatura internacional proveniente de países desenvolvidos da América do Nor- te e da Europa.