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Os Modelos de Internacionalização: A Escola de Uppsala e a Teoria dos

2.3 Internacionalização

2.3.1 Os Modelos de Internacionalização: A Escola de Uppsala e a Teoria dos

Até a metade do século XX, poucos economistas se preocupavam com o que ocorria dentro da firma. Os aspectos macro eram os que realmente importavam até então, principalmente aqueles relacionados ao comércio internacional. Em princípios da década de 1960, marcada pelos trabalhos pioneiros de Edith Penrose, Richard Cyert e James March e, posteriormente, de Yair Aharoni, a teoria da firma deixou de ser examinada puramente do ponto de vista eco- nômico para se tornar um campo independente de pesquisa. Baseando-se nesse arcabouço teórico, uma linha de pensamento distinta foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Uppsala, Suécia, através de estudos do processo de internacionalização das empresas sue- cas. Essa linha de pensamento, mais tarde denominada “processo de internacionalização da firma da Escola de Uppsala”, ultrapassou os limites da Teoria Econômica para abranger tam- bém a Teoria do Comportamento Organizacional. Posteriormente, a Escola de Uppsala ex- pandiu seu raio de influência para todos os países escandinavos e criou-se, então, a Escola Nórdica de Negócios Internacionais (HEMAIS e HILAL, 2002).

Um dos pressupostos subjacentes do modelo tradicional da Escola de Uppsala é que a in- ternacionalização da firma, seja através de exportações ou de investimentos diretos, é uma conseqüência de seu crescimento. A busca de novos locais para se expandir, além do mercado doméstico, ocorre quando este já está saturado e ocasiona uma redução do número de oportu- nidades lucrativas, o que restringe o crescimento da firma (HEMAIS e HILAL, 2002). Na visão da Escola Nórdica, a firma internacional é uma “organização caracterizada por proces- sos baseados em aprendizagem que apresenta uma complexa e difusa estrutura em termos de recursos, competências e influências” (HEMAIS e HILAL, 2002, p. 16).

De acordo com os pesquisadores de Uppsala, a incerteza quanto aos mercados estrangeiros está relacionada com a distância psicológica ou psíquica, ou seja, quanto maior a diferença entre o país de origem e o país estrangeiro em termos de desenvolvimento, nível e conteúdo educacional, idioma, cultura, sistema político, entre outros, maior o nível de incerteza. Portan- to, a distância psíquica pode ser definida como a soma dos fatores que interferem no fluxo de informação entre países (HEMAIS e HILAL, 2002).

Como a expansão vertical é muitas vezes descartada como sendo incerta ou não lucrativa, a alternativa, então, dirige-se à expansão geográfica para locais com características mais simila- res às bases de operações da empresa. Subtende-se, então, dentro desta perspectiva, que o processo de internacionalização não é uma seqüência de passos planejados e deliberados ba- seados numa análise racional, mas orientado por uma natureza incremental, na qual se visa a uma aprendizagem sucessiva através do comprometimento crescente com os mercados es- trangeiros (HEMAIS e HILAL, 2002).

Observando as empresas suecas, os pesquisadores de Uppsala interpretaram os padrões do processo de internacionalização das mesmas, dos quais se destacam (HEMAIS e HILAL, 2002):

a) começo das operações no exterior em países relativamente próximos (distância psíquica) e expansão para regiões mais distantes de forma gradual; e

b) exportação como principal meio para a entrada em novos mercados estrangeiros. A instala- ção de subsidiárias de vendas ou de produção raramente era utilizada como estratégia inicial para a entrada em um novo mercado.

No entanto, Hörnell, Vahlne e Wiedersheim apud Hemais e Hilal (2002) levantaram a hi- pótese de que o padrão seguido no processo de internacionalização variava de acordo com o tempo e a indústria na qual a empresa estava inserida, ou seja:

a) algumas indústrias começaram a inserção internacional no início do século XX, enquanto outras iniciaram muito tempo depois; e

b) certas indústrias poderiam apresentar características que as limitariam a certos mercados mais próximos.

Além disso, outras críticas surgiram ao modelo tradicional de Uppsala, fundamentando-se, principalmente, na eliminação do processo seqüencial determinado pela mesma, ou seja, no- vos entrantes em determinadas indústrias estavam acelerando o processo de internacionaliza- ção, entrando diretamente em mercados psiquicamente distantes (HEMAIS e HILAL, 2002).

Outra abordagem referente à internacionalização de empresas, além da proposta de Uppsa- la, é proporcionada pela teoria dos custos de transação sob duas formas principais desenvolvi-

das ao final da década de 1970: a teoria da internalização e o paradigma eclético da produção internacional (BARRETTO, 2002).

Para a teoria de internalização, as falhas de mercado, tais como custos de informação, o- portunismo e especificidade de ativos, seriam as condições que levariam uma empresa multi- nacional a utilizar o investimento direto, ou seja, internalizar suas atividades no mercado ex- terno em detrimento do licenciamento como modo de entrada em mercados estrangeiros. Para os teóricos desta área, a exportação é vista simplesmente como o ponto de partida para o in- vestimento direto no exterior (BARRETTO, 2002).

A proposta do paradigma eclético da produção é explicar a amplitude, a forma e o padrão da produção internacional com base em três grupos de vantagens, a saber (BARRETTO, 2002):

a) vantagens específicas da propriedade: podem ser de natureza estrutural (propriedade em si ou acesso privilegiado a algum ativo) e/ou transacional (capacidade da hierarquia de uma em- presa multinacional de tirar proveito das imperfeições de mercado ou pela administração de um conjunto de ativos localizados em diferentes países);

b) vantagens da internalização: capacidade e desejo da empresa multinacional transferir ativos através das fronteiras nacionais dentro de sua própria hierarquia ao invés de utilizar-se do mercado internacional. Os motivos para a internalização podem ser derivados de riscos, incer- tezas, economias de escalas, entre outros; e

c) vantagens locacionais: atratividade da localização da produção no exterior. As vantagens podem ser estruturais - intervenção governamental afetando custos ou receitas - e/ou transa- cionais - oportunidades surgidas a partir da gestão coordenada dos ativos instalados em dife- rentes países.

A crítica a este enfoque realizada pelos pesquisadores de Uppsala baseia-se na sua orienta- ção para a produção, pois pretende explicar a amplitude, a forma e o padrão da produção in- ternacional. De outra forma, o modelo de Uppsala é orientado para o mercado, buscando ex- plicar o padrão e o modo de estabelecimento das operações (BARRETTO, 2002).

Em suma, os dois modelos tendem a ser incompatíveis entre si. Os próprios pesquisadores, como Johanson e Vahlne, reconheceram que o modelo de Uppsala possui um poder explana- tório maior nos estágios iniciais do processo de internacionalização. Devido ao seu fundo comportamental, este modelo aplica-se melhor em firmas inexperientes. Já em relação ao pa- radigma eclético, o poder explanatório é maior quando aplicado a firmas experientes, ou seja, com atuação em diversas regiões do mundo e por pressupor o perfeito acesso às informações pelos tomadores de decisão (BARRETTO, 2002). Embora as teorias sobre internacionalização pareçam explicar satisfatoriamente o movimento das empresas no processo de inserção inter- nacional, nenhuma teoria parece ser capaz de explicar todos os aspectos da internacionaliza- ção para todas as empresas (SACRAMENTO, ALMEIDA e SILVA, 2002).