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Considerando que “Emoções determinam a qualidade de nossas vidas”, frase com que começa seu texto, Ekman (2007) tem dedicado toda sua vida ao estudo das emoções, em particular de suas expressões faciais: fez experiências em vários países do mundo (Brasil, Chile, Japão, Indonésia, e outros), inclusive em culturas primitivas (Nova Guiné, por exemplo) para verificar o possível caráter verdadeiramente universal

da expressão facial de algumas emoções. Concluiu que essa característica existe, o que foi uma surpresa para o pesquisador; contrariando suas crenças anteriores e de muitos outros pesquisadores, parece que Darwin estava certo.

Em sua obra citada - mais de duzentas páginas, ilustrada por muitas fotos (dele próprio, de sua filha e de outros sujeitos de suas pesquisas) - ganham destaque a questão transcultural das emoções, pelo menos daquelas mais básicas (tristeza, medo, raiva, nojo), e os vários tipos de sorriso. O autor apresenta um teste para a identificação de emoções (Reading Faces - The Test), a partir de fotografias, e sugere que o leitor o experimente antes e depois da leitura: a mensagem que fica é que nossa face de fato revela nossas emoções e que essas expressões faciais podem ser decifradas, que se pode adquirir essa habilidade. O pesquisador desenvolveu, em 1978 o FACS (Facial Action

Coding System) que é utilizado por centenas de cientistas em todo o mundo para

medidas de movimentos faciais.

Ekman (2007) estuda as emoções buscando respostas para algumas questões centrais: quando nos tornamos emocionais, como mudar aquilo que nos emociona, como comportar-se emocionalmente, considerando que, segundo seu mentor Silvan Tomkins: “(...) emoções são o que motiva nossas vidas. Organizamos nossas vidas para maximizar as emoções positivas e minimizar as emoções negativas.” (EKMAN, 2007, p.xvii). Razões por que precisamos conhecer melhor nossas emoções.

Para o psicólogo estadunidense, as emoções podem ser separadas em grupos: tristeza e angústia, raiva - que ele considera “a mais perigosa emoção” (EKMAN, 2007, p.126) - medo e surpresa, desprezo e nojo; espécies de alegria (prazer, contentamento). Trata, então, a partir daí, de cada um desses grupos, destacando para cada um, os três elementos definidores, a saber: o disparador específico, a função da emoção e a relação com uma patologia mental. No caso do medo, em geral o disparador é a perda de algo importante, mas o que é esse algo depende de cada cultura; a função é, por exemplo, prevenir alguém do perigo e prepará-lo para a fuga (adaptação evolutiva); sua patologia mental é algum tipo de fobia. As emoções podem também ser avaliadas pela sua intensidade: o medo exagerado seria o pavor; a raiva exagerada, a fúria.

Outra característica das emoções é o tempo de duração: “Um episódio emocional deve ser breve, geralmente durando alguns segundos (...) se dura horas, então é um

humor e não uma emoção.” (EKMAN, 2007,p.3). A rapidez com que os mecanismos de avaliação automática (auto-avaliadores) disparam a resposta emocional seria outra razão para entender as emoções como funções adaptativas da espécie.

Uma observação importante do autor é o fato de as chamadas emoções positivas, as espécies de alegria, serem as menos conhecidas. Ele relata que elas foram menos estudadas por que não havia preocupação com elas e que atualmente vivemos outra realidade; hoje não se estudam apenas as doenças mentais, mas também a saúde mental, já que as emoções positivas podem melhorar a nossa condição de vida e isso aparece, por exemplo, nas pesquisa de Fredrickson (2001).

Segundo Ekman (2007), podemos melhorar a qualidade de nossas vidas por meio de um controle maior de nossas emoções, o que não é fácil, mas pode ser aprendido; ele sugere para isso o que chama de “atentividade” (attentiveness) e que consiste de dois momentos: um primeiro em que tentamos controlar o disparador da emoção e o segundo em que, tendo falhado no primeiro, tentamos aprender com os próprios erros. Como ele procura destacar ao longo do texto “(...) não podemos viver sem nossas emoções; a questão é como viver melhor com elas.” (EKMAN, 2007, p.xvii). Nesse aspecto, sugere que precisamos reconhecer as emoções em nós mesmos, reconhecer as emoções nos outros e usar as expressões das emoções para melhorar nossos relacionamentos.

Uma das constatações do pesquisador é que o disparador da emoção não pode ser apagado, apenas enfraquecido; e que isso não é necessariamente algo ruim já que toda emoção tem o seu lado positivo, mesmo a raiva; para ele as emoções dão visibilidade à vida. Interessante que o autor recomenda certos cuidados na contraposição entre emoções positivas e negativas; como dizer que a tristeza é uma emoção negativa, se as pessoas vão assistir a um filme que previamente sabem ser triste? Mesmo a raiva, que ele considera como a “mais perigosa”, “nos motiva a tentar mudar o mundo, buscar justiça social, lutar por direitos humanos.” (EKMAN, 2007, p.42). Mas ele não deixa de concordar que essa “valência” ajuda na análise: afinal são muitos os pesquisadores que a utilizam e é por essa razão que alguns relutam em considerar surpresa (que pode ser negativa ou positiva) como uma emoção. O próprio autor usa essa valência, como já apareceu em uma citação e o trabalho de Fredrickson (2001) trata exatamente das

chamadas emoções positivas. Também constatamos que é difícil contradizer o poeta16, quando canta que “É melhor ser alegre, que ser triste / Alegria é a melhor coisa que existe / É assim como a luz no coração”.

Registro também importante do pesquisador é que as emoções vão além de seus nomes, não sendo necessário um nome para que identifiquemos uma emoção. Neste aspecto, ele cita dois exemplos: a alegria sentida pelo fracasso de um rival (schadenfreude, em alemão) não tem tradução para a língua inglesa e, parece-nos, também não tem equivalente em português; a explosão de alegria pelo sucesso surpreendente em uma performance esportiva, por exemplo um gol inesperado em uma partida de futebol, o italiano registra como fiero, que também não se traduz no português.

Algumas emoções citadas ao final do texto (culpa, vergonha, constrangimento) não receberam uma atenção maior do autor por não apresentarem sinais típicos que as distingam uma da outra ou de tristeza, por exemplo. A inveja é outra emoção não estudada já que parece não apresentar um sinal e o ciúme, para Ekman (2007), não é uma emoção, mas um componente de um “cenário”, um palco onde se apresentam três atores: uma pessoa que teme perder a atenção de outra e uma terceira (rival).

Outro registro feito no encerramento é sobre o novo foco para o qual o autor dirige suas atenções. Enquanto seu trabalho mais conhecido até então se encontra no que a emoção tem de universal, ele se dedica agora a examinar o oposto, a partir da idéia de que cada experiência individual é única. “Diferenças individuais estão presentes em meu estudo das universais, como virtualmente em qualquer trabalho sobre emoções, mas por causa da evidência tão forte das universais, as diferenças individuais foram deixadas de lado.” (EKMAN, 2007, p.232). Considerando que “os indivíduos diferem em quase todos os aspectos do comportamento humano, e as emoções não são exceções” (EKMAN, 2007, p.153), o novo objetivo do pesquisador é considerar as quatro maneiras como experiências emocionais podem diferir: a rapidez com que a emoção começa, a força da resposta emocional, a duração do episódio e a demora na volta ao estado de normalidade; também pesquisa outras questões sobre como

16 Vinicius de Morais, poeta já citado. Os versos são da música Samba da Bênção, feita em parceria com

indivíduos diferem na busca de um “perfil emocional”, a identidade emocional de cada indivíduo.