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EXPRESSÃO MÍMICA INCONSCIENTE DO PENSAMENTO

No documento A Face Oculta Da Mente - Tomo 1 - V 4 (páginas 66-76)

O corpo publica os segredos da alma

Pensamos até com os pés.Possível

fundamento sensorial de muitas adivinha­ ções do pensamento.

U

MA pergunta se impõe pelo seu interêsse prático. Será que os sentidos podem captar o pensamento de outra pessoa? Diretamente, é claro que não, porque o pensamento

em si é algo imaterial, que escapa aos sentidos. Mas,

indiretamente, não poderá ser captado o pensamento? Esta pergunta, de enorme transcendência, pode substituir-se por esta outra: o pensamento humano se traduz em algum sinal fisiológico, externo, embora mínimo? Se assim fôr, logo aparece a possibilidade de que por hiperestesia se possa indiretamente captar o pensamento humano.. Seria o que chamamos “hiperestesia indireta do pensamento” .

Há no homem sinais externos, fisiológicos, correspon­ dendo ou acompanhando os atos psíquicos? (Pois tomamos a palavra “ pensamento” em representação de todos os atos psíquicos).

Os p r i m e i r o s p a s s o s d a i n v e s t i g a ç ã o — A descoberta científica dos movimentos involuntários e inconscientes cor­ respondentes às idéias foi acolhida na ciência com gran­ de alvoroço. Foi em 1853 que “ Le Journal des Débats” publicava uma carta do Dr. CHEVREUL para o Dr. AM- PÈRE sôbre o assunto. A carta já tinha sido publicada 20 anos antes na “Revue des Deux Mondes” , porém não teve a devida repercussão entre os especialistas. E o assun­ to da carta ainda se referia a umas experiências feitas pelo autor, CHEVREUL, outros 20 anos antes, em 1813.

Só em 1853, com a publicação da carta em “ Le Journal des Débats” , dar-se-ia a máxima atenção ao assunto por trazer grande luz sôbre as acaloradas discussões a propósito das mesas girantes, varinha adivinha, pêndulo do radieste- sista, etc.

Na famosa carta, CHEVREUL descrevia a AMPÈRE as experiências por êle realizadas, e concluía: “ o pensamento duma ação a produzir pode mover nossos músculos sem que tenhamos nem a vontade nem o conhecimento dêstes mo­ vimentos” . Pouco depois, com novos estudos, CHEVREUL publica uma monografia (1).

Como não é raro que aconteça, descobriu-se o que já estava descoberto dois séculos antes, embora ninguém li­ gasse para as observações e experiências que se julgaram de pouca transcendência prática, publicadas em 1646 pelo Pe. Atanásio KIRCHER, S.J., em Colônia, e pouco depois, em 1654, em Roma (2).

Após a segunda publicação da carta de CHEVREUL a AMPÈRE, a ciência interessou-se com entusiasmo pela des­ coberta. No mesmo ano, 1853, ARAGO dissertou sôbre os

(1 ) C H E V R E U L : Carta a A M PÈ R E, em “Le Journal des D é­ bats”, 13 de maio de 1853. “De la baguette divinatoire du pendule explorateur et des tables tournantes”, Paris, Mallet-Bachelier, 1954.

(2) K IRCH ER, S. J., Atanäsio: “A rs Magna Lucis et Um brae” , Colônia, 1646. Do mesmo autor: “Magnes sive de Magnética Arte Libri Très”, Roma, 1654.

movimentos involuntários e inconscientes na “ Academie de Sciences” de Paris, e FA R AD AY na “ Society Regal” de Londres. Logo apareceram as publicações de BABINET na “ Revue des Deux Mondes” e do Pe. MOIGNO em “ Cosmos” . Por fim, Pierre JANET, em 1855, publicou os resultados das suas investigações, com o que ficou suficientemente estabe­ lecido e conhecido o fenômeno dos movimentos involuntários e inconscientes (3). Recentemente, as experiências de P A V ­ LOV sôbre os tão conhecidos reflexos incondicionados e condicionados aprofundaram e explicaram os automatismos no seu aspecto de movimentos involuntários e inconscientes em resposta a “ sinais” externos, ou seja, em definitivo, em resposta às idéias e imagens conscientes ou inconscientes. Um interessante estudo sôbre os movimentos inconscientes foi realizado por JUNG (5).

Há, pois, movimentos, ações, sinais mínimos correspon­ dendo às nossas idéias, aos nossos sentimentos, etc., sem que tenhamos vontade nem consciência de que os fazemos.

R e l a ç ã o e n t r e id é ia e m o v i m e n t o s in c o n s c i e n t e s —

Quantas idéias se refletem em movimentos externos? Em algumas pessoas mais imaginativas e impulsivas, há movimentos reflexos das idéias sumamente amplos. “ Um cego os veria” , poderíamos dizer.

Mas do ponto de vista da “ adivinhação” do pensamento não são êstes sinais os que mais nos interessam, pois a

(3 ) JAN E T, Pierre, publicou de um A N Ô N IM O : “Seconde lettre de Gros-Jean à son Eveque au sujet des Tables Parlantes, des Pos­ sessions et Autres Diableries”, Paris, 1855. Veja-se também do mesmo autor: “L ’automatisme psychologique. Essai de psychologie expérimen­ tale sur les formes inférieures de l’activité humaine” (Thèse de doctorat ès lettres), Paris, Alcan, 1903 (mas a primeira ed. data de 1889).

(4 ) PA V L O V , Yvan Petrovich: “Condiciones Reflexes”, N ew York, Oxford Univ. Press, 1934.

(5) JUNG, C. G., em “Les phénomènes occultes” (Aima, morte, crença nos espíritos: três estudos), Paris, Aubier, 1938.

“ adivinhação” não teria mérito. Queremos saber se existem outros sinais mais sutis, só perceptíveis, quando muito, por hiperestesia.

Já em 1908, Ernesto N A V IL L E defendia: “ penso que todo fenômeno psíquico de qualquer ordem que seja tem seu correspondente fisiológico” (6). Evidentemente, essa corres­ pondência fisiológica tinha que ser mínima, pois não se per­

cebia à primeira vista.

Em 1929, Charles BAUDOIN, Diretor do “Instituto In­ ternacional de Psicagogia” , de Genebra, descobria o modo de ampliar os movimentos reflexos das idéias, a fim de fazê- -los perceptíveis. Partindo das experiências antes aludidas de AMPÈRE e CHEVREUL, instituiu uma série de experiên­ cias novas altamente demonstrativas (7).

Eis uma destas experiências destinadas a aumentar os movimentos inconscientes de modo que sejam perceptíveis:

Sôbre uma fôlha de papel traça-se um círculo, e cortando-o, duas linhas perpendiculares entre si. O sujeito da experimentação mantém sôbre o círculo um pêndulo não excessivamente pesado, segurando-o pelo extremo do cabo com as pontas dos dedos.

Nesta posição, o sujeito pensa em qualquer dos desenhos que há sôbre o papel: o círculo, uma das linhas ou a outra perpendicular. Suponhamos que pensa no círculo, ou melhor que pensa que o pêndulo se movimenta em círculo, da direita para a esquerda. O sujeito não deve fazer nada, conscientemente, para mover o pêndulo. N ão obs­ tante, após alguns segundos, muito poucos, se o pêndulo é das devidaa dimensões e o sujeito não está mudando continuamente de pensamen­ to, veremos que o pêndulo está oscilando em círculo, da direita para a esquerda. A oscilação irá aumentando cada vez mais em amplitude.

Estando o pêndulo em pleno movimento, se o sujeito muda de pensamento, escolhendo agora, por exemplo, uma das perpendiculares, o pêndulo começará a variar de direção, até seguir perfeitamente a

(6 ) N A V IL L E , Ernest, em “Archives de psychologie”, outubro de 1908, pág. 8.

(7 ) B A U D O IN , Charles: “Suggestion e Autosuggestion”, Gene­ bra, 1929. Possuímos também a tradução espanhola: “Sugestión y

linha pensada. Se pensa depois na outra linha, o pêndulo se acomodará dõcilmente ao pensamento. Concentrando-se na idéia de que o pêndulo fica imóvel consegue-se ràpidamente a mais completa imobilidade.

O curioso é que o sujeito não faz nada (conscientemen­ te) para provocar os movimentos, mas não pode evitar que o pêndulo se acomode perfeitamente ao pensamento.

Experiências de outros tipos, às vêzes engenhosíssimas, são muito numerosas, demonstrando plenamente a realidade dos reflexos inconscientes e involuntários, como tradução fisiológica das idéias e imagens. Escreve o especialista da Enciclopédia “ Espasa” : “ A realidade dos movimentos in­ conscientes e involuntários correspondente a todos os atos internos ou de consciência deve ser admitida por todos, pois tem sido muito bem estudada pela Psicologia Experi­ mental” (8>.

N Ã O A A L M A PENSA, M A S T A M B É M O CORPO — Tão

íntima é a relação entre a imagem mental e reflexo fisio­ lógico “ visível” externo, que TASSY pôde escrever que a “ imagem e sua expressão são um só fenômeno” <9).

A tal ponto são “ um só fenômeno” o ato de consciên­ cia e a sua expressão que não é só o ato de consciência que provoca a “ mímica” externa, mas também dá-se o inverso: a “ mímica” , o gesto, a atitude, etc., tendem a provocar a idéia, a imagem, o sentimento. . . Ou melhor, provoca-os no inconsciente e daí tende a surgir no consciente.

O Dr. GRASSET tem um interessante e extenso artigo sôbre o tema “ Os que choram porque estão tristes e os que estão tristes porque choram” (10).

DUGALD Stewart escreveu a passagem: “ Se damos à nossa fisionomia uma expressão violenta acompanhada de

(8 ) “Enciclopédia Ilustrada Europeo-Americana”, Madrid-Bar­ celona, Espasa-Calpe, artigo “Telepatia”, pág. 577.

(9 ) T A S S Y : “Propriétés du fait mental”, pág. 198. (10) GRASSET, J.: “Province Medical”. n.° 2.

gestos análogos, sentiremos em algum grau a emoção cor­ respondente à expressão artificial imprimida às nossas fei­ ções, do mesmo modo que tôda emoção da alma produz um efeito sensível sôbre o corpo” .

Quando CAMPANELLA, célebre filósofo e fisionomista, queria saber o que se passava no espírito de outra pessoa, ob­ servava-a atentamente com a sua capacidade técnica e expe­ rimental e procurava imitar ao máximo em si próprio a atitu­ de e fisionomia dela. Então, analisando seus próprios senti­ mentos deduzia os da outra pessoa. São Francisco de SALES e Santo Inácio de LOYOLA aconselham, para os momentos de secura espiritual, adotar uma posição e atitude piedosa.

E x t e n s ã o d a t r a d u ç ã o f i s i o l ó g i c a d a s id é ia s •— Em

virtude das leis de associação, ao suscitar-se na mente uma idéia ou imagem qualquer, mesmo as mais abstra­ tas, surgirão no cérebro, simultaneamente, as imagens vi­ suais, auditivas e motoras a elas correspondentes. Estas imagens, por sua vez, porão em movimento, embora normal­ mente isto seja imperceptível, os músculos da fonação, da ação, da mímica e todos os músculos que concorrem ao com­ plicado mecanismo da linguagem falada e escrita em deter­ minadas circunstâncias. (Eis o fundamento da psicografia ou escrita automática). Será uma tentativa, como um co- mêço de falar, etc.

Todos êstes movimentos são de tal maneira caracterís­ ticos das diversas idéias, que constituem como que uma lin­ guagem subterrânea, mínima, porém perfeita, e que acom­ panham tôdas as representações mentais.

Tão inseparável é esta tradução fisiológica, também externa, que STRUCKER tentou demonstrar experimental­ mente que “ é impossível ter a representação mental sequer de uma só letra, sem que se tenha simultâneamente um mo­ vimento nos músculos que servem para articular essa letra,

e não só os músculos da fonação ou outros diretamente in­ teressados, mas todos os músculos do organismo participa­ rão de alguma maneira na modificação” (11>.

O movimento dos órgãos da fonação, por exemplo, ou melhor, a emissão muito tênue das palavras internas com que pensamos, foi demonstrado experimentalmente.

Os doutores L E H M A N N , Diretor do Laboratório de Psicofísica, e seu colega, C. H A N S E N , ambos da Universidade de Copenhague, colo­ caram frente a frente dois grandes espelhos côncavos metálicos a uma distância de dois metros um do outro. N o foco de um dêsses espelhos uma pessoa punha a bôca enquanto pensava alguma coisa, e no foco do outro espelho outra pessoa colocava o ouvido. A s experiências foram feitas de três maneiras diferentes: bôca semi-fechada, quase fechada e fechada completamente no indivíduo que pensa, operando-se sempre a respiração pelo nariz.

Os resultados obtidos foram equivalentes nos três tipos de expe­ riências, havendo só 25% de fracassos completos; fracassos que podem explicar-se pelo fato de não tratar-se, evidentemente, de sen­ sitivos extraordinários. A pessoa que colocava o ouvido no foco de um dos espelhos ouvia o que pensava a outra pessoa que estava co­ locada no outro espelho.

Houve, pois, articulação de palavras correspondentes aos pensamentos, fôssem êstes coisas abstratas ou concretas, imagens, números, etc., apesar de que não houve movimento nenhum visível externamente. (Sem espelhos, por hipereste- sia inconsciente, todos captariam aquelas palavras pronun­ ciadas inconscientemente pela pessoa pensante; mas só nos sensitivos o captado subiria ao consciente). A análise acústica do fenômeno revelou haver redução e alteração das consoan­ tes como sucede na ventriloquia. Os sons, pois, provinham da laringe, principalmente, pois não excluímos outros sinais. São movimentos reflexos involuntários e irreprimíveis.

(11) Citado por C A S T E L L A N , Yvonne: “L a Metapsíquica”. B i­ blioteca dei Hombre Contemporâneo, volume 49, Buenos Aires, Pai- dós, 1960, pág. 100.

O movimento dos órgãos de fonação foi também cons­ tatado de outras maneiras, por exemplo, com a análise de reflexos luminosos <u bis>.

Devemos citar as numerosíssimas experiências do Dr. CALLIGARIS, Professor de Neuropatologia da Universidade de Roma. Numa série de livros por êle publicados aparece a relação delas (12). Por essas pesquisas, observou como todo ato psíquico, consciente “ ou inconsciente, normal, extraordi- nário-normal ou paranormal, tem seu reflexo inclusive epi­ dérmico, especialmente em determinadas zonas particulares próprias para tal ato psíquico, zonas que êle chamou “ pla­ cas” ou “ campos” . As experiências são numerosíssimas.

Êste fato viria a confirmar, inclusive elevando-o a alta potência, o que já antes afirmava o Dr. KLAUDER, de Fi­ ladélfia: “ Está fora de tôda dúvida que a pele é um impor­

(11 bis) E Y M IE U , A .: “Le gouvemement de soi même”, 80.a ed., Paris, Perrin, 1962. Nós utilizamos a tradução italiana: “II governo di se stesso”, Roma, Ed. Paoline, 1963.

(12) C A L L IG A R IS , Giuseppe: “Le catene dei corpo e dello spi- rito davanti alia diagnostica. II cancro”, Udine, Instituto delle Edi- zioni Academiche, 1936. E sob o mesmo título geral, indicado pela reticência:

“ . . . L a delinguenza malatia mentale”, Brescia, Vannini, 1942. “ . . . L a fabrica dei sentimenti sul corpo dell’uomo”, Roma, Poz- zi, 1932.

“Le catene lineari dei corpo e dello spirito”, Roma, Pozzi, 1928. “Le catene lineari secondarie dei corpo e dello spirito”, Roma, Pozzi, 1930.

“ . . . Le meraviglie dell’autoscopia”, Roma, Pozzi, 1933. “ . . . Le meraviglie dell’eteroscopia”, Roma, Pozzi, 1934.

“ . . . Le meraviglie delia Metafisiologia”, Brescia, G. Vannini, 1944. “ . . . Malattie infettive”, Udine, Instituto delle Edizioni acade­ miche, 1938.

“ . . . Malattie mentali”, Milano, Fratelli Bocca, 1942.

“ . . . Nuove ricerche sul cancro”, Milano, Fratelli Bocca, 1940. “ . . . Telepatie e radio-ondecelebrali”, Milano, Hoepli, 1934, e Brescia, Vannini, 1945.

“ . . . Telepatia e Telediagnostisi”, Udine, Instituto delle Edizioni Academiche, 1935.

tante órgão de expressão, comparável aos olhos na expres­ são das emoções” (13>.

Outros tipos de “ emissões” foram também observadas e demonstradas (14). Mas basta o já dito. E provàvelmente há “ emissões” que ainda desconhecemos...

A Psicologia moderna e a Parapsicologia form u la m a existência e extensão dos m ovim en ­ tos involuntários e inconscientes que acoinpa- nham tôda idéia ou im agem , segundo a L e i de

B A I N : “ Todo fato psíquico determ ina um refle­ x o fisiológico e êsse reflexo se irradia por todo o corpo e cada uma de suas partes

É m ú ltip lo o reflexo fisiológico externo dos atos psíquicos.

Podemos, poisj dizer que pensamos, que sentimos, imaginamos, com todo o corpo, traindo nossas experiências internas p or mais secretas que as acreditemos.

(13) K L A U D E R : “Psychogenie aspects skin diseases”, em “Journal of nervous and mental disease”, vol. 84, setembro, 1936.

(14) Veja-se, por exemplo, o excelente artigo de LE R N E R , M ar­ celo: "Sugestión e Hipnose a través dei concepto de psicoplasia”, em “Acta Hipnológica Latinoamericana”, março, 1960, págs. 38 ss.

C u m b e r l a n d i s m o

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