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UMA CIÊNCIA NOVA

No documento A Face Oculta Da Mente - Tomo 1 - V 4 (páginas 32-42)

Nem de mais nem de menos. — A ciên­ cia do mistério. — Tentativa de definição.

H

à definições tão amplas que parecem querer incluir

dentro da Parapsicologia todo o saber humano. Estas definições refutam-se por si mesmas.

D e fin iç õ e s r e s t r i t a s — “A Parapsicologia estuda as funções psíquicas ainda não incorporadas definitivamente ao sistema da Psicologia” . Segundo esta definição, bastante di­ fundida, a Parapsicologia não seria mais do que a fôrça de choque da Psicologia, uma avançada na investigação de fe­ nômenos hoje mais ou menos obscuros. No momento em que todos êstes fenômenos fôssem entendidos pela Psicologia ou, em último têrmo, pela Psiquiatria, etc., a Parapsicologia já não teria mais razão de ser.

Esta definição é parte da verdade. Há fenômenos que podem, durante algum tempo, ser considerados como pa-

rapsicológicos, extraordinários, obscuros, e passar depois a ser pouco menos do que de domínio público. Ê o que acon­ teceu com o Hipnotismo, considerado em épocas antigas como fenômeno “ ocultista” , transe devido à possessão de um es­ pírito ou demônio, e hoje tido por todo o mundo como um fenômeno natural e até vulgar. Mas há fenômenos, como a telepatia, que, mesmo quando cientificamente comprovada, continuará sempre sendo fenômeno parapsicológico pelo seu caráter essencial de fenômeno à margem da Psicologia nor­ mal ou patológica.

Outras definições são bem mais amplas, mas também parciais, limitadas: “ A Parapsicologia estuda todos os fatos nos quais a vida e o pensamento se manifestassem por fenô­ menos aparentemente inexplicáveis” (BOIRAC), ou “ é um ramo da Psicologia que trata de fenômenos mentais e seu comportamento nos casos que parecem exigir princípios ain­ da não aceitos” (RH IN E).

Em definições como estas, além das expressões: inex­

plicável, ainda não aceitos, do que falamos antes, inclui-

-se o elemento: mental, pensamento, vida. Então qualquer fenômeno do Espiritismo, da Demonologia, dos milagres, qualquer fenômeno, enfim, capaz de apresentar uma contro­ vérsia sôbre seu caráter extraterreno, seria por êste mesmo fato excluído do estudo da Parapsicologia, por não oferecer certeza, à primeira vista, de seu caráter mental, de vida humana, do poder do pensamento. Em definitivo, só os naturalistas declarados poderiam ser parapsicólogos em mui­ tos casos, para não dizer em todos. Os fenômenos parapsi- cológicos, porém, sempre estiveram envolvidos em interpre­ tações das mais contraditórias e misteriosas, mas geralmen­ te de caráter “ místico” .

Seria o caso, porventura, de se estudar primeiro se tais fenômenos eram ou não mentais, vitais, do pensamento? Então teríamos o parapsicólogo estudando uma matéria que não sabe ainda se lhe pertence. . .

Dever-se-ia esperar que outras ciências determinassem o caráter mental ou vital de determinados fenômenos, para só então estudá-los o parapsicólogo? Afirmar isto seria o mesmo que ignorar a origem desta ciência, que nasceu preci­ samente para investigar se êstes fenômenos “misteriosos” existiam de fato, e, em caso positivo, se superavam na reali­ dade as fôrças da natureza, ou ainda quais os fenômenos que superavam e quais os que não superavam estas fôrças.

Os fenômenos mentais e vitais, por conseguinte, não são a única matéria de estudo parapsicológico.

Omitimos outras definições de maior ou menor difusão entre os parapsicólogos, mas também incompletas.

O cam po É m a io r — Robert AMADOU, representando o sentir mais geral dos metapsíquicos e parapsicólogos, dá em diversos lugares da magnifica obra “ La Parapsychologie” de­ finições bem mais amplas. Por exemplo: “ O fim da Parapsi­ cologia é a constatação e a explicação de fatos desconcertan­ tes, estranhos, misteriosos, cujos caracteres desorientadores podem agrupar-se na vasta categoria, profundamente heteró­ clita, do oculto perceptível, das experiências mágicas, do ma­ ravilhoso empírico. Sôbre êstes fatos, a Parapsicologia quer pronunciar o veredicto da ciência. Sua ambição não é menor nem mais modesta” . O lema dos estudos que, sob a direção de Robert AMADOU, realizam-se na “ Tour Saint Jac- ques” , pode-se considerar como outra definição de Parapsi­ cologia: “ Rien de ce qui est étrange ne nous est étranger” . Como se vê, não nos limitamos, como fazem alguns au­ tores, aos fenômenos chamados PSI-GAMMA e PSI-KAPPA. Nosso conceito de Parapsicologia é bem mais amplo, de acor­ do com destacados metapsíquicos e parapsicólogos e suposta a história e finalidade desta investigação. Segundo a expres­ são de Robert AMADOU: “ nada daquilo que é estranho é estrangeiro para nós” , se, possivelmente, é resultado de fa­

m u it o q u e in v e s t ig a r — O campo em que a Pa­ rapsicologia trabalha é imenso. Ãs vêzes tratar-se-á de

aparentes incorporações: um suposto endemoninhado, um

“ desencarnado” que parece falar por bôca de um “ mé­ dium” . . . Outras vêzes será preciso estudar, ao menos como investigação prévia, um suposto milagre, ou os po- dêres extraordinários que se atribuem a um feiticeiro, a um faquir, a um bruxo. Não raro a ciência “ tradicional” fica surprêsa perante o anunciar de fatos que hão de suceder depois de 20, 30, 100 anos, quando era “ impossível” prevê-los por vias normais, e vê que os fatos comprovaram os prog­ nósticos; ou perante adivinhações de fatos sucedidos a mi­ lhares de quilômetros de distância... E que dizer de uma mesa que se eleva pelos ares desafiando, aparentemente ao

menos, tôda lei da gravidade? Que pensar de um ignorante

e analfabeto que de repente começa a falar em línguas es­ trangeiras? Ou de uma adolescente que passeia com os pés descalços sôbre brasas sem ter queimaduras nem dor? Ou ainda de outro indivíduo que escreve automàticamente num ângulo, enquanto num outro ângulo do aposento se ouvem vozes, músicas, ruídos sem causa aparente? Num recipiente hermèticamente fechado aparecem objetos que momentos antes, segundo se afirma, estavam em longínquas terras;

fala-se de curas extraordinárias; comentam-se aparições

de fantasmas, membros humanos tangíveis, separados do seu corpo e que não obstante continuam a viver; respostas apa­ recem escritas em papéis sem que ninguém tenha sido visto a escrevê-las. Enfim, são em número incalculável os fenô­ menos assombrosos, incríveis, isto é, parapsicológicos.

São reais ? São alucinações, fraudes. . . ? Como se expli­ cam êsses fenômenos reais ou aparentes? Tempo é já de que surjam especialistas perfeitamente preparados para entrar por êstes difíceis mas interessantíssimos problemas. Tempo é já de não negar nem afirmar em nome da ciência sem prévio estudo especializado.

T e n ta tiv a , de d e fin iç ã o — Ê difícil encerrar numa de­ finição tantos e tão variados fenômenos. Algumas definições que se têm apresentado esquivam a dificuldade caindo em tautologias. Por exemplo: “ A Parapsicologia tem por objeto a constatação e análise dos fenômenos de aparência para­ normal” , ou “ estuda os fenômenos parapsicológicos e com êles relacionados” . Os têrmos que se querem definir não devem entrar na definição. É justamente “ os fenômenos parapsicológicos e com êles relacionados” , “ os fenômenos de aparência paranormal” que queremos definir.

Mas os têrmos empregados nessas definições e outros têrmos equivalentes são de contínuo uso na Parapsicolo­ gia: paranormais, parapsíquicos, parapsicológicos, supra- normais...

Nós os tomamos como sinônimos de extraordinário, sur­ preendente, à margem do normal, inexplicável à primeira vista.

Paranormal não significa anormal no sentido pejorativo da expressão. Fenômeno paranormal não é sinônimo de pa­ tológico, próprio de doentes ou loucos. . . O limite, porém, entre paranormal, anormal, normal, é muitas vêzes simples questão de graus nem sempre fácil de precisar. E a fre­ qüência dos fenômenos paranormais, espontâneos ou provo­ cados, pode levar à anormalidade.

Além disso, as faculdades paranormais como faculdades, são patrimônio de todo o gênero humano e nesse sentido são faculdades normais. Mas a manifestação é privativa de pessoas especiais ou de circunstâncias extraordinárias. O fenômeno, a manifestação da faculdade, portanto, é para­ normal, extraordinário, à margem do normal.

Preferimos o prefixo “ para” (para = à margem) ao pre­ fixo “supra” (supra = por cima). Supranormal, com efeito, sugere mais ou menos reflexa ou inconscientemente, uma relação ao sobrenatural, que escapa do plano em que dire­ tamente se move a Parapsicologia.

Os fenômenos chamados paranormais são, ao menos ge­ ralmente, “ espontâneos” , irreproduzíveis à vontade... E êste aspecto está também incluído no têrmo “ paranormal” . Os fenômenos paranormais, porém, apesar de não serem re­ produzíveis à vontade, de serem “ espontâneos” , podem ser matematicamente comprováveis.

Notemos também que o aspecto de “ espontaneidade ou incontrolabilidade” incluída no conceito de paranormal, ou o aspecto de estranheza, de inexplicável e nôvo para a ciência “ tradicional” , não são próprios de todos os fenômenos que estuda a Parapsicologia. Por isso devemos acrescentar o têr­ mo “ de aparência” ou “ à primeira vista” paranormal W.

Nossa definição — Propomos uma definição a título de

orientação.

A Parapsicologia é a ciência que tem por objeto a constatação e análise dos fenômenos à primeira vista inexplicáveis, mas possivelmente resultado de faculdades humanas.

Alguns esclarecimentos: usamos o nome “ ciência” e não o têrmo “ disciplina” ou algum equivalente. A Parapsi­

cologia é ciência em qualquer sentido em que tomemos a pa­ lavra. Assim, é experimental em muitos aspectos, e nesse sentido se equipara à Física ou à Biologia. Ê rigorosa em suas argumentações, e nesse sentido coincide com a Filo­ sofia.

Mas alguns afirmam que só seria ciência se em todos os fenômenos estudados fôsse experimental e tôdas suas ex­ periências pudessem ser repetidas com êxito igual em iguais

(1) O “Comité belge pour l’investigation scientifique des phéno­ mènes réputés paranormaux” defende esta expressão acertadamente, por exemplo em “Revue Metapsychique”, 1953, págs. 24, 56.

circunstâncias. Só se tomássemos o conceito de ciência nes­ te sentido tão restrito e inexato a que a Parapsicologia não seria ciência...

“À 'primeira vista inexplicável” : esta inexplicabilidade

aparente dos fenômenos pode ser devida à sua estranheza, que os faz distar do nosso comum julgamento, ou à sua aparente contradição aos pressupostos científicos funda­ mentados ou comumente aceitos.

“Possivelmente r e s u l t a d o não afirmamos que, de

fato, sempre derivem das faculdades humanas, nem que seja obrigatória a constatação prévia de que derivem delas.

“Faculdades h u m a n a s em todos êsses fenômenos há

um homem, mesmo que seja considerado bruxo, feiticeiro, médium, endemoninhado ou santo... Ou, ao menos, há uma testemunha, como, por exemplo, uma adolescente numa “ casa assombrada” . Sempre intervém o homem quando menos para comprovar ou testemunhar. Há, pois, a possibilidade (como notamos no item anterior) de que o fenômeno se deva ao homem, a fôrças “ ocultas” (talvez

de atuação à distância) do homem.

Não ignoramos que a Parapsicologia também estuda e tem feito experiências com animais e com plantas. Mas, ao menos por enquanto, a maioria dos estudos que se fizeram com animais e plantas foram para fazer luz sôbre fenôme­ nos do homem. Robert AMADOU, depois de ter incorpo­ rado implicitamente na sua definição a “ Parapsicologia animal” , acrescenta numa nota: “ Nosso estudo, não obs­ tante, será consagrado exclusivamente à “ Parapsicologia

humana” <2). É sintomático.

Contudo, se quisermos incluir os animais e plantas nas suas manifestações “ misteriosas” como objeto da Parapsi-

(2) AMADOU, Robert: “La Parapsychologie”, Paris, Denõel, 1954, pág. 45. Há tradução espanhola: “La Parapsicologla”, Buenos Aires, Paidós, 1957.

cologia, no fim da nossa definição podemos substituir o têrmo “ humanas” pela expressão “dos sêres vivos dêste mundo” .

Sublinhamos a expressão “dêste mundo” , que na nossa definição está implícita no têrmo “ humanas” . A êste respei­ to escreve com muito acêrto AMADOU: A expressão “ dêste mundo” , “ repousa por inteiro numa hipótese que bem se pode chamar a teoria geral da Parapsicologia. Parece fora de dúvida que a hipótese de base da Parapsicologia é de que estas fôrças estão em relação com o espírito humano (dêste mundo, não dos “ desencarnados” !). Se algum estágio pos­ terior da investigação requeresse outro investigador, o me­ tafísico, a apreciação da conclusão dêste último não seria do campo do parapsicólogo como tal” (3). O parêntese é nosso.

Ciências lim ítro fes — Como se vê, a Parapsicologia

tem muitos pontos de contato com outras ciências. Como autêntica ciência, não só não contradiz outros ramos do saber, mas os pressupõe, dêles se serve e com êles colabora.

Concretizarei num só exemplo: suponhamos uma cura extraordinária, inexplicável ao menos à primeira vista. Vá­ rios ramos da ciência, não apenas a Parapsicologia, estão in­ teressados no assunto. Deve o médico, em primeiro lugar, ver se a cura pode se explicar simplesmente com os dados da Medicina. Se assim fôr, nem o teólogo, nem o metafísico, nem o parapsicólogo devem intervir.

Mas suponhamos que a Medicina “ fica sem resposta” an­ te semelhante cura. Há que atribuí-la já, sem mais pesquisa, ao demônio, aos espíritos “ desencarnados” , a Deus. . . ? Não. Desde o momento em que aparece como surpreendente, à pri­ meira vista inexplicável, segundo o critério da Medicina e afins, a cura passa para o terreno do parapsicólogo.

É missão do parapsicólogo investigar exaustivamente com sistemas próprios, tratando de descobrir qualquer dado que

o possa pôr na pista de uma explicação das chamadas em Parapsicologia “ extraordinário-normais” . Ao mínimo indício, se preciso, pedirá a colaboração do especialista em Psiquia­ tria, Psicologia, Fisiologia, Física, etc., inclusive Ilusionis­ mo segundo demandar o caso. O parapsicólogo ideal seria o especialista em tôdas essas matérias, simultaneamente. Nas sociedades de investigação parapsicológica há membros especialistas nos diversos campos, cuja finalidade é asses­ sorar naquilo que possa ter relação com a sua especialidade. Em muitos casos a investigação deverá aprofundar-se mais no campo da Parapsicologia, tratando de se descobrir qualquer explicação paranormal.

Só quando, além da explicação ordinária, ficar excluída tôda possibilidade de explicação extraordinária e paranor­ mal, só então o parapsicólogo deverá deixar o caso ao teólo­ go, filósofo...

C l a s s if i c a ç a o

No documento A Face Oculta Da Mente - Tomo 1 - V 4 (páginas 32-42)