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Fonte: Puntoni (2002).163

Além desses pontos em comum que relacionam o caráter expansionista da Coroa Portuguesa e o empreendimento da guerra justa nas Capitanias do Norte, a atuação da Junta das Missões de Pernambuco, que será explorada ainda melhor no capítulo seguinte, também foi um ponto de conexão entre elas. Na maioria das vezes, as decisões tomadas pela Junta estavam em consonância com os desejos dos colonos tanto de garantir mão de obra indígena quanto de conquistar novas terras no sertão. A Junta das Missões de Pernambuco foi uma das instituições criadas pela Coroa portuguesa a fim de resolver casos contingentes que não estavam previstos no regimento e, mais ainda, que necessitassem de urgência nas soluções. No fim do século

XVII, o Estado do Brasil era compreendido pelas capitanias de Pernambuco, Rio Grande, Paraíba, Sergipe, Itamaracá, Ceará, Porto Seguro, Bahia, Cabo Frio, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Vicente. A Capitania de Pernambuco foi escolhida para ser a sede da Junta por alguns possíveis motivos, como “a grande abrangência da diocese de Olinda, estendendo-se do rio São Francisco, limite com a Bahia, até o Ceará, aliada à crescente concentração administrativa em torno de Pernambuco”164, tendo em vista o seu exercício de jurisdição sobre as capitanias do Ceará, Alagoas, Paraíba, Itamaracá e Rio Grande. Assim como ela, outras Juntas também foram criadas ao longo do tempo, como exposto no Quadro 1, a seguir:

164 MELLO, Marcia Eliane Alves de Souza e. Fé e império: as Juntas da Missões nas conquistas portuguesas.

Quadro 1 – Juntas das missões nas possessões ultramarinas

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Mello (2007).166

165 De início, as Juntas ocorriam onde se encontrava o governador, fosse no Maranhão ou no Pará. Apenas em

1701 as duas passaram a funcionar em consonância; uma Junta sediada em São Luís, no Maranhão, e outra em Belém, no Pará. O funcionamento simultâneo das duas deixou de vigorar em 1757, após a implementação do Diretório dos Índios do Pará e Maranhão. Contudo, a Junta do Maranhão prolongou sua atividade até 1777 com algumas alterações, conforme fora estabelecido no Diretório. Cf.: MELLO, Marcia Eliane Alves de Souza e. Fé e império: as Juntas da Missões nas conquistas portuguesas. Manaus: EDUA, 2007, p. 152-153.

166 MELLO, Marcia Eliane Alves de Souza e. Fé e império: as Juntas da Missões nas conquistas portuguesas.

Manaus: EDUA, 2007. JUNTA PERÍODO DE DURAÇÃO SEDE PRINCIPAIS DEMANDAS Junta das Missões do Estado da Índia 1681-1774 Goa Defesa do padroado português na região frente ao avanço das Companhias Holandesas e Inglesas das Índias Orientais. Junta das Missões do Reino de Angola 1681-final do séc. XVIII Luanda Catequese e formação de missionários africanos. Junta das Missões no Estado do Maranhão e Grão-Pará165 1683-1757 São Luís/ Belém Catequese e liberdade dos índios. Junta das Missões do Estado do Brasil 1692-1759 Pernambuco Reestruturação do trabalho missionário após a presença holandesa e avanço da catequese para o sertão.

Após perceber os êxitos que a Junta das Missões estava operando na Índia no sentido de incentivo à propagação da fé católica, D. Pedro II remeteu uma carta ao Governador do Rio de Janeiro, Dom Manuel Lobo, em 7 de março de 1681, ordenando a criação da Junta das Missões no Brasil. Seguindo as orientações de D. Pedro II, com o intuito de promover as missões presentes no Brasil, a Junta deveria reunir-se na presença do Bispo, que caso não pudesse comparecer, poderia ser substituído pelo Vigário Geral do Bispado, o Ouvidor Geral e o Provedor da Fazenda, além do Governador167. Dentre as dez proposições estabelecidas acerca da Junta das Missões e de suas atribuições, destacam-se as exigências que se fazia para que sua realização se desse, no mínimo, de quinze em quinze dias; que um secretário ficasse responsável pela escrita das consultas e resoluções tomadas; e que se deveria manter comunicação com Lisboa, informando as novidades vivenciadas na colônia168.

Em um registro de concordata sobre as pazes com os índios Caborés, datado de 11 de novembro de 1716, na presença do capitão-mor Domingos Amado, dos oficias da Câmara de Natal, do provedor da Fazenda Real e do Sargento-mor do Estado, comentou-se sobre a necessidade de realização de uma junta a respeito do cativeiro dos Paiacus, pois esses teriam assassinado alguns dos Caborés, que, por sua vez, tinham acordado a paz com os conquistadores durante uma das entradas ao sertão do Açu. Ao comentarem sobre os excessos cometidos pelos Paiacus, percebe-se que a dúvida a respeito do castigo deles circundava entre os presentes na ocasião, pois escreve-se que “para os que dizia que indevidamente são cativos, lhe ordenava consultar o dito capitão-mor para que ele determinado tudo com a melhor individuação lhe desse conta ao dito senhor governador para resolver em junta das missões a providência que se devia dar nestes particulares”169. Portanto, a fim de sanar as dúvidas tocantes ao cativeiro dos Paiacus, recomendava-se a execução de uma junta e de um possível veredito que confirmasse ou não a licitude desse ato. Sabe-se, ainda, que isso não representou um caso isolado na sociedade colonial, haja vista que a dúvida sobre se fazer ou não cativo determinado grupo indígena era recorrente, assim como a solução disso ser encaminhada a uma junta, fato que ficará mais evidente no próximo capítulo.

167 Carta régia ao Governador do Rio de Janeiro sobre a criação da Junta das Missões Ultramarinas. Arquivo

Nacional (Rio de Janeiro), cód. 952, vol. 3, p. 5. Lisboa, 07 de Março de 1681.

168 Carta sobre a instituição da Junta das Missões e do que lhe toca obrar. Biblioteca da Ajuda, cód. 50-V-37, fl.

355-355v. Lisboa, post. 1686. Apud. MELLO, Marcia Eliane Alves de Souza e. Fé e império: as Juntas da Missões nas conquistas portuguesas. Manaus: EDUA, 2007. p. 291-292.

169 Registro de um termo de ajuntamento e concordata que fizeram ao capitão-mor Domingos Amado os oficiais

da câmara, provedor da fazenda Real e sargento-mor do Estado sobre as pazes com os Tapuyas Caborés. 11 de novembro de 1716. Livro 6 de Provisões da Câmara – Fl. 78v-80.

Dessa maneira, a Junta deveria reunir-se e deliberar sobre assuntos pertinentes à vivência na colônia de modo a atender aos interesses dos religiosos e dos demais conquistadores e moradores. As Capitanias do Norte tiveram suas demandas assistidas pela Junta das Missões de Pernambuco e, assim, a maioria dos casos que passava pelo cerne da Junta envolviam direta ou indiretamente os índios, tendo em vista o grande número de casos de guerras e cativeiros, cabendo à Junta decidir, por exemplo, sobre a justiça ou a injustiça da guerra e a liberdade ou o apresamento e cativeiro dos índios. Logo, pode-se entender, aqui, a Junta das Missões de Pernambuco como o elo entre as Capitanias do Norte no que se tratava da guerra justa, capaz de permitir inferir as conexões e intersecções existentes nelas.

Em uma consulta da Junta Geral das Missões, datada de 1697, discutiu-se sobre a falta de párocos nas igrejas do sertão noticiada pelo bispo de Pernambuco em maio do mesmo ano. Nela, apontou-se para a maioria das Capitanias do Norte, principalmente nas áreas envolvidas na Guerra dos Palmares e na Guerra dos Bárbaros: Alagoas; rio São Francisco; sertão de Rodelas; Açu, no Rio Grande; e Jaguaribe, no Ceará. Para Rodelas, o Bispo decidiu enviar quatro clérigos, destinando terras para dois curatos, já para o Açu e Jaguaribe foram enviados sacerdotes. A demanda dos Paulistas que estavam no sítio dos Palmares era no sentido de também remeterem sacerdotes para esse local a fim de administrarem os sacramentos. O parecer do Conselho Ultramarino foi favorável à solicitação e foi feito um adendo quanto à situação no sertão de Rodelas, informando que deveria ser “o remédio juntamente espiritual e temporal, espiritual pelo benefício dos párocos e operários, e o temporal pela correção e castigo dos delitos”170.

Portanto, pululavam questões tocantes à vida social da colônia a serem discutidas nas reuniões da Junta, principalmente as que envolviam os missionários e o poder espiritual bem como a possibilidade de avanço da catequese aos sertões, aliada ao povoamento por parte dos moradores, mesmo que para isso fossem necessárias a correção e o castigo dos índios, como explicitado na consulta acima. As punições, muitas das vezes, variavam entre o cativeiro, a morte ou a desnaturalização171.

170 Consulta da Junta Geral das Missões sobre a falta de párocos nas igrejas do sertão. AHU-PE, Papéis avulsos

(Lisboa, 29 de Outubro de 1697). Apud MELLO, Marcia Eliane Alves de Souza e. Fé e império: as Juntas da Missões nas conquistas portuguesas. Manaus: EDUA, 2007. p. 298-301.

171 A tentativa de desnaturalização dos índios do Rio Grande aparece em alguns termos da Junta das Missões de

Pernambuco e, em suma, significa o desenraizamento dos índios feitos cativos, ou seja, após o cativeiro, alguns índios eram indicados a serem levados a Capitanias vizinhas para que se afastassem do seu local de vivência e de

Uma portaria do governador de Pernambuco de 1713, por exemplo, solicitava ao Provedor da Fazenda de Itamaracá o sumário de onze índios “tapuias” que tinham sido presos na Capitania do Rio Grande e remetidos à fortaleza de lá. Por isso, os índios apresados no Rio Grande, ao serem feitos cativos e destinados a Itamaracá, ficaram incumbidos pelo trabalho de retirada de entulhos na dita fortaleza, mas quando encontraram a oportunidade de mudar de atividade e buscar lenha com mais dois soldados, puseram-se em fuga na ocasião172, ou seja, assim que os índios atinaram para o fato de que o trabalho laboral de buscar lenha demandava mais tempo fora da fortaleza, podem ter se disponibilizado para fazê-la ou, ainda que tenham sido mandados pelos soldados, logo aproveitaram a chance de fugir. Fatos como esse serão ainda melhor explanados no capítulo seguinte, pois corroboram com a ideia do desenraizamento dos índios de seu local de fixação, proposta baseada na desnaturalização.

Desse modo, diversos aspectos em comum intercruzam-se e esses pontos montam relações entre as Capitanias do Norte de modo que suas semelhanças e diferenciações constroem uma espécie de colcha de retalhos cujo pano de fundo é a guerra justa. Elementos como a retirada ou a fuga de índios de uma capitania para outra e as ações institucionais da Junta das Missões de Pernambuco, por exemplo, funcionaram como fios de ligação dessa tessitura, a qual produz pontos de intersecção entre as Capitanias do Rio Grande, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Maranhão, Piauí e Bahia.

3.2 – A guerra justa no contexto da Guerra dos Bárbaros

A capitania do Rio Grande contava com a presença de certo estoque de espaço disponível a ser apropriado e incorporado ao sistema colonial, haja vista o processo de colonização ter sido iniciado pelo litoral, enquanto os sertões deveriam ser paulatinamente incorporados ao domínio português em determinado momento. Caso semelhante ocorreu no processo de avanço aos sertões de Minas Gerais, estudado por Hal Langfur, cujo objetivo era a tomada das terras dos índios para assumirem o controle do ouro que já se encontrava escasso por volta dos anos finais do século XVIII. Os colonos, portanto, obstinados na corrida do ouro, invadiram as terras dos Botocudos e de outros grupos indígenas provocando embates violentos. Por fim, o príncipe regente ainda declarou guerra em 1808. A guerra justa foi a ferramenta

suas relações de sociabilidade, sendo encarados como eminentes perigos aos moradores e colonos. A discussão mais aprofundada sobre esse conceito e sua tentativa de execução aliada à guerra justa segue no próximo capítulo.

encontrada pelos colonos para desbaratar os índios e assim romper com essa barreira humana que impedia o contrabando de ouro na região. Isto posto, tanto no caso da Capitania de Minas Gerais quanto na Capitania do Rio Grande, mas não sendo exclusivo desses espaços, os índios representavam uma espécie de muro ao redor da fronteira assim como no Jaguaribe, localizado na Capitania do Ceará, que foi mencionado nas Leis de 1609 e 1611, comentadas anteriormente, à essa época já sinalizando um indicativo do uso excessivo do cativeiro dos índios pelos colonos.

Com isso, a fronteira ganhou uma conotação de barreira a ser transpassada, um limite que se deseja perpassar e avançar. Era a terra como uma incógnita a ser desvendada pelos colonos. Diogo de Vasconcelos, considerado o fundador da historiografia moderna do período colonial de Minas Gerais, escreveu, no início do século XX, que as florestas à leste ainda eram rigorosamente conservadas e tinham seu acesso impedido e, por isso, são chamadas de “terras proibidas”, nome dado ao livro de Langfur. Ele coloca, ainda, que as políticas advindas da Coroa e dirigidas aos índios tinham tanto o papel de escravizar quanto de marginalizar quando as subjugava a certa adaptação. Como Caio Prado Júnior evidencia, ao diferenciar a colonização lusitana da norte-americana, aqui se tentou

[...] aproveitar o índio, não apenas para a obtenção dele, pelo tráfico mercantil, de produtos nativos, ou simplesmente como aliado, mas sim como elemento

participante da colonização. Os colonos viam nele um trabalhador

aproveitável; a metrópole, um povoador para a área imensa que tinha que ocupar, muito além de sua capacidade demográfica173.

Ao analisar aspectos econômicos e culturais presentes na Guerra dos Bárbaros em sua dissertação de Mestrado, Soraya Geronazzo Araújo destacou a importância que os tapuias representaram no impedimento ao avanço da Coroa aos sertões do Recôncavo, fato que a motivou a considerar os índios como “verdadeiras ‘muralhas do sertão’”174. A guerra dos Bárbaros, portanto, foi um sangrento embate entre índios e portugueses que teve como um dos palcos principais os sertões do Açu no Rio Grande, mas se estendeu pelas regiões do sertão de Rodelas, em Pernambuco, também na Ribeira do Jaguaribe, no Ceará, além dos sertões do Piauí e Paraíba. Com relação ao período da Guerra dos Bárbaros, Puntoni coloca que a partir de 1661 já ocorriam conflitos, porém, é por volta de 1687 que se nota grande número de documentos

173 PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. São Paulo: Brasiliense, v. 16, 2000, p.

86-87.

174 ARAUJO, Soraya Geronazzo. O muro do demônio: a economia e cultura na Guerra dos Bárbaros no nordeste

colonial do Brasil – séculos XVII e XVIII. 2007. 122f. Dissertação (Mestrado em História Social). Centro de Humanidades. Universidade Federal do Pará, 2007, p. 81.

dando conta desses levantes. O autor caracteriza o evento como “uma série heterogênea de conflitos que foram o resultado de diversas situações criadas ao longo da metade do século XVII”175. No que diz respeito ao sertão do Açu, os documentos analisados até o momento também apontam o início dos conflitos para o começo de 1687.

Em uma carta que o então Governador Geral do Brasil, Mathias da Cunha, escreveu para o governador de Pernambuco, João da Cunha de Sotto Maior, “sobre a guerra do gentio bárbaro do Rio Grande”176, em 1688, já se declarava a justiça desse conflito. Segundo relata- se, Mathias da Cunha convocou uma junta que acordou em votação, na presença de teólogos, ministros e oficiais maiores, a uniformidade da guerra contra os índios do Rio Grande, a qual passou a ser considerada justa, devendo ser de caráter ofensivo com o apresamento dos cativos. Para a realização do intento, a junta indicou o socorro da capitania através de medidas como o envio de infantes de praças das cidades de Olinda, Itamaracá e Paraíba, que deveriam ser sustentados pelas câmaras de cada cidade, assim como 200 infantes do terço de Henrique Dias e de Filipe Camarão, além de assistência da Fazenda Real com todas as armas, munições e fardamentos necessários aos índios e soldados pretos que fossem enviados à região dos conflitos. Em tal carta, ainda, se menciona a obediência do Governador geral à legislação em vigência, citando que o parecer da Junta, a respeito da guerra justa e do cativeiro dos índios, alinhava-se em conformidade com a Lei de 1611.

Ao tratar dos grupos sociais, Haesbaert coloca a desterritorialização como uma precarização territorial, que nada mais é do que a expropriação de dado território, que se compreende não apenas como meio de subsistência e continuidade da vida humana, mas também como recurso fundamental para a criação e manutenção de identidades e simbolismos. Ao citar os indígenas, o geógrafo aponta a terra para além de um meio de produção, mas que emana de um nível simbólico-cultural na qual determinadas porções do espaço estariam carregadas de referências simbólicas e seriam consideradas veículos de manutenção da cultura, podendo ainda ter ligações com o sentido religioso. Cada contexto tem, pois, seus agentes de

desterritorialização, seja o mundo virtual e os meios de comunicação cada vez mais avançados

ou mesmo a tentativa de usurpação de espaços físicos que culminam na desintegração de grupos

175 PUNTONI, Op. Cit., p. 13.

176 Carta que se escreveu ao governador de Pernambuco João da Cunha de Sotto Maior sobre a guerra do gentio

sociais, formando o que Haesbaert classificou como uma espécie de “aglomerados humanos de exclusão” haja vista serem retirados de seu território.

Destarte, a guerra justa, de certa maneira, serviu como um dos vetores que impulsionou o avanço dos empreendimentos colonialistas aos sertões da Capitania do Rio Grande. Ao avançar para o expoente de terras adentro da capitania, a barreira sociocultural formada pelos grupos indígenas seria enfrentada diretamente para que o projeto da colonização pudesse ser concretizado. Guerrear com os índios ditos “bárbaros” ou “rebeldes”, portanto, seria uma alternativa imperativa, ainda mais ao se utilizarem do aparato jurídico que os permitia declarar guerra em nome da justiça. Desse modo, a dizimação ou o aprisionamento de índios serviria aos interesses dos colonos visto que os permitiam adentrar os vastos sertões após vencer essa fronteira humana.

Nesses espaços, o empreendimento da colonização demandava estratégias que fossem capazes de dominar os grupos indígenas, ou seja, a povoação do sertão do Açu por parte dos colonos seria uma opção viável apenas após a dominação dos índios. Como maneira de tornar o sertão útil de alguém maneira, Salvador Correia de Sá escreveu um parecer para o Conselho Ultramarino, em 1675, no qual defendeu a dispersão de aldeias missionárias pelos sertões. Elas funcionariam como um meio de combate contra os negros fugidos e os tapuias que causavam danos aos moradores, mas também seriam a possibilidade de expandir os domínios portugueses pela colônia adentro177. Sobre a relação da Coroa Portuguesa com os povos indígenas da área amazônica, Ângela Domingues declara que ela “visava tornar doméstico, útil e civil não apenas o solo, como os homens”178.

Ainda nos anos iniciais da Guerra dos Bárbaros, por volta de 1693, o Conselho Ultramarino emitiu um parecer, após a consulta de diversas cartas recebidas de autoridades locais, sobre o estado das ruínas em que se encontrava a Capitania do Rio Grande, dando aviso da falta de meios para sua defesa e das possíveis ações para recuperá-la. Nesse parecer, assegurava-se o caráter exploratório da Coroa em relação à Capitania ao afirmar que “se acuda e obre nella tudo o que for necessario, para que estejão com toda a boa prevenção, e segurança,

177 Cf.: PUNTONI, Op. Cit., p. 72.

178 DOMINGUES, Ângela. Quando os índios eram vassalos: colonização e relações de poder no norte do Brasil

na segunda metade do século XVIII. Lisboa: Comissão nacional para as comemorações dos descobrimentos portugueses, 2000. p. 76.

quando se offereça a ocasião de serem invadidas179”, além da ideia de tornar também os índios úteis e civis, explicitada no trecho acima, declarando que “procurará fazer povoação, a que os reduza, fazendolhe Regimentos por que se governem assim no político e civil, como na

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