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CAPÍTULO III: CELEBRAÇÃO DA FÉ E VIDA ECLESIAL E SOCIAL

1. Exigências da fé

1.3 A fé baptismal

Depois da renúncia, vinha a profissão de fé. O Baptismo é, segundo Tertuliano, o «sacramentum fidei»319. É, de um modo particular, o “sacramento da fé” uma vez que é a

entrada sacramental na vida da fé. Por isso, não podemos separar, como já foi referido, o Baptismo do acto de fé que se professa no momento da realização do sacramento. Não tirando a importância que a fé tem nos outros sacramentos, uma vez que ela é necessária para todos, no Baptismo ela é manifestada de uma forma especial, precisamente por ser a porta dos demais, e porque neste sacramento não se manifesta a fé de uma pessoa

317

Cf. P. CASPANI, Rinascere dall’acqua e dallo Spirito. Battesimo e crisma, sacramenti dell’iniziazione

cristiana, p. 72.

318 Cf. CIC 1247-1248.

103 particular, mas sim de toda a Igreja320. Além disso, trata-se do «primeiro sacramento da

nova lei que Cristo propôs a todos para terem a vida eterna (Jo 3,5)»321.

A TA, ao descrever o rito do Baptismo, salienta a tríplice imersão/emersão acompanhada das três respostas a cada uma das perguntas relativas às Pessoas da Trindade. Tratando-se de uma fórmula dialogal do Símbolo da fé, de acordo com o que nos é testemunhado pelo documento, é o diácono que recita a fórmula enquanto o baptizando limita-se a exprimir a sua adesão através da sua resposta “sim creio”. Diz o texto:

«Cum ergo descendit qui baptizatur in aquam, dicat ei ille qui baptizat manum imponens super eum sic: Credis in Deum Patrem omnipotentem? Et qui baptizatur etiam dicat: credo […]. Et postea dicat: credis in Christum Iesum Filium Dei, qui natus est de Spiriu Sancto ex Maria Virgine et crucifixus sub Pontio Pilato et mortuus est et resurrexit die tertia […]? Et cum ille dixerit: credo, iterum baptizetur. Et iterum dicat: Credis in Spiritu Sancto et sanctam Ecclesiam et carnis resurrectionem? Dicat ergo qui baptizatur: credo».322

Este texto mostra-nos que a fé da Igreja, professada por aquele que é baptizado, é trinitária e que não pode haver Baptismo, se não houver o desejo de assumir aquilo que a Igreja professa. Este sacramento obtém a sua eficácia a partir da fé da Igreja; na união entre o Espírito de Cristo com sua Esposa (Igreja)323.

Esta fórmula de profissão de fé trinitária está próxima da fórmula romana, que também é designada de Credo Apostólico324. É considerada a mais antiga, foi introduzida

320 Cf. A. HAMMAN, El Bautismo y la confirmación, col. Teología Sacramental 11, Barcelona, Herder,

1977, p. 158.

321 RICA 3. 322

TA 21, pp. 84-86.

323 Cf. A. HAMMAN, El Bautismo y la confirmación, p. 158.

324 DZ 10: «Com este nome designa-se uma determinada fórmula de fé que durante muitos séculos pensou-

104 em Roma e transmitida tanto em grego como em latim325. Apesar da primeira parte da

confissão de fé parecer ter algumas lacunas na versão latina, pode-se dizer que esta fórmula conservada pela TA, e que se encontra em forma de pergunta, é mais antiga que as fórmulas enunciativas326. Deste modo podemos ver que o sacramento do Baptismo está

presente na estrutura do Credo que professamos, sendo o único sacramento mencionado formalmente: «professo um só Baptismo para remissão dos pecados»327.

Ao fazer a profissão de fé na Trindade, durante o rito baptismal, o baptizando confessa, por ele ou por outro, que acredita firmemente num só Deus, em Jesus Cristo seu Filho e no Espírito Santo.

a) Credo in Deum Patrem omnipotentem

A profissão de fé, feita durante o rito baptismal, tem como primeiro “objecto” o

acreditar em Deus Pai. O facto de o baptizando responder que acredita em Deus Pai

omnipotente mostra a sua adesão pessoal ao Deus que o criou. Ao negar a vida pagã e ao aderir à fé dos cristãos, ele aceita que existe um único Deus que o formou e que o ama acima de tudo. Ao contrário de “acreditar” nos outros deuses, a fé cristã manifestada no Baptismo, e depois ao longo da vida, apresenta-nos um Deus que criou o homem por amor. Aquele que se aproxima para receber o Baptismo reconhece e professa que o Deus dos cristãos não é um deus “qualquer”, mas o único Deus da Trindade.

Por isso, o Credo in unum Deum Patrem omnipotentem328 é a primeira afirmação

da confissão de fé cristã e mostra que, em toda a expressão de fé, Deus está presente. E

325 Cf. DZ 10. 326 Cf. DZ 10. 327 Credo Niceno-constantinopolitano, DZ 150. 328 TA 21, p. 84.

105 sendo o Baptismo a primeira manifestação de fé daquele que se aproxima das verdades cristãs, a sua primeira resposta é se acredita ou não no Deus que é Pai e omnipotente; se acredita no Deus Pai que é diferente dos deuses pagãos. Esta expressão indica o fundamento da nossa fé; que Deus é único e que não há outro além d’Ele.

b) Credo in Christum Iesum, Filium Dei

«Para um cristão, crer em Deus é crer inseparavelmente n’Aquele que Deus enviou: “no seu Filho muito amado em quem Ele pôs toda a sua complacência” (Mc 1,11)»329. Portanto, aquele que é baptizado reconhece que Jesus é o Filho de Deus e que

nasceu da Virgem Maria por obra do Espírito Santo, porque «Ele é o Verbo que se fez homem» (Jo 1,14).

A TA, ao descrever a profissão de fé no Filho de Deus, enumera de forma pormenorizada o itinerário do nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus. Neste caso, a ordem do segundo artigo da fé cristã proclamada pelo baptizando é a seguinte:

- Credere in Christum Iesum Filium Dei, qui natus est de Spiriu Sancto ex Maria Virgine;

- Crucifixus sub Pontio Pilato et mortuus est;

- Et resurrexit die tertia uiuus a mortuis et ascendit in caelis et sedit ad dexteram Patris330.

Acreditar no segundo artigo da fé cristã é confessar que Cristo é o Filho de Deus que, por virtude do Espírito Santo, encarnou no seio da Virgem Maria e se fez homem331,

que passou a sua vida fazendo o bem, que padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado e

329 CIC 151. 330 TA 21, p. 84-86.

106 morto, mas que ressuscitou ao terceiro dia. Este é o mistério da fé na segunda pessoa da Santíssima Trindade.

c) Credo in Spiritu Sancto, et sanctam Ecclesiam

O terceiro artigo da fé cristã que o baptizando professa trata do Espírito Santo e da Igreja. De facto, como diz o CIC, «a missão de Cristo e do Espírito Santo completa-se na Igreja, corpo de Cristo e templo do Espírito Santo»332. O Espírito está presente em toda a

vida da Igreja. É ele que a faz mover e existir. Como testemunham os Actos dos Apóstolos, toda a experiência da Igreja nascente é experiência do Espírito Santo (cf. Act 1,8; 2,4; 9,31…). A expressão «credis in Spiritu Sancto et sanctam Ecclesiam et carnis resurrectionem?» mostra que o Baptismo, pelo mistério do Espírito Santo, incorpora o novo cristão na Igreja.

Por isso, o acto de profissão de fé de um “sujeito” que aceitou receber o Baptismo é manifestado por toda a comunidade que o acolhe no seu seio. Esta comunidade, que se reúne sob o mesmo Espírito, faz com que o eu pessoal de um crente se transforme num

nós de toda a Igreja.

Pode-se dizer que a importância da profissão de fé na Trindade durante o acto baptismal vem-lhe do facto de ela ser a base da nossa fé. E na altura em que a TA foi escrita, perante os ‘ataques’ das heresias acerca da Santíssima Trindade, seria fundamental que aquele que ia ‘abraçar’ a fé cristã, pelo Baptismo, soubesse qual o fundamento da mesma. A confissão trinitária da fé é o fundamento da vida do crente, e por isso, a TA a descreve de uma forma bastante clara.

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