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Fístulas e queimados: aspectos clínicos e diagnóstico laboratorial

Capítulo 3: Infecções da Pele e Tecido Subcutâneo

3.4 Fístulas e queimados: aspectos clínicos e diagnóstico laboratorial

3.4.1 Fístulas

Os principais agentes etiológicos e os recursos para diagnóstico laboratorial encontram-se na Tabela a seguir.

Fístula é uma comunicação entre o tecido profundo infectado ou absces- so através do tecido subcutâneo abrindo-se sobre a superfície cutânea. Isso ocorre em infecções profundas como em osteomielites, piomiosites, linfa- denites ou abscessos intra-abdominais. As infecções de próteses como as de quadril e fêmur, cirurgias cada vez mais frequentes, são causas comuns de fístulas de longa duração, cujo tratamento não responde ao uso isolado de antimicrobianos exigindo quase sempre a retirada da prótese. Em muitos casos a infecção é polimicrobiana e os germes que colonizam as porções cutâneas da fístula podem ser diferentes dos encontrados no tecido profun- do. Por essa razão, as culturas feitas a partir do material que exsuda para a superfície cutânea da fístula podem ser enganosas.

Vários micro-organismos de infecções do tecido mole são caracterizados através do trato fistulizado. O Staphylococcus aureus produz abscessos pro- fundos e secreta pus espesso. A linfadenite cervical causada por micobacté- ria, especialmente a tuberculose cervical, pode produzir drenagem crônica da fístula denominada escrófulo. A actinomicose é uma infecção cérvico- -facial extremamente dolorida e edemaciada ao redor do ângulo do quei-

Módulo 3: Principais Síndromes Infecciosas

massas bacterianas, medindo geralmente 2 mm de diâmetro. Quando não tratada, a actinomicose progride para uma fistulização crônica. A fonte de tal micro-organismo é a cavidade oral do próprio paciente e a má higiene bu- cal provavelmente constitui o fator desencadeante. A maduromicose plan- tar ocorre quando os micro-organismos do solo como Nocardia sp. e vários fungos (ex: Petriellidium boydii, Madurella mycetomatis e Phialophora verruco- sa) são inoculados em tecidos moles do pé e produzem múltiplos abscessos com fístulas e às vezes osteomielites.

3.4.2 Diagnóstico Laboratorial

A cultura é extremamente prejudicada pela dificuldade na obtenção das amostras clínicas provenientes do trato fistulizado. Existe uma baixa correla- ção entre os resultados de cultura do material superficial e aqueles obtidos de tecidos profundos infectados. Se for realizada uma exploração cirúrgica, pode-se então fazer cultura do material obtido das porções mais profundas da fístula. É possível ainda obter material para cultura através de punção ou cateterização da fístula com cuidados de assepsia. Se aparecerem sintomas generalizados como febre e calafrios é indicada a realização da hemocultura, que poderá revelar micro-organismos mais significativos.

O procedimento para cultura pode ser o mesmo feito com feridas cirúrgicas e deve ser programado para recuperar tanto bactérias aeróbias como anae- róbias.

Diagnóstico de Fístulas

Doenças e Síndromes Agente Etiológico Diagnóstico Laboratorial

Actinomicose Actinomyces spp. Gram, cultura em anaerobiose à 37ºC,

em Ágar Sangue e em caldo por 1-2 semanas.

Maduromicose

Maduromicose podal Madurella mycetomatis, Phialophora verrucosa, Petriellidium boydii KOH 10%, cultura em Ágar Sabouraud com e sem cloranfenicol + Cicloheximida.

Tuberculose Mycobacterium tuberculosis Ziehl-Neelsen, auramina, cultura em meio de Lowenstein-Jensen, PCR Infecções mistas ou

foco crônico Staphylococcus aureu, Enterobactérias, Pseudomonas spp. Gram, cultura do aspirado ou do tecido profundo em ágar-sangue e ágar Mac Conkey

3.4.3 Queimados

Historicamente, o estreptococo hemolítico e o estafilococo foram os micro- -organismos mais comumente encontrados em infecções de queimados. Com o advento dos antimicrobianos, tais infecções foram substituídas por

Staphylococcus aureus oxacilina-resistentes (ORSA), bacilos Gram-negativos, notadamente Pseudomonas aeruginosa e leveduras como a Candida albicans ou fungos filamentosos como Fusarium sp.

3.4.4 Diagnóstico Laboratorial

A superfície queimada contém tecido morto e fluido rico em proteínas. Mi- cro-organismos da flora do próprio paciente ou do meio ambiente colonizam essa superfície. O crescimento dos germes sobre tal superfície continua até que esteja presente uma densa carga microbiana. Quando a concentração bacteriana for grande o suficiente, ocorre infiltração dos tecidos mais pro- fundos provocando infecção generalizada com bacteremia. Os estudos su- gerem que a ocorrência de invasão, seguida de complicações, está associada à contagem bacteriana de 105 UFC/grama de tecido. Isso leva ao desenvol-

vimento de métodos quantitativos, tanto em esfregaços como em culturas como também para as biópsias cirurgicamente removidas das queimaduras. Foi demonstrado que culturas somente de tecidos superficiais são inadequa- das e frequentemente enganosas. Consequentemente, a cultura de tecido profundo é empregada em muitos laboratórios, apesar de tal procedimento ser também controverso devido à dificuldade na interpretação. Embora a biópsia tenha sido amplamente empregada, os resultados mostram inade- quações. As queimaduras nem sempre são colonizadas e a seleção dos sítios da biópsia é importante. Esse conceito levou ao emprego de uma variedade de técnicas para estimar em que profundidade os micro-organismos se dis- seminam. Tais métodos incluem uma variedade de técnicas histopatológicas e microbiológicas.

Cultura e bacterioscópico quantitativo – o esfregaço e a cultura quantita- tiva são realizados com biópsias removidas cirurgicamente da queimadura. Enquanto alguns preferem no mínimo 0,5g de tecido outros aceitam uma porção menor. Escolhe-se uma área com sinais de infecção, após limpeza do local retira-se um fragmento de tecido vivo que deve ser acondicionado em recipiente estéril.

No laboratório a biópsia é pesada, empregando-se balança com precisão de 0,001g. O tecido então é homogeneizado em caldo ou salina com volume conhecido utilizando-se um liquidificador ou homogeinizador elétrico. O material é diluído à razão de 10 até 10-5 (peso/vol.) e semeado em vários

meios de cultura, incluindo o ágar sangue e ágar Mac Conkey e em casos suspeitos cultura para bactérias anaeróbias estritas. Os germes isolados são

Módulo 3: Principais Síndromes Infecciosas

de cada micro-organismo isolado é calculado a partir do peso inicial da bióp- sia e da diluição empregada.

Os métodos para testar a sensibilidade de drogas de uso tópico foram de- senvolvidos, porém não são de emprego rotineiro por falta de padronização e porque o significado clínico continua duvidoso.

O bacterioscópico quantitativo pode ser realizado ao mesmo tempo, segun- do o método desenvolvido por Magee e cols. Uma quantidade conhecida do homogeneizado é espalhada por uma área total de 1 cm2 em uma lâmina e

deixado para secar. A coloração é feita e 10 campos são examinados com ob- jetiva de imersão com aumento de 100 vezes. Uma série de cálculos permite a determinação de contagem bacteriana em termos de micro-organismos por grama de tecido.

Técnicas histopatológicas – as técnicas histopatológicas foram usadas para detectar infecções fúngicas e na tentativa de localizar o micro-organismo no tecido queimado.

Os métodos histopatológicos apresentam uma série de desvantagens:

„ A quantidade do tecido examinado é muito pequena sendo limitado para

pequenos cortes feitos a partir de biópsia.

„ O reconhecimento do germe em corte histológico é muito mais difícil em

lâminas coradas necessitando de microscopista experiente.

„ A concentração bacteriana necessária para permitir seu reconhecimento

embora ainda não estabelecida parece ser em torno de 105 UFC ou mais por grama de tecido.

„ O método histopatológico necessita de cultura simultânea para obter a

identificação e o antibiograma dos micro-organismos.

Embora a correlação entre cultura e exame histopatológico, em geral, seja boa, às vezes ocorrem discrepâncias.

3 .5 Infecção em feridas cirúrgicas ou infecção do sítio cirúrgico: