• Nenhum resultado encontrado

5. APLICAÇÃO DO REGIME DE RESPONSABILIDADE AMBIENTAL À CIRES

5.1. E SPÉCIES E H ABITATS N ATURAIS P ROTEGIDOS

5.1.1. C ARACTERIZAÇÃO DO E STADO I NICIAL

5.1.1.1. F AUNA

Estarreja é assim um concelho com um vastíssimo valor patrimonial natural, local privilegiado para a conservação da natureza, com uma pluralidade de espécies faunísticas e florísticas com importância local, regional e nacional (Caracterização Física-CME, 2012). No quadro 1 doanexo II são apresentados os valores naturais faunísticos com estatuto de protecção/conservação com ocorrência comprovada na área concelhia, onde é indicado se a espécie é considerada prioritária, indicação dada pela Resolução do Concelho de Ministros nº115-A/2008 publicada no Diário da República 139/2008 de 21 de Julho, qual o biótopo ou sistema natural que ela ocupa, se tem presença na ZPE da Ria de Aveiro, qual a sua fenologia, isto é, quais as relações que a espécie apresenta relativamente aos fenómenos biológicos periódicos e o clima, tais como a reprodução e a migração, e o seu estado de conservação, visto tanto na perspectiva do ―Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, 2005‖ como na óptica do ―Relatório Nacional de Implementação da Directiva Habitats, 2001-2006‖ e respectivas fichas de caracterização ecológica para cada espécie e habitat, excepto para a classe das aves por falta de informação, onde se dá particular atenção ao

―range‖, isto é, a extensão máxima de ocorrência da espécie, à área, à estrutura e função e às perspectivas futuras, sendo feita uma avaliação global do seu estado de conservação.

No caso da fauna, foram consideradas 100 espécies com ocorrência comprovada na área concelhia e com carácter de protecção presentes nos anexos A-I, B-II, B-IV e B-V das Directivas Aves e Habitats. Das espécies consideradas foram contabilizadas 9 anfíbios, 82 aves (onde estão incluídas as espécies de passeriformes migradores de caniçais e galerias ripícolas e passeriformes migradores de matos e bosques), 5 mamíferos, 3 peixes e 1 réptil.

Segundo o ―Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal‖, e de um modo geral, 57 das espécies consideradas apresentam um estado de conservação ―pouco preocupante‖ (LC), sendo que nesta classificação estão incluídas todas as espécies de mamíferos (5) e de répteis (1). Também de um modo geral, 18 espécies encontram-se em estado ―vulnerável‖ (VU) e apenas uma espécie se encontra ―regionalmente extintas‖ (RE) (figura 13).

Figura 13 – Estado de Conservação das espécies faunísticas presentes no Concelho de Estarreja. (―Livro

Vermelho dos Vertebrados de Portugal, 2005‖)

De modo particular e relativamente à classe dos anfíbios, verifica-se que 7 espécies se encontram em estado de conservação ―pouco preocupante‖ (LC), uma classificada como ―vulnerável‖ (VU) e uma como ―quase ameaçada‖ (NT), sendo elas a Salamandra lusitânica (Chioglossa lusitanica) e a Rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi) respectivamente (figura 14a).

Quanto à classe dos peixes, e talvez por serem espécies aquáticas, meio este bastante degradado e poluído, pelas razões já referidas anteriormente, nenhuma das espécies consideradas se apresenta como ―pouco preocupante‖ (LC). Das três espécies de peixes consideradas, duas são

1 5 10 18 6 57 1 2 Regionalmente Extinto-RE Criticamente em Perigo-CR Em Perigo-EN Vulnerável-VU Quase Ameaçada-NT Pouco Preocupante-LC Informação Insuficiente-DD Sem Informação-S/I

No que respeita à avifauna (figura 14 c), que conta com um efectivo populacional com uma expressão territorial significativa, verifica-se que um pouco mais de metade das espécies consideradas (44 espécies, 54%), se encontram classificadas como ―pouco preocupante‖ (LC). Quanto às espécies consideradas com estatuto de ameaça, existem 15 espécies, 18%, classificadas como ―vulnerável‖ (VU), 9 espécies, 11%, classificadas como estando ―em perigo‖ (EN) e 5 espécies, 6%, classificadas tanto como ―criticamente em perigo‖ (CR) como em situação de ―quase ameaçada‖ (NT). De referir ainda que uma espécie, a Íbis-preta (Plegadis falcinellus), se encontra ―regionalmente extinta‖ (RE), e não existe informação suficiente para classificar a Galinhola, Scolopax rusticula. De notar que a classificação da classe das aves apresenta o mesmo padrão de distribuição da classificação geral de todas as espécies, uma vez que a classe das aves é aquela que se encontra mais representada, com mais de 80% das espécies consideradas. Quanto aos passeriformes migradores, tanto de caniçais e galerias ripícolas como de matos e bosques, como representam um conjunto de espécies, e não uma espécie individualizada, não existe uma classificação adequada para este grupo.

A zona de Estarreja, mais propriamente o CQE, é conhecida pelo passivo histórico de poluição por metais pesados (mercúrio, cádmio, níquel, chumbo, zinco entre outros). Tavares (1995) relatou emissões de efluentes líquidos de mercúrio de 8,5 mg/l/ano e já em 2002 a EPER (European Pollutant Emission Register), actualmente E-PRTR (European Pollutant Release and Transfer Register), relatou caudais de mercúrio de7,61 kg/ano. Outros estudos realizados na área de estudo (Costa, 2005) evidenciam a presença nas penas, em algumas espécies de avifauna, de níveis elevados de cádmio, composto usado nos adubos fosfatados, demonstrando claramente a presença de níveis elevados de cádmio no meio ambiente.

Figura 14 - Estado de conservação das classes anfíbios (a), peixes (b) e aves (c) presentes no Concelho de

Estarreja e respectiva legenda (d). (―Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, 2005‖)

Ainda em relação às aves, das 80 espécies analisadas, 13 delas são consideradas como prioritárias pela Resolução do Concelho de Ministros nº 115-A/2008 para a ZPE da Ria de Aveiro. São elas a Garça vermelha (Ardea purpurea), a Águia sapeira (Circus aeruginosus), estas duas com larga percentagem dos seus efectivos populacionais nacionais na Ria de Aveiro, e uma parte bastante relevante na área concelhia, mais de 50% do efectivo nidificante para o primeiro caso (Ecoinside, 2008). Fazem ainda parte das espécies prioritárias o Pilrito-de-peito-preto (Callidris alpina), o Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus), o Borrelho-grande-de- coleira (Charadrius hiaticula), o Pernilongo (Himantopus himantopus), a Garça-pequena (Ixobrychus minutus) cuja área de ocupação tem vindo a sofrer um forte declínio, devido essencialmente à degradação do seu habitat (Ecoinside,2008), o Pato-negro (Melanitta nigra) que tal como a espécie anterior apresenta forte declínio na área de ocupação e no número de indivíduos, o Milhafre-preto (Milvus migrans), a Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) que lhe é atribuída uma situação de pré-extinção, o Colhereiro (Platalea leucorodia) considerado uma espécie rara na europa, o Alfaite (Recurvirostra avosetta) cuja população tem registado um decréscimo, a a)

c) d)

espécies com carácter prioritário, 7 são classificadas com estatuto de ameaça (―Criticamente em perigo‖ - CR, ―Em perigo‖ - EN, ―Vulnerável‖ - VU), e uma classificada como ―quase ameaçada‖ (NT).

Figura 15 - Exemplos de espécies de aves consideradas prioritárias, pela Resolução do Concelho de

Ministros nº 115-A/2008, classificadas com estatuto de ameaça. Águia-pesqueira (a); Águia-sapeira (b); Garçote (c); Pato-negro (d); Garça-vermelha (e); Colhereiro (f); Alfaiate (g); Andorinha-do-mar-anã (h).

a) b)

c) d)

e) f)

Relativamente à avaliação que consta no ―Relatório Nacional de Implementação da Directiva Habitats, 2001-2006‖ elaborado pelo Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) em Agosto de 2008, e para as classes anfíbios, mamíferos, peixes e répteis podemos verificar, pela análise da figura 16, que mais de metade das espécies consideradas, 11 espécies, se encontra em situação desfavorável, sendo que 9 são avaliadas como desfavorável/inadequada, 7 espécies de anfíbios, uma espécie de peixes (petromyzon marinus) e a espécie de réptil considerada (Lacerta schreiberi) e duas em situação desfavorável/má, (Alosa alosa e Alosa fallax). Apenas 5 espécies são avaliadas globalmente como situação favorável, dois anfíbios e três mamíferos. É importante realçar que o número elevado de espécies com avaliação desfavorável se deve essencialmente aos critérios de avaliação global que são definidos pela Comissão Europeia no ―Assessment, monitoring and reporting under Article 17 of the Habitats Directive - Explanatory Notes & Guidelines‖. A avaliação global é baseada em 4 análises anteriores, ―range‖, área ocupada, estrutura e funções e perspectivas futuras, bastando a classificação de apenas um parâmetro como desfavorável para implicar uma avaliação global igualmente desfavorável.

Figura 16 – Avaliação final das espécies faunísticas presentes no Concelho de Estarreja, segundo o

―Relatório Nacional de implementação da Directiva Habitats, 2001-2006‖. (ICNB, 2008)