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Fonte: OECD, Sahel and West Africa (2009).

Segundo Sangaré (2009, p.217), o conceito de língua veicular se aplica a línguas que ultrapassaram seus berços regionais e são utilizadas para compensar as necessidades de comunicação Inter étnicas, enquanto que o de língua transfronteiriços se aplica a aquelas que, mesmo estando dentro do seu berço regional, se encontra no mínimo em dois países vizinhos. Estes dois tipos de línguas se caracterizam pelo fato de se apresentarem como o lugar ou elemento nos quais se baseiam as diferenças nacionais e étnicas.

Aplicando estes conceitos à região, encontrarmos várias línguas veiculares entre os quais pode se citar o Akan, Mandinga, Dioula, Ewe, Fula, Inglês francês, português. Portanto, se consideramos somente a justificativa de que as línguas do colonizador são as que são faladas por todos, para tornar o português, inglês e francesas línguas oficiais dos diferentes Estados da África Ocidental, veremos que há outras línguas africanas que são regionais e, portanto poderia da mesma maneira servir e alias servem de meio de comunicação entre a maioria da população. Desse modo, pode concordar com a ideia de boa parte da literatura que argumenta em favor da promoção das línguas africanas e que afirmam que se nunca é mais

prático preconizar o uso de simultâneo do francês, do inglês e do africâner, não teria motivo também para preconizar o uso exclusivo do francês ou do inglês (DIOP, 1960; SANGARÉ, 2009).

No que desrespeite as línguas transfronteiriços, considerando o espaço da CEDEAO que ocupa o antigo espaço do império do Mali verifica-se na atualidade, entre as treze línguas57 reconhecidas como linguais nacionais pelo atual Estado do Mali, dez são faladas além das fronteiras do país. Entre estas pode se citar a língua mandinga (mandê), que é falada em Burkina Faso, Costa de Marfim, Gâmbia, Guiné Bissau, Guiné Conakry, Mali Senegal e, portanto mais falada que qualquer outra língua europeia da região, somente em termos geográficos, mas também em nível da sociedade. O francês é a língua oficial da maioria dos países da região, oito dos quinze países da CEDEAO, mas ela é um idioma usado pela minoria escolarizada enquanto que a língua mandinga é falada tanto por países de colônia francesa (Costa de Marfim, Mali, Burkina Faso, Guiné Conakry) países de colônia inglesa (Gâmbia) e Guine Bissau de colônia portuguesa e é usada pela maioria da população, sejam esta alfabetizada ou não.

Neste caso, constata-se que há mais de um motivo de se adotar uma língua africana em vez, de optar por uma ou outra herdada da colonização que além de ser acessível somente a minoria em seus países de uso, cria além das fronteiras físicas uma fronteira cultural e dialética, e dificulta de um lado a aproximação das próprias elites e entre esse a população as elites e do outro possibilita a continuação da ingerência externa das ex. potências coloniais. Esta rivalidade presente na região desde antes da independência até na atualidade, pode ser ilustrada nas seguintes palavras de Cheikh Anta Diop.

Devemos ser extremamente desconfiado das tentativas discretas de “saxonização” da África negra, devido à largura dos territórios da colônia britânica”. O esforço conjugado da Inglaterra e principalmente dos Estados Unidos das América, tende a desorganizar os hábitos dos “intelectuais” e a levar assim as antigas colônias francesas, portuguesas. em optarem pelo inglês de forma que a unificação linguística se faça a partir deste idioma. Mas a unidade linguística com base numa língua estrangeira qualquer, independentemente da ótica ou do ângulo, que se preconiza seria um abortamento cultural. Ela consagraria irremediavelmente a morte da cultura nacional autêntica, o fim da nossa vida espiritual e intelectual profunda, para nos reduzir ao papel de eternos pastores que teriam fracassado em sua missão neste mundo (DIOP, 1960, p.24).

Este texto mostra que a pretensão de se criar uma unidade linguística na África ocidental com base no inglês ou no francês não teria em hipótese alguma o efeito esperado,

que é facilitar a integração regional e o estreitamento dos laços entre africanos, mas também deixa clara a existência de rivalidades entre francófonos e anglófonos na região. Esta rivalidade transposta nestes termos reforça as diferenças entre africanos e esconde o verdadeiro problema da questão que é a rivalidade entre interesses individuais, egoísta da elite dirigente do ponto de vista interno e do ponto de vista externa, temos o antagonismo entre interesses das ex-metrópoles em manter sua influência na região e a necessidade local de construir um espaço viável econômica, política e socialmente.

4.4.3 Barreiras Monetárias

A união monetária é penúltima fase ou etapa da integração regional conforme a classificação de Bela Balassa (1962). Ela consiste além da eliminação dos obstáculos ao comercio na fase da zona de livre comércio, da política comercial comum realizada na união aduaneira e da integração da política econômica na fase do mercado comum, na adoção de uma moeda única. Historicamente, a moeda pode ser considerada como um verdadeiro símbolo da colonização e da divisão da região oeste africana em África Francesa e inglesa. Assim, temos a zona do Franco CFA58 que um arranjo monetário entre os quinze países59 de colônia francesa da África Ocidental e Central, criada em dezembro de 1945 quando a França ratificou o tratado que institui o sistema Breton Woods (TAPSOBA, 2011). É com base nesta zona que a França convenceu os dirigentes africanos a assinar acordos monetários em 1962, o qual estipula que a ex- metrópole garante a convertibilidade das partes africanas em Franco Frances até 1999 depois em EURO a uma paridade fixa. Para tanto, os países africanos se comprometeram em depositarem 65% das reservas das zonas em contas “operacionais” gerenciadas pelo tesouro francês. Isto significa que mais da metade da liquidez de cada dos quatorzes países das duas futuras Uniões Monetárias (UEMOA e CEMAC) esta sobre controle Frances justificando assim, o argumento segundo o qual a moeda é um dos principais elementos do neocolonialismo francês na região. Nesta ótica percebe-se que se de um lado, a moeda única facilitava as trocas60 entre os países da chamada África francesa, em vez de

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Sigla que passou de colônia francesa da África em vigor na região até 1945 a Comunidade Financeira da África.

59 Benin, Burkina Faso, Camarões Comores, Congo Costa de Marfim, Gabão, Guiné Equatorial, Guiné Bissau (colônia portuguesa entrou na zona em 1997), Mali, Níger, República Centre africana, Senegal, Chade e Togo. 60

FCFA das duas zonas monetárias eram livremente convertíveis e tinha certa paridade até 1993 quando a França decidiu eliminar a paridade entre CFA usado na Zona UEMOA e aquele usado na zona CEMAC, objetivando assim, frear uma possível aproximação comercial entre as duas zonas.

contribuir no desenvolvimento local e regional é usada para facilitar a fuga dos capitais legal e ilegalmente em direção à metrópole.

Nas colônias inglesas da região61 houve iniciativas parecidas antes da independência com a chamada caixa da emissão da África de Oeste que colocava em circulação uma moeda chamada Sterling da África do Oeste (West African Sterling). Esta moeda foi criada pelos britânicos em 1913 e foi extinta formalmente em 1968. Ou seja, ela funcionou dez anos depois da independência (1958-1968). Gana de Nkrumah criou sua própria moeda em 1958 buscando assim afirmar sua autonomia em relação à metrópole, Nigéria fara a mesma coisa em 1962, Serra Leoa em 1964 e Gâmbia em 1968 (TAPSOBA, 2011, p. 28).

Deste modo, vê-se que o projeto de construir uma união monetária é longe de ser novidade na África Ocidental, mas sim um objetivo político que se fixou as lideranças da independência e, portanto, a ideia de criar uma segunda zona monetária (ZMAO) ao lado da UEMOA, se inscreve numa perspectiva de acelerar os processos de integração monetária travada por divergências ideológicas e políticas dentro da CEDEAO. Bundu (1995) deplora o fato de esta divergência impedir a concretização de projetos de solidariedade africana, considerando que a existência de mais de quarenta Organizações Intergovernamentais (OIG) comprova o espírito de solidariedade comunitária na África Ocidental, no entanto, esta OIG não teve ou causaram um impacto significativo sobre o desenvolvimento econômico, social e cultural devido a lacunas na eficácia da realização dos programas de integração regional nos países membros da CEDEAO.

Neste contexto marcado pela mundialização vista a partir da criação da Organização Mundial do Comercio (OMC) em 1994, como capaz de deixar os países africanos a margem da economia mundo, adotou-se novas perspectivas e uma nova visão e um novo modelo de integração, que entrou em vigor a partir de janeiro de 1994 com a criação da União Econômica e Monetária da África Ocidental (UEMOA) como medida paliativa a desvalorização do Franco CFA.

4.5 CEDEAO, UEMOA E ZMOA: OPORTUNIDADES DE APROXIMAÇÃO

A coabitação ou coexistência da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da União Econômica, Monetária Oeste África (UEMOA) e a Zona Monetária Oeste Africana (ZMOA) na parte ocidental do continente africano tem sido vista e

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Nigéria, Gana, Serra Leoa, e Gâmbia, Libéria (que, apesar de não ser membro, utilizou a moeda até 1943). Além destes países, o Sterling foi usado nas colônias de Camarões e do Togo quando estes foram protetorados ingleses.

apresentado como o verdadeiro caminho da integração e do fortalecimento das relações interafricanas (Senghor, 2009, p. 177). De fato ao considerar que o período colonial dividiu a região em territórios francófonos, anglófonos e lusófonos que deixou como herança amplas diferenças tanto do ponto de vista da orientação política, dos sistemas jurídicos quanto no que tange às estruturas administrativas e frágeis economias nacionais voltadas às respectivas metrópoles coloniais, pode se afirmar que a atual coexistência harmônica destas organizações é benéfica para a aproximação e dinamização das relações interafricanas. Isto se deve em parte, a consciência e maturidade da CEDEAO, que a partir de 1987 decidiu iniciar um programa de cooperação monetária e para tanto, passou a reforçar os laços com a zona UEMOA, composto pelos países francófonos usando uma única moeda, o Franco CFA e incentivou a criação da Zona Monetária Oeste Africana (ZEMOA), a fim de agrupar os sete países (Nigéria, Gana, Gâmbia, Guine, Cabo Verde, Libéria e Serra Leoa) da CEDEAO não membros da UEMOA para criar uma única moeda. Isto sugere um grande avanço na cooperação entre os países da região e um passo importante para a aproximação de países de colônia inglesa e francesa na região eliminando assim, ruídos e rivalidades históricas além de permitir a diminuição de quantidades de moedas nacionais de oito para duas na região, já que na atualidade cada um dos sete países da CEDEAO não membro da UEMOA tem sua própria moeda. Nesta ótica, pode se ver que devido aos laços coloniais os países da UEMOA têm mais proximidade com os países da CEMAC visto o uso do Franco CFA como moeda nas duas zonas, o que permite ver que além da UEMOA e da ZMOA, temos Cabo Verde e Libéria com suas moedas nacionais.