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F IGURA 5 M APAS DOS DIFERENTES REINOS SUCESSORES DO IMPÉRIO DA G ANA

2.4 GLOBALIZAÇÕES, REGIONALIZAÇÃO, FORMAÇÃO DE BLOCOS DE PODER E BALCANIZAÇÃO

Escrever sobre integração e buscar entender as relações entre os africanos de um lado e de outro entre os africanos e o resto do mundo no século XXI, requer uma consideração da geopolítica internacional. Por isso, se na primeira (2.1) sessão deste capítulo trabalhou-se sobre os conceitos de integração regional, esta sessão tem como objetivo definir o pano do fundo maior da regionalização e da integração econômica, política e sociocultural. Esse pano de fundo é o fenômeno conhecido como globalização, mas também chamado de mundialização. No entanto importa dizer que na há unanimidade quanto à equivalência destes dois conceitos, já que autores como Cruz e Creuz (2009), afirmam que muitas vezes mundialização e globalização são utilizadas indistintamente, de forma equivocada. Na opinião destes autores enquanto globalização refere-se aos aspectos comerciais e econômicos, a mundialização se reserva de tratar de elementos culturais. Porém, neste estudo, se adota a versão que acredita que os dois termos são intercambiáveis, e usaremos o termo globalização, por isto, importa responder as seguintes indagações a respeito da globalização: Qual é o significado real da globalização? Qual a importância do entendimento desses termos no âmbito desta tese que trata de relações interafricanas?

A globalização é um dos conceitos certamente que mais se usou depois da queda do muro de Berlin simbolizando o fim da Guerra Fria, por isso, certamente ele apresenta ampla variedade de significado. Segundo Soros (2003), a globalização pode significar ou designar o desenvolvimento dos mercados financeiro internacional, do crescimento das empresas transnacionais e o crescente domínio destas sobre as economias nacionais. Igualmente é possível discutir este fenômeno pensando no desenvolvimento e na expansão em nível planetário, da informação e da cultura; a difusão da televisão, da internet e de outras formas de comunicação ou/ e de informação bem como o aumento da mobilidade e da comercialização das ideias (SOROS, 2003, p. 44). Ou seja, ela pode ser entendida de maneira geral como a ampliação do espaço econômico que visa aumentar o universo de oportunidades às empresas que se encontram dentro deste cenário regionalizado.

A globalização é deste ponto de vista desejável sobre vários ângulos: nela as empresas privadas são mais eficazes na criação de riqueza do que os Estados, mas também nenhum país é capaz de garantir o grau de liberdade individual e incentivar o talento empreendedor, acelerar a inovação tecnológica, proporcionado pela globalização (SOROS, 2003; STORTTI, 1995). Portanto, dentro do cenário de abertura dos espaços e mercados econômicos, a globalização representa o poder pensar não mais em termos de estratégia por país, mas sim por blocos, por regiões, por isso, numero significante de autores sobre o assunto, acreditam que ela constitui ao mesmo tempo uma tendência dominante e uma dinâmica diferenciada, visto a especulação e circulação financeira internacional muito maior do que a que seria necessária para cobrir as atividades econômicas reais, (DOWBOR, 1995).

O pensamento amplamente subjacente ao termo globalização é que se está caminhando para um mundo sem fronteiras, com predominância de um sistema internacional autônomo e socialmente sem raízes, onde os mercados de bens e serviços se tornam crescentemente globais (LASTRES, 1998). Desta forma, pode se dizer que este fenômeno consiste no reordenamento dos espaços em busca de uma visão simplificada de abertura e unificação dos ambientes de reprodução social. Ou seja, assiste-se a uma nova hierarquização dos espaços, segundo as diferentes atividades, envolvendo globalização como formação de blocos, fragilização do Estado Nação, surgimento de espaços subnacionais fracionados de diversas formas, transformando o papel das metrópoles, reforço do papel da cidade e uma gradual reconstrução dos espaços comunitários desarticulados por um século e meio de capitalismo (DOWBOR, 1995; STORTTI, 1995).

Desse modo, constata-se que a globalização não é do domínio exclusivo das empresas interessadas na exportação, importação ou algum tipo de associação ou acordos para a formação de empresas sociais ou associadas. A questão da globalização é também de interesse do Estado como instituição convencida da necessidade de adotar uma postura ativa neste processo de mudança, já que o contribuinte também cidadão apercebeu-se da existência de outras variáveis nas relações da sua comunidade, de seu Estado, de seu país, da sua região com o mundo (STORTTI, 1995:39). Nesta ótica, a ideia de uma economia mundial dominada por forças do mercado incontroláveis, cujos principais atores econômicos são as grandes corporações transnacionais que não devem lealdade ou submissão a nenhum, Estado Nação e que se estabelecem em qualquer parte do planeta exclusivamente, em função de vantagens oferecidas pelos diferentes mercados (LASTRES et. al.; 1998), não significa que a globalização é um sistema perfeito e totalmente positivo, onde todos saem ganhando.

A globalização é quase invariavelmente apresentada como um processo benéfico, necessário e desejável (CHESNAIS, 1996) para os mais variados setores econômicos, políticos e socioculturais, no entanto, importante dizer, que a globalização como todo processo ou fenômenos tem seu lado negativo. Entre os aspectos negativos da globalização Soros (2003) destaca fatos importantes. Primeiramente, muitas pessoas, principalmente nos países menos desenvolvidos, foram e continuam sendo atropelados pela globalização, sem amparo de redes de segurança social e muitas outras são simplesmente marginalizadas pelos mercados globais. Neste aspecto, as ondas de imigração dos países em desenvolvimento em direção ao chamado primeiro mundo são vistas como uma das marcas deste atropelamento e marginalização. Segundo Traoré (2008), as migrações internacionais não são em nada fenômenos isolados e autônomos, mas sim, resultado das transformações econômicas e sociopolíticas causados pela mundialização dos mercados. A liberalização da economia monde constitui nesta ótica, uma catástrofe para os países e sociedades menos desenvolvidos como as da África ocidental. Por que se de um lado, se prega a abertura dos mercados e livre circulação das pessoas e dos bens, do outro, se adota políticas antimigratórias repressivas nos países desenvolvidos, principais beneficiários dos mercados do sul e neste dobre processo de transformação entre norte e sul, a mundialização leva à miséria e ao exilo (TRAORÉ, 2008, p. 223).

O segundo ponto negativo destacado por Soros (2003) é a má distribuição dos recursos entre bens privados e públicos onde, os mercados são eficazes na criação de riqueza, mas não servem para cuidar de outras necessidades sociais, além disso, a busca desenfreada de lucros pode danificar o meio ambiente e conflitar com outros valores sociais. Outro ponto negativo da globalização que importa enumerar aqui, esta ligada ao fato dos mercados financeiros globais, serem propensos a crises, que de forma geral, tendem a atingir com muito mais intensidade os países em desenvolvimento, apesar de a atual, estar afetando em cheio os países do norte (Europa e Estados Unidos da Américas), portanto desenvolvidos.

Apesar de tudo importa dizer que a globalização não é um jogo de soma zero já que, os benefícios superam os custos no sentido de que o aumento da riqueza resultante poderia ser usado para compensar as iniquidades e outras deficiências do processo e ainda sobraria riqueza adicional (SOROS, 2003, p.50). No entanto, mesmo concordando em parte (os benefícios superam os custos) com esta afirmação, importa dizer que a questão não deve ser vista em termos de custos beneficio, mas sim importa saber quem aproveita os benefícios gerados pela globalização. E, neste ponto, obviamente podemos afirmar que a África em geral e particularmente, sua parte ocidental, tem tirado mais prejuízo que lucro, devido a sua

submissão ao sistema do imperialismo, fase superior do capitalismo (LENIN25 apud CATANI, 1981), que é de fato o principal marco ou característica da globalização.

Em suma, a globalização pode ser resumida como sendo um processo de transformação na estrutura do sistema econômico e político mundial, decorrente das inovações tecnológicas alcançada no campo da informática que gerou mudanças significativas nos campos da comunicação, informação, transporte assim como na produção. No entanto, apesar de ser apresentada como um processo benéfico e necessário, a globalização, sendo a expressão das forças de mercado por fins liberadas dos entraves nefastos erguidos durante séculos (CHESNAIS, 1996), exige uma difícil adaptação dos países periféricos vítimas da colonização e do neocolonialismo, que são alias dois termos que nortearam a formação dos atuais estados africanos e que a próxima sessão trata de esclarecer.