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Factores e vantagens que estão na origem da aplicação das PPPs 31

Capítulo I: Introdução ao Estudo das Parcerias Publico Privadas (PPPs) 7

1.2. As PPPs como uma variante do conceito base de Project Finance 8

1.2.3. Factores e vantagens que estão na origem da aplicação das PPPs 31

Vamos explicitar neste sub capítulo, quais os principais factores que estão na origem da aplicação das PPPs de uma maneira geral, e no sector da saúde de uma forma específica. Os referidos factores são:

- “Given the scale of the infrastructure and investment gap

that the governments of Europe are facing and the constraints that they face in developing and financing their needs, an increased use of PPP approaches is desirable and inevitable”

57 “Trata-se de um formato que releva a importância da confiança e que permite

operacionalizar o conceito de cadeia de valor ao reconfigurar a estrutura da organização de uma forma que lhe permite centrar-se nas suas competências nucleares” (Cunha, Rego, Cunha e Cardoso (2003, p. 519)).

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(Lloyd e Howcroft (2005))

- “(…) provide more and better services to (…) citizens on

limited budgets (…)” (Bettignies e Ross (2004, p. 135));

- Expandir a cobertura dos serviços públicos (principalmente em termos infraestruturais)58; Reforçar a capacidade de realização das autoridades públicas, em termos de lançamento de novos projectos infraestruturais; Implementar políticas públicas (Simões (2004, p. 29));

- “(…) dissatisfaction with the costs associated with

government production (…)”59 e “(…) dissatisfaction with the

performance of state-owned enterprises and the recognition that state-led development programs simply have not worked

(…)” (Grimsey e Mervyn (2004, p. 30);

- Melhoria da eficiência e da qualidade da prestação dos serviços públicos aos cidadãos60, potencializada pela participação do sector privado na produção de

certos serviços públicos, através da “ex ante compettion” que pode “(…)

replace compettion in the market to force bidders to lower

costs, raise quality and be innovative”, de “(…) Optimal Risck

Allocation”, de “Scale and/or Learning Economies”(Bettignies e Ross

(2004, p. 139));

- “(…) constraints in public budgets and rising demands for

improved infrastructure.” (Norment (2005, p. 461))61.

- Economizar recursos62 e Assegurar a viabilidade dos serviços em termos de sustentabilidade financeira63;

- Necessidade de efectuar uma reforma governamental mais profunda ao nível das

58 “The volume of infrastructure under the jurisdiction of subnational governments is

increasing in tandem with increases in decentralization and devolution of responsibilities to those governments. This has sparked interest in the private provision of infrastructure services” (Beato e Vives (2000)).

59 Bettignies e Ross (2004, p. 138).

60 “(…) private providers would provide higher quality goods and services at lower cost (…)”

(Linder (1999, p. 36)).

61 Sobre o mesmo assunto e no mesmo sentido veja-se, entre outros Bettignies e Ross, (2004, p. 146).

62 “Governments in many industrialized nations have made concerted efforts to reduce their

immediate expenditures and to reduce the cost of major infrastructure projects” (Vining, Boardman e Poschmann (2005)).

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instituições agregadas ao poder central, que resultou na “(…) separation of

policy making from policy implementation (…)” (Stewart-Smith

(1995)).

Para João Pontes Amaro (2004, p. 109), os factores que levam o sector público a considerar as PPPs como alternativa à tradicional contratação e exploração de bens e serviços públicos por parte do Estado são:

a) Nova opção de financiamento para o sector público justificada pelo facto de,

por exemplo, “New investment in infrastructure in developing

countries represents 4% of their national output and 1/5 of their total investment - some $200 billion a year” (Stewart-Smith (1995));

b) Contratação de prestação de serviços de qualidade;

c) Melhor distribuição do risco. Nas PPPs, os riscos devem ser atribuídos a quem

demonstrar maior capacidade e competência para os gerir, “(…) o

objectivo não é maximizar a transferência do risco para os privados mas sim optimizar a gestão e minimizar o risco

associado” (Amaro (2004, p. 112)).

Como iremos verificar (através da discussão da literatura), num capítulo posterior associado às vantagens e desvantagens das PPPs, o factor melhoria da distribuição do risco associado ao fenómeno PPPs não é de aplicação linear. Em termos teóricos, um dos factores potencializados pelas PPPs, através do seu funcionamento, é a melhor afectação do risco, mas na prática nem sempre é o que acontece, ou pelo menos, que tem acontecido

nas aplicações de PPPs que se têm verificado em Portugal - “The transfer of risk

is a primary objective (…)” (Li, Akintoye, Edwards e Hardcastle (2005, p. 126)).

O objectivo de não maximizar a transferência do risco para os privados, mas sim, optimiza- -la, é uma ideia que está a ganhar mais visibilidade, porque se verificou que a transferência desmedida da gestão do risco para o sector privado, resultou numa diminuição do value for money. A partir de um determinado ponto óptimo de transferência de risco, em vez de se ganhar value for money com a transferência do risco, começa-se a perder, devido ao facto dos agentes privados não terem capacidade para lidar com alguns tipos de risco e ter que ser o sector público a absorvê-los, o que resulta num duplo pagamento pela gestão do risco em causa uma vez que se pagou ao sector privado para o gerir e, mais tarde, tem que se

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pagar a sua gestão efectuada pelo sector público (Somes (2005)).

Figura 1.2.3.3 – Ponto óptimo de Value for Money

Fonte: Somes (2005)

O preâmbulo do Decreto-Lei nº 86/2003 de 26 de Abril de 2003, emitido pelo

Ministério das Finanças, referente à definição das normas gerais aplicáveis às PPPs, deixa bem presente quais os factores básicos, para além dos que já foram mencionados, que estiveram na origem da aplicação das PPPs64.

Após se ter verificado que existe uma certa “(…)similitude entre

determinadas actividades prosseguidas por entidades privadas e as

subjacentes à prestação de certos serviços públicos (…)”65, chegou-se

à conclusão que “(…) também nos serviços públicos é possível tirar

proveito da tradicional melhor capacidade de gestão do sector privado, melhorando a qualidade do serviço prestado e gerando

poupanças consideráveis na utilização de recursos públicos.”66

Era agora necessário encontrar uma forma, internacionalmente aplicada e testada, através da qual o Poder Central, consagrado nas suas mais variadas instituições, pudesse obter as referidas competências de gestão. O mecanismo encontrado “(…) consiste no estabelecimento de relacionamentos duradouros com privados, em

64 “A transformação dos sistemas sociais operada no decurso do século XX, em virtude das

quais o Estado passou a assumir novas funções, inclusive produtivas, de satisfação das necessidades sociais e públicas, provocou, paralelamente, um elevado aumento da despesa pública, observando-se nas sociedades modernas um peso excessivo do Estado e níveis incomportáveis de endividamento público, sem o equivalente aumento da qualidade dos serviços públicos prestados aos cidadãos. Em resposta, tem vindo a assistir-se à alteração do entendimento quanto ao papel do Estado na economia e, mais genericamente, quanto à forma de satisfação das necessidades colectivas” (Decreto-Lei nº 86/2003 de 26 de Abril de 2003).

65 Decreto-Lei nº 86/2003 de 26 de Abril de 2003. 66 Decreto-Lei nº 86/2003 de 26 de Abril de 2003.

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regime de parceria público-privada, no âmbito dos quais lhes são transferidos os riscos, nomeadamente tecnológicos e operacionais, com os quais se encontram mais familiarizados e para cujo

manuseamento se encontram mais habilitados”67 (Decreto-Lei nº 86/2003 de

26 de Abril de 2003).

Todas estas constatações deixam transparecer que o Estado tem que ter um papel mais regulador e menos produtivo, deixando essa função para quem melhor está habilitado para a executar, os agentes privados.

Na opinião de André F. M. Filho (2004), complementar às abordagens anteriores, o principal factor que está na origem da aplicação das PPPs é o facto de se ter tornado perceptível que, no que concerne à melhor distribuição dos recursos disponíveis e à

produção de bens e serviços, “(…) os mercados, entendidos como um sistema

descentralizado de tomada de decisão, têm-se mostrado, eficientes e superiores a sistemas centralizados, e governamentais de planejamento central.”

As razões, geralmente apontadas como justificação desta superioridade, encontram-

se no “(…) sistema de informações e incentivos automáticos inerentes

aos mercados em contraposição à necessidade de regras e controles

burocráticos próprios a decisões governamentais.”68 Mas é preciso ter em

atenção que existem falhas de mercado e, nestas situações, o resultado alcançado não é o mais eficiente nem o socialmente desejado69.

De acordo com o que está presente no Decreto-Lei nº 86/2003 de 26 de Abril de

67 “Em paralelo, o objectivo de melhorar os procedimentos de contratação e padronizar os

instrumentos de regulação jurídica das parcerias, torna-se, assim, ainda mais imperioso e evidente, como forma determinante de extrair todo o valor implícito, em termos de racionalização, previsibilidade e legitimação da realização de despesa pública, na existência de um tal sistema de programação financeira.” (Decreto-Lei nº 86/2003 de 26 de Abril de 2003).

68 Filho (2004).

69 Devido ao facto dos projectos para as áreas abrangidas pelas PPPs serem caracterizados por “(..) elevados

investimentos iniciais seguidos de reduzidos, às vezes até decrescentes, custos marginais de operação” que “(…) funcionam como uma forte barreira para a entrada de concorrentes, o que tende a criar posições monopolistas em áreas sensíveis a preocupações sociais”, situação agravada pelo facto de serem sectores que já foram alvo de muitas regulamentações estatais e controles burocráticos, tendo até características implícitas de monopólios devido às experiências passadas, “(…) não se considera conveniente, por não ser eficiente, delegar a produção destes bens e serviços integralmente aos mercados privados. Alguma forma de intervenção estatal é requerida. O Governo pode ele próprio produzir o bem ou serviço, ou pode regular a actividade privada e fazer parcerias com o sector privado (…)” (Filho (2004)).

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2003, constatado também por André F. M. Filho (2004) e descrito no Livro Verde sobre parcerias público privadas (2004), o Estado passou do papel de operador directo para o de organizador, regulador e de fiscalizador.

Como factor adicional justificativo das PPPs apresenta-se o facto de muitos destes investimentos produzirem importantes externalidades positivas70, ou seja, geram efeitos benéficos para outros agentes económicos que não precisam de pagar pelo benefício recebido ou que pagam apenas uma diminuta parcela dos mesmos.

Um aspecto muito importante agoirado pelas PPPs é o facto de potencializar a

“(…) colaboração entre as forças vivas da Nação” e a maximização dos

recursos disponíveis (Pinto (2003)).

Os projectos de PPPs desenvolveram-se porque o Estado devido às suas restrições orçamentais e ao esgotamento da sua capacidade de endividamento não será capaz de os implementar, e os agentes privados, dado o grau de risco a eles inerente, não está disposto a implementá-los sem que possa contar com garantias adequadas (Pinto (2004)).

1.3. Enquadramento jurídico das PPPs: Identificação e análise