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Gestão de conhecimento

5.1 Faculdade de Arquitectura UTL

O questionário elaborado por ALMENDRA (2010) foi aplicado em 2007 e 2009, num total de 45 alunos de duas turmas do 5º ano do curso de Arquitectura do Design da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, dos quais 39 questionários foram validados. O objectivo geral era o de in- quirir os alunos acerca das suas percepções e opiniões sobre os seus próprios processos de design.

Segundo os resultados do questionário (tabela 2), dentro de um universo de 12 softwares, aqueles que os alunos mais usa- vam eram o Adobe Illustrator e o Photosop, e logo de seguida o AutoCAD e o SolidWorks. Em termos tipológicos, os softwares menos usados são os de gestão do processo (Project) e os de apoio à comunicação do projecto (Power Point e Flash). No se- gundo questionário, em 2009, existia ainda outro software que os alunos utilizavam – o Rhinoceros – que não foi incluído para permitir possíveis comparações.

Média Autocad 3,59 3D studio max/Viz 2,64 InDesign 2,51 Adobe illustrator 4,62 Corel Draw 1,33 Flash Macromedia 1,28 Photoshop 3,87 Solid Works 3,28 Excel 1,05 Powerpoint 1,56 Word 2,44 Project 1,15

Sobre as fases do processo de design em que os alunos utilizam esses mesmos softwares (tabela 3), concluiu-se que os softwa- res são usados em todas as fases do processo de design, mas principalmente nas fases de desenvolvimento técnico e de de- talhe. Note-se que na Faculdade os projectos vão somente até à fase de prototipagem.

Tabela 2. Uso de softwares de design e outros ao longo do processo de design (ALMENDRA 2010: 151. Baseado na Tabela 32).

AutoCAD 3D Studio InDesign Illustrator Corel Draw Flash Photoshp Solid W

orks

Excel Power Point Word Project Conceito 5,1 7,7 23,1 61,5 7,7 2,6 61,5 12,8 7,7 10,3 51,3 7,7 Desenvolvimento 69,2 28,2 23,1 59 0 0 46,2 56,4 0 5,1 28,2 2,6 Detalhe 76,9 38,5 25,6 53,8 0 5,1 43,6 53,8 0 2,6 15,4 2,6 Produção 28,2 41,0 38,5 69,2 5,1 10,3 61,5 48,7 0 17,9 38,5 2,6

Os alunos foram ainda inquiridos acerca dos aspectos positivos (tabela 4) e negativos (tabela 5) do uso dos softwares. As afir- mações formuladas têm por base a experiência e a revisão da literatura elaborada pela autora. Sobre os aspectos positivos, os que mereceram mais destaque foram os aspectos comuni- cativos, isto é, a melhoria da apresentação do produto e um meio mais eficiente de comunicar o projecto. A situação menos referida foi a geração de ideias. Acerca dos aspectos negativos, realça-se os de sobreavaliação dos aspectos estéticos e a ilusão da supressão da elaboração de modelos físicos, e como aspecto menos votado temos o impedimento da maturação e alteração da ideia.

Aspectos positivos Média

O seu uso promove a geração de ideias 2,85

O seu uso promove o processo de selecção de ideias 3,15 O seu uso permite a geração de mais alternativas em menos tempo 3,18 O seu uso permite a sistematização do processo de design 3,31 O seu uso melhora os aspectos de apresentação do produto 4,64 O seu uso contribui no geral para uma melhor qualidade do design 4,15 O seu uso é essencial para alcançar bons resultados 3,56 O seu uso permite uma mais rápida e clara identificação das fraquezas e

virtudes do projecto 3,44

O seu uso permite um meio mais eficaz de comunicar o projecto 4,31

Tabela 3. Uso de softwares de design e outros versus fases do processo de design (ALMENDRA 2010: 151-153. Baseado na Tabela 33).

Tabela 4. Avaliação dos as- pectos positivos sobre o uso de softwares (ALMENDRA 2010: 154, 155. Baseado na Tabela 34).

Aspectos negativos Média

O seu uso compromete a maturação da ideia 2,51

O seu uso favorece o enfraquecimento da mudança da ideia 2,33 O seu uso promove em geral a falta de controlo na gestão do tempo 2,44 O seu uso ilude a necessidade de testar alternativas num modo tridimensional 2,82 O seu uso favorece escolhas baseadas em aspectos estéticos do produto 2,95 O seu uso aumenta o risco de o designer assumir erradamente como um

objecto de estudo os desenhos em vez do produto 2,77

Tabela 5. Avaliação dos aspectos negativos sobre o uso de softwares (ALMEN- DRA 2010: 155. Baseado na

Tabela 35). Poderemos apontar alguns aspectos que têm a ver com o por-

quê destes resultados, bem como as suas possíveis ilações e consequências. Os softwares que os alunos mais utilizam re- lacionam-se com as suas necessidades, mas estão também for- temente condicionados pelos softwares que lhes são ensinados e que os próprios colegas usam. No meio empresarial, como veremos mais adiante, o mesmo se verifica, isto é, mais que os softwares que se necessita, utilizam-se os softwares que estão implantados no meio em que estamos envolvidos.

Relativamente aos aspectos positivos e negativos, reflectem o modo como os alunos utilizam o software e no fundo como o en- caram. O facto dos alunos verem o software como um meio de ‘embelezar’ o projecto, de o utilizarem como meio de produzir um certo ‘show off’, mostra as limitações que ainda existem no uso dos softwares, situando-se no nível mais baixo de uso dos softwares referido por MITCHELL (1975). Os aspectos me- nos aludidos são os relacionados com a geração e selecção de ideias, o que deixa perceber a visão algo limitada no que toca à utilização do CAD.

5.2 Entrevistas

As entrevistas efectuadas pretenderam cumprir três funções: função exploratória, ao tentar descortinar novas interpreta- ções do fenómeno em estudo; função analítica, através da com- paração; e função expressiva, ao ilustrar a teoria desenvolvida nos capítulos anteriores com a prática de exemplos concretos. O objectivo das entrevistas foi não só confirmar algumas teo- rias e afirmações decorrentes da revisão da literatura como re- colher opiniões que lançassem novos pontos de vista no campo. Com esta metodologia não se propôs confirmar uma hipótese colocada à priori, mas antes explorar as lógicas e opiniões dos autores envolvidos, exemplificando determinadas problemáti- cas e levantando outras novas interrogações.

A recolha de dados baseou-se numa base qualitativa, pois pre- tendeu-se “dar mais atenção aos fenómenos do que à sua fre- quência” (GUERRA 2006: 11). A análise pretendeu desvendar experiências, comportamentos sociais, contradições e dilemas, ou seja, compreender na sua generalidade um dado fenómeno. A amostra escolhida foi do tipo contraste-aprofundamento (GUERRA 2006: 47). Este tipo de amostra situa-se entre o caso único e o caso múltiplo, já que por um lado pretende-se analisar cada caso individualmente como estudo de caso, e por outro pretende-se efectuar uma comparação em profundida- de entre eles. São as categorias sociais, e não os sujeitos, que estão no centro da análise. Assim, optou-se por estruturar as entrevistas de acordo com as instituições. A amostra é hetero- génea, pois pretendeu-se abarcar uma certa diferenciação nas instituições escolhidas. Foram realizadas nove entrevistas, a colaboradores de 3 empresas portuguesas, distribuídas da se- guinte forma: 4 entrevistas na Climar, 3 entrevistas na Al- madesign e 2 entrevistas na eD-Escritório de Design. A razão para a escolha específica destas empresas foi a disponibilida- de demonstrada pelos seus responsáveis e funcionários, bem como o seu prestígio a nível nacional e internacional.

O guião da entrevista teve um ramo comum a todos (anexo C), segundo os temas da investigação. Algumas perguntas foram acrescentadas ao longo do tempo, dado o carácter exploratório das mesmas. A ordem das questões nem sempre foi respeitada, de modo a tornar o discurso mais fluido. Foram ainda recolhi- das uma série de variáveis estanques, como a idade, a escolari- dade, a profissão, a situação na empresa e o tempo de empresa. Estas variáveis podem ou não justificar alguma disparidade nas respostas.

As entrevistas tiveram uma média de 45 minutos de duração cada e foram efectuadas sempre que possível na própria empre- sa. No último caso não foi possível por limitações de logística, porém foi realizada numa espécie de segundo local de trabalho dos designers. O facto das entrevistas terem sido realizadas no local de actividade pôde dar lugar a uma observação directa, com registo fotográfico e recolha de alguma documentação em formato de papel (nomeadamente, no caso da Climar). Embora esta observação não possa ser considerada uma metodologia própria dada a escassez de informação e formalização desta, foi uma mais-valia para a apreensão dos conteúdos e a assimi- lação de informação, que se reflecte na redacção do texto. Depois de efectuar as entrevistas, foram executadas as trans- crições, enviadas para os entrevistados que as reenviaram devidamente corrigidas e validadas. A análise da entrevista procedeu-se primeiramente com a recolha da informação re- levante, através da sua disposição numa tabela, depois com a sua comparação e interpretação e finalmente com a escrita. A análise ao conteúdo das entrevistas foi efectuada de modo indutivo, ou seja, não se limita a descrever os fenómenos mas interpreta-os com vista a estabelecer teorias gerais. Note-se que o conhecimento é sempre limitado no espaço e no tempo, e que esta amostra não representa à partida um significado social relevante pela escassez de indivíduos.