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Pergunta: Após a reunião familiar realizada na UMT-DF o que representou e mudou na dinâmica da sua família?

JBS - 39 anos.

A situação mudou, por exemplo, os irmãos começaram a pensar antes de falar. Quando a gente ia falar um com o outro era só briga, ninguém se entendia. Aquela reunião foi o marco para o inicio do reencontro, reencontramos mesmo morando em um lote só. Hoje, antes de tomar qualquer decisão a gente para conversar. Naquele dia em que reunimos com vocês na Policlínica tinha mais de cinco anos que não falava com a minha irmã. Isso doía na minh‟alma, então por causa da nossa mãe eu fiz as pazes com ela. Sinto tão feliz por isso.

É que a situação é simples e ao mesmo tempo complicada, uma grande descoberta que todos nós fizemos é que o diálogo é a base para a convivência.

Agora, aos domingos almoçamos todos juntos na casa da nossa mãe, isso não tem preço. Que bom se tivéssemos descoberto isso antes do meu pai morrer, talvez ele não tivesse morrido tão amargurado. Os pais querem ver os filhos unidos não é mesmo? Em vez de ficarmos unidos estávamos cada vez mais distanciando uns dos outros. Esse trabalho que vocês fazem deveria existir em todos os lugares, coisas tão simples, que a gente mesmo dificulta.

Almoçar com a nossa mãe aos domingos, a família toda unida, devemos ao encontro que tivemos com vocês. Na verdade aprendemos a amar de novo. Isso que eu estou te falando talvez te cause susto, mas é a mais pura verdade. Aprendemos que hoje temos um objetivo muito maior que as rusgas, o objetivo é a nossa mãe.

Mesmo não entendendo muito creio que ela fica muito feliz quando vê os filhos unidos, é o sonho de todos os pais não é? Posso dizer enquanto católico que sou que a ressurreição entrou na nossa casa. Tiramos as armas da mão e do coração.

Quando a enfermeira, Neuza, foi tão dura dizendo que hoje era a mãe que estava idosa e amanhã nós seriamos idoso também, isso me marcou para o resto dos meus dias. Hoje penso antes de falar, antes era de qualquer forma, mesmo com a mãe idosa e desse jeito que a senhora está vendo.

Quero te dizer que nesses dias nós fomos à fazenda. Eu e minha esposa cedemos a cama para a minha mãe dormir, os meus filhos não entenderam, mas depois expliquei a eles que nós sim poderíamos dormir no chão da sala, mas uma idosa com mais de 70 anos isso é inconcebível, o testemunho de como tratar a minha mãe será a meta de agora para frente.

A gente faz muita besteira na vida, mas graças a Deus e a vocês acordamos em tempo de dar um pouco de alegria para a minha mãe, nunca é tarde para abrir os olhos, o coração e pensar nos nossos atos. Engraçado é que sozinhos não íamos conseguir fazer isso precisou de vocês, para abrir os olhos e chegar até o nosso coração.

A família é coisa muito complicada mesmo, às vezes quando o coração está tão duro, depois de tanta briga se não tiverem quem ouça até mesmo a lavação de roupa suja, que são os nossos problemas, as coisas não andam. Vocês acham que fez pouco, vocês trouxeram a união para dentro de casa. As tuas visitas, Sueli, foram o maior presente que todos nós recebemos, aliás, os seus telefonemas eram elogiados por todos nós, olha que somos sete irmãos. Hoje entendemos que temos algo muito mais importante do que as intriguinhas e as falas duras, temos uma mãe idosa e demente, que precisa de todo o nosso carinho e amor.

Quando refletimos com vocês que não precisaríamos de uma reunião para resolver o problema da nossa mãe estávamos todos enganados e sozinhos. Com aquela briga toda na frente de vocês nós não iríamos chegar a lugar algum. Precisamos brigar tanto na frente de vocês para entender que a paz viria depois da briga.

Obrigada Sueli, você e a equipe, se os idosos hoje são mais respeitados devemos isso a vocês que colaboraram para melhorar tanto o convívio das relações entre os irmãos como ajudaram a refletir de como devemos amar e respeitar, para ser amado e respeitado. Esse é o meu agradecimento. O trabalho de vocês é nota 10. Faça isso sempre e muitas famílias serão restauradas.

MCVB - 45 anos.

Não foi fácil reunir com vocês e olhar para os meus irmãos fazendo discurso, tudo mentira, mas vocês com paciência nos ouviram. A vontade era de dar um soco na cara do meu irmão sabia que ele estava mentindo. Mas quando chegamos a nossa casa e começamos a conversar, algo mudou, acho que foi o desabafo, falar de coisas que ficam guardadas muito tempo vai criando uma casca e depois cristaliza e o perdão não acontece.

O trabalho que vocês fazem merece ser levado para a televisão e o mundo inteiro precisa conhecer esse trabalho. As pessoas se desumanizaram, corre, corre junta dinheiro, passa por cima de tudo, magoa os outros e continua magoando sem saber. As reflexões que vocês fazem enquanto conciliadores não têm preço, vale o resgate da vida.

Continue fazendo isso e muito idosos terão os seus dias finais muito felizes. Essa reunião, ela não é importante somente no caso do idoso não. Eu tenho uma filha de 14 anos, que não sabia como resolver o conflito com ela e naquela reunião eu aprendi, que a chave para muitos problemas é que não paramos para conversa. Aquela reunião me ajudou a resolver o conflito que estava tendo com a minha filha. Engraçado Deus tão sábio fez a gente perfeito e inteligente, para que tenhamos a capacidade de dialogar e não brigar. Hoje a minha filha me respeita me ouve, antes era grito, pancada, agora todos os dias a gente senta para conversar eu aprendi a resolver os problemas, em vez de gritos, palavras, em vez de palavrões lerem um bom livro juntas, que tal? A cartilha que vocês lêem é muito valiosa, vocês não sabem o quanto.

Com a minha mãe e os meus irmãos mudou tudo até parece que aprendemos a viver agora. Como família é uma coisa muito complicada, sem vocês a gente ia continuar a maltratar a nossa mãe pensando que estava fazendo certo, deixando cada vez mais triste e deprimida. Gestos simples fazem grande diferença, faço elogios a vocês todos os dias. No inicio fiquei chateadas, “essa gente da Policlínica, não sabe nada e fica dando pitacos na vida dos outros”. Depois fiquei com vergonha, pensei se não fossem vocês a situação iria ficar do mesmo jeito, sem ninguém para tomar providência, para melhorar às condições de vida da minha mãe.

Hoje a gente se fala como gente grande que se ama e se respeita e se a minha mãe estivesse com a cabeça boa, ela ia ficar muito feliz vendo os filhos assim conversando, falando sobre tudo, ajudando um ao outro.

Não digo que tudo está 100% não, você sabe família não é fácil, mas devagarzinho a gente vai entendendo, que simplificar é mais fácil e mais inteligente e humano do que complicar. Todos nós entendemos que a base para a vida feliz, harmoniosa e com respeito, não só com a minha mãe que é idosa, mas com todos são o respeito e o diálogo.

Falar em lei é fácil, o difícil é a lei sair do papel e chegar ao coração da gente, isso nós entendemos que o Estatuto do Idoso não foi à toa. Velho para me até aquele dia, era só peso, pra que serve uma velha, que não fala, não reconhece mais ninguém, fica no canto, chora, resmunga e ainda fala que a vida não está boa. A vida não estava mesmo boa não, a vida estava ruim e iria continuar ruim. A vida como a gente leva não está boa não sabemos amar e respeitar, como queremos mudar as coisas? Uma lição que tiramos daquela reunião. Minha mãe pode não saber quem somos, mas nós temos o dever de a cada minuto entender que ela é a nossa mãe, isso a enfermeira Isabel falou e a gente teve que engolir em seco, porque era a mais pura verdade.

Eu fico muito feliz de saber que tem pessoas como vocês que vão à defesa de uma idosa demente, quem se importaria com isso? Vocês realmente vestem a camisa, como se diz, é isso mesmo, vestir a camisa em um serviço público tão mal visto é difícil e vocês não se intimidam, falam com autoridade, não medem esforços para exercer o papel de defensora dessa população de idosos tão esquecida. Em casa antes daquela reunião todo mundo estava na sala vendo televisão e minha mãe no cantinho dela, a casa é dela, mas ela não tinha espaço na própria casa, vocês nos fizeram entender isso.

Hoje a minha mãe tem lugar de destaque, onde quer que estejamos eu e os meus irmãos engraçado que percebemos isso, antes não era assim não. Hoje pensamos nela em primeiro lugar antes de pensar egoistamente na gente.

Gastamos muita energia brigando, do que entendendo, do que dando o braço a torcer, do que conciliando, do que vivendo em serenidade e harmonia.

Palavra eu não acho pra agradecer, unir o que separou foi o que vocês fizeram, especialmente você, Sueli, que esteve este ano conosco, com humildade sem tamanho ouviu mais do que falou, você marcou para melhor a vida nossa e da nossa mãe para sempre.

É tudo o que tenho a dizer.

Abraços a você e a Drª Beatriz, e dizer para continuar a salvar vida é isso o que vocês estão fazendo.

MABFS - 40 anos.

O que eu posso dizer é que na vida a gente tem que ter o coração aberto para ouvir e aprender. Primeiro quero pedir desculpas das brigas que tivemos perto de vocês. Depois ficamos envergonhados, mas valeu à pena, daquela briga, começou um momento de reestruturação da família. Às vezes precisamos brigar, senão a mágoa não sai pra fora, não se diz que a gente liberta de dentro pra fora, foi o que aconteceu. No início tudo é muito difícil, mas este apoio que vocês dão de perto acompanhando a gente, sentimo-nos apoiados e cúmplice de vocês. A confiança é tudo e sabemos que a nossa briga não será exposta. Vocês fazem um elo de amizade não somente pensando no idoso, mas também no cuidador como nós também que sofremos, não é fácil cuidar, você acha que é, mas não é, é duro, um dia depois do outro e a gente não vê melhora, só piora, tem hora que o coração quase estoura de tanta dor, vê o pai morrendo todo dia na frente da gente e a gente sem poder fazer nada.

Este ano foi um ano de muito ganho, se o meu pai morrer hoje ele morre feliz, pois aprendemos a duras penas, a gente sofre, você acha que não tá fazendo tudo errado e pensando que está fazendo certo, até acertar custa, custou para todos nós, pois o meu pai não foi flor que se cheira, agora ter que cuidar dele, proteger foi difícil, mas o ganho foi enorme. Você ter me encaminhado para os Psicólogos da Católica, foi o meu maior presente, eu entendi porque o meu pai muitas vezes agiu daquela forma não porque queria, ele não recebeu carinho e amor, meus avôs batiam e brigava, ele aprendeu a bater e a brigar. Como exigir amor de quem aprendeu na escola da maldade, aprende a ser mal. É difícil entender isso, quando via o meu pai batendo na minha mãe, você não sabe a dor que isso causava. Era menos dolorido, quando ele pegava um chicote e batia na gente, do que na minha mãe que só sabia trabalhar e cuidar dele.

Amar o nosso pai era demais para todos nós e ainda hoje também é. Imagina, que a raiva dele era tão grande que nem os nossos filhos nós ensinamos a amar ele. Hoje é que a gente já adulta entende melhor tudo isso, e tenta resgatar o amor entre pais e filhos e entre netos com avô.

Hoje quase todos os meus irmãos já estão passando pelo psicólogo, o que ganhamos com aquela reunião foi à libertação de todos nós, sem isso o meu pai ia continuar a ser maltratado, ele sofrendo de um lado e nós sofrendo do outro. A gente não o maltratava porque queria não, era a mágoa que estava no peito.

Aquela reunião foi o início de poder olhar para me e para os meus irmãos e sentir feliz, porque o relacionamento com os meus irmãos também não eram lá essas coisas, mexer nas feridas dói, mas ela cicatriza então o perdão acontece.

O que eu posso dizer é que com vocês aprendi a perdoar isso não tem preço, ensine ao mundo que o perdão é a mola que move a vida e traz a vida de volta.

É isso o que quero dizer para você hoje, você está diante de outra pessoa, principalmente, diante de outra mãe, mulher e esposa, que aprendeu a amar e a perdoar.

MRJ - 73 anos.

Eu me senti a própria rainha na reunião, porque nunca me senti tão apoiada na minha vida. Vocês terem me dado a palavra, foi como se um fogo se apagasse dentro de mim naquele instante, eu não tinha mais para onde correr, você sabe né: “se correr o bicho pega se ficar o bicho come”. Não tinha saída se não fosse à mediação de conflito eu estava perdida. A partir daquele momento eu me senti a dona da cocada preta. Finalmente eu me dei conta que realmente estava bem, eram os meus filhos que diziam o tempo todo que eu não estava bem, estava mal mesmo tinha mesmo era que passar o domínio da minha vida e de tudo para eles. Fico pensando como é triste com os outros idosos. Eu estou privilegiada em todos os sentidos, pois tenho o meu salário que é mais de dezessete salários mínimos, tenho a minha casa e fiz o meu curso superior. Se fosse diferente, com certeza eu não teria voz e nem vez, teria que me submeter aos absurdos que os meus filhos queriam isso é triste demais. É triste porque, entender que envelhecer é um peso, um peso favorável quando se tem uma situação boa como a minha e um peso ruim demais para quem tem uma situação de salário mínimo, sem estudo e sem casa. Isso é triste, pois os filhos se sentem no direito de determinar a vida do idoso como querem, em ser velha a gente já sente um peso, ainda mais quando não tem autonomia. Gostaria que todos os idosos fossem como eu, com autonomia, pois em casa quem dita às regras e canta de galo sou eu. Sinto-me no poder de fazer isso e tenho vida própria.

Nesse sentido, o trabalho de vocês é fantástico, é uma beleza mesmo, vocês nos ajudam a garantir a dignidade, no meu caso, sozinha, fragilizada e com a perna imobilizada quem iria me ajudar, dar apoio?

Antes sem depender de ninguém, confesso que senti medo, mas quando me apoiei em vocês eu senti forças, forças de gigante. Falei para me mesma, quero ver quem vai dominar a minha vida. Vocês fizeram com que os meus filhos entendessem que aquela limitação era provisória, isso me deu muito alívio naquele momento. Foi exatamente isso que aconteceu, hoje voltei a fazer tudo, graças a vocês, a fisioterapia me ajudou a restabelecer a limitação momentânea e estou ótima. Imagina se tivesse assinado a procuração que os meus filhos queriam que eu assinasse, para me interditar. Hoje, eu estaria chorando amargamente, pois sempre fui ativa, nunca baixei a cabeça para ninguém, mas com a velhice você sabe a gente fica meio fragilizada, como se tivesse sem defesa, a limitação impõe medo.

Vocês naquele momento fizeram um papel fundamental, ajudaram-me a refletir toda a questão que estava em jogo, que era a minha interdição pelos meus dois filhos, por apenas uma fratura de fêmur. Esse papel de vocês foi a minha dignidade restaurada, a minha vida sempre ativa de volta.

A condição é o Estatuto da Pessoa Idosa que garante o Direito, a outra é viver a situação na prática, na vida da gente a coisa é bem diferente. A gente mesmo sabendo que a lei está aí para nos proteger, mas temos medo de enfrentar os filhos e ficar sem o amor deles, essa é a questão. Quando se envelhece, a gente fica mais frágil não sei por que, a vida não é mais a mesma. Eu sozinha não daria conta de enfrentar os meus filhos, a voz de vocês refletindo que tudo estava normal, o Mini Exame do Estado Mental, Teste do Desenho do Relógio, Teste de Escala de Depressão Geriátrica e Teste de Avaliação das Atividades de Vida Diária, eu sabia que não estava desorientada e continuar a tomar conta da minha própria vida, não me colocava em situação de risco. Para os meus filhos ouvirem isso foi fundamental. Outra situação que também foi fundamental foi a palavra que me foi concedida em toda a reunião, senti nos olhos dos meus filhos que eles tiveram medo de levar a interdição adiante.

O meu carro no outro dia estava na minha garagem, pensei que aquela reunião não teria efeito legal, mas o fato de ter dito tudo aquilo na reunião, ter silenciado a voz deles, a ter sido assinada, teve um peso enorme, eles ficaram com medo demais disso. O que foi exposto que qualquer quebra de um dos pactos o caso seria encaminhado à promotoria com uma cópia e o fato de todos receberem uma cópia da também dá muito poder e legitimidade aquela reunião.

É um acordo que se faz, fazendo o acordo é só ir à Policlínica e falar que o pacto não está sendo cumprido pelos filhos e encaminhar o caso à promotoria. O fato de isso ter ficado claro na reunião eu senti que os meus filhos ficaram com medo. Sei lá de repente, o caso se tornar uma questão de polícia. Uma coisa que pode perfeitamente ser resolvida conversando. O engraçado é que precisa mesmo de pessoas como vocês para defender os idosos, caso contrário quem me defenderia naquele momento?

Por isso é que digo sempre o que vocês fazem não tem preço, não é possível imaginar que um serviço público possa ter um serviço dessa natureza. Todo mundo fala tão mal do serviço público, mas quando vê pessoas como vocês que vestem a camisa, falam com autoridade, não está somente atrás de jalecos brancos, honram os seus jalecos, isso dá muita dignidade ao serviço público.

Quem vai se preocupar com uma situação de uma idosa como eu que está momentaneamente inválida? Se não for todo o comprometimento de uma equipe, a Drª Beatriz se sensibilizar e encaminhar o caso e vocês estarem prontos a ouvir, a pontuar o que tiver que pontuar. Isso quer dizer que na verdade vocês vêm em socorro da gente. Isso é a coisa mais fantástica que já vi. Precisa mesmo de pessoas como vocês para que a lei não fique somente no papel. É fácil fazer leis o difícil é que essas leis sejam cumpridas como tem que ser devidamente.

O que vocês fazem é garantir que as leis sejam cumpridas devidamente, por meio das reuniões da mediação, o que vou agradecer para sempre.

Os que vocês fizeram foi me devolver à vida, sem a ajuda de vocês naquele momento não sabem o que seria de mim hoje.

Por isso, agradeço a todas, muito obrigada e continuem assim. Estava esquecendo é que não é só a reunião em si, acompanhar o caso deu-me coragem para sentir forças e lutar contra a intransigência dos meus filhos. Vocês marcaram positivamente a minha vida e com certeza a vida de muitos idosos, em situação menos desfavorável do que a minha.

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