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2.2 ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO – APLICAÇÃO DAS FINANÇAS PÚBLICAS

2.2.1 Falhas de Mercado

A concorrência entre a eficiência do setor privado e o setor público é pauta, ainda, de inúmeras discussões das economias capitalistas. Apesar de os empresários difundirem a ideia de que uma economia com operação livre para os setores privados é melhor que a intervenção do governo, diversos países continuam praticar política intervencionista. Isso acontece porque é impossível que ocorra a situação necessária para que a concorrência perfeita atue, ou seja, existem falhas de mercado que fazem com que a alocação de recursos na economia não seja eficiente, como demonstra a Teoria Tradicional de Bem-Estar Social:

[...] os mercados competitivos geram uma alocação de recursos que se caracteriza pelo fato de que é impossível promover um a realocação de recursos de tal forma que um indivíduo aumente o seu grau de satisfação, sem que, ao mesmo tempo, isso esteja associado a uma piora da situação de algum outro indivíduo (GIAMBIAGI; ALÉM, 2011, p.4).

O excerto acima está alinhado com o conceito econômico desenvolvido pelo italiano Vilfredo Pareto. De acordo com esse conceito, uma ocasião econômica é

ótima quando não pode mais ser aprimorada, ou quando não é possível melhorar um fator sem prejudicar outro fator relacionado.

Todavia, o ótimo de Pareto não ocorre quando há incidências de falhas de mercado, as quais podem ser numeradas como: bens públicos, monopólios naturais, externalidades, mercados incompletos, falhas de informação, desemprego e inflação.

Os bens públicos são de consumo “não rival” e “não excludente”, ou seja, um indivíduo ao consumir esse bem não prejudica o consumo das próximas pessoas, assim como a utilização desse por um sujeito não faz com que outro seja impedido de fazer uso. São exemplos de bens públicos: “(...) bens tangíveis como as ruas ou a iluminação pública; e bens intangíveis como justiça, segurança pública e defesa nacional” (GIAMBIAGI; ALÉM, 2011, pg.4).

O bem público é considerado como falha de mercado porque, neste caso, é impossível individualizar o consumo para fazer uma divisão equitativa do preço, porque os consumidores ao darem lances não revelam suas preferências, usufruindo, assim, do bem, mesmo sem pagar por eles. Uma vez produzidos, esse tipo de bem, traz benefícios para toda a população justamente pelas suas características. Ao não excluir seu consumo, faz com que seja ineficiente na quantidade produzida para atingir toda a sociedade. Segundo Giambiagi e Além (2011), o mercado

[...]só funciona adequadamente quando o princípio da "exclusão" no c o n s u m o pode ser aplicado, ou seja, quando o consumo por um indivíduo A de um bem específico significa que A tenha pago o preço do tal bem, enquanto B, que não pagou por esse bem, é excluído do consumo do mesmo (GIAMBIAGI; ALÉM, 2011, p.5).

Sendo assim, o governo financia bens públicos através dos impostos por ser impossível quantificar, individualizar e medir a utilização desses.

Os monopólios naturais são setores de produção cujo produto é de retorno crescente de escalas, ou seja, os preços unitários caem ao aumentar a quantidade a ser produzida, tornando-se inviável uma grande quantidade de empresas nesse ramo, uma vez que haveria uma capacidade produtiva muito pequena para cada uma, com preços unitários altos. Dessa forma, configura-se um mercado não competitivo em que a empresa possui poder de mercado, dando a ela a oportunidade de fixar seu preço acima do custo marginal, diminuindo o bem-estar social. Além de dar a oportunidade para que a empresa não tenha inovações e que seja uma produção eficiente. Por isso, os monopólios naturais são considerados falhas de mercado.

Assim, cabe ao governo intervir nesse mercado para garantir a regulação dos preços, impedindo que sejam abusivos; realizar incentivos para que a empresa atue como se estivesse em um mercado competitivo, maximizando o lucro e atendendo a todo o mercado de forma eficiente, além do governo responsabilizar-se pelo serviço e produção desses bens, tornando-se assim provedor e buscando manter o bem-estar social.

As externalidades são divididas em duas: positivas e negativas. As externalidades positivas ocorrem quando uma empresa afeta outra de maneira positiva, seja direta ou indiretamente. Um exemplo didático exposto por Giambiagi e Além (2011):

[...] se um indivíduo decide fazer uma limpeza geral em sua casa visando à eliminação dos focos de concentração dos mosquitos transmissores da dengue, ele não apenas estará contribuindo para a manutenção de sua saúde, com o também estará ajudando a saúde de seus vizinhos (GIAMBIAGI; ALÉM, 2011, p.6).

A externalidade negativa, por sua vez e de forma óbvia, contrária da positiva, traz casos cuja ação afeta outra, direta ou indiretamente, de forma negativa, como exemplifica Giambiagi e Além (2011) na situação em que lixos são jogados em rios e mares, atingindo a todos, ou a situação do fumante que, dentro de uma sala, obriga todos a serem fumantes passivos.

Sendo assim, as externalidades acontecem porque as interações e intenções que ocorrem entre os agentes não são de comum acordo. Dessa forma, o preço do produto que sofre externalidade não embute o real preço de produzi-lo para a sociedade. Assim, pode se justificar a intervenção do governo nas externalidades de variadas formas como: a) da produção direta ou da concessão de subsídios, para gerar externalidades positivas; b) de instituir multas ou impostos para desestimular externalidades negativas e c) da regulamentação (GIAMBIAGI; ALÉM, 2011, pg.7).

Os mercados incompletos acontecem quando um bem ou um serviço, mesmo tendo o custo de produção abaixo da disposição dos consumidores a pagar, não são produzidos e ofertados. Isso ocorre porque os setores privados não estão querendo assumir riscos, fazendo com que o governo passe a ofertar esse bem ou serviço, correndo esse risco. Como exemplo, pode ser citado as instituições privadas de financiamento nos países em desenvolvimento. Essas instituições não são capazes de conceder créditos de forma necessária para expandir o desenvolvimento

econômico, tornando-se importante que o governo faça o papel de agência financiadora e forneça o volume necessário de crédito, obtendo função coordenadora.

As falhas de informação ocorrem porque o mercado não é capaz de transmitir todas as informações para que o consumidor possa tomar suas decisões de forma racional. Seguindo esse raciocínio, o Estado atua para que as informações sejam expostas de forma mais eficiente e que favoreça a todos os agentes econômicos, protegendo o consumidor.

Da mesma forma, o desemprego e a inflação são falhas de mercado porque sua existência impede o livre funcionamento do mercado. Logo, cabe ao Estado intervir no sentido de manter o pleno emprego e os preços estáveis.