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2.3 ORÇAMENTO PÚBLICO

2.3.2 Impactos da LRF sobre o sistema de planejamento governamental

O conceito de finanças públicas vem sendo estudado ao longo do tempo, e em 1959, Richard A. Musgrave lança seu livro intitulado Teoria das Finanças Públicas, baseado em sua tese de doutorado e visando contribuir para o que ele chama de teoria econômica de determinação orçamentária (MUSGARVE, 1974).

Musgrave (1974) evidencia o fato de o mercado ser excludente por si só, justificando assim, a intervenção do governo para garantir as necessidades sociais da sociedade, gerando a ela um maior bem-estar.

Diante disso, tal intervenção só é possível se esse órgão puder bancar de alguma forma os benefícios para com a comunidade, dessa forma, a arrecadação de

tributos e posterior dispêndio desses é condição mínima para provir a satisfação daqueles que alimentam a “máquina” governo. Funciona como um investimento, a população empresta o dinheiro e em troca, suas necessidades básicas são satisfeitas, como educação, saúde, transporte etc. (MUSGARVE, 1974).

Os três principais objetivos a serem alcançados pelo governo com o uso de seus instrumentos fiscais são: (1) assegurar o ajuste na alocação de recursos, (2) ajustar a distribuição da renda e da riqueza e (3) propiciar a estabilização econômica (MUSGRAVE, 1974).

Musgrave (1974) e Riani (1997) expõem os mesmos pontos de vista acerca do papel que o Estado deve exercer para que seus objetivos possam ser alcançados e sua função principal seja cumprida. A palavra eficiência deve estar presente em toda e qualquer atividade, ou seja, não basta ter um grande volume de recursos sem que sejam utilizados para os devidos fins. Gerir e alocar aquilo que se tem de maneira competente, evitando ao máximo as falhas que posteriormente lhe serão cobradas, implicará numa melhora sustentável e duradoura do corpo social.

Com o intuito de controlar os gastos públicos e garantir transparência na gestão pública, foi promulgada em 4 de maio de 2000, a Lei Complementar nº. 101, denominada Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), em um cenário sócio-político conturbado e com uma sociedade que pedia por maior senso de sustentabilidade dos órgãos públicos, para que esses provessem serviços de qualidade e com responsabilidade.

A LRF estabelece princípios para as finanças públicas em seu art. 1º, que são os seguintes:

Art. 1. Esta Lei Complementar estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, com amparo no Capítulo II do Título VI da Constituição.

§ 1º- A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar.

§ 2º - As disposições desta Lei Complementar obrigam a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

Desde então, a LRF limitou diversos gastos dos governos, forçando-os a serem transparentes e a agirem de maneira responsável para controlar o endividamento público, de modo a gerar, assim, um equilíbrio orçamentário. Para isso, foi estabelecido que os governantes devem responder por qualquer irregularidade no gerenciamento dos recursos públicos.

Após a LRF ser promulgada, em 2001 o Senado editou a resolução nº 40, que limitou o endividamento público consolidado a partir de 2016, assim:

Art. 3º A dívida consolidada líquida dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ao final do décimo quinto exercício financeiro contado a partir do encerramento do ano de publicação desta Resolução, não poderá exceder, respectivamente, a:

I - no caso dos Estados e do Distrito Federal: 2 (duas) vezes a receita corrente líquida, definida na forma do art. 2º; e

II - no caso dos Municípios: a 1,2 (um inteiro e dois décimos) vezes a receita corrente líquida, definida na forma do art. 2º.

Com esse teto, sabe-se até que ponto a dívida é contornável, o que facilita para os gestores o processo de compreensão do estágio em que ela se encontra, funcionando como um alerta de que os caminhos a serem tomados dali para frente devem ser direcionados a solução desse problema, antes que o mesmo se torne insustentável.

Ao promover maior eficiência na alocação de recursos públicos, de modo equilibrado e visando a distribuição equitativa desses, os gestores públicos estarão desempenhando seu papel corretamente, trazendo benefícios a sociedade como um todo.

Quando as contas do governo se encontram deficitárias, a economia de modo geral é afetada negativamente. Musgrave (1974) evidencia o papel do investimento público e como esse pode contribuir significativamente para o crescimento e desenvolvimento econômico.

Riani (1997) salienta a situação deficitária que o Brasil se encontra há muito tempo, ou seja, as receitas tributárias não superam os gastos, sendo esse um obstáculo a ser superado por qualquer um dos níveis de governo. Se há falta de recursos, diminuem-se as chances de aumentar o investimento em infraestrutura social, sendo essa uma ferramenta de extrema importância para aqueles que vivem nessa cidade, estado ou no país de modo geral, visto benefícios gerados a partir dela.

Inúmeros artigos já foram publicados analisando o efeito da Lei de Responsabilidade Fiscal no endividamento público.

Desde a sua promulgação em 2000, a gestão fiscal dos três níveis de governo no Brasil passou a um estágio mais avançado do que se encontrava. Muito se falou sobre a irresponsabilidade de prefeitos, governadores e até presidentes quando esses estavam para deixar os seus cargos. Era uma bolha que sempre se inflava e deveria ser cessada o quanto antes, para que não houvesse prejuízos irreversíveis aos demais gestores que viriam a ocupar essas posições.

Para Macedo e Corbari (2009), a Lei de Responsabilidade Fiscal mostrou-se como uma condição que mudou o padrão de endividamento dos municípios a serem analisados (foram escolhidos municípios com mais de 100 mil habitantes dada a sua significância em âmbito nacional).

Santolin et.al. (2009) também realizaram um estudo acerca dos possíveis impactos causados pela LRF no comportamento dos municípios. Eles evidenciaram que tal lei funciona como um regulamentador da execução orçamentária, a fim evitar que abusos fossem cometidos por parte dos governantes locais.

Segundo Santos e Alves (2011), a LRF se tornou um delineador, ou seja, após a sua implantação, os municípios avaliados por ambos tiveram expressiva melhora no que se refere ao desempenho financeiro e orçamentário, assim, a eficiência causada por ela, eficiência essa tão importante para Musgrave(1974) e Riani (1997), por exemplo, gerou diversos ganhos as cidades.

Tendo em vista a ligação entre equilíbrio orçamentário com o intuito de aumentar os investimentos no longo prazo, em benefício da sociedade, com retorno de maior bem-estar, se fez necessária a avaliação dessa para com os estudos já feitos.

Santos e Alves (2011) evidenciam que a capacidade de investimento no período pós Lei de Responsabilidade Fiscal se mostrou ampliada, ou seja, não só foi possível aumentar a eficiência nos gastos públicos, gerir as receitas advindas da tributação, como a capacidade de prover uma produção local maior também se fez presente. A produção em si gera crescimento da economia e essa pode vir a se tornar desenvolvimento econômico, instrumento mais do que necessário para a melhoria de vida da população.