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2.1. FINANÇAS PÚBLICAS

2.1.5. Falhas de mercado

Para Albuquerque, Medeiros e Silva (2008), a teoria das finanças públicas, ao tratar dos fundamentos do Estado e das funções do governo, encontra justificativa para intervenção do Estado na economia, como forma de se buscar a correção de imperfeições do mercado.

De acordo com Matias-Pereira (2009), a teoria das finanças públicas, em geral, se apóia na existência de falhas de mercado, que tornam necessários a presença do governo, o estudo das suas funções e das teorias da tributação e do gasto público.

As falhas de mercado são representadas por fenômenos que impedem que a economia alcance o ótimo de Pareto, ou seja, o estágio de welfare economics ou de bem-estar social por meio do livre mercado, sem interferência do governo. A ocorrência de uma situação ótima, entretanto, depende de alguns pressupostos: a) a não existência de progresso técnico e b) o funcionamento do modelo de concorrência perfeita, o que implica a existência de um mercado atomizado – em que as decisões quanto à quantidade produzida de grande número de pequenas firmas são incapazes de afetar o preço de mercado – e de informação perfeita da parte dos agentes econômicos. (MATIAS-PEREIRA, 2009 p. 217; GIAMBIAGI, ALÉM, 2007, p. 4).

Giambiagi e Além (2007) explicam que as denominadas falhas de mercado são representadas pelas seguintes circunstâncias: a) a existência de bens públicos; b) a falha de competição que se reflete na existência de monopólios naturais, c) as externalidades, d) os mercados incompletos, e) as falhas de informação, e f) a ocorrência de desemprego e inflação.

Os bens públicos, de acordo com Giambiagi e Além (2007), podem ser tangíveis, como as ruas ou a iluminação pública, ou, ainda, intangíveis, como a justiça e a segurança pública. São bens cujo consumo/uso é indivisível, pois não gera rivalidade ou exclusão, pois é impossível impedir que um indivíduo usufrua de um bem público. O problema ou a questão que envolve esse tipo de bem é como deverá ser financiado, pois todos utilizam, entretanto, nem todos podem estar dispostos a pagar por esses bens. Então, é por esta razão que a responsabilidade pela provisão dos bens públicos recai sobre o governo, que financia a produção desses bens através da cobrança compulsória de impostos.

Os monopólios naturais, segundo Albuquerque, Medeiros e Silva (2008), são resultantes de falhas de competição em que em determinados setores da economia, apenas uma empresa é responsável pelo provimento de determinado bem ou serviço, como nos casos de abastecimento de água e energia elétrica. Nessas situações, o governo poderá intervir por meio de regulação ou responsabilizando-se diretamente pela produção do bem cuja produção pelo mercado resultaria na existência de um monopólio.

Giambiagi e Além (2007) explicam que as externalidades podem ser positivas, quando ações de indivíduos geram benefícios para os demais em uma coletividade, ou podem ser negativas, quando o efeito dessas ações é um malefício para a coletividade. Por exemplo, quando uma família limpa sua casa e elimina focos de mosquitos da dengue, está gerando um beneficio para a vizinhança; mas quando uma fábrica joga seus resíduos tóxicos em um rio, está resultando em uma externalidade negativa para a sociedade. Em razão disso, justifica-se a intervenção do Estado por meio de: a) produção direta ou concessão de subsídios, para gerar

externalidades positivas; b) multas ou impostos para desestimular externalidades negativas; c) regulamentação.

No caso dos mercados incompletos, é necessária a intervenção do Estado fomentando os mercados com financiamentos de longo prazo para que a produção de determinados bens ou serviços, cujos riscos de produção são considerados elevados, sejam ofertados pelo setor privado.

Outro ponto que merece destaque refere-se às falhas na informação. Nesses casos, a intervenção do Estado se justifica em razão de o mercado, por si só, não fornecer dados suficientes para que os consumidores tomem suas decisões racionalmente. Assim, o Estado deve contribuir para que o fluxo de informações seja o mais eficiente possível. (GIAMBIAGI, ALÉM, 2007).

Por fim, os autores afirmam que a ocorrência de desemprego e inflação não se resolvem com o livre funcionamento do mercado, sendo, para tanto, necessária a ação estatal no sentido de implementar políticas que visem à manutenção do sistema econômico o mais próximo possível do pleno emprego e da estabilidade.

Por essas razões a existência do governo é necessária para guiar, corrigir e complementar o sistema de mercado que, sozinho, não é capaz de desempenhar todas as funções econômicas, e em razão disso que a discussão sobre o tamanho adequado do Estado tem a ver mais com questões técnicas do que ideológicas. (GIAMBIAGI, ALÉM, 2007, p. 9).

Niyama e Silva (2007) comentam que o governo atua em áreas da economia e sociedade, como segurança, educação, saúde, entre outras. Além disso, cabe ao governo estruturar e permitir o funcionamento da sociedade de maneira adequada, através da manutenção de uma infraestrutura administrativa e de sistema legal. Segundo os autores, costuma-se dizer que as atribuições do governo estão divididas em três grandes grupos: função alocativa, distributiva e estabilizadora.

Musgrave, R. e Musgrave, P. (1980) propuseram uma classificação das denominadas funções econômicas do Estado, ora denominadas funções fiscais, ora funções de orçamento, sendo o principal instrumento de ação estatal na economia. Essas seriam as funções responsáveis por promover ajustamentos na alocação de recursos, promover ajustamentos na distribuição de renda e manter a estabilidade da economia.

A respeito da função alocativa, a qual tem por objetivo promover ajustamentos na alocação de recursos, ela se justifica naqueles casos em que não houver a necessária eficiência por parte do mecanismo da ação privada.

Em razão das características dos bens públicos, torna-se difícil a apuração exata do valor justo a ser pago por eles. Assim, toda a coletividade deverá arcar financeiramente por meio de impostos para a consecução daqueles bens produzidos pelo Estado. É nesse sentido que o processo político surge como substituto do mecanismo do sistema de mercado. A decisão por um determinado governante através do processo eleitoral funciona como uma espécie de revelação de preferências por parte da sociedade, assim o programa de governo aprovado pela maioria será coberto com as contribuições tributárias das minorias. (GIACOMONI, 2007; GIAMBIAGI, ALÉM, 2007)

Com relação à função pública de promover ajustamentos na distribuição de renda, função distributiva, ela se justifica como um mecanismo de correção das falhas de mercado. Para tanto, Giacomoni (2007) explica que se deve fugir da idealização de Pareto: a melhoria da posição de certas pessoas é feita às expensas de outras, cabendo à sociedade definir o que considera como níveis justos na distribuição da renda e da riqueza. O orçamento público, assim como é na função alocativa, é também na função distributiva o principal instrumento para a viabilização das políticas de distribuição de renda.

A última das funções elencadas é a estabilizadora. Para Giacomoni (2007), além dos ajustamentos na alocação de recursos e na distribuição de renda, a política fiscal tem quatro objetivos macroeconômicos: manutenção de elevado nível de emprego, estabilidade nos níveis de preços, equilíbrio no balanço de pagamentos e razoável taxa de crescimento econômico. Para ele, esses quatro objetivos, especialmente os dois primeiros, configuram o principal campo de ação da função estabilizadora.

Segundo Giacomoni (2007, p.26):

Em qualquer economia, os níveis de emprego e de preços resultam dos níveis da demanda agregada, isto é, da disposição de gastar dos consumidores, das famílias, dos capitalistas, enfim, de qualquer tipo de comprador. Se a demanda for superior à capacidade nominal (potencial) da produção, os preços tenderão a subir; se for inferior, haverá desemprego. O mecanismo básico da política de estabilização é, portanto, a ação estatal sobre a demanda agregada, aumentando-a e reduzindo-a conforme as necessidades.

De acordo com Musgrave, R. e Musgrave, P. (1980), apesar de útil, tal tarefa é complicada, pois as economias nacionais não operam isoladas, e se encontram vinculadas pelo comércio e pelos fluxos de capital, de maneira que a política de estabilização doméstica deve ser operada de forma a conciliar os objetivos domésticos com aqueles ligados ao comércio internacional.