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4.3 Enfrentando o cotidiano do trabalho

4.3.1 Faltando estrutura e materiais

A falta de infraestrutura é apontada como um fator que dificulta o oferecimento de um cuidado de maior qualidade, pois a estrutura precária com espaços insuficientes e inadequados pode trazer riscos físicos às crianças, além de impossibilitar um cuidado individualizado.

A precariedade do suporte à saúde é apontado pelas participantes como ponto importante a ser tratado pelo órgão gerenciador da instituição de acolhimento, pois, algumas vezes, a falta de determinadas medicações impõe a necessidade da compra dessas pelas próprias cuidadoras. Além disso, a falta de um local de referência para o atendimento de saúde da criança institucionalizada faz com que as

Enfrentando o cotidiano do trabalho

Faltando estrutura e materiais

Faltando pessoal e capacitação

cuidadoras necessitem levá-la ao pronto socorro, aguardando um longo tempo para o atendimento.

A infraestrutura precária, além de oferecer riscos às crianças e gerar desconforto, desanima as cuidadoras pela falta de condições de proporcionar um cuidado melhor.

[...] com o tempo as pessoas vão meio que perdendo o brilho no olho, pela falta de estrutura, de quem nos ouça. [...] então, tu faz o melhor que pode e está bom assim, se incomoda e, às vezes, desabafa com a colega, mas fica uma coisa interna, e cai [...] na mesmice, tu vai fazendo só o que tu tem para fazer [...] (C14).

Nesse relato pode-se perceber que a participante compreende que a falta de estrutura e de quem dê atenção às queixas das cuidadoras gera esmorecimento, de forma que as próprias cuidadoras passam a não se importar mais com o tempo, caindo na mesmice de apenas realizar as atividades que existem, não buscando outras coisas para implementar o cuidado.

De acordo com Chaves et al. (2013) a relação entre a criança abrigada e o seu cuidador, muitas vezes, é despersonalizada, isso pode estar relacionado tanto a grande quantidade de crianças a serem atendidas por cuidador, quanto pela própria falta de estímulos deste para o exercício do seu trabalho.

As demandas de um serviço de acolhimento exigem resolutividade, rapidez e mobilidade, pois, com o passar do tempo, pode-se gerar um automatismo de respostas dos profissionais. Ou seja, há grande probabilidade de se cair na rotina, agindo sem refletir sobre o atendimento que está sendo realizado (BRASIL, 2009, p. 59).

A estrutura física da instituição que acolhe as crianças é grande e não oferece conforto, conforme pode-se observar nos relatos das participantes:

[...] essa casa é muito grande, fica muito fria (C6).

[...] às vezes, não tem um chuveiro bom para dar banho na criança. Às vezes, vai dar remédio e não tem [...], a infraestrutura mesmo, é terrível (C8).

[..] mais em função da estrutura que a gente está bem defasado, a estrutura, o prédio. Esse prédio, nós vamos nos mudar, porque ele está praticamente condenado, a fiação, é um prédio antigo (C11).

[...] aqui está precária a coisa, forno elétrico, assoalho, água, está tudo muito difícil e para gente trabalhar à noite é difícil também, principalmente agora no inverno, e não tem manutenção, não tem previsão (C14).

Observa-se nessas falas que a estrutura precária, além de não possibilitar o fornecimento de um cuidado adequado, já que, algumas vezes, não está disponível nem um chuveiro bom para dar o banho nas crianças, ainda pode oferecer riscos devido à falta de manutenção para a parte elétrica.

Por outro lado, a estrutura deficiente da instituição não possibilita individualizar o cuidado às crianças, pois não existe espaço físico suficiente para realizar os cuidados e acomodar as crianças. Destaca-se que, durante a coleta dos dados a instituição foi transferida para outro prédio, entretanto, mesmo assim, a estrutura não atendeu às necessidades, conforme pode ser observado na fala de C15:

[...] não ter um lugar apropriado para poder colocar eles, que eles precisam e a gente nunca teve. A individualidade de cada criança é muito importante para eles, [...] essa função de comer, cada um tem que ter o seu certo e não é o que acontece, daqui a pouco tem uma criança que tem um tipo doença, [...] que não pode ter contato com outro, e não tem um lugar que tu possa colocar uma criança assim. Não tem espaço é todo mundo em uma peça pequena, infelizmente não tem espaço, [...] é complicado, [...] não existe individualidade para eles, é tudo junto, tudo mesmo, é difícil assim de lidar (C15).

A transmissão de doenças contagiosas ocorre pelo compartilhamento de objetos como talheres, pratos, copos. Assim, em um lugar onde não é possível separar crianças que possuem doenças contagiosas das saudáveis, acaba-se por afetar todas as crianças. Além disso, é imprescindível que se possua uma estrutura capaz de individualizar também os objetos das crianças que possuem maior vulnerabilidade a contrair doenças em função de sua imunidade reduzida, o que não é possível dentro da estrutura oferecida.

A falta de possibilidade de individualizar os pertences, além de propiciar a transmissão de doenças, impõe às crianças um sentimento de coletivo sem identificação, o que pode prejudicar o desenvolvimento da personalidade, já que tudo passa a ser coletivo e não tem nada que seja particular.

[...] os bicos não são individualizados, daqui a pouco sumiu o bico [...] pega o do fulaninho, [...], vai esse mesmo entende, [...] é complicado, [...] não era para acontecer, mas acontece. [...] para individualizar tu teria que ter um ambiente maior, um suporte maior, um banheiro maior. Para trocar eles é uma tortura, tu vai ali no trocadorzinho, daqui a pouco tu vai ali e muda outro, tu não consegue nem passar um [...] limpar primeiro é bem difícil. Roupa também não é individualizada, [...] bota tudo no guarda roupa de qualquer jeito [...] para cada criança é ruim (C15).

De acordo com C15, a falta da individualização, em que cada criança tivesse seu próprio bico e sias próprias roupa, não deveria acontecer. No entanto, a participante compreende que, para que isso fosse possível, seria necessário ambientes mais amplos e adequados.

Estudo realizado por Cavalcante, Magalhães e Pontes (2009) aponta que as doenças infecciosas e/ou transmitidas por contato constituem-se nos mais comuns

problemas de saúde apresentados pelas crianças abrigadas. De acordo com as autoras isso ocorre devido ao convívio intenso entre as crianças e ausência de espaço individualizado na instituição. Assim, a elevada incidência dessas doenças pode relacionar-se “às privações típicas da convivência em ambientes institucionais, onde o cuidado infantil é coletivo e há compartilhamento contínuo de ambientes e objetos pessoais” (CAVALCANTE; MAGALHÃES; PONTES, 2009, p. 621).

Por outro lado, é importante destacar o papel da individualidade para o desenvolvimento da criança. De acordo com Serqueira (2009, p. 78) “a garantia de um espaço próprio, da diferenciação entre o que é meu e o que é do outro, da definição de papéis e das regras, permite uma referência pessoal à criança, que lhe possibilitará encontrar seus próprios parâmetros e se colocar como sujeito ativo em seu meio”.

No estudo de Silva e Arpini (2013), tal como neste estudo, os profissionais que atuam no abrigo apontam que não existe nesse espaço uma atenção individualizada, embora reconheçam a necessidade dessa. Talvez, essa seja uma questão relacionada a uma prática historicamente construída que ainda se constitui em uma referência para o trabalho institucional (SILVA; ARPINI, 2013).

De acordo com C15 se existisse uma estrutura mais adequada, com um espaço maior, seria possível individualizar não apenas o berço de cada um, mas também os seus pertences como mamadeiras, que muitas vezes, são trocadas, entre as crianças.

Tendo um espaço maior [...] já muda muita coisa. Não precisa ser um berço colado no outro, já um berço mais afastado, já colocar no berço da criança isso aqui é dessa criança, [...]. A gente nunca sabe mamadeira de quem é [...], até a gente memoriza, mas tem horas que as mamadeiras são todas iguais e tu não sabe de quem é [...] (C15).

Conforme Magalhães, Costa e Cavalcante (2011, p. 828) as educadoras avaliam que a criança abrigada “vive em condições pouco favoráveis à liberdade de fazer escolhas sobre questões práticas do cotidiano ou mesmo sem direito de gozar de espaço pessoal e privacidade, não recebendo no abrigo uma atenção individualizada”.

Portanto, de acordo com Teixeira e Villachan-Lyra (2015, p. 206) é necessário considerar a individualidade da criança no seu acolhimento, pois “a institucionalização não precisa ser sinônimo de padronização, mas pode ser

encarada como um momento de aprendizagem, contribuindo para o processo de desenvolvimento infantil [...]”.

Golin e Benetti (2013) afirmam que apesar de ocorrer vínculo entre os cuidadores substitutos e as crianças institucionalizadas, essas passam, muitas vezes, despercebidas e indiferenciadas. No estudo de Magalhães, Costa e Cavalcante (2011) as educadoras referem que a criança não recebe no abrigo um cuidado individualizado, não existindo momentos para tratar a criança como ser único, respeitando as suas particularidades nas atividades diárias de cuidado.

De acordo com o CONANDA, CNAS (BRASIL, 2009, p. 21) é preciso planejar o atendimento de forma que seja possível oferecer “espaços que preservem a intimidade e a privacidade, inclusive, o uso de objetos que possibilitem à criança e ao adolescente diferenciar ‘o meu, o seu e o nosso’”.

Quanto ao espaço físico o CONANDA, CNAS determina que cada quarto precisa ter tamanho suficiente para “acomodar as camas / berços / beliches dos usuários e para a guarda dos pertences pessoais de cada criança e adolescente de forma individualizada (armários, guardaroupa, etc.)” (BRASIL, 2009, p. 67). Nesses quartos deveria haver até quatro camas, excepcionalmente até seis, com uma metragem sugerida de 2,25m2 por ocupante (BRASIL, 2009). Contudo, o que se

observou e também foi relatado pelas participantes do estudo, é que havia sete berços no quarto e todos colados uns nos outros, ou seja, sem uma metragem mínima que possibilitasse um espaço individualizado.

A participante C7 refere que seria bom as pessoas conhecerem as condições vivenciadas no abrigo, pois, muitas vezes, se passa a imagem de que não falta nada e tudo está adequado. Contudo, a falta de estrutura não se refere apenas a parte física da instituição, está relacionada a falta de disponibilidade estrutural para acompanhamento de saúde das crianças, não existindo um local de referência para a assistência em condições de adoecimento.

[...] é interessante que as pessoas saibam o que a gente passa, [...], porque acham que a gente tem tudo que é estrutura aqui dentro por causa da prefeitura e muito pelo contrário, para consultar não tem um postinho. Deveria ter um postinho que a gente ligasse e dissesse que é do abrigo, posso levar, vamos, porque é da prefeitura, não, pronto socorro (C7). [...] essa parte relativa a saúde da criança seria importante se nós tivéssemos uma assistência diferenciada, as crianças daqui adoecem muito [...] dá um friozinho assim, começa um a tossir, todos tossem, um faz febre, todos fazem [...], seria interessante se a gente tivesse um amparo maior, [...] uma criança adoece e a gente tem que ir para o Pronto Socorro, que nem o resto da população toda, tu não prioridade de nada [...] (C11).

Pode-se identificar que as cuidadoras percebem a saúde das crianças institucionalizadas como mais frágil, sendo importante ter um suporte maior de atendimento à saúde que favorecesse um amparo maior. De acordo com Cavalcante, Magalhães e Pontes (2009) grande parte das crianças institucionalizadas apresentam problemas de saúde no momento da institucionalização, inclusive condições graves, como doenças congênitas respiratórias e cardíacas. Essas condições, por si só, já indicam uma maior vulnerabilidade das crianças institucionalizadas, entretanto, é preciso somar a elas:

às condições adversas impostas pela condição de pobreza e à qualidade do cuidado que lhes foi oferecido desde o nascimento, em que se inclui a alimentação insuficiente e/ou inadequada à idade, a desatenção com a higiene corporal e ambiental, o desmame precoce, o descumprimento dos programas de imunização (CAVALCANTE; MAGALHÃES; PONTES, 2009, p. 620).

Com base no exposto, observa-se que é imprescindível oferecer às crianças institucionalizadas uma assistência à saúde diferenciada, como proposto por C11, uma vez que essas crianças possuem maiores probabilidades de adoecer em virtude das suas condições prévias de saúde e também pelo convívio coletivo com compartilhamento de objetos e ambientes.

Na falta de estrutura as participantes incluem também a inexistência de um veículo exclusivo para o deslocamento das crianças até o serviço de saúde, em especial à noite.

[...] isso ai é estrutura [...] nós não temos carro mais de noite [...] não temos carro de noite [...] é isso ai que te entristece né, tu não tem uma infraestrutura, não tem respaldo [...] dificulta (C11)

De acordo com o CONANDA, CNAS (2009) as crianças tem direito a viver em um ambiente propicie seu desenvolvimento saudável com acesso a cuidados de qualidade, que sejam condizentes com seus direitos e necessidades. Assim, o atendimento oferecido deveria ocorrer em pequenos grupos e com a garantia de espaços privados e objetos pessoais.

A falta de recursos materiais é apontada como um problema que impõe a necessidade de adoção de maiores cuidados por parte das participantes, como no caso das fraldas apontado por C11:

[...] às vezes tem fraldas que vem para cá de doação que não são tão boas, porque a fralda assim ó, tu segura o xixi da criança a fralda já passa. Então tu tens que estar atenta (C11).

Em contrapartida, a falta de medicamentos adequados para o tratamento das crianças pode gerar transtornos, como no caso citado por C7 em que ocorreu uma infestação de pediculose na instituição:

[...] chegaram umas crianças novas cheia de piolho, [...] então, infestou, então a gente teve ainda uma dificuldade tremenda de tirar, dá muita mão de obra. O remédio que a prefeitura te manda dá mais ânimo, não mata, [...] tem assim coisa simples do teu dia a dia, mas que não te proporciona na casa (C7).

Além disso, em casos específicos de medicamentos que não fornecidos pela rede básica gratuitamente, muitas vezes, é necessário que as cuidadoras adquiram com recursos próprios.

[...] quando eles vão consultar que precisa de um remédio que não tem na rede é um transtorno, porque tu precisa de alguém que doe, porque não se tem [...] já teve vezes a gente fazer vaquinha para comprar, porque a criança mesmo não pode ficar sem, e na rede só tem cefalina, amoxicilina. [...] vai na pediatra lá no pronto socorro, e tem que tomar clavulim que é 52 reais, a gente teve que comprar esses tempos para um dos bebês, [...] senão ele ia ficar sem tomar, então é bem difícil assim (C7).

As participantes destacam em seus relatos a dificuldade de oferecer um cuidado de qualidade quando existem limitações de estrutura, materiais e medicamentos. Dessa forma, a falta dessas condições impõem a elas a necessidade de buscar soluções alternativas para os problemas que surgem no cotidiano do trabalho, uma delas é o uso de recursos próprios para sanar as deficiências infligidas pelo sistema.

A falta de equipamentos como carrinhos de bebê, interfere nas atividades recreativas, pois impossibilitam a saída das cuidadoras com as crianças para passeios.

[...] a gente conseguia sair, mas agora a gente não tem feito, por que estamos mal de carrinho, está um pouco ruim de sair nem que seja na praça (C7).

De acordo com as participantes as deficiências estruturais e materiais interferem no direito das crianças de saírem do abrigo em passeios ao ar livre. Esse fato merece destaque, pois acaba impondo uma restrição ainda maior no convívio comunitário da criança, já que prejudica sua circulação fora do abrigo.

Para o CONANDA, CNAS (BRASIL, 2009) é preciso proporcionar às crianças institucionalizadas uma socialização com a comunidade, possibilitando a ela a participação em atividades de lazer, cultura, educação, entre outros.

O sentimento de impotência é considerado como um ponto negativo do trabalho da cuidadora da criança abrigada, já que muitas vezes faltam recursos financeiros até para questões básicas como a alimentação.

[...] eu acho que o ponto negativo principal é esse a impotência. Tu te sentes muito impotente, até com relação ao município que não te dá suporte, porque o abrigo vive de doação. Porque esses dias, tinha uma criança, ‘ai tia queria tanto comer um presunto e queijo’, e a gente traz da casa da gente, é uma coisa que te bate [...]. Eu dou presento e queijo para o meu filho todo o dia por exemplo, então é muito complicado, é difícil, não é fácil (C4).

As deficiências, além de imporem dificuldades no cuidado diário das crianças, geram nas cuidadoras um sentimento de impotência, pois elas se veem impossibilitadas de propiciar às crianças institucionalizadas até mesmo coisas simples do cotidiano como alimentos.

As cuidadoras destacam as dificuldades do sistema judiciário e governamental, que é responsável pelo encaminhamento das crianças à instituição e para uma família, como pontos negativos do cuidado da criança institucionalizada. A forma como os processos são conduzidos e a demora nos encaminhamentos são apontados por C1:

De acolhimento, da maneira com que são tratados, não mal tratados, mas assim, precisavam de mais, ah de que forma eles voltam para família ou para adoção, ou forma com que são encaminhados, forma com que é feita essa coisa toda. [...] Além de demorado, assim parece que não é bem visto às vezes as coisas (C1).

A burocracia limita muito os encaminhamentos das crianças para famílias substitutas, sendo que legalmente teria um tempo limite para a criança ficar na instituição, mas, muitas vezes, elas ficam por um tempo bem mais longo, devido à demora dos encaminhamentos.

[...] muita demora nessa coisa de adoção (C3).

[...] eu acho assim que sei lá a promotoria, o ministério público, sei lá quem lida com eles, com essa parte de adoções e coisa, isso era para ser mais agilizado, tem horas que a coisa parece que para, tem bebês que vem maternidade [...] e vem para cá, ai a criança está com 5, está com 6 anos [...] e está aqui dentro [...] (C11).

Embora existam filas para adoção de crianças, muitas acabam não sendo adotadas, porque as pessoas querem escolher seus filhos de acordo com suas preferências, conforme relata C6. A participante destaca em seu relato que os pais adotivos procuram crianças que tenham características semelhantes as suas, para que possam ser reconhecidos socialmente como filhos legítimos, isso compromete o sistema, uma vez que a ‘fila’ acaba não tendo uma sequência. A demora para o

encaminhamento das crianças interfere nas adoções, pois maioria das pessoas procuram crianças menores para adotar, então quanto mais longo for o processo, menores as chances da criança conseguir uma família substituta.

A gente sabe que existe uma fila enorme para adoção, mas a fulana está há tantos anos na fila e tem crianças na casa, mas as pessoas escolhem, porque elas adotam para criar como filho, então não vão pegar uma criança negra, ou sei lá um casal negro pegar uma criança de olho azul, porque vão cuidar como filho, mostrar para sociedade como se fosse filho [...]. A gente sabe que isso existe [...], tem fila grande na espera e querem bebês, não querem crianças grandes [...] (C6).

Negativo, que eu vejo o lado deles é eles ficarem muito tempo dentro de um abrigo, quanto maiores, menos chance de uma adoção. É essa coisa quando o abrigo vira depósito de criança, a coisa não anda, e custa, e custa e custa, o lado negativo que eu vejo é [...] mais a parte judicial [...] (C11).

Conforme descrito pelo CONANDA, CNAS (BRASIL, 2009) quando o afastamento da criança de sua família é prolongado pode ocorrer o enfraquecimento dos vínculos, assim como a perda de referências do contexto e dos valores da família e da comunidade. Complementarmente, quando o encaminhamento para adoção também é demorado, sendo esse o caso, “pode reduzir consideravelmente as possibilidades de colocação familiar, em virtude das dificuldades observadas no contexto brasileiro para a realização de adoções de crianças maiores e de adolescentes” (BRASIL, 2009, p. 30)

Todavia, as cuidadoras reconhecem que a adoção não é um processo simples, sendo que quando existem mais crianças de uma mesma família fica ainda mais difícil se encontrar uma maneira de todos irem para um mesmo lar substituto.

[...] porque muitos não conseguem ser adotados, principalmente os maiores, e se são muitos irmãos assim ai é mais difícil, [...] porque quem vai adotar 5,4 irmãos? Então, tu torce para que a família se ajeite e fique com essas crianças, porque eles vão para outros abrigos, vão ser separados, porque a intenção não é separar os irmãos, é mantê-los juntos, mas quem é que vai adotar os irmãos? Dois adotam, mas mais de dois não adotam (C6).

O ECA prevê a manutenção dos irmãos juntos sempre que possível, também quando ocorrer a adoção, conforme Art. 28, § 4o

Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais (BRASIL, 2016, s/p).

Observa-se que a adoção dos irmãos em grupo, mantendo-se todos juntos, muitas vezes, é difícil, pois, em geral, as famílias adotivas buscam por uma ou duas crianças, já que um número maior de crianças impõe a necessidade de condições socioeconômicas melhores para prover o atendimento às necessidades infantis.

Então, quando observada essa cláusula, as crianças institucionalizadas que possuem mais irmãos acabam, muitas vezes, não conseguindo ser encaminhadas para famílias substitutas.

A questão do retorno das crianças para sua família de origem, que seria a primeira tentativa, muitas vezes, de acordo com as cuidadoras, não é a melhor