• Nenhum resultado encontrado

A bibliografia woolfiana inclui obras de inultrapassável valor, que nos transmitiram factos ou perspectivas essenciais. Entre os contemporâneos mais próximos da escritora, o primeiro a mencionar é o próprio marido que, nos cinco volumes do seu diário e nas suas cartas, deixa transparecer informações de tanta relevância como, por exemplo, os pormenores do seu primeiro encontro com Virginia90 e as circunstâncias que rodearam o seu pedido de namoro e subsequente casamento91. A carreira literária de Leonard Woolf pode bem ter sido sacrificada à de Virginia,

90 Em Sowing, pp. 182-3, Leonard conta: "I also met Thoby's two sisters, Vanessa and Virginia Stephen, when

they came up [to Cambridge] to see him. The young ladies - Vanessa was twenty-one or twenty-two, Virginia eighteen or nineteen - were just as formidable and alarming as their father, perhaps even more so. I first saw them one summer afternoon in Thoby's rooms; in white dresses and large hats, with parasols in their hands, their beauty literally took one's breath away, for suddently seeing them one stopped astonished and everything including one's breathing for one second also stopped. .. .They were at that time, at least upon the surface, the most Victorian of Victorian young ladies, and today what that meant it is almost impossible to believe or even remember."

91 A 1 de Fevereiro de 1909 Leonard Woolf, ainda em Ceilão, pergunta numa carta a Lytton Strachey: "Do you

think Virginia would have me? Wire to me if she accepts. I'll take the next boat home"( Letters of Leonard Woolf, p. 145). Mas no seu Diário não faz referência a esta proposta. Apenas, no Epílogo do 2° volume da sua auto

cujo talento ele sobremaneira apreciava e cuja saúde precária ele muito se empenhou em salvaguardar. Dos dois foi ele o primeiro a publicar um romance, The Village in the Jungle, que conheceu imediato êxito. Em 1914 estava prevista a saída do segundo, The Wise Virgins, simultaneamente com o primeiro de Virginia, The Voyage Out,92 mas a séria perturbação mental

que, por esta época, afligiu prolongadamente a escritora, fez adiar a publicação deste. Entretanto o de Leonard, que Mark Hussey justamente considera "an angry and misogynist novel"93, logo

que publicado foi largamente contestado no seu círculo familiar, pois incluía retratos muito detectáveis e pouco lisongeiros de personagens da vida real, seus familiares e amigos mais chegados, tendo mesmo sido preciso prometer à mãe que não seria reeditado. Da parte de Virginia, muito desgraciosamente visada, houve aparentemente aceitação, e a referência ao livro no seu Diário é favorável: "I started reading The Wise Virgins, & I read it straight on till bedtime, when I finished it. My opinion is that its a remarkable book; very bad in parts; first rate in others. A writer's book, I think" (D I 32). No entanto, é possível que a leitura fosse mais perturbante do que ela quis demonstrar, e que tivesse a sua quota-parte de responsabilidade na nova e grave crise mental que pouco depois se desencadeou, como sempre a partir de iniciais dores de cabeça e noites sem dormir. Desta vez foi necessário recorrer à assistência e vigilância contínua de enfermeiras, pois Virginia tornara-se violenta e incoerente, não suportando a presença do marido. Só muito lentamente foi recuperando, e o livro, na sua versão definitiva, muito longe já do original Melymbrosia, veio a ser editado em 1915.

Virginia e Adrian Stephen, e acrescenta: "In October I began writing The Village in the Jungle and I realized that I was falling in love with Virginia. By the end of 19111 had come to the following conclusions: (1) If Virginia

would marry me, I would resign from Ceylon and try to earn my living by writing; (2) If Virginia would not marry me, I did not want to return to Ceylon", p.247. Depois de Virginia aceitar a sua proposta, Leonard afirma, numa entusiástica carta para Lytton Strachey: "I'm so happy that that's the only thing that I can say to you, simply that I am." (Letters of Leonard Woolf, p. 176, carta de 2 de Junho de 1912).

92 Este foi o título definitivo que, depois de muitas revisões e reescritas, substituiu o de Melymbrosia.

93 "Refractions of Desire: The Early Fiction of Virginia and Leonard Woolf, Modern Fiction Studies, vol. 38, n°

1, 1992, pp. 127-146.

Como fonte de informação indispensável e de - relativa - fidedignidade, sobressai a Biografia preparada pelo sobrinho de Woolf, Quentin Bell, a pedido do próprio viúvo, testamenteiro e guardião feroz dos escritos mais pessoais e íntimos da escritora. Leonard, de facto, persistia em não autorizar a consulta do volumoso espólio que conservava e, durante mais de trinta anos, apenas fora publicando algumas colectâneas de ensaios; em 1953, finalmente, "under increasing pressure to reveal more of the goods", conforme salienta Regina Marier em

Bloomsbury Pie, "he edited A Writer's Diary, an abridged and expurgated selection from the

diaries Virginia kept between 1918 and her death."9'' A decisão, porém, de procurar um biógrafo

aceitável para produzir uma versão oficial da vida da escritora foi precipitada pelo aparecimento inopinado nos Estados Unidos da obra biográfica, não autorizada, de Aileen Pippett, The Moth

and the Star: A Biography of Virginia Woolf, que ela preparou com a contribuição de Vita

Sackville-West. O livro de Bell foi publicado em dois volumes pela Hogarth Press em 1972 e foi acolhido euforicamente, tendo-se tornado, a partir de então, um marco indispensável nos estudos woolfianos, apesar de, paralelamente, desencadear uma recorrente onda de protestos, vindos sobretudo da América, mais particularmente da "American feminist Woolf scholarship". Regina Marier argumenta a este respeito: "Certainly the spirit of the age worked against the orthodoxies that informed the Bell biography. The struggle has been more usefully described as a rejection of the English Woolf, that wilting maiden, in favour of a taut, adaptable survivor: a sort of frontier Woolf, spurs ajingle" (137). Neste contexto escreveu Ellen Hawkes Rogat o ensaio "The Virgin in the Bell biography" onde, embora grata por todo o material de estudo que a obra facultou, se lamenta porque "she could not find in his biography the bracing intellect that emerged from her own readings of Virginia Woolf s novels and essays, but 'only the pale figure of a neurotic virgin

Bloomsbury Pie: The Story of the Bloomsbury Revival. London, Virago Press, 1998, p. 24-5. Virginia Woolf manteve o hábito de escrever um diário, com a regularidade que a sua saúde lhe permitia, a partir de Janeiro de 1915.

cloistered from experience. '" Na generalidade, as críticas mais razoáveis devem-se ao facto de que o relato, de acordo com a decisão do seu autor "not to make the work a literary biography, not to explore her writing, focused popular attention almost totally on Woolf s personality and her personal life."96 Para além desta circunstância, porém, e como Bette London observa, "[t]he aspects of his biography that have occasioned most dissent are his treatment of Woolf s feminism, her sexuality, and her madness."97

De facto, a biografia de Quentin Bell dá-nos uma visão serena do percurso da vida da escritora, mantendo uma quiçá excessiva serenidade de tom e aparente ou real equanimidade de apreciação crítica em particulares como o dos recorrentes acessos de perturbações mentais ou o do assédio sexual dos meios-irmãos, George e Gerald Duckworth, assuntos tratados com muito mais escaldante minúcia e convicta polémica por investigadores mais tardios. Por exemplo, sobre o primeiro destes controversos temas - doença psico-somática, perturbações mentais devidas a stress e esgotamento psíquico, ou verdadeiros assomos de loucura? - debruçaram-se autores como Jean O. Love em 1977: Virginia Woolf: Sources of Madness and Art; Stephen Trombley em 1981: All That Summer She Was Mad: Virginia Woolf and Her Doctors; Daniel Ferrer, traduzido por Geoffrey Bennington e Rachel Bowlby em 1990: Virginia Woolf and the Madness

of Language; ou ainda, em 1992, Thomas C. Caramagno: The Flight of the Mind: Virginia Woolf's Art and Manic-Depressive illness. Muito recentemente, Peter Dally, psiquiatra e

apaixonado woolfiano, faz o estudo clínico de Virginia Woolf em Virginia Woolf: A Marriage of

95 "The Virgin in the Bell Biografy," Twentieth Century Literature 20.2 (1974): 96. Citado por Marier, p. 139.

96 Brenda R. Silver, "What's Woolf Got to Do With It? or The Perils of Popularity", Modem Fiction Sudies Vol.

38, n° 1, Spring 1992, p. 35. Este ensaio foca sobretudo a "iconização" da imagem de Virginia Woolf, argumen tando: "What is clear from this proliferation of messages is that the performative role played by 'Virginia Woolf as sign and image, the battles waged over her circulation and meaning, are still powerful makers and markers of our culture today" (56).

97 The Appropriated Voice: Narrative Authority in Conrad, Fors ter and Woolf, Ann Arbor, The University of

Michigan Press, 1990, p. 164n 15.

Heaven and Hell. Dally analisa os seus surtos de insanidade, explicando a periodicidade das

situações de risco e as circunstâncias que podiam despoletar uma crise.

Nas biografias, Roger Poole, já em 1978 com The Unknown Virginia Woolf, e mais aprofundadamente na edição de 1990, anticipa-se a Peter Alexander: Leonard and Virginia

Woolf: A Literary Partnership, 1992, quando se afasta da versão comummente aceite de um

estado mental inerente à sofredora, pondo em causa a possível responsabilização dos seus mais próximos, incluindo pais, meios-irmãos e marido. Em anos mais recentes, duas biografias magistrais e muito completas foram publicadas, as quais, naturalmente, dão o necessário relevo também a este particular: em 1996, Viginia Woolf, de Hermione Lee; e, em 1998, Granite and

Rainbow: The Hidden Life of Virginia Woolf de Mitchell Leaska. Sabe-se desde 1969, como

lembra Mitchell Leaska e atesta cientificamente Peter Dally, que a psicose maníaco-depressiva não é um processo neurótico mas uma desordem afectiva transmitida geneticamente , cujas condições se agravam em períodos de grande tensão psicológica. Daily especifica que "[i]n a sense, every manic depressive breakdown reflects battle with a close companion, suppressed anger, fear of rejection, resentment struggling against love" (99), o que condiz com as circunstâncias da vida de Woolf. Em 1965 já a psiquiatra Mieko Kamiya tivera uma percepção mais correcta do estado de saúde mental de Virginia Woolf, tendo diagnosticado que ela "suffered a manic-depressive, affective psychosis."99 E Thomas Caramagno, rebatendo os excessos

especulativos de Louise DeSalvo, lembra que "inherited biochemical depression can be very severe without any preceding childhood trauma."100 A problemática herança genética de Virginia

Mitchel Leaska, Granite and Rainbow: The Hidden Life of Virginia Woolf, London, The Hogarth Press, p. 5. Peter Daily, Virginia Woolf: The Marriage of Heaven and Hell, London, Robson Books, 1999, mencinado recorrentemente ao longo do livro, mas particularmentes pp. 193-96.

99 "Virginia Woolf - an Outline of a Study on her Personality, Illness and Work", Confina Psychiatrica, 8:189-

205. Citado por Makiko Minow-Pinkney em '"How Then Does Light Return to the World After the Eclipse of the Sun? Miraculously, frailly': A Psychoanalytic Interpretation of Woolf s Mysticism", Virginia Woolf and the Arts, p.90.

100 The Flight of the Mind: Virgina Woolj''s Art and Manic-Depressive Illness, Berkeley, University of California

pode ser facilmente detectada em antecedentes familiares tão próximos como, por exemplo, o brilhante primo James Kenneth Stephen, que em determinada época assombrou a casa de Hyde Park Gate com a sua amorosa perseguição a Stella, a qual incluiu mesmo um sequestro da pequena 'Ginia' e da sua mãe (QB I 36); ou o avô, Sir James, que, corno relata Noel Annan, afirmava que "had the power of going mad at will"101 ; ou, ainda, a patética meia-irmã, a "poor

mad Laura" 102, que "could do disconcerting things" (QB I 35) e acabou a vida internada num

hospício. Mais próximo ainda, o caso do irmão, Thoby, que tentou suicidar-se atirando-se de uma janela103, acontecimento que parece encontrar-se em linha directa de ascendência com a primeira

tentativa de suicídio de Virginia, em 1904, depois da morte do pai.104

Quanto aos mais ou menos graves e dramáticos assédios sexuais na infância e adolescência - aliás referidos pela própria escritora em "A Sketch of the Past", lido por ela numa das sessões do "Memoir Club" e incluído na colectânea organizada por Jeanne Schulkind em 1976: Moments of

Being: Unpublished Autobiographical Writings of Virginia Woolf - , o mais aprofundado e

radical (e polémico) relato continua a ser o de Louise DeSalvo em 1989: Virginia Woolf: The

Impact of Childhood Sexual Abuse on her Life and Work. Esta obra, com o seu incontestável

valor de pesquisa e análise, tem, no entanto, o defeito de se mostrar excessivamente facciosa no emitir de juízos por vezes não suficientemente apoiados em dados concretos. Esta tendência foi apelidada por Quentin Bell, na sua recensão do livro, como o "mythogenic power" de DeSalvo, enquanto o New York Times Book Review alertava para o facto de que "[t]he danger in analysing

101 Leslie Stephen, the Godless Victorian, Chicago, The University of Chicago Press, 1986, p. 117. 102 Quentin Bell relata: "he [Leslie] had even attempted, pathetically enough, to make an intelligence for his poor

mad Laura" (QB 126). No entanto, o caso de Laura não afectou geneticamente Virginia, porquanto a sua loucura foi herdada da avó materna, Mrs. Thackeray.

103 Diz Noel Annan em Leslie Stephen, the Godless Victorian, p. 117: "But Leslie may have told him [Dr.

Savage] of the delirium which in 1894 had seized Thoby at his prep school as he was recovering from influenza. He had tried, screaming, to the terror of the other boys, to throw himself out of the window; and Thoby had another attack at home a month later."

104 Para alguns, não se tratou propriamente de uma tentativa de suicídio. Daily explica: "Once she jumped from

the first-floor bedroom window ... It was probably not a deliberate attempt on her life, although she had moments of intense dispair" (51-2).

lives and literature according to selective evidence or a single set of experiences, is that the essential spirit of people and their creatrive products can suffer severe misinterpretation if tucked neatly into Procrustean beds." Por sua vez, Anne Olivier Bell, que, como Quentin, "never recovered from DeSalvo's book", referiu-se a ele em 1996, no Charleston Magazine, como "farrago," "the product of indefatigable reading, ingenious speculation, imaginative interpretation and psychological extrapolation." l05 Outros autores se têm interessado por estes lamentáveis factos e as suas repercussões, mas nunca com tão exaustiva análise. Numa perspectiva diferente, Alma Bond, que fez um estudo psicanalítico da vida e circunstâncias de Virginia Woolf, afirma em Who Killed Virginia Woolf?: "The supposed advances of Virginia's half-brothers are not considered by this writer of primary importance in the etiology of her illness."106 Também Sonya Rudikoff, no seu livro de 1999, Ancestral Houses: Virginia Woolf and the Aristocracy, desafia a opinião mais aceite, conforme diz John Bicknell na recensão do livro, pela sua "minimizing of George Duckworth's alleged sexual abuse while maximizing his role in assisting the Stephen children after their father's death and in calling attention to Virginia's conflicting memories of him."107 Realmente, parece que, quer num quer no outro sentido, ambos os exageros são de lamentar.

Molestação sexual e perturbações mentais podem não estar totalmente dissociadas, como se depreenderá dos estudos de Alice Miller sobre os maus tratos e abusos de que sofrem as crianças, particularmente o livro L'Enfant Sous Terreur: L'Ignorance de l'Adulte et son Prix, no quai refere o caso de Virginia Woolf através do relato de Quentin Bell.108 Segundo Miller,

105 Regina Marier, que refere estes pormenores, dedica várias páginas de Bloomsbury Pie a exemplificar alguns

dos exageros e conclusões precipitadas de DeSalvo (243-250).

106 Who Killed Virginia WoolJ? A Psychobiography, New York, Insight Books, 1989, p. 97.

107 Ancestral Houses: Virginia Woolf and the Aristocracy, Palo Alto, Society for the Promotion of Science and

Scholarship, 1999. Recensão em Virginia Woolf Miscellany n° 55, Spring 2000, p. 4.

108 Trata-se da tradução de Jeanne Étoré do original alemão Du Sol 1st Nicht Merken, Frankfurt am Main,

Suhrkamp Verlag, 1981. Miller relaciona nitidamente as duas circunstâncias, precisando: "son biographe, Quentin Bell, écrit qu'elle souffrait 'd'une atteinte de type cancéreux au niveau du cerveau' et qu'elle entendait les voix de la folie. Il affirme qu'il n'est pas assez informé de la nature des troubles de Virginia pour pouvoir dire s'ils avaient

Ce ne sont pas les manques que l'enfant subit qui entraînent des troubles psychiques, mais des blessures narcissiques - parmi lesquelles il faut compter aussi les abus sexuels - à l'époque du plus grand dénuement de l'enfant, infligées sous la protection du refoulement qui assure à l'adulte la discrétion mais interdit à l'enfant avec la charge de "ne pas savoir" l'accès à ses sentiments et à sa vitalité. C'est le fait de ne pas devoir dire et ne pas devoir savoir qui entraîne l'évolution pathologique. (148)

Duas ocorrências de abuso são registadas: a primeira por Gerald Duckwsorth, quando Woolf teria cerca de seis anos; e a segunda, de que George, o Duckworth mais velho, foi autor em repetidas instâncias, quando a meia-irmã já se encontrava no limiar da idade adulta. Nunca será possível ajuizar clinicamente e com exactidão científica a amplitude e a inquestionabilidade dos factos e o quanto eles poderão ser responsabilizados pelos sofrimentos psíquicos de que a escritora veio a padecer. Mesmo os relatos autobiográficos, como os inseridos em Moments of

Being, podem comportar desvios e alterações involuntárias devidas a falsas reminiscências ou a

persistência de 'fantasmas' criados na infância; ou, por outro lado, podem ter atravessado um processo de embelezamento e de reforço de atractivo, tão característico dos hábitos de escrita da sua autora, tendo, sobretudo, em consideração, que se destinavam (os três últimos) a serem lidos perante amigos e colegas-escritores. A emulação dentro do grupo era conhecida, e Virginia era particularmente sensível a aprovações ou críticas dos seus mais íntimos.109 Numa altura - depois

da guerra - em que ela já não era a figura fulcral do Grupo, em que já nele não girava tudo à sua volta, em que alguns dos "novos ventos" já eram trazidos por outros, tornava-se extraordinariamente necessário que o seu relato atraísse a atenção e a curiosidade dos ouvintes, e que o interesse perdurasse quando o eco das palavras já se tivesse extinguido. Isto não quer dizer

pour origine un traumatisme psychique. Mais deux pages plus haut, Bell raconte longuement que leur demi-frère George, qui était bien plus âgé, a utilisé pendant des années les deux petites filles, Vanessa et Virginia, pour ses jeux sexuels." Paris, Aubier, 1986, p. 148.

109 Esta faceta herdou-a Virginia do pai. O próprio Leslie Stephen confessa: "I am of the thinskinned breed; and a

chance remark about me sometimes makes me swear like Beelzebub for hours together.' Carta de 23.12.1869 para

Oliver Wendell Holmes, Jr.. Selected Letters of Leslie Stephen, p. 72. — 90 —

obrigatoriamente que Virginia alterasse a verdade propositadamente para se fazer notada e causar sensação, mas é inegável que a forma como se dizem as coisas é sempre condicionada pelo pensamento no efeito que se quer produzir.

A(S) TENDÊNCIA(S) DA RECEPÇÃO

Muitos volumes têm sido dedicados, ao longo das décadas, à vida e obra de Virginia Woolf. Ainda em vida da escritora, houve trabalhos em sua honra. Alguns dos primeiros vieram da França e da Alemanha, e Woolf faz-lhes referência no Diário, a 24 de Março de 1932: nesse ano, Floris Delattre escreveu Le Roman Psychologique de Virginia Woolf (Paris, Librairie Philosophique J. Vrin); e Ingeborg Badenhausen preparou uma dissertação de doutoramento em Marburg, sobre Die Sprache Virginia Woolf s (Verlag Adolf Ebel). No entanto, a reacção da escritora foi mais de receio precavido do que de euforia: "Two books on Virginia Woolf have just appeared - in France and Germany. This is a danger signal. I must not settle into a figure" (D IV 85). No mesmo ano, Winifred Holtby publicou Virginia Woolf (London, Wishart); mais tarde, em 1935, Ruth Gruber apresentou Virginia Woolf: A Study (Leipzig, Bernhard Tauchnitz), e David Daiches o seu Virginia Woolf (London, Poetry). Seria fastidioso enumerar todos os trabalhos que esta complexa escritora suscitou de imediato, mas poder-se-á pelo menos lembrar que Marguerite