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FASE (B) DO 3º CICLO LONGO DE KONDRATIEFF

CAPÍTULO II A IMPORTÂNCIA DO SETOR TÊXTIL PARA A ECONOMIA CATARINENSE E BRASILEIRA – NAS EXPORTAÇÕES DE PRODUTOS TÊXTEIS

3. O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL

3.2. FASE (B) DO 3º CICLO LONGO DE KONDRATIEFF

O período de 1920 a 1948 é de grande notoriedade para a indústria brasileira, ora catarinense, sendo um período de grandes acontecimentos tanto em nível internacional como nacional que marcarão o desenvolvimento substancial da indústria no Brasil, refletidas, ora, nas exportações de produtos têxteis (como veremos mais adiante).

Segundo CASTRO (1969) é a crise dos anos de 1930 que marca o esgotamento do modelo de crescimento primário-exportador para o modelo de industrialização, iniciando nesse sentido, o processo de substituição de importações. A economia brasileira até 1930 era controlado pelo setor agrário, ligado às exportações de café, obviamente, dependente das crises geradas em nível internacional. Com a mudança do poder, com a Revolução de 1930, o mercado interno passou a ser mais valorizado, a fim de superar a origem agrícola do país.

Em nível internacional a Grande Depressão de 1929, e em nível nacional a Revolução de 1930, marca esse esgotamento, e a mudança ocorrerá em toda a América Latina, assim, conforme TAVARES (1976, p.33) :

Apesar de o impacto sobre o setor externo das nossas economias ter sido violento, estes não mergulharam em depressão prolongada como as economias desenvolvidas. A profundidade do desequilíbrio externo fez com que a maior parte dos governos adotasse uma série de medidas tendentes a defender o mercado interno dos efeitos da crise no mercado internacional

As medidas de controle das importações, a compra de excedentes de estoques de produtos invendáveis por causa da crise, a elevação das taxas de câmbio são medidas que, segundo TAVARES (1976), defenderá contra o desequilíbrio externo bem mais do que estimular a atividade industrial, a princípio. TAVARES (1986) acredita haver uma

dependência do café a indústria, pois o setor industrial dependia do capital cafeeiro na medida da expansão física e da geração do mercado, o que é evidente para os estados produtores de café, em alguns setores industriais, não em sentido geral, já que:

[...] as cotações dos produtos de exportação regulavam o poder aquisitivo dos trabalhadores rurais e suas famílias que, por sua vez, eram os consumidores dos produtos grossos produzidos pela maioria das fábricas brasileiras. Era, portanto, inevitável que o declínio dos preços do principal produto de exportação brasileiro,

o café, abalasse a manufatura têxtil de algodão [...]52

Os empresários passavam a buscar auxílio junto ao Estado, pois “[...] é o Estado, que em última análise, determina o nível dos preços – ora onerando determinadas atividades com tributação excessiva e, conseqüentemente sobrecarregando-a de ‘falsos custos’, ora arcando com parte dos custos de produção reais de outras [...]”.53 Nesse período (fase “b” do 3° Kondratieff) entram no poder os capitalistas industriais, dissidentes da classe dos comerciantes (que entraram no poder na fase “b” do 2° Kondratieff) e atrelados à classe dos latifundiários, formando um novo pacto - com grande destaque para os latifundiários - conforme RANGEL (1986b) e MAMIGONIAN (2000), substituindo a dependência do capital industrial inglês pelo capital financeiro norte-americano para promover a industrialização.

A política organizada por Getúlio Vargas buscava investir no processo de industrialização voltado para dentro do país e não mais para fora, estando dependente das relações externas, seja econômicas ou políticas, surge assim, um Estado “[...] como agente catalisador de uma série de investimentos [...]”.54

As medidas de incentivo à indústria é extremamente dual, pois ao mesmo tempo em que se restringe às importações, pois passa-se a se produzir internamente o que antes se produzia em pequena quantidade ou se importava, mas ao mesmo tempo há a necessidade de obter equipamentos e matérias-primas essenciais ao desenvolvimento industrial. Então o governo onera determinadas atividades com carga tributária excessiva e restringe para outra atividades, com a finalidade do crescimento econômico. Para RANGEL (1999a) só o Estado pode ser o juiz em matéria de comércio exterior, dependendo dele qualquer decisão

52 TAVARES, 1986, p.95.

53 RANGEL,1999a, p. 97/98.

seja em favor da economia brasileira, seja a favor de pequenos grupos de industriais, influentes dentro do governo.

Segundo STEIN (1979) a aliança entre indústria e governo trazia benefícios a pequenos grupos de grandes empresários da região sudeste brasileira. Por causa dos efeitos da Grande Depressão de 1929, e da Revolução de 1930, boa parte dos estoque de tecidos de algodão pareciam estar em superprodução, esses industriais conseguiram do governo a restrição das importações de máquinas têxteis, que perdurou de 1931 a 1937, principalmente para aquelas empresas com superprodução, e grande proteção alfandegária, protegendo assim as empresas têxteis da concorrência externa, fazendo com que se expandam internamente. No ano de 1936 os industriais Paulistas e Cariocas pediam ao governo nova restrição, para manter a hegemonia no setor, com preços dos produtos altamente manipulados pelos industriais, pela falta de equipamentos de fábricas de outras regiões brasileiras. Sobre a restrição de importações:

Um fabricante de Santa Catarina declarou que a alteração das restrições obedecia a uma política concentracionista que beneficiava os grandes centros industriais como o Rio de Janeiro e São Paulo, uma vez que as regiões em que estavam localizadas as maiores fábricas contavam com maior número de equipamentos já instalados (STEIN, 1979, p.154)

A declaração vindo de um industrial da região de Brusque mostra o descontentamento para com as medidas tomadas pelo governo federal, pois as empresas do sudeste brasileiro contavam com proteção externa e interna para seus produtos. No ano de 1937 os industriais Cariocas e Paulistas não conseguiram mais manter suas indagações de superprodução para com o governo federal e as restrições às importações foi suspensa. Segundo STEIN (1979) o volume de máquinas importadas foi grande após a suspensão e quase chegou ao volume importado dos anos de 1924 a 1926 (período de grande êxito para o setor). No ano de 1937 o país importou o equivalente a 8.646.908 quilos de equipamentos e no ano de 1938, 11.137.000 quilos, oriundos, principalmente da Inglaterra e da Alemanha, e em menor proporção dos Estados Unidos.

A indústria têxtil recebeu apoio do governo federal nos primeiros anos da década de 1930, mas a partir daí foram surgindo novas iniciativas industriais que passaram a ter apoio irrestrito do governo, na busca da diversificação da economia, com grupos tão exigentes e bem influentes junto ao governo federal. A indústria têxtil teve, então, que buscar expansão

na diversificação e na qualidade de seus produtos, e estando mais uma vez a mercê das medidas do governo, ao incentivar outras atividades industriais, restringindo a expansão de outras.

O setor têxtil ainda era o que mais empregava no país, onde no ano de 1940, 24% da força de trabalho empregada no setor industrial era da indústria têxtil. Mais essa situação veio a se modificar com a Segunda Guerra Mundial que trará benefícios para vários setores industriais no país, como também para países da América Latina, como Argentina, Chile e Uruguai, o que trará mais concorrência para as empresas brasileiras.

E o setor têxtil também se expandirá, passando a abastecer os mercados da América Latina, Europa e o Oriente. Segundo STEIN (1979, p.167):

As exportações - muito mais do que o critério de eficiência interna - tornaram-se parte integrante e decisiva das operações normais das fábricas, e passaram a ser encaradas pelos empresários como expressão de um ‘destino manifesto’, igualando-se a, e talvez suplantando, o modelo tradicional de exportações de matérias-primas

Agora, as exportações para fora do país se ampliaram substancialmente em todo o ramo industrial, e o que deu sustentação para a indústria durante o segundo conflito mundial foi ter no período anterior importado maquinário em grandes valores, como demonstra o gráfico abaixo:

FONTE: SUZIGAN, 2000, p.159 (com modificações). Os preços são do ano de 1913. G R Á F I C O 0 2 - E X P O R T A Ç Õ E S D E M A Q U I N Á R I O T Ê X T I L P A R A O B R A S I L - 1 9 2 1 - 1 9 3 9 0 1 0 0 . 0 0 0 2 0 0 . 0 0 0 3 0 0 . 0 0 0 4 0 0 . 0 0 0 5 0 0 . 0 0 0 6 0 0 . 0 0 0 7 0 0 . 0 0 0 8 0 0 . 0 0 0 9 0 0 . 0 0 0 1921- 1923 1924 -192 6 1927- 1929 1930- 1932 1933- 1934 1935 -19 36 1937- 1939 P E R Í O D O S VALORES

Do ano de 1921 a 1939 o país importou maquinário na ordem de 3.597.726 (com valores do ano de 1913), ou seja, 50,11 % a mais do que importou no período de 1893 a 1920. A média anual foi de 199.873,666. O período de auge foi de 1924 a 1926 (com grande dinamismo do setor têxtil) com 21,43% do total importado. O período de menor importação foram os anos influenciados pelos acontecimentos da Revolução de 1930 e a Grande Depressão de 1929,com importação sobre o total de apenas 6,21% (anos de 1930 a 1932), mas os anos seguintes foram anos de recuperação rápida e de grande estímulo ao desenvolvimento industrial, como já podemos verificar, assim, do ano de 1933 a 1939 o país importou 45,65%, o que corresponde a 1.642.549. As exportações durante esse período ocorre em grandes proporções, conforme tabela abaixo:

TABELA 13 – EXPORTAÇÃO BRASILEIRA DE TECIDOS DE ALGODÃO 1922-1950 (EM QUILOS) ANO TOTAL 1922 1924 1926 1928 1930 1932 1934 1936 1938 1940 1942 1944 1946 1948 1950 779.365 57.242 14.996 26.754 11.274 62.561 425.489 318.754 247.239 3.958.371 25.168.682 20.069.808 14.102.848 5.637.644 1.361.359

FONTE: Ministério da Fazenda, apud STEIN, 1979, p. 194 (com modificações).

Do ano de 1922 a 1950, período de grandes acontecimentos nacionais e internacionais, as exportações de produtos de algodão são vultosos, exportando o equivalente a 70.298.712 quilos(nos anos analisados), ou seja, no período anterior (1902 a 1920) o país exportou somente 0,6% do total exportado no período atual. Por mais que tenha sido irregular a produção exportada, o auge se dá nos anos do segundo conflito mundial e uns anos após o conflito, ainda sob reflexo do período em crise mundial, como

no período anterior. No ano de 1942 o país exporta o equivalente a 35,8% sobre o total exportado e diminui consideravelmente a exportação nos anos de 1948 e 1950, com um total de apenas 6.999.003 quilos, ou seja, 9,95%.

Podemos verificar, certamente, que o Brasil por conta dos acontecimentos gerados tanto em nível internacional quanto em nível nacional, passou por grandes transformações em nível político e econômico, passando a gerar seus próprios ciclos médios (os ciclos de juglar), com período de ascensão e de recessão de 8 a 11 anos, já a partir da década de 1920, buscando assim crescimento econômico interno na medida em que substituía as importações, mesmo nos períodos de turbulência externa.