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OS CICLOS DE KONDRATIEFF E OS DE JUGLAR E A TEORIA DA DUALIDADE BRASILEIRA

CAPÍTULO II A IMPORTÂNCIA DO SETOR TÊXTIL PARA A ECONOMIA CATARINENSE E BRASILEIRA – NAS EXPORTAÇÕES DE PRODUTOS TÊXTEIS

2. OS CICLOS DE KONDRATIEFF E OS DE JUGLAR E A TEORIA DA DUALIDADE BRASILEIRA

Segundo ESTEY (1960:20) “[...] os ciclos econômicos são flutuações da atividade econômica geral que surgem do conjunto de flutuações relacionadas entre si de numerosos ciclos específicos”, podendo ser classificados de ciclos pequenos e ciclos grandes, conforme sua durabilidade. Foram analisados por grandes estudiosos como Hansen, Thorp, Kitchin, Mitchell, Cassel, Juglar, Kondratieff, entre outros, mas no estudo atual nos interessa os dois últimos citados, estudados aqui no Brasil por Ígnácio Rangel, Armen Mamigonian, entre outros estudiosos. As teorias de Kondratieff defendem que a vida

econômica passa por momentos de recessão e de ascensão, com um período cíclico de 50 anos, com grandes acontecimentos econômicos, políticos, e os ciclos médios ou breve de Juglar, com um período cíclico de 7 a 11 anos.

Segundo KONDRATIEFF (1946) as ondas cíclicas podem começar a ser analisadas a partir do final do século XVIII – com o começo do desenvolvimento do capitalismo industrial, ou seja, os indicadores chaves são o crescimento da produção industrial e o crescimento das exportações mundiais, e são mais evidenciadas nas economias capitalistas dos países desenvolvidos, conforme MANDEL (1986), embora também podem ser verificadas nos países da periferia, pois estes estão altamente relacionados com os países desenvolvidos, portanto, podemos analisar abaixo o período de cada ciclo longo e sua relação com o mundo e o Brasil:

1º Ciclo de Kondratieff – (a) 1790-1815 / (b) 1815-1848 2º Ciclo de Kondratieff – (a)1848-1873 / (b) 1873-1896 3º Ciclo de Kondratieff – (a) 1896-1920 / (b) 1920-1948 4º Ciclo de Kondratieff – (a) 1948-1973 / (b) 1973- ?42

RANGEL (1999a, p.32) ao estudar os ciclos que engendram a economia acredita que:

A economia brasileira se rege basicamente, em todos os níveis, por duas ordens de leis tendenciais que imperam respectivamente no campo das relações internas de produção e nas das relações externas de produção

O que RANGEL vai chamar de dualidade básica da economia brasileira. Portanto, a maior contribuição de RANGEL para a economia brasileira foi a teoria da dualidade brasileira, que se dá na fase (b) de cada ciclo longo, onde em cada dualidade:

[...] o poder é exercido por uma classe que passou da anterior dualidade, e por outra que está tendo acesso ao poder, pela primeira vez. Esta última, entretanto, não surge por acaso, mas como dissidência da classe hegemônica anterior, apeada do poder como conseqüência da última crise do Ciclo Longo. Toda vez que a economia mundial é confrontada com a fase “b” do Ciclo Longo, a sociedade brasileira é confrontada, também, como um desafio que exige dela mudança de

regime [...]43

42 MAMIGONIAN, 2000, p.25. As fases (a) são momentos de desenvolvimento econômico, ou de ascensão, e

as fases (b) são momentos de recessão econômica.

Assim, o processo de industrialização brasileira inicia-se no final do século XIX, e já no início do século XX (por volta das décadas de 1920/1930) passou a ser o ramo principal da economia, com destaque para a indústria têxtil (segundo RANGEL (1986b) e MAMIGONIAN (1999a)) fazendo com que se dinamizasse o mercado interno - haja vista que até então nossa economia estava atrelada ao mercado externo, com uma economia primária - exportadora - assim, quando a economia mundial entra em declínio (fase “b” do ciclo longo), acarretado por flutuações ora econômicas, ora políticas, como guerras, revoluções, a economia brasileira tende a se reestruturar a fim de manter o mercado interno, dessa forma a industrialização brasileira foi sendo realizada através de substituição de importações.

Para RANGEL (1986b, p.24) em “[...] cada ‘crise’, isto é, ao se pronunciar a recessão, a economia passa a ser balanceada entre um setor com excesso de capacidade e outro com insuficiência de capacidade”.44

Ainda para o mesmo autor, em sua obra Dualidade Básica da Economia Brasileira (1999a), a estrutura econômica brasileira veio a se alterar na medida do aparecimento do capital mercantil, no interior da economia brasileira. Assim, segundo MAMIGONIAN (2000, p.18):

O ponto de partida do esquema explicativo de Rangel foi a constatação de que o sistema mundial capitalistas vive fases de expansão e fases de depressão, isto é, cresce em ciclos de longa duração (ou Kondratieff de cinquenta anos) e os médios (juglarianos de dez anos)

As fases “a” (expansão) dos ciclos longos são momentos de grandes necessidades econômicas, de expansão do território, de investimentos em infra-estrutura, de maior necessidade de alimentos e matérias-primas. Já nas fases “b” (depressão) dos ciclos longos o centro do sistema sente a necessidade de buscar a lucratividade, passando a investir em invenções, que se transformarão em tecnologia, acarretando grandes transformações nos meios de produção. Segundo MAMIGONIAN (1999a) o 1°, o 3° e o 5° Kondratieff se abrem com revoluções industriais, e o 2° e o 4° Kondratieff, com revoluções nos transportes. No entanto, a periferia precisa buscar formas alternativas para as matérias- primas e alimentos que deveriam ser exportados, para sustentar a economia, aos países

centrais, mas como esses países passam por problemas, devido a instabilidade econômica ou política, isso ocorre em menor freqüência e quantidade, desse modo a periferia é forçada a produzir o que antes importava, pois também possui dificuldades para importar.45

Assim sendo, o setor que está com excesso de capacidade passa para o setor está com falta de recursos, embora, segundo RANGEL (1986a, p.44):

[...] o aproveitamento da capacidade ociosa se fez de maneira muito incompleta e à custa de grandes perdas, mas o fato histórico, é que se fez. A mão-de-obra que era empregada, antes na produção de excedentes invendáveis de café, foi gradualmente transferida para as cidades, para ser paulatinamente absorvida na construção civil e na formação do capital industrial [...]

Entretanto, a industrialização brasileira foi sendo realizada através de uma ordem inversa, com a industrialização de produtos de bens de consumo, “[...] com a indústria têxtil ocupando lugar conspícuo nesse primeiro setor detonador do processo de renovação do parque”46, e aos pouco passou a desenvolver o setor de bens de produção, e isso só foi

possível devido à contração da capacidade para importar e de métodos institucionais, como controle do câmbio, incentivos fiscais, entre outras medidas, pelo governo federal. Para TAVARES47 (1976, p. 42):

A substituição inicia-se, normalmente, pela via mais fácil de produção de bens de consumo terminados, não só porque a tecnologia nela empregada é em geral, menos complexa e de menor intensidade de capital, como principalmente porque para estes é maior a reserva de mercado, quer a preexistente quer a

44 Segundo SCHUMPETER (1961, p.283) é no período de crise que “[...] a vida econômica se adapta às novas

circunstâncias”.

45 MAMIGONIAN, 2000.

46 RANGEL, 1986b, p.23.

47 Maria da Conceição Tavares segue as idéias de industrialização brasileira da CEPAL, a partir da Teoria dos

Choques Adversos, ou seja, a industrialização brasileira se deu em resposta às dificuldades para importar, a partir principalmente, depois da Grande Depressão de 1930. Segundo SUZIGAN (1986, p.24): “A base da doutrina econômica da CEPAL reside no padrão de relações de comércio exterior entre os países do centro (industrializados) e os países da periferia (América Latina). Esse padrão, segundo o argumento, criou uma divisão internacional do trabalho que impôs aos países da periferia a especialização na produção de produtos primários para exportação para os países do centro, os quais, por sua vez, supriam de produtos manufaturados os países da periferia”. O padrão de crescimento dos países periféricos seria “voltado para fora”. Não acreditamos que a industrialização brasileira se deu desse modo, porém, analisamos, na obra dessa autora suas idéias sobre o processo de substituição de importações. Para mais detalhes sobre o assunto ver MELLO (1986). O autor em epígrafe também acredita que a industrialização brasileira ocorre através de um ‘modelo de crescimento para fora’ para um ‘modelo de crescimento para dentro’, com uma industrialização tardia e provocada pela crise de 1929.

provocada pela política de comércio exterior adotada como medida de defesa48 Assim, é de grande importância o estudo do setor têxtil no país e, também, no estado de Santa Catarina, pela sua expressividade econômica e produtiva.