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1. PARADIGMAS DE CIÊNCIA, EDUCAÇÃO E GESTÃO

1.1. PARADIGMAS DE CIÊNCIA: UM PANORAMA

1.1.2. IMPLICAÇÕES NA GESTÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

1.1.2.2. OS PROCESSOS DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO NO PERÍODO

1.1.2.2.2 FASE COMPORTAMENTAL

A fase organizacional deu grandes contribuições à administração da educação no Brasil. Porém, ficava uma lacuna mostrada pela necessidade de maior atenção à dimensão humana quer em nível subjetivo ou intersubjetivo, revelada também em nível mundial nos segmentos fabris, governamentais e educacionais (Sander, 2007b).

Como já visto, desde o final da Primeira República iniciou-se uma manifestação contra a importação de modelos de administração, em especial, aos modelos da fase organizacional. Essa resistência tornou-se mais ampliada na segunda metade do século XX, com objetivo de resgatar essa dimensão humana da

administração, que foi perseguido pela própria administração pública e, em especial, pelas universidades.

Essa dimensão envolve a implementação dos princípios da Teoria das Relações Humanas (1932) e tem como seu principal representante Elton Mayo. Faz parte da Abordagem Humanística da Administração, bem como apresenta características da Teoria Comportamental da Administração (1940), que pertence a Abordagem Comportamental da Administração, iniciada por Herbert Simon, considerada uma reformulação da Abordagem Humanística em relação ao seu caráter ingênuo e romântico (Chiavenato, 2006).

Na Abordagem Humanística, o bem estar humano começa a ser visto sob ângulos diferenciados – o “homem econômico” cede grande parte do seu espaço ao “homem social”, evidenciando: o caráter democrático da administração; o nível de produção é resultante da integração social; o comportamento individual tem sustentação no grupo; a dinâmica de grupo impõe-se ao método e a máquina. “Essa revolução na Administração ressaltou o caráter democrático da Administração. A ênfase nas tarefas e na estrutura é substituída pela ênfase nas pessoas” (Chiavenato, 2006, p.69).

Na Abordagem Comportamental, o “homem administrativo” busca sua satisfação com o que está ao seu entorno, um lucro adequado, precisando do suficiente e não do máximo. Ele também não precisa procurar todas as alternativas possíveis para tomar decisões. “O termo satisfacer foi introduzido por Simon para significar que o homem se contenta com o que está ao seu alcance, mesmo que seja um mínimo, mas que na situação ou no momento, representa para ele o máximo” (Chiavenato, 2006, p. 101).

A Teoria das Relações Humanas é derivada de uma pesquisa realizada na fábrica de Hawthorne da Western Eletric Company, em Chicago, divulgada em 1932. Tem como objetivos verificar a eficiência dos operários perante as condições de trabalho, em uma busca de humanizar e democratizar a administração. Ficou comprovado que o fator psicológico é preponderante ao fisiológico em relação à eficiência do operário, resultados que promoveram novos conceitos em administração, envolvendo as necessidades psicológicas e sociais do trabalhador

convergindo para a cooperação humana. Mayo, ao partir do princípio de que o trabalho é uma atividade tipicamente grupal, conclui que as reações do operário dependem mais do grupo do que de si próprio, fomentadas pela organização informal. Assim, “O ser humano é motivado pela necessidade de ‘estar junto’, de ‘ser reconhecido’, de receber adequada comunicação” (Chiavenato, 2006, p.67).

Os trabalhos de Herbert Simon foram sistematizados na Teoria das Decisões, um estudo sobre o processo do comportamento humano-organizacional, situando que nos vários níveis hierárquicos todos estão continuamente tomando decisões em seu trabalho, definindo seus conceitos no livro O Comportamento Administrativo (1947). Segue-se Chester Barnard (1971), que observou os sistemas cooperativos e o desempenho das funções em relação à eficiência e eficácia, valorizando a organização como sistemas grupais, a incluir também a individualização das pessoas, suas capacidades e limitações (Chiavenato, 2006 & Sander, 2007). Segundo Correa e Pimenta (2005), esta abordagem

Ocupa-se da seleção, do treinamento, do adestramento, da pacificação e ajustamento da mão de obra para adaptá-la aos processos de trabalho organizados. Interessa-se basicamente pelas condições sob as quais o trabalhador pode ser induzido, de maneira mais eficiente e eficaz, a cooperar no esquema de trabalho proposto (Correa & Pimenta, 2005, p. 28).

Essas teorias têm por base duas ciências que estudam a conduta humana – a Psicologia comportamental e a Sociologia de orientação funcionalista. Por isso, sua adoção favorece novas práticas à administração, tais como: a dinâmica de grupo, a análise transacional, a formação de líderes e o desenvolvimento de sistemas (Sander, 2007b). Essas técnicas, no Brasil, foram mais utilizadas na administração empresarial, enquanto que na administração pública foram rareadas pelo estado de submersão na tradição burocrática. Contudo na área educacional pública, que clamava por novas abordagens, passaram a ser amplamente utilizadas, em especial por meio do enfoque sistêmico, ao trabalhar as dimensões individual e institucional da administração, numa tentativa de ultrapassar o mecanicismo dos sistemas fechados relativos ao enfoque tecno-burocrático da fase organizacional (Sander, 2007a).

Assim, na educação brasileira, a perspectiva sistêmica foi avaliada como positiva pelo seu conceito integrador, porém mostrou suas deficiências no que se refere as práticas de caráter psicossociológico do pensamento pedagógico e administrativo pós-guerra, por estarem associadas às questões de caráter jurídico e tecnocrático, próprios do formalismo colonial, bem como aos seus demais aspectos mecanicistas, que acabaram com projeções dominantes nesta fase do período republicano, o que contribui para identificar “a falácia comportamental vinculada às concepções e práticas organomórficas do funcionalismo psicossociológico que caracterizou o pensamento pedagógico e administrativo do pós-guerra” (Sander, 2007b, p. 41).

As Teorias de Taylor e Fayol e Weber deram base a outros modelos que surgiram, apresentando concepções específicas de como organizar o trabalho, no qual influem vários fatores, tais como: pessoas, informações, produtos, planejamento. E as posteriores, que buscam a dimensão humana, ao levar em conta outros fatores, tais como: descentralização, flexibilidade, trabalho em equipe. Contudo, mesmo apresentando uma forma mais sofisticada de atingir seus interesses para a obtenção dos lucros e ter avançado também na valorização de seus empregados como ser humano, a reconhecer suas capacidades de pensar e agir, e ter ultrapassado a concepção de considerá-los como um recurso a mais indispensável na produção, ainda assim, esses objetivos são forças refinadas aos fins capitalistas.

Esses determinantes econômico-sociais que regem o capitalismo, muitas vezes são esquecidos ou até mesmo incompreendidos pelo educador, o que pode levar seu olhar para um foco quase romântico ou moralista sobre a realidade exterior. Daí a necessidade de uma determinada compreensão dos fatores emergentes do mundo capitalista, de sua estrutura socioeconômica, para que se possa desenvolver uma visão crítica sobre as questões-problema da gestão educacional, uma vez que neste mundo estamos imersos. É importante reconhecer as múltiplas congruências existentes entre os componentes de gerência educacional, necessários ao controle do trabalho de seus atores e a gerência de produção capitalista, entendendo que esta segunda “serve de mediação da exploração do trabalho pelo capital” (Paro, 2006, p.15).

Torna-se importante estabelecer comparações entre processo de produção capitalista e as formas de produção no contexto educacional, no sentido de compreender os conhecimentos básicos que regem os determinantes socioeconômicos sobre a natureza da atividade administrativa da sociedade atual.

Paro (2006), como forma didática, situa a educação em uma instituição privada de ensino como empresa capitalista, em que o processo de produção apresenta características mais visíveis de um verdadeiro trabalho produtivo do que em uma instituição pública. “É produtivo o trabalhador que executa trabalho produtivo, e é produtivo o trabalho que gera diretamente mais valia, isto é, valoriza o capital” (Marx, 1978 apud Paro, 2006, p.136).

Segundo a concepção capitalista de Marx, trabalho produtivo, é o trabalho que, além de produzir a parte destinada ao salário do trabalhador, a qual é o valor da sua própria força de trabalho, produz ainda mais valia (valor excedente) para o capitalista. Portanto, por ser considerado capitalista, o empresário da educação, ao comprar a força de trabalho, seu interesse deverá extrapolar a “utilidade do produto” a ser apresentado como resultado, uma vez que, como investidor do capital, ainda que preocupado com as questões da educação, sua preocupação maior é que esse processo resulte em um valor maior que o capital inicialmente investido (Paro, 2006).

Neste sentido, o trabalho do professor é considerado um trabalho produtivo, uma vez que o empresário usufrui da mais valia de sua força de trabalho, visto que em suas atividades há excedentes dirigidos ao empresário. Como diz Marx:

Um mestre-escola é um trabalhador produtivo se ele não apenas trabalha as cabeças das crianças, mas extenua a si mesmo para enriquecer o empresário. O fato de que este último tenha investido seu capital numa fábrica de ensinar, em vez de numa fábrica de salsichas, não altera nada na relação (Marx, 1983 apud Paro, 2006, p.138).

Porém, o mais importante é entender que do ponto de vista capitalista, o trabalho educacional, além de um trabalho produtivo é considerado como um trabalho humano em geral, por ser dirigido a um fim, sendo que este fim recai novamente em um ser humano – o aluno –, considerado não só como um objeto de trabalho ou consumidor de um produto, mas um co-produtor deste processo de

produção, que juntamente com outros seres humanos que fazem parte do processo pedagógico de produção, onde o papel da gestão é de fundamental importância.

Entender também que, a escola como organização integrante ao mundo capitalista, acaba por atender aos seus interesses, e ainda hoje, como na Era Industrial, ainda que de forma diferenciada, continua formando pessoas para servi- lo, visto que, ao estar contida dentro de um sistema hegemônico, busca atender em primeiro lugar aos interesses de seus donos do mundo, os quais tem a gerência total desse sistema, portanto, uma instituição, que coletivamente, trabalha em prol do capitalismo.