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Fase pré-contratual, contratual e pós-contratual

2 RESPONSABILIDADE CIVIL

2.4 RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR

2.4.1 Fase pré-contratual, contratual e pós-contratual

A boa-fé deve estar presente em todas as fases, justamente porque é importante que as relações ocorram premidas da necessidade de ambos agirem corretamente.

A boa-fé é a fonte dos deveres anexos, pois faz com que os contratantes tenham o dever de não apenas se abster de praticar atos faltosos ou desleais, mas sim, de agir e de praticar atos em conformidade com padrões éticos em todas as fases contratuais, ou seja, nas fases de negociação, tratativas e execução do contrato. (ANDRADE, 2010).

Para Dallegrave Neto (2008, p. 121):

Tanto o dano pré-contratual quanto o pós-contratual, geralmente decorrem da violação de um dever de conduta imanente à figura dos sujeitos do contrato, pautados no princípio da boa-fé. O princípio da boa-fé objetiva excede o âmbito contratual,

traduzindo-se no dever de agir com lealdade, lisura e consideração como outro sujeito da relação. Isso pode ocorrer já no momento das negociações preliminares ou mesmo após a rescisão do contrato.

A boa-fé é um princípio e está positivado no artigo 422 do Código Civil. Nas palavras do referido dispositivo legal: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. (BRASIL, 2002).

Pelo princípio da boa-fé objetiva, os contratantes precisam observar um padrão ético de conduta na formação, na execução e após a conclusão do vínculo contratual. Entende-se que este princípio cria no contrato deveres gerais de conduta (deveres anexos, deveres conexos), além das cláusulas escritas (criadas pela autonomia da vontade das partes). Os principais deveres gerais são o dever de informação (que envolve o acesso à informação contratual e a compreensão dessas informações), o dever de assistência (pré e pós-contratual) e o dever de cooperação (ligado ao princípio da solidariedade – as partes devem cooperar para que o contrato seja cumprido da melhor forma). (VALERA, 2016).

A responsabilidade pré-contratual tem como fundamento jurídico a boa-fé objetiva, e sendo assim, o padrão ético de lealdade e dignidade deve reger todas as relações jurídicas realizadas pelos envolvidos na relação de trabalho. Essa responsabilidade poderá ser tanto do empregador quanto do empregado, por causa dos danos causados na relação jurídica de direito do trabalho. (ANDRADE, 2010).

A fase pré-contratual é a fase que antecede o contrato, sendo considerada a fase das tratativas, da negociação, onde as partes conversam e colocam em foco sua opinião e suas vontades. Assevera Coelho (2008, p. 86) sobre os deveres anexos na relação de trabalho:

Trata-se da função mais relevante da boa-fé na fase pré-contratual e que cria para ambas as partes um determinado standart de comportamento no sentido de propiciar o alcance da finalidade do contrato. Tais deveres decorrem diretamente da noção de obrigação como processo complexo e que atingem à conduta das partes. Não se confundem com os deveres referentes à obrigação principal ou complementar, e sim visam a resguardar os interesses dos envolvidos na relação negocial.

É importante destacar sobre o dano moral decorrente da relação de trabalho, que quando ainda não existe relação empregatícia entre as partes, ele pode ser configurado nas tratativas da fase pré-contratual e pós-contratual, não só nas relações que se desenvolvem entre empregado e empregador, mas também durante o cumprimento do contrato de trabalho. (MELO, 2007, p. 86).

Neste sentido, quando na fase pré-contratual temos o descumprimento do que foi acordado entre as partes, existe a possibilidade de reparação, tanto de danos morais quanto de danos materiais. Dallegrave Neto (2008, p. 107) afirma que “a reparação do dano pré- contratual atende ao chamado interesse negativo, o que vale dizer: as despesas e prejuízos relativos à frustração da formação do contrato”.

Segue abaixo jurisprudência do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região que afirma este entendimento, e nesta situação em específico arbitra indenização por danos morais:

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PROMESSA DE CONTRATAÇÃO. CARACTERIZAÇÃO. A jurisprudência trabalhista tem entendido que as fases preliminares de negociação e seleção a uma vaga de trabalho geram para o trabalhador expectativa de contratação, caracterizando um pré-contrato, a teor do art. 422 do Código Civil, bem como que o descumprimento de obrigações a que se comprometeram as partes, é capaz de ensejar reparação civil. Existindo nos autos prova de que a empresa realizou promessa de futura contratação do autor, correta a sentença que deferiu a indenização por danos morais. (DISTRITO FEDERAL, 2015). E ainda, jurisprudência do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região:

DANO MORAL PRÉ-CONTRATUAL CONFIGURADO. O dano moral atinge o patrimônio imaterial ou não patrimonial da pessoa física e pode se consubstanciar na forma de dano pré-contratual. Este ocorre, por exemplo, quando a empresa ilude o trabalhador, causando-lhe expectativa exacerbada de contratação, mormente quando a fase das tratativas inclui a realização de exames admissionais, gerando no obreiro a quase certeza da admissão, que, por fim, não ocorre. (PERNAMBUCO, 2010). Isso ocorre porque, com a expectativa de que o contrato de trabalho vai se perpetrar, muitas vezes o funcionário que é a parte hipossuficiente desta relação tem gastos e despesas, até com estudos, materiais, livros, roupas, enfim, fazendo o investimento justamente porque tem a expectativa de que será contratado para o cargo que deseja desempenhar, deixando até mesmo de realizar outros contratos de trabalho.

Dallegrave Neto (2008, p. 107) afirma que:

Na esfera das negociações preliminares que objetivam a celebração do contrato de trabalho tal ilação se evidencia, vez que as partes, sobretudo no momento da entrevista, já ostentam a condição de contratantes. Logo, eventual dano decorrente desse momento envolverá agente e vítima na condição de jurídica de trabalhador e empresa empregadora, violando o princípio da boa-fé não como direito geral e absoluto, mas com um direito relativo aos pré-contratantes.

Assim, comprovando-se a existência de dano na fase pré-contratual e se ele atinge a esfera da vítima (empregado ou empregador), deve de alguma forma ser reparado. A fase de elaboração e expectativa é aquela que antecede o contrato de trabalho. Ela comporta deveres e certos cuidados que devem ser realizados para que estejamos diante de uma negociação saudável e sem danos.

A fase contratual é considerada a fase de execução do contrato de trabalho. Aqui podem ocorrer diversas situações, sejam elas normais para o ambiente de trabalho ou até degradantes a ponto de gerar prejuízos e danos e ocasionar o dever de reparação para amenizar os sofrimentos.

O contrato de trabalho tem sua definição no “caput” do artigo 442 da Consolidação das Leis do Trabalho. É considerado um ato jurídico, como esclarece o artigo 104 do Código

Civil, sendo necessário que contenha “agente capaz; objeto lícito, possível, determinado ou determinável; forma prescrita ou não defesa em lei”. (BRASIL, 2002).

Os danos e as situações prejudiciais podem ser ocasionados na fase contratual tanto pelos empregados quanto pelos empregadores, uns contra os outros. Ocorrendo, existe a indenização como forma de reparação dos danos sofridos. Melo (2007, p. 87) afirma:

É na fase de execução do contrato de trabalho que as agressões aos bens personalíssimos do trabalhador se revelam com maior incidência, muito embora as demandas indenizatórias a este título acabem por ser propostas somente após a extinção do vínculo empregatício.

É nesta fase que várias práticas ilícitas podem ocorrer. O empregador pode atribuir a ocorrência de furtos e faltas graves para demitir o empregado, inclusive, pode-se encontrar nesta fase a incidência de assédio moral, assédio sexual, discriminações, invasão de privacidade, exposição de imagem, trabalho escravo e tantos outros ilícitos capazes de ocasionar danos. (MELO, 2007, p. 87).

Ocorrendo ilícitos que ocasionam danos e prejuízos na relação de trabalho e principalmente durante o contrato de trabalho, surge para aquele que os praticou o dever de indenizar, observando-se o nexo causal entre o dano e a ação ou omissão da parte. A indenização é o remédio que ajudará na reparação, independentemente se é moral ou material. Já a fase pós-contratual é aquela que sucede ao contrato de trabalho, ou seja, a fase posterior ao contrato, quando a boa-fé deve continuar presente, aliás independentemente da fase contratual em que se encontre.

Lopes (2006, p. 47) melhor esclarece o que é a responsabilidade pós-contratual: A responsabilidade pós-contratual, também chamada de culpa post pactum finitum, caracteriza-se pelo dever de responsabilização pelos danos advindos após a extinção do contrato, independentemente do adimplemento da obrigação. Pode-se dizer que a responsabilidade pós-contratual é uma projeção da responsabilidade pré-contratual, guardando-se as devidas particularidades. (LOPES, 2006, p. 47).

Nesta fase podem ocorrer afrontas aos direitos personalíssimos do trabalhador como também aos direitos da honra da empresa; isso porque após o término do contrato de trabalho, via de regra, os ânimos ficam acirrados e podem ocasionar ataques à honra das partes envolvidas na ex-relação empregatícia. (MELO, 2007, p. 88).

Uma das principais situações que autorizará o trabalhador, e também a empresa, a exigir indenização por danos morais é a divulgação de fatos desabonadores inverídicos. No curso da relação de emprego, tanto empregado quanto empregador devem pautar seus procedimentos dentro do mais estrito respeito aos princípios da confiança e da boa-fé. O término da relação de emprego não põe fim a essa obrigação. (MELO, 2007, p. 88).

Esta responsabilidade também segue com clareza o que o artigo 422 do Código Civil expõe sobre os contratos, a boa-fé é essencial e ela deve estar presente em todas as fases contratuais, inclusive na conclusão do contrato, na fase pós-contratual. (BRASIL, 2002).

As relações contratuais, mesmo depois de acabadas, não podem gerar lesões para terceiros ou desproporções entre aqueles que foram contratantes.

Mesmo após a extinção do contrato, uma cláusula abusiva que continua gerando efeitos, com o cumprimento daquilo que outrora fora acordado, fere a função social do contrato, fato este passível de responsabilização civil. Ainda que extinta, uma avença poderá ser revista se comprovada a violação de deveres anexos ou acessórios ao contrato. (VARGAS, 2011).

Esta fase, vale lembrar, da responsabilidade civil pós-contratual, assegura que por mais que o contrato tenha acabado, algumas responsabilidades são devidas para as partes contratantes, e se uma dessas partes envolvidas no contrato de trabalho as descumprir, sofrerá as consequências, ou seja, o dever de reparar e arcar com prejuízos que ocasionou.

O Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região traz julgado onde temos configurado o dano moral pós-contratual, sendo imputados fatos desonrosos à trabalhadora, depois de extinto o contrato de trabalho:

TRT-PR-26-06-2007 DANO MORAL PÓS-CONTRATUAL - IMPUTAÇÃO DE FATOS DESONROSOS À RECLAMANTE DEPOIS DE EXTINTO O CONTRATO DE TRABALHO - COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO - A competência material da Justiça do Trabalho alcança a apreciação de pedido que verse sobre dano moral decorrente da imputação de conduta desonrosa à reclamante, ainda que o ato lesivo tenha ocorrido depois da extinção do contrato de trabalho. Deduz-se que o suposto dano guarda identidade com as controvérsias oriundas da relação trabalhista havida entre as partes. Inteligência do disposto nos artigos 5º, incisos V e X, e 114 da Constituição Federal. Recurso ordinário da reclamante conhecido e provido. (PARANÁ, 2007).

A maioria das ações trabalhistas são interpostas nesta fase, já que as partes não estão mais vinculadas contratualmente e também pelo vínculo empregatício que não mais existe. Até porque, dificilmente um empregado processaria seu empregador estando na relação contratual.