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CAPÍTULO III: METODOLOGIA

3.2. Procedimentos metodológicos

3.2.4. Fases do projeto

O projeto de intervenção Vamos conhecer o nosso mundo foi desenhado e desenvolvido de acordo com as fases seguintes:

• Fase diagnóstica: destinada à observação e levantamento dos interesses e das necessidades das crianças, definição do problema e questões geradoras;

• Fase de intervenção: levantamento das conceções prévias das crianças, definição das questões a investigar; formas de pesquisa; formação do desenho global e desenvolvimento das atividades;

• Avaliação e divulgação do projeto: balanço final do impacto das atividades, exposição na instituição com as produções das crianças, avaliação do projeto de intervenção por parte dos pais.

O modo como foram definidas no projeto, bem como aquilo que foi realizado em cada uma das diferentes fases, é o que passamos, de seguida, a descrever.

Fase diagnóstica

Nesta fase inicial, em que se pretendia fazer o levantamento das necessidades e interesses das crianças, começou-se por observar a relação que estas estabeleciam com os livros e com os diferentes tipos de texto. As primeiras observações permitiram perceber que estas se mostravam entusiasmadas sempre que acediam a novos livros — sobretudo, literários —. Contudo, não frequentavam a área da leitura, o que fazia com que o contacto com os livros fosse muito reduzido. As crianças demonstravam, para além disso, o seu fascínio pelas ciências e a sua predisposição

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para saber mais neste domínio. Posto isto, importava promover, antes de mais, o contacto das crianças com os livros informativos, especialmente as enciclopédias, de forma a encontrar pontos de interesse que pudessem ser explorados.

Para isso, em conjunto com a colega de estágio Tânia Carvalho, procedeu-se à criação um recurso didático ao qual, mais tarde, por sugestão das crianças, se deu o nome de Jogo da Raposa Tramosa. Aproveitando o facto de, neste jogo, existir uma raposa que caça galinhas e outra que as salva, foram lançadas algumas questões ao grupo, entre elas: Existem raposas boas e raposas más?; Como são as raposas?; Onde vivem?. Deste modo, foi possível fazer o levantamento das conceções prévias do grupo, não só relativamente ao animal como, também, aos instrumentos que permitiam obter informações acerca do mesmo. Dispositivos tecnológicos como tablets, computadores ou telemóveis foram mencionados como meios de obter informação, não tendo surgido qualquer referência aos livros.

Perante o desconhecimento das crianças, foi feita uma pequena introdução às enciclopédias, destacando funções e constituintes destes objetos, alguns, comuns aos livros literários. Seguiu-se a consulta nas enciclopédias, selecionadas criteriosa e estrategicamente, para que tentassem saber mais sobre este animal. Perante os vários livros estas demonstraram interesse, não apenas pelo animal em estudo, como por diversas temáticas ali presentes. É o caso do globo terrestre e dos diferentes continentes/países que o ocupam, geograficamente. Apresentaram, durante este primeiro momento, um grande fascínio pelas bandeiras de cada país e pelas imagens que caraterizavam os povos e a cultura daquelas regiões. À medida que as imagens despertavam o seu interesse, solicitavam aos adultos que fizessem a leitura dos textos. A discussão final em torno das descobertas que fizeram sobre as raposas, mas, sobretudo, sobre os diversos países, permitiram abrir caminho ao diálogo sobre as potencialidades dos textos informativos. Estes elementos definiram o rumo e o tema do projeto.

Partindo deste diagnóstico inicial, as sessões seguintes serviram para dar origem ao núcleo globalizante do projeto (Esquema 2). Este destaca o problema a investigar e as três questões geradoras, a partir das quais este se desenvolveu.

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Fase de Intervenção

Esta segunda fase teve como ponto de partida o problema e as questões geradoras, definidas no momento anterior. Em grande grupo, foram debatidas e registadas as respostas das crianças. As mesmas deram origem ao esquema seguinte, onde constam os seus conhecimentos prévios.

Esquema 2. Núcleo Globalizante do Projeto.

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À medida que se discutiam as diferentes conceções das crianças em relação ao problema inicial, foram surgindo novas questões, que passaram a integrar o projeto como questões a investigar (Esquema 4).

Como pode ser observado no esquema abaixo, dado que, anteriormente, tinham contactado com o livro informativo, no momento de discutir as ferramentas a utilizar para a pesquisa, algumas crianças já referiram as enciclopédias.

Os diferentes momentos de intervenção no âmbito deste projeto foram planeados e realizados de acordo com as solicitações das crianças. Por este motivo, o seu desenho global foi

Esquema 4. Questões a investigar.

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sendo alterado, sucessivamente, ainda que se tenha mantido o núcleo globalizante. Logo que foi possível, estabeleceu-se esse desenho, onde constam as diretrizes do projeto. Antes de mais, importava situar geograficamente o nosso país, para, depois, partir para a exploração dos diferentes continentes e das caraterísticas que distinguem os diferentes povos. O esquema 6 representa a Teia Inicial do Projeto.

Este esquema simples serviu para, de seguida, proceder ao planeamento das atividades a realizar. Estas foram definidas e apresentadas num quadro síntese (Esquema 7).

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Avaliação e divulgação do projeto

De um modo geral, as atividades desenvolvidas no âmbito do projeto Vamos descobrir o nosso mundo foram ao encontro do seu desenho global e do que foi sendo planeado, sessão após sessão. Por ser um projeto conduzido pelas curiosidades que as crianças iam demonstrando e por

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ser um projeto partilhado, ainda que com uma componente autónoma muito expressiva, a sua concretização teve um significativo prolongamento temporal. Para além das alterações sucessivas de que foi alvo, fruto das solicitações das crianças, a educadora da sala também esteve implicada neste projeto, contribuindo com propostas que desenvolvia em simultâneo. No entanto, o conjunto das principais atividades manteve-se.

A cooperação que existiu na concretização deste projeto foi, realmente, um dos pontos mais positivos. Instituição, estagiárias, educadora, auxiliar, crianças e pais formaram uma equipa de trabalho, marcada pela cooperação, onde cada um teve um papel importante. Sempre que uma ideia nova surgia no âmbito deste projeto, a sua implementação era discutida em sala e, mais tarde, comunicada aos pais, que sempre responderam da melhor forma. Estes faziam questão de acompanhar o percurso dos filhos ao longo das diferentes fases da sua implementação e isso foi muito importante para as crianças. Para além de visitarem a sala com regularidade, para verem os trabalhos realizados, e de contribuírem com novos livros, iam dando conta da euforia e expectativa dos filhos relativamente às temáticas abordadas.

As crianças, por sua vez, mostraram-se muito envolvidas em todo o processo e isso tornava-se mais evidente quando desenvolviam atividades de expressão dramática, visual e plástica. Foi muito importante ouvir as crianças e a avaliação que faziam a cada intervenção ou atividade. Foram capazes de expressar aquilo que aprenderam e que mais gostaram e, sempre que, autonomamente, realizavam algo relacionado com as novas aprendizagens, faziam questão de mostrar. Este é, também, um elemento muito importante para avaliar globalmente este projeto. Nem sempre foi fácil manter o foco das pesquisas nas enciclopédias. A quantidade de informação contida nesses livros, bem como a ilustração abundante, obrigou a que se recorresse a estratégias de pesquisa, que desafiassem as crianças a descobrir mais sobre um tema específico. Os desafios eram lançados em forma de jogo, por exemplo, recorrendo a cartas de figuras que as crianças tinham de procurar nos livros e/ou discutir se poderiam pertencer ao continente estudado, colocando-as, de seguida, numa das três caixas disponíveis e devidamente identificadas: pertence, não pertence, temos dúvidas. Geralmente, esta tarefa era desenvolvida em pequenos grupos e as opções eram discutidas no momento de revisão.

Há, no entanto, muitos aspetos positivos a destacar quanto à utilização das enciclopédias. Antes de mais, estes objetos passaram a fazer parte dos instrumentos de pesquisa referidos pelas crianças, o que antes não acontecia. Importa referir, também, que, mesmo estando perante uma

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comunidade não leitora, no final do projeto, grande parte das crianças já reconhecia algumas caraterísticas destes livros informativos. Inclusivamente, distinguiam-nos de outros, como os dicionários ou alguns atlas. As crianças passaram, efetivamente, a permanecer mais tempo na área da leitura, muitas vezes, para procurar novas informações para partilhar, e esta passou a ser a primeira escolha de algumas crianças, que, como já foi dito, iam trazendo novos títulos de casa para colocar na estante. Esta categoria de livros, bem como os produtos das atividades que surgiram da sua utilização, contribuíram, ainda, para a edificação de uma nova área na sala, dedicada ao conhecimento do mundo. Estas foram, posteriormente, reunidas, e serviram para divulgar o projeto aos pais e à comunidade educativa. Através de fotografias, dos trabalhos realizados e dos livros expostos, as crianças contaram como foi o percurso dos últimos meses. Depois, propôs-se aos pais que avaliassem o projeto, respondendo a um pequeno inquérito (Figura 12). As respostas encontram-se na secção dos anexos, acompanhadas de alguns registos fotográficos referentes a atividades autónomas das crianças e à exposição realizada com as suas produções.

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