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Fatores adicionais à Capacidade de Absorção (CA)

No documento STARTUPS E MELHORIA CONTÍNUA (páginas 73-79)

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 CAPACIDADE ABSORTIVA (CA)

2.2.3 Fatores adicionais à Capacidade de Absorção (CA)

Além das dimensões ligadas à CA potencial e realizada, a literatura mostra que há outros fatores que influenciam o processo de absorção de conhecimento nas empresas. Inicialmente, destaca-se que as próprias condições ambientais afetam a CA. Fatores como competitividade do mercado, dinamismo, e as próprias características dos conhecimentos que a empresa necessita afetam os processos de CA (VOLBERDA; FOSS; LYLES, 2009).

A abordagem de Cohen e Levinthal (1990) prioriza os aspectos relacionados à pesquisa e desenvolvimento (P&D) e traz três conceitos adicionais, relevantes para

entender e interpretar a CA. O primeiro conceito é a própria definição de CA, que diz respeito a reconhecer, assimilar e utilizar conhecimento externo em benefício da organização. O segundo se relaciona com a relevância da base de conhecimento interna da organização, que pode ser somada com os conhecimentos externos, permitindo uma compreensão mais profunda que seja útil para o desenvolvimento de inovações na organização. O terceiro diz respeito à criação de papéis exclusivos (“gatekeepers” ou “boundary-spanning”) para o monitoramento e a captura de informações técnicas do ambiente externo, interpretando-as e transmitindo-as de forma que as demais pessoas organização possam entendê-las. Esses papéis são opcionais, pois dependem da dificuldade (ou facilidade) das pessoas da organização em compreender as informações técnicas externas, e também podem ser transitórios (EASTERBY- SMITH et al, 2008; VOLBERDA; FOSS; LYLES, 2009).

Zahra e George (2002) também indicam fatores adicionais que estimulam tanto a CA potencial quanto a CA realizada. Esses fatores são os gatilhos de ativação, os mecanismos de integração social e os regimes de apropriação de conhecimento.

Os gatilhos de ativação são eventos internos ou externos que estimulam a organização a absorver conhecimento, provocando o início de um processo de absorção de conhecimento. Esses gatilhos podem incluir tanto mudanças internas quanto externas à organização. Crises internas, ou mudanças no ambiente externo que afetem a organização são exemplos de eventos que podem provocar esforços no sentido de gerar a aquisição e a assimilação de novos conhecimentos que devem se transformar em inovações (ZAHRA; GEORGE, 2002; EASTERBY-SMITH et al, 2008; ANDRADE, 2009; WEGNER; MAEHLER, 2012).

No contexto da CA, segundo Easterby-Smith et al (2008), os gatilhos de ativação trazem consigo uma percepção de que para as empresas há, permanentemente, ameaças externas ou crises internas. Essa percepção parece ser substancialmente maior atualmente, por causa do crescente aumento das competências produtivas e de novas capacidades nas empresas industriais chinesas, provocando também um aumento na competitividade no mercado mundial. Os autores ainda destacam que esse movimento dessas empresas chinesas não foi causado por uma resposta a inovações externas, mas foi uma ação proativa no sentido de antecipar o desenvolvimento de capacidades para que ficassem à frente dos concorrentes do mercado global, reduzindo pressões e desenvolvendo vantagem competitiva.

Os mecanismos de integração social são eventos, estruturas ou práticas que podem ocorrer em qualquer momento no processo de CA, no intuito de promover maior interação entre as pessoas e os sistemas de gestão do conhecimento (EASTERBY- SMITH et al, 2008). Eles refletem estruturas, políticas formais, espaços e eventos (formais ou informais) que incentivam o compartilhamento de conhecimentos, dentro do contexto da CA. Esses mecanismos também dependem dos níveis de interação com vistas à absorção de conhecimentos. Nesse sentido pode-se inicialmente promover interações visando ao conhecimento intraempresa, para desenvolver melhorias internas ou diferenciais competitivos únicos. Também se pode realizar interações visando ao conhecimento inter- empresas, por meio de parcerias, alianças, ou aquisições, para baratear os custos ou prazos para o desenvolvimento de inovações. Por fim, pode-se desenvolver interações visando ao conhecimento

científico, pelo trabalho cooperativo com universidades ou institutos de pesquisa, normalmente com apoio financeiro público, para estimular os processos de pesquisa e o desenvolvimento de inovações (ZAHRA; GEORGE, 2002; ANDRADE, 2009; SCHMIDT, 2010).

Duchek (2013) destaca a importância dos eventos informais para as empresas que desejam desenvolver a sua CA. Segundo o autor, para estimular esses eventos de integração social é necessário criar um ambiente que induza ao compartilhamento intensivo de conhecimentos entre indivíduos, departamentos ou unidades de negócio, proporcionando oportunidades para a discussão de assuntos complexos relacionados aos produtos em si, ou ao processo de desenvolvimento. Frequentemente, esses eventos informais ocorrem após os eventos formais, quando houver o estímulo à formação de redes sociais entre os participantes.

Outra função dos mecanismos de integração social, de acordo com Easterby-Smith et al (2008), é adicionar movimentação de conhecimentos dentro da empresa, estimulando também a diversidade de perspectivas, uma vez que a homogeneidade de ideias pode levar a resistências para absorver novos conceitos. Os mesmos autores também afirmam que esses mecanismos também são importantes para manter a atividade dos sistemas de gestão do conhecimento nas organizações.

Em alguns casos, os mecanismos de integração social podem desencadear ações para absorver mais conhecimentos. São trabalhos cooperativos, espaços para comunicação aberta, recompensas coletivas, entre outras práticas que não apenas estimular a troca de informações e conhecimentos, mas também retroalimentar a busca por mais conhecimentos. Dessa forma, os mecanismos de integração social também

podem representar gatilhos de ativação (KOHJA; MARANVILLE, 2010).

Os regimes de apropriação definem como a organização constrói vantagem competitiva de acordo com as fontes de conhecimento, que podem ser internas ou externas. Tais regimes ocorrem principalmente após a CA realizada, quando são criadas inovações que precisam ser protegidas e cujos resultados precisam ser maximizados (COHEN; LEVINTHAL, 1990; ZAHRA; GEORGE, 2002; TORODOVA; DURISIN, 2007).

Zahra e George (2002) indicam que os regimes de apropriação visam garantir uma vantagem competitiva sustentável a partir das inovações entregues pelo processo de CA. Em mercados caracterizados pela baixa segurança jurídica em relação à propriedade intelectual, as empresas precisam criar formas criativas para garantir a apropriação das suas inovações, para garantir o efetivo retorno dos investimentos em CA e para que esses resultados não sejam simplesmente copiados por terceiros (TODOROVA; DURISIN, 2007).

Outra contribuição dos regimes de apropriação diz respeito à proteção dos resultados gerados pela CA da empresa. Para tanto, frequentemente as organizações implantam mecanismos de proteção, representadas por práticas de gestão, recursos humanos, tecnologias, além de contratos e outros dispositivos legais (patentes e outras formas de registro de propriedade intelectual). O grau de proteção efetiva desses mecanismos varia de acordo com condições do ambiente externo da organização como, por exemplo, o grau de respeito aos segredos industriais do setor (CAMISÓN; FORÉS, 2010; RITALA; HURMELINNA-LAUKKANEN, 2013).

Também é importante perceber que regimes de apropriação efetivos também ajudam a garantir a própria sustentabilidade da CA das empresas. Isso ocorre

porque os resultados vindos da apropriação das inovações servem também para manter os incentivos e financiamentos para o processo de CA. Da mesma forma, se a apropriação das inovações não for bem sucedida, há uma tendência a reduzir os investimentos no desenvolvimento da CA nas empresas (COHEN; LEVINTHAL, 1990; EASTERBY-SMITH et al, 2008).

Volberda, Foss e Lyles (2010), a partir de uma revisão sistemática da bibliografia, sugerem o estudo de algumas outras variáveis que existem ao redor do processo da CA definido por Cohen e Levinthal (1990) e Zahra e George (2002). Os autores sugerem o estudo dos Antecedentes Gerenciais, que consideram as capacidades de combinação de ideias, os modelos cognitivos presentes nos processos de gestão, e as práticas individuais de construção e compartilhamento de conhecimento. Além disso, também é necessário considerar os antecedentes intraorganizacionais, tais como a estrutura organizacional, os programas de incentivos, e as redes formais e informais de comunicação.

Os antecedentes interorganizacionais também afetam a CA da empresa, principalmente pelos mecanismos de compartilhamento de conhecimentos com outras organizações e os processos de gestão de alianças estratégicas. Os processos de desenvolvimento e transferência de conhecimentos com parceiros e redes de relacionamento (VOLBERDA; FOSS; LYLES, 2009).

No documento STARTUPS E MELHORIA CONTÍNUA (páginas 73-79)