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FATORES DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DE EVENTOS CV

PROJETO IV RASTREIO CARDIOVASCULAR

2. FATORES DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DE EVENTOS CV

Devido à natureza multifatorial da doença, é fundamental o desenvolvimento de estratégias de prevenção primária que permitam diminuir a incidência das DCV, através da remoção ou diminuição da contribuição dos fatores de risco [83]. No caso específico das DCV, estes fatores de risco interagem, muitas vezes, de forma exponencial [80]. A maioria das DCV são provocadas por fatores de risco que podem ser controlados, tratados ou modificados [84]. Estes denominam-se de fatores de risco modificáveis e incluem:

x Tabaco: Acredita-se que o fumo do tabaco seja responsável por cerca de 10% de todas as DCV. Fumar praticamente dobra o risco de desenvolver DCV. Após a absorção pulmonar, os químicos presentes no fumo de tabaco podem danificar os vasos sanguíneos. O risco de desenvolver DCV diminui rapidamente após a cessação tabágica, sendo necessários alguns anos (cerca de 15) para o risco associado ao tabaco desaparecer totalmente [84-86].

x Falta de atividade física: Pessoas fisicamente ativas têm menor risco de desenvolver DCV. De facto, pessoas insuficientemente ativas têm um risco aumentado de 20 a 30 % de todas as causas de mortalidade. Os benefícios para a saúde são notórios aquando da prática de 30 minutos de atividade física

moderada, em pelo menos cinco dias da semana. Estes benefícios incluem redução da PA, controlo do peso e diminuição do perímetro abdominal. Deve-se optar por atividades físicas aeróbicas que envolvem, por exemplo, corrida, bicicleta, natação, mas também atividades comummente realizadas no quotidiano (andar, subir escadas, etc.) [84-87].

x Obesidade: O excesso de peso aumenta o risco de desenvolver DCV, DM, dislipidemias e certos tipos de cancro. Acredita-se que, para além do peso corporal, a distribuição do tecido adiposo também contribua para a ocorrência de DCV. Assim, o risco é mais marcado quando o excesso de gordura se localiza na zona do abdómen. O perímetro abdominal deverá ser inferior a 94 cm nos homens e 80 cm nas mulheres. A obesidade está associada, geralmente, a um aumento da PA, da resistência à insulina, do c- LDL e TG, bem como a muitas anomalias CV e cerebrovasculares [84-87].

x Dieta desequilibrada: Uma dieta equilibrada ajuda no controlo da obesidade e dos níveis de colesterol, com consequente diminuição do risco de desenvolver DCV. Óleos de peixe (ácidos gordos omega-3), frutas e vegetais (antioxidantes) parecem proteger contra as DCV, enquanto comidas ricas em gorduras saturadas e o excesso de sal estão relacionadas com aumento do risco [84, 85].

x Excesso de álcool: O consumo moderado de álcool parece ter efeitos positivos na redução do risco CV. No entanto, em excesso, o álcool contribui para o aumento do risco, por danificar o miocárdio e originar batimentos cardíacos irregulares. Por outro lado, contribui para o aumento de peso, elevação dos TG e da PA, etc [85].

x HTA: A nível mundial, a HTA é considerada a causa principal das DCV. A PA elevada parece danificar os vasos sanguíneos, aumentando a tensão nas paredes destes, contribuindo para o desenvolvimento de DCV. Como se trata de uma doença silenciosa, é necessário medir regularmente os valores de PA. A redução destes valores em doentes com HTA está associada a menor taxa de mortalidade e morbilidade, independentemente do nível de risco Systematic Coronary Risk Evaluation

(SCORE) [82, 84-87].

x Hipercolesterolémia: O colesterol é vital para o desenvolvimento celular, mas, quando em excesso, pode depositar-se na parede das artérias e bloqueá-las. Na generalidade, quanto maior os níveis de colesterol, maior o risco de desenvolver DCV. Uma das principais formas de diminuir o risco de desenvolver DCV consiste na diminuição dos níveis de colesterol e adoção de uma dieta hipolípidica [84- 86]. Os níveis de c-LDL estão associados a risco CV aumentado, verificando-se que desordens genéticas que aumentem os níveis de c-LDL no plasma estão associadas a um probabilidade mais elevada de ocorrência destes eventos. As partículas de c-HDL são responsáveis pela transferência de colesterol dos tecidos periféricos para o fígado para este ser removido. Assim, níveis elevados de c-HDL estão associados a menor risco CV. De facto, verifica-se que para valores de c-HDL < 40 mg/dl, em homens, e < 45 mg/dl em mulheres, o risco de ocorrência de DCV é maior [82, 87].

x Hipertrigliceridémia: Elevados níveis de TG estão associados a aumento do risco de desenvolver DCV. Níveis elevados de TG estão geralmente associados a baixas quantidades de c-HDL, o que predispões para a ocorrência de eventos CV. A perda de peso, prática de exercício regular e diminuição do consumo de álcool parecem reduzir os níveis de TG [82, 85, 86].

x DM: O risco de DCV é duas ou três vezes maiores em pessoas com DM. Assim, o controlo dos níveis de glicemia é muito importante e permite diminuir o risco de desenvolver a doença. Para além disso,

utentes com DM têm piores prognósticos após acidentes CV do que pessoas sem DM. Não é de estranhar que as DCV estejam associadas a cerca de 60% das mortes de pessoas com DM. Os diabéticos tendem a apresentar baixas quantidades de c-HDL, partículas de c-LDL aterogénicas e elevada quantidade de colesterol very-low-density lipoproteins (c-VLDL). Estas características são designadas de dislipidémia diabética e são muito aterogénicas [84-87].

Há ainda a considerar fatores de risco não modificáveis como:

x História familiar: Se um parente em primeiro grau teve um acidente CV antes dos 55 anos (para parente masculino) ou dos 65 (para parente feminino) o risco de desenvolver DCV é mais elevado [84, 85]. x Sexo: Os homens estão em maior risco de desenvolver DCV do que as mulheres antes da menopausa. Quando a menopausa é atingida o risco é semelhante para os dois géneros [84, 85].

x Idade: As DCV são mais comuns em pessoas com idade mais avançada devido a mudanças fisiológicas que ocorrem no coração. Assim, o miocárdio relaxa menos eficientemente após os batimentos cardíacos, o que dificulta a contração dos ventrículos e o bombear de sangue para o corpo [84, 85].

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