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Em crianças, especialmente nos primeiros anos de vida, o estado nutricional é reflexo das condições ambientais as quais ela está exposta, como o tipo de alimentação, adoecimento, condições de moradia, saneamento básico, dentre outros 99. Em crianças, o ganho ponderal sofre influência de vários fatores como ambiente social e econômico, escolaridade e Índice de Massa Corporal (IMC) maternos 100. Hábitos alimentares de lactentes são influenciados pela família, representada pela figura materna, visto que a mãe é considerada a principal responsável pelos cuidados com o lactente 58.

Em relação à amamentação, a prevalência de aleitamento materno exclusivo em crianças menores de seis meses no Brasil aumentou de 3,1% na década de 1980 para 38,6% em 2006, mostrando um crescimento de mais de dez vezes nesse período de tempo 91. Porém, essa prevalência varia entre as regiões do país. Crianças de zero a um ano de idade que frequentam creches, cujas genitoras possuem maior idade, renda e escolaridade e que residem com quatro ou mais moradores no domicílio têm maior associação negativa a manutenção do aleitamento materno, especialmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil 101.

No Brasil, as diferenças regionais também interferem diretamente no consumo alimentar. Em crianças menores de seis meses, que residem nas regiões Sul e Centro-Oeste, o alimento mais precocemente introduzido na dieta é o chá, enquanto que nas regiões Norte e Sudeste são os sucos e na região Nordeste são outros tipos de leites e mingau 102. Em estudo realizado no Nordeste do Brasil, observou-se um elevado consumo de carboidratos, em especial de farinhas espessantes acrescidas ao leite de vaca devido à crença desse alimento como importante para saúde infantil 103.

A idade materna está relacionada à introdução precoce de alimentos na dieta do lactente 104. Em estudo realizado com mães adolescentes, foram observadas taxas de aleitamento materno de 60% no primeiro mês e de 10% no terceiro mês de vida da criança 105. Mães com mais idade tem maior experiência e conhecimento e, consequentemente, maior acesso as informações sobre os benefícios da amamentação, aumentando as chances de amamentarem exclusivamente até o sexto mês 105-106 .

Em relação ao estado civil, residir com o companheiro aumenta 1,27 vezes a chance de amamentar exclusivamente até o sexto mês de vida 107. O apoio do cônjuge com o encorajamento e uso de expressões verbais de valorização do aleitamento materno configura- se como atitudes positivas para promoção do AM 105.

O consumo mais elevado de frutas, legumes e verduras, carne e ovos, aliado a menor ingestão de alimentos industrializados, é diretamente proporcional a melhores níveis de escolaridade materna e inversamente proporcional ao estabelecimento de hábitos de vida sedentários pela mãe e o maior tempo em frente a televisão 108. A maior escolaridade materna e a realização de consultas pré-natal são fatores de proteção para amamentação exclusiva até os quatro meses de vida 109.

Mulheres que fumam e/ou tiveram algum episódio depressivo ao longo da vida e/ou têm insônia ou que encararam o parto como um evento traumático têm aproximadamente 2 a 3 vezes mais chances de introduzir alimentos na dieta da criança antes dos quatro meses de idade 109. Experiências prévias bem sucedidas com amamentação aumenta 1,27 vezes a chance de manter o AM até o sexto mês de vida 107. A amamentação de filhos de gestações anteriores configura-se como fator de proteção pois o ato de amamentar não se constitui como algo instintivo, necessitando de tempo para aprendizagem da técnica correta 105.

O nível socioeconômico materno influencia na qualidade da alimentação, em relação ao consumo de alimentos saudáveis 108. A renda familiar corrobora no estabelecimento de práticas alimentares mais saudáveis na infância, pois influencia na disponibilidade, quantidade e qualidade dos alimentos consumidos pela família 110.

A mídia televisiva também exerce influência sobre a alimentação infantil. A televisão, veículo de comunicação mais procurado para obter informações, dissemina propagandas com mensagens persuasivas e atraentes de alimentos com alta densidade calórica, ricos em gorduras, carboidratos, pobres em fibras alimentares e com praticidade no preparo de refeições, influenciando nas escolhas dos pais ou responsáveis e no consumo inadequado dos alimentos por parte das crianças 111.

A utilização de chupeta nas duas primeiras semanas de vida duplica o risco de introdução precoce de alimentos na dieta do lactente 109. A utilização de bicos artificiais modifica a anatomia da cavidade oral, prejudicando o desenvolvimento motor-oral e consequentemente as funções de mastigação, deglutição, dentre outras 14.

Em crianças maiores de seis meses, a dieta adquire as características da família, expondo a criança aos alimentos que formarão as bases de seus hábitos alimentares 12. Os resultados de um estudo realizado em três capitais brasileiras com crianças de 4 a 12 meses evidenciaram um risco nutricional aumentado para lactentes durante o primeiro ano de vida, devido curta duração do aleitamento materno, uso do leite de vaca integral, introdução

precoce de alimentos industrializados ricos em lipídeos, açúcar e sal na dieta, aliados a baixa ingestão de micronutrientes, especialmente aqueles relacionados às defesas do organismo 21.

Assim, devido às especificidades e às dificuldades inerentes ao processo de alimentação no primeiro ano de vida da criança, são necessárias orientações direcionadas às demandas nutricionais de cada criança 12. As estratégias para promoção da alimentação infantil saudável devem ser formuladas com base na interação entre os profissionais de saúde e família, de modo que seja construída uma rede social de cuidados que apoiem os atores envolvidos na assistência à criança.