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Todo o processo – desde a construção do questionário à produção do relatório de análise – foi, para mim, um dos mais interessantes e motivadores durante todo o estágio na ANQ. Foi esta actividade que me deu a motivação inicial no “arranque” do meu estágio, já que fazia parte de um dos objectivos principais da equipa “Informação,

Atendimento e Acompanhamento” do DCNO para o ano de 2008. E teve alto valor

formativo, na minha perspectiva.

Até à realização do estágio curricular, não havia tido oportunidade de elaborar e analisar estatisticamente muitos questionários pelo que esta actividade se tornou um desafio. Senti realmente a responsabilidade de fazer um bom trabalho já que era uma actividade que iria ter muita visibilidade nos Centros Novas Oportunidades e, por isso, foi necessário reflectir muito bem sobre a melhor forma de construir este questionário de forma a que se conseguisse obter dados para atingir os objectivos lanços para a actividade. Tive, então, de relembrar vários aspectos sobre a construção e organização de um questionário, nomeadamente sobre a definição das variáveis. Além disso, tive de reforçar os conhecimentos que havia adquirido na licenciatura sobre o programa estatístico SPSS que devo dizer que gostei imenso de voltar a manusear. E aquando do tratamento dos dados no SPSS, nomeadamente na criação dos gráficos e tabelas, não senti grandes dificuldades pelo que os pequenos erros (de values que não tinham sido inseridos) foram facilmente resolvidos.

Em termos da produção do relatório com a apresentação dos resultados, bem como de uma interpretação crítica desses, importa referir que senti alguma pressão para

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64 fazer um bom texto de análise para que todos os que tivessem oportunidade de ler conseguissem compreender os resultados obtidos. No entanto, depois de começar a redigir o texto e a analisar os valores obtidos, rapidamente consegui ganhar ritmo para terminar o relatório. E, principalmente depois de receber um bom feedback sobre o trabalho que tinha feito, foi realmente compensador ter-me esforçado para alcançar um rigor e qualidade.

Foi esta actividade que me fez pensar sobre a relação que existe entre a ANQ e os Centros Novas Oportunidades, na medida em que os resultados obtidos com o questionário me deram algumas pistas sobre o tipo de ligação que existe entre as duas partes. Pelos resultados do questionário, percebemos que o trabalho da ANQ, particularmente do DCNO, tem bastante influência na actividade dos Centros, na medida em que a maioria das equipas mostra participar nas iniciativas realizadas pela ANQ (reuniões conjuntas, encontro de centros), considera importantes/pertinentes as orientações que a ANQ emite todos os anos provocando mudanças na actividade, e considera o serviço do CAI como sendo de qualidade e eficaz. Estes resultados demonstram que existe uma ligação de inter-dependência e de influências entre os Centros Novas Oportunidades e a ANQ.

E para que esta Iniciativa Novas Oportunidades possa ter sucesso e qualidade, é vital que haja uma ligação forte e coesa entre a ANQ e cada um dos Centros Novas Oportunidades. Tendo em consideração que existem cada vez mais centros no país, é essencial que essa relação continue a ser fomentada. Foi nesta perspectiva que pensei na questão de partida para este estágio curricular, de forma a perceber como os Centros desenvolvem o seu trabalho e enfrentam os diversos desafios, e como a ANQ apoia esse trabalho.

ACTIVIDADE Nº2 – Gestão de Inscritos

Esta actividade, tal como a anterior, foi-me proposta pela Dra. Manuela. Inicialmente, a ideia era que eu a realizasse com outra colega da equipa, Filomena Guerra, mas com o passar do tempo a colega teve de focar a sua atenção noutra tarefa, pelo que fiquei apenas eu a realizar esta actividade, gozando de alguma liberdade e autonomia.

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65 Era pedido que se fizesse o ponto de situação relativamente à gestão de inscritos nas várias regiões do país. Alguns centros não estão a dar qualquer resposta a alguns dos seus inscritos – ou seja, embora já inscritos no centro há mais de três meses, muitos adultos não tinham ainda agendado qualquer sessão com a equipa do centro. A gravidade do problema torna-se evidente se considerarmos que em 30 de Setembro de 2008 existiam 140.604 candidatos inscritos segundo os registos do SIGO (Sistema Integrado da Gestão das Ofertas Educativas e Formativas)43 e destes perto de 115 mil aguardavam por um contacto do Centro há mais de 3 meses. São números impressionantes e, por isso, para tentar resolver esta situação, ou pelo menos, fazer com que os adultos inscritos não ficassem sem qualquer notícia por parte do centro onde se inscreveram, a ANQ enviou um e-mail, em Outubro de 2008, a todos os centros com um ficheiro onde constava os nomes de todos os adultos que se encontravam nesta situação acima referida44. Solicitou-se então aos centros que contactassem os adultos inscritos – e que ainda não tinham agendado qualquer sessão – para que, ou fosse agendada o mais rapidamente possível ou para informar o adulto da situação de espera do centro. Depois desse contacto, pediu-se que remetessem novamente o ficheiro para a equipa Informação, Atendimento e

Acompanhamento com o resultado desse contacto.

Importa notar que esta Iniciativa Novas Oportunidades é bastante complexa, e que pressupõe um grande esforço por parte dos Centros, na medida em que nem sempre têm capacidade de resposta para todos os adultos que querem aumentar ou ver reconhecidas as suas qualificações. E, apesar de existirem cada vez mais centros, o número de adultos que se inscreve também tem vindo a aumentar exponencialmente nos últimos 2, 3 anos. Com a campanha lançada em 2008 para promover a adesão de mais adultos à Iniciativa Novas Oportunidades com o objectivo de aumentar ainda mais o número de inscrições, percebemos imediatamente que esta situação tem tendência a piorar. Desta forma, os Centros Novas Oportunidades têm que encontrar mecanismos e estratégias para resolver a situação ou pelo menos minimizar estes casos.

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Plataforma informática utilizada por toda a rede nacional de Centros Novas Oportunidades e pela Agência Nacional para a Qualificação, I.P. Ver imagem ilustrativa no Anexo 3.

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66 Portanto, esta actividade consistiu em analisar os ficheiros que foram remetidos à ANQ com os resultados do contacto do Centro com os adultos. Para facilitar a leitura e análise, os centros estavam divididos pelas seguintes regiões: Lisboa, Norte, Centro, e Alentejo e Algarve.

Depois de discutida com a Dra. Manuela a melhor forma de fazer o ponto de situação para cada centro, de cada região, chegou-se a um acordo que seria elaborar uma codificação de 1 a 5 para classificar as diversas situações para cada adulto, já que foram imensos os tipos de justificação dados pelo Centro para o facto de não se ter agendado sessão com o adulto. Essa codificação teve também em consideração a data do e-mail enviado pela ANQ (Outubro de 2008). Assim, a codificação utilizada foi:

- O valor “0” correspondeu às situações onde já havido sido marcada uma sessão com o adulto antes de o e-mail ter sido enviado pela ANQ (até início de Outubro); - O valor “1” correspondeu a um “falso inscrito”, ou seja, a adultos que desistiram ou a adultos que não responderam aos contactos consecutivos dos Centros, e que ainda não estavam actualizados no SIGO;

- O valor “2” correspondeu a adultos que foram contactados num espaço de 1 mês após o e-mail enviado pela ANQ (até 1ª quinzena de Novembro);

- O valor “3” correspondeu a adultos que foram contactados 2 meses depois do e- mail enviado pela ANQ (até 1ª quinzena de Dezembro);

- O valor “4” correspondeu a adultos que foram contactados 3 ou mais meses depois do e-mail enviado pela ANQ (até 1ª quinzena de Novembro);

- O valor “5” correspondeu a casos em que não foi definida data para a sessão, embora tenha havido contacto do Centro com o adulto;

- Assinalado a amarelo, de forma a ficar bem visível, ficaram as situações de adultos que foram encaminhados ou de adultos que já estão certificados;

- A designação “em actividade” correspondeu a casos em que o adulto já se encontrava em processo/diagnóstico/reconhecimento, sem referência a data.

O início desta actividade foi muito atribulado, já que cada Centro redigiu a informação das mais variadas formas, o que dificultou a inserção de determinadas situações nas categorias criadas. Só esta incerteza levou-me imenso tempo para avançar na actividade, pelo que a própria codificação teve de ser algumas vezes reformulada para poder contemplar todo o tipo de situações.

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67 Com um universo de mais de 450 Centros Novas Oportunidades, é natural que esta tenha sido das actividades que mais tempo demorou a terminar. Mas com a sua realização, consigo agora conhecer melhor os centros que existem nas várias regiões, bem como descortinar algumas situações menos positivas por parte dos centros, já que alguns continuam repetidamente a ter uma lista de espera enorme de adultos que querem iniciar o processo e que ficam mais de três meses sem ter qualquer notícia do centro. Contudo, apesar de haver adultos que querem iniciar o processo de uma forma célere, apareceram também imensas situações de “falsos inscritos”, o que significa que muitos desses adultos não mostram qualquer interesse em realizar uma sessão, ficam incontactáveis ou acabam mesmo por desistir.

Outra das situações mais frequentes nos centros é a ocorrência de imprevistos (menos horário disponível para o processo, doença, etc.) que provocam uma suspensão no processo. Em muitos destes casos fica acordado que o adulto, mal tenha disponibilidade, contacta o centro a fim de marcar nova sessão.

Compreende-se então que os Centros Novas Oportunidades têm em mãos um grande desafio que é preciso enfrentar e encontrar as melhores estratégias para o resolver. Tendo em conta que cada Centro tem as suas metas para atingir, é fácil de perceber a frustração com que muitas das equipas técnico-pedagógicas enfrentam para tentar aliciar os seus inscritos a realizarem sessões e a avançar com o seu processo. Ainda mais porque hoje os objectivos preconizados pela Iniciativa Novas Oportunidades são facilmente vistos como simples metas quantitativas e, quando os Centros adoptam esta maneira de ver a iniciativa, põem em risco a dimensão educativa do processo e tornam-no num processo que favorece o facilitismo (Melo, 2007:193).

É por isso importante ver como cada Centro está a gerir os seus inscritos, sendo que os objectivos a que me propus para esta actividade prendem-se com o saber se existem, actualmente, muitos centros com inscritos à espera de realizarem sessão, e conhecer as diferenças que existem de região para região.

Com os ficheiros que pude analisar e, posteriormente, codificar, fiquei bastante surpreendida com a quantidade de inscritos que ainda não tinham realizado qualquer sessão num período superior a três meses após inscrição. Existem, em todo o país,

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68 76799 indivíduos45 inscritos nesta situação. Deste total, podemos ver diferenças entre as quatro regiões, com a região de Lisboa e a região do Norte a assumirem um papel de destaque. Lisboa tem um total de 22337 inscritos sem ter realizado qualquer sessão há mais de três meses, enquanto o Norte tem 32913 inscritos. Com números mais baixos temos a região do Centro com 12545 e a região do Alentejo e Algarve com 9095 inscritos nesta situação. Contudo, de notar que, apesar de constituírem número elevados, não podemos considerá-los sem compará-los com os números totais de inscritos para cada região naquele momento46.

Só para dar um exemplo, Lisboa tem Centros Novas Oportunidades com 500 ou, até em alguns casos, cerca de 1000 inscritos nesta situação. Como é que um Centro Novas Oportunidades não consegue dar resposta a 1000 indivíduos? E, por outro lado, se um Centro tem 1000 inscritos que ainda não realizaram qualquer sessão há mais de três meses, que número apresentará relativamente às pessoas que já estão com o seu processo mais adiantado? O facto de um centro ter 500 ou mesmo 1000 inscritos nesta situação pode significar que a equipa técnico-pedagógica não está a conseguir dar resposta aos restantes indivíduos de forma a conseguir realizar sessões com esses 1000 que continuam à espera, por falta de técnicos que acompanhem estes adultos ou por falta de outros recursos. Mas pode também significar que, sendo Lisboa uma zona com uma densidade populacional bastante elevada, o número de inscritos é muito superior relativamente a outras regiões e, portanto, o número de inscritos pode ser mais elevado do que aqueles que terminam o processo.

Neste exemplo de Lisboa, penso até que pode ser esse o caso. Não se pretende, como referi acima, que o processo perca a sua dimensão altamente educativa e formativa e, portanto, não pode ser reduzido a uma função quase automática de emissão de diplomas. Claro que estas são apenas algumas possíveis justificações para o facto de haver tantos adultos inscritos nesta situação, já que tive apenas acesso aos dados dos ficheiros entregues pelos Centros à ANQ, mas de acordo com o que pude ir observando durante o estágio, são justificações bastante prováveis para a maioria dos casos.

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Dados de Outubro e Novembro de 2008. 46

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69 Com esta actividade, verificamos que se podem levantar imensas questões quanto ao “porquê” de tantos inscritos à espera de realizar uma sessão. Mas será que estão mesmo à espera? Vejamos então que tipo de justificação os Centros dão para as várias situações, de acordo com os resultados do contacto com os adultos inscritos (ver tabela seguinte).

CÓDIGO