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Uma das grandes questões que envolvem o tema Feminicídio, é a relaçao coma a lei 11.340/06, como visto, Lei Maria da Penha. Ambas as leis tratam a violência contra as mulhe-

res, mas são exageradamente distintas. É evidente, que a Lei Maria da Penha foi um grande avanço na legislação e proteção as mulheres. É sabido, também, que ela possui mecanismos eficazes, porém a incógnita refere-se se a lei do Feminicídio é uma consequência da ineficácia da Lei Maria da Penha- 11.340/06. Partindo dessa premissa, deve-se elementar as alteridades de ambas as leis.

A lei 11.340/06 não estabelece tipos penais, não atribiu crime específicos, não é uma lei de caráter penal, não enquadrando em seu texto homicídios de mulheres. No entanto, esta- belece medidas protetivas, cria juizados de violência doméstica e familiar contra as mulheres, veda de modo expresso o pagamento de cesta básica e utilização da lei 9. 099/95 para os casos de violência doméstica. No âmbito penal, ela produz uma circunstância agravante genérica e no tipo penal da lesão corpora, ela disciplina a lesão corporal no ambiente doméstico.

Por sua vez, a lei do Feminicídio, alcança aqueles que cometem homicídio contra as mulheres, a lei pune o agente que mata por razão do gênero, além dos casos de menosprezo e sentimento de posse, independente se houver relação de afeto entre o agressor e a vítima.

Muitos doutrinadores apontam a lei do Feminicídio como o esgotamento das possibili- dades preventivas e repressivas contra a violência contra as mulheres, sendo de fato a “ponta do iceberg”., porém há aqueles que afirmam que são leis extremamente distintas e ambas sal- vaguardam as mulheres. Desse modo, é sensato a análise de dados e fatos para alcançar uma conclusão.

Antônio Lacerda, Roberta Lima e Wanderson Lacerda aduz:

Uma lei para que seja considerada válida e relevante para a sociedade deve representar a máxima de aplicação e eficiência, a Lei Maria da Penha é uma das leis mais bem ela- boradas da nossa legislação, tendo até sido reconhecida pela ONU como uma das três melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência contra as mulheres, en- tretanto, o que sobra em tese, falta em aplicação. A execução da redação legal dessa lei ainda é ineficaz para o que se tem em mente de quem as buscam. Em 2013 o Senado divulgou em seu jornal que diante das estatísticas é possível dizer que a cada quinze segundos uma mulher é agredida, a cada duas horas uma é assassinada, nas últimas três décadas noventa e duas mulheres perderam a vida sendo vítimas de violência domésti- ca. Alerte-se ainda, que esse número é grandiosamente maior, visto que as pesquisas são realizadas através de fatos que venham a ser oficializado através da denúncia, o que não representa a maioria. Ainda é grande a quantidade de mulheres que por inúme- ras razões não buscam a justiça para ver-se processada e julgada sua lide (LACERDA, LIMA, LACERDA, 2018).

Nucci afirma que a violência doméstica é tratada com irresponsabilidade, não sendo eficaz pela banalidade a esse tipo de violência:

Voltando ao básico, ninguém, no Brasil, conseguiu resolver o problema penal da Lei Maria da Penha: as penas dos crimes mais praticados contra as mulheres são pífias (ameaça e lesão leve). Entretanto, o problema social é imenso. Um recado ao legisla-

dor: nunca haverá eficaz aplicação de qualquer medida efetiva de contenção da violên- cia doméstica enquanto a ameaça tiver uma pena ínfima de 1 a 6 meses de detenção ou multa, nem quando a lesão leve tiver pena de detenção de 3 meses a 1 ano. Pior, quan- do lesão for qualificada pela violência doméstica, tiver pena mínima de 3 meses de de- tenção (embora a máxima atinja 3 anos), estaremos no campo da ilogicidade (NUCCI, 2018).

Sendo possível identificar uma divisão doutrinária tratando a Lei Maria da Penha co- mo ineficaz por si só ou por influência da aplicação feita pelo os magistrados. Não tendo toda atenção e relevância, como merece. Outrossim, é preciso destacar que o medo das vitimas consequentemente inibem as denúncias, sendo assim reflete na eficácia da aplicabilidade da lei.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante estudo histórico, social e jurídico proposto no presente trabalho, foi possível a identificação da violência contra a mulher de uma maneira mais cristalina e específica, sen- do analisada as modalidades, características, conceitos e afins para o melhor entendimento.

Infelizmente, a inferioridade e o menosprezo ao sexo feminino é uma realidade, atu- almente, possuindo consequências extremas e desumanas como a violência. Há veracidade no que diz respeito a banalidade em aplicação de medidas e punições no caso de violência contra a mulher.

Foi imprescindível o estudo aprofundado na Lei 11.340/06 que fora analisado as ca- racterísticas da norma, não sendo caracterizada como norma penal e sim especial, se limitando quando a mulher vem a óbito. Em seu texto, é visível os mecanismos e a excelente intenção da lei em coibir a violência doméstica e familiar contra as mulheres, entretanto, o medo das vítimas em denunciar o seu agressor reflete muito em sua aplicabilidade e eficácia.

Outro fator indispensável para a análise da eficácia da Lei Maria da Penha é a pena, sabe-se que um dos avanços da lei foi o veto do pagamento de cesta básica, onde taxava mais uma vez, a banalidade a violência contra a mulher. Porém, mesmo com esse avanço, a pena em si não é suficiente para impor de forma repressiva o ato de violência contra a mulher. So- mando mais um ponto negativo referente a efetividade da lei.

A irresponsabilidade e resistência dos julgadores de identificar a violência contra a mulher, também é um fato que pode ser apontado, porém, essa realidade mudou muito após a vigência da lei 11.340/06.

Em seguida, houve o estudo da Lei do Feminicidio, objeto de estudo essencial no pre- sente trabalho. O estudo da Lei 13.104/15 traz as modalidades, diferenciando da Lei Maria da Penha, cuja relação de agressor e vítima não é necessária. Além disso, é apresentado todas as formas de conceito para identificação do crime de Feminicídio e a devida classificação de crime cometido em razão do gênero, em razão de ser mulher.

A respeito da natureza da qualificadora do Feminicídio, é identificado discussões dou- trinárias, de acordo com o entendimento dos Tribunais de Justiça e do Superior Tribunal de Justiça, esta possui ordem objetiva. Todavia o melhor entendimento, seria qualificadora de natureza subjetiva, por estar relacionada a motivação da vitima ser do sexo feminino.

Outro debate presente é sobre o Feminicídio ser caracterizado como um simbolismo penal. É notório, que os índices de violência contra as mulheres diminuíram desde a criação da Lei 13.104/15, porém os dados acompanham os fatos. Sendo assim, defende-se que a Lei do Feminicídio de certa forma relaciona-se ao Direito Penal Simbólico, pois emana um im- portante discurso levando em consideração assunto pouco debatido. Por outro lado, possui relação com o simbolismo penal, pois foi criado em meio ao caos de violência contra a mu- lher, foi criado para suprir uma necessidade, para atender o clamor social.

Claramente, foi analisado avanços com a tipificação penal, todavia, é importante acen- tuar que com o extremismo de seu texto, não alcançou avanços em excesso, sendo o principal dele a visibilidade do crime de Feminicídio.

Com isso, é notório que o Feminicídio surgiu devido a ineficácia da Lei 11.340/06- Maria da Penha, lei a qual não foi suficiente para coibir com a violência contra as mulheres, no entanto, mesmo o Feminicídio ter diminuído os índices de violência ele não atinge um re- sultado esperado. A intenção do Legislador com a criação do Feminicídio é justa, porém na prática não se relatiza com justiça.

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