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Ferramentas da qualidade para segurança de alimentos em serviços de alimentação

3. Canais de distribuição de serviços de alimentação

3.4 Ferramentas da qualidade para segurança de alimentos em serviços de alimentação

As ferramentas da qualidade já estão estabelecidas e são recomendadas por órgãos nacionais e internacionais (BRASIL, 2004; FAO, 2003, 2004, 2006a; FDA; 2006a, 2006b; WHO, 1999). Essas ferramentas são as Boas Práticas e o Sistema de Análise de Pontos Críticos de Controle (APPCC).

No Brasil, para serviços de alimentação, a Resolução da Diretoria Colegiada n° 216, de âmbito federal e caráter obrigatório, define as Boas Praticas de Fabricação (BPF), assim como os procedimentos operacionais padronizados (POP) que devem ser contemplados: higienização de instalações, móveis, equipamentos e utensílios, controle integrado de

vetores e pragas urbanas, higienização do reservatório de água, higiene e saúde dos manipuladores (BRASIL, 2004).

A primeira etapa para implantar as BPF é a realização de um diagnóstico, se a empresa já está estabelecida, a partir da aplicação de uma lista de verificação visando avaliar as não conformidades no processo (BRASIL, 2004). Com base nos resultados será possível elaborar planos de ação para saná-las (GENTA; MIKCHA; MATIOLI, 2009). A lista de verificação comumente empregada é a contida na RDC n° 275 (BRASIL, 2002), adaptada para serviços de alimentação uma vez que foi desenvolvida para indústria de alimentos.

No Estado de São Paulo, em 2013, foi publicada a Portaria CVS 05/2013, a qual aprova Regulamento Técnico, que estabelece os Parâmetros e Critérios para o Controle Higiênico-Sanitário em Estabelecimentos de Alimento, revogando as portaria CVS n° 6 de 1999 e a CVS n° 18 de 2008. A Portaria apresenta como inovação um Roteiro de Inspeção com a citação dos artigos referentes a cada item de avaliação e os quesitos de Boas Práticas, no qual a autoridade sanitária se fundamenta para fazer a avaliação do risco sanitário e concluir sobre a condição sanitária do estabelecimento inspecionado (SÃO PAULO 2013a).

Além dos atos normativos citados, em 28 de fevereiro de 2014, a Agência Nacional de Vigilância-Sanitária (AVISA) disponibilizou para consulta pública a Resolução que visa regulamentar a prestação de serviços de alimentação em eventos de massa. A justificativa para o regulamento está relacionada à inclusão do Brasil na agenda internacional de grandes eventos (Copa do Mundo da FIFA de 2014 e as Olimpíadas de 2016). Para o setor saúde, os eventos de massa representam um desafio de regulação tanto pela questão da temporalidade, que implica a instalação de serviços transitórios e adaptados, como também por um aumento circunstancial de pessoas que tendem a estressar a capacidade instalada dos órgãos de vigilância e assistência à saúde. Visando minimizar esses problemas a nova Resolução tem como objetivo obter informações prévias para identificar os agentes que atuarão no evento e avaliar os riscos envolvidos, para definir as ações de controle. Nesse processo regulatório, os organizadores de eventos ou as empresas por eles contratadas têm um papel essencial, pois além de serem a fonte para a maioria das informações requeridas pela vigilância sanitária, também têm papel determinante no provimento das condições estruturais aos prestadores de serviço (BRASIL, 2014a, 2014b). A Resolução foi aprovada e publicada no Diário Oficial da União no dia 5 de junho de 2014 como RDC n° 33/2014 e estabelece as responsabilidades para a prestação de serviços de alimentação em eventos de massa (BRASIL, 2014b). Essa iniciativa é de suma importância considerando que comumente são observados casos de surtos alimentares em eventos desse gênero.

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O sistema APPCC, é a base científica e sistemática para identificar perigos e medidas de controle para garantir a segurança dos alimentos a partir da prevenção. Essa ferramenta pode ser aplicada em todas as etapas da cadeia alimentar e se adapta a mudanças, tais como avanços no design dos equipamentos, procedimentos, processamento ou desenvolvimentos tecnológicos. (FAO, 2001, 2004)

Para desenvolver o plano APPCC é necessário que todos os envolvidos com o programa estejam conscientes das características do sistema, do compromisso e responsabilidade perante o mesmo e que sejam treinados sobre as práticas que serão realizadas. Essa ferramenta é utilizada por diversos países, entretanto, para serviços de alimentação ainda não é obrigatória, embora algumas empresas o adotem. A implantação do APPCC em qualquer processo de produção de alimentos envolve diferentes fases, iniciando pela análise dos perigos. Esta consiste na avaliação de todas as etapas envolvidas na produção de um alimento, desde a obtenção das matérias-primas até o uso pelo consumidor final, com a finalidade de identificar fontes potencias de ocorrência de perigos, avaliar a permanência ou agravamento dos mesmos durante o processo assim com a sua severidade. Deve-se ressaltar, dado o caráter dinâmico dos processos de obtenção de alimentos, que o desenvolvimento adequado do APPCC depende, fundamentalmente, do monitoramento frequente dos pontos críticos, através de análises laboratoriais, observações ou mensurações periódicas devidamente registradas, que permitam avaliar se um Ponto Critico de Controle (PCC) está ou não sob controle (FAO, 1998).

Os principais benefícios da implantação do sistema são a garantia da segurança do alimento, diminuição dos custos operacionais pela redução substancial da necessidade de recolhimento, destruição ou reprocessamento do produto final por razões de segurança, diminuição da necessidade de testes dos produtos acabados, no que se refere à determinação de contaminantes, redução de perdas de matérias-primas e produtos, maior credibilidade junto ao cliente (consumidor) e a maior competitividade do produto na comercialização (CASTRO et al., 2002; DOMÉNECH et al., 2011; FAO, 2003; FORSYTHE, 2002; GARAYOA et al., 2011, 2014).

As dificuldades na adoção de ferramentas da qualidade (BPF e APPCC) são verificadas em diversos tipos de serviços de alimentação em diferentes países, inclusive no Brasil. É evidente que apoios governamentais, regulamentos vigentes e os órgãos de fiscalização servem de apoio às empresas. Todavia, esse apoio não é suficiente para garantir a produção de alimentos inócuos. Esforços conjuntos devem ser tomados para viabilizar a

adoção dessas ferramentas em serviços de alimentação. A primeira necessidade a ser suprida deve ser em relação à formação e capacitação dos profissionais atuantes na área, pois, atualmente, a baixa capacitação técnica e as práticas inadequadas de higiene são as razões que geram os maiores riscos à saúde dos consumidores. Por isso, na formulação de programas públicos voltados a segurança de alimentos é de suma importância que sejam consideradas as características dos serviços existentes, o porte fiscal e o público consumidor. Além disso, é preciso conscientizar empresários e gerentes que a adoção dessas ferramentas auxilia, fortalece e credencia a empresa junto ao mercado, aumentando sua competitividade. Ademais, proporcionam a formação de seus colaboradores, estabelecendo um processo de melhoria contínua dos seus serviços. Para desenvolver treinamentos aos manipuladores de alimentos devem ser consideradas suas características de formação, crenças racionais e irracionais e suas percepções de risco referente à produção de alimentos seguros. Isso permitirá desenvolver programas de treinamentos contínuos, bem elaborados e com número de horas suficiente para formar um conhecimento estruturado e sólido, visando desenvolver atitudes e práticas que tornem viáveis a implantação destas ferramentas para garantia da produção de alimentos inócuos à saúde dos consumidores. (BAS; ERSUN; KIVANC, 2006; BRASIL, 2002, 2004; FAO, 2003, 2004; FDA, 2006a,2006b; LUNING et al., 2013a; SENAI, 2014; WU, 2012).

A baixa capacitação técnica de manipuladores e o número elevado de não conformidades encontradas nos estabelecimentos de serviços de alimentação também estão ligados à formação deficiente dos profissionais da área nas instituições de ensino. As instituições muitas vezes abordam o tema de forma insuficiente e pouco coordenada. Os alunos são formados com baixo nível de conhecimento das práticas de higiene sanitária, dos regulamentos legais, e sobre as operações, conceitos e funcionalidade das ferramentas da qualidade e sua aplicação para segurança dos alimentos (GIRITLIOGLU; BATMAN; TETIK, 2011). Com a formação de profissionais pouco capacitados e treinados, torna-se difícil o recrutamento adequado pelas empresas, que por sua vez, devem adotar uma política criteriosa e profissional para assegurar os melhores recursos humanos visando reduzir as falhas operacionais e os riscos à saúde. Entretanto, como existem essas lacunas, é imprescindível que as empresas desenvolvam políticas voltadas à Gestão da Segurança dos Alimentos e estabeleçam treinamentos estruturados, com o objetivo de formar seus profissionais e suprir a falta de profissionais capacitados (BOLTON et al., 2008; CAVALLI; SALAY, 2007; MEDEIROS et al., 2011; HEDBERG et al., 2006; SZABO et al., 2008; VAN TONDER; LUES; THERON, 2007).

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