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3. Canais de distribuição de serviços de alimentação

3.6 Percepção de risco

A percepção pode ser definida como o resultado da interação de dois tipos de dados: os estímulos físicos do ambiente exterior e os estímulos internos, que se constituem em predisposições (envolvendo expectativas, motivações e aprendizagem) com base em experiência prévia. Tendo em vista que cada pessoa apresenta experiências, necessidades, vontades e expectativas únicas, as percepções de cada indivíduo também são singulares (SCHIFFMAN; KANUK, 2000).

O Codex Alimentarius define risco como a função da probabilidade de ocorrência de um perigo e da severidade da ocorrência do mesmo (FAO; WHO, 2007). Outra definição semelhante pode ser representada por um perigo mais ou menos definido ou a probabilidade de perigo geralmente com ameaça física para o homem ou ambiente (FONSECA, 2004, PERES et al., 2001; HOUAISS, 2002). Sua acepção mais fortemente aceita na literatura que trata dos problemas delimitados pelos campos da saúde, trabalho e ambiente é a composição de pelo menos dois dos três seguintes componentes: a) potencial de perdas e danos; b) a incerteza da perda ou dano; c) a relevância da perda ou dano. A percepção de risco sugere que os indivíduos estão sujeitos a vieses cognitivos (SLOVIC, 1987), de modo que os riscos percebidos são muitas vezes incompatíveis com as informações do risco objetivo. Várias explicações têm sido dadas para isso, por exemplo, a presença de alguma irracionalidade no comportamento dos indivíduos (ARROW, 1982) e a falta de informação (VISCUSI, 1990). No entanto, estes resultados se aplicam às áreas onde as percepções subjetivas de risco podem ser estimadas e comparadas com informações de risco "objetivo" (por exemplo, a existência de evidências epidemiológicas).

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Wejnert (1996) cita que três aspectos da realidade atuam como mediadores entre a percepção do risco e o comportamento - as características individuais e socioculturais e as características práticas. Outros autores como Wolpert (1996) e Lion et al.(2002) acrescentam que a discrepância entre a percepção do risco e o comportamento do indivíduo ou da coletividade pode estar também relacionada ao sentimento de controle sobre a realidade percebida.

Em pesquisa realizada por Slovic (1987) sobre a percepção de risco pela aplicação do

“paradigma psicométrico”, foi constatado que leigos não são apenas influenciados na

avaliação do risco e perigos potenciais por estimativas técnicas (que são a base para avaliações formais de risco), mas também por fatores psicológicos, como se eles percebessem que estão involuntariamente expostos a um perigo, ou à medida que eles acreditam que um determinado perigo é potencialmente catastrófico e incontrolável. Slovic (1987) e Frederick, Loewensteing, O' Donoghue (2002) argumentam que, se as possíveis consequências de um perigo para a saúde estão mais próximas no tempo, o risco será mais fácil de visualizar e, portanto, a sensação de perigo será intensificada.

De acordo com Leikas et al (2007) os riscos são percebidos de duas formas diferentes, afetiva e racionalmente. A percepção do risco também está relacionada entre a interação da personalidade do individuo e o gênero, por exemplo, traços da personalidade como a ansiedade, tendem a aumentar a percepção dos riscos mais em homens do que em mulheres. O estudo da percepção de risco tem fornecido informações importantes que vêm subsidiando a elaboração de políticas públicas, fornecendo uma base para o entendimento e antecipação dos indivíduos em situações de perigo (SLOVIC, 1987; YEUNG; MORRIS, 2001). Além disso, vem auxiliando e orientando programas educacionais visando desenvolver treinamentos e materiais mais adequados para a segurança dos alimentos (BADRIE; JOSEPH; CHEN, 2004). Por isso, programas públicos de educação são essenciais para a conscientização tanto dos agentes envolvidos (manipuladores de alimentos) como para os consumidores. Especificamente, esses programas educacionais devem orientar as práticas de segurança dos alimentos, a fim de proporcionar a elucidação dos riscos objetivos (racionais), relacionado às práticas de higiene dos alimentos e os riscos a saúde.

Os consumidores ao escolherem um estabelecimento para compra de produtos ou serviços alimentares utilizam-se de estratégias visando minimizar os riscos percebidos (ESTADOS UNIDOS, 2014a). O uso das estratégias de redução de risco varia de acordo com o tipo de produto ou serviço, situação de compra e tipo de risco (YEUNG; YEE, 2003).

A literatura evidencia que a percepção de risco para aquisição de serviços é maior quando comparada a aquisição de produtos. As diferenças na percepção dos níveis de risco podem ser justificadas, pois os serviços de alimentação são menos tangíveis e padronizados do que os produtos industriais. Por isso, na escolha para aquisição de produtos ou serviços, são levados em consideração pelo consumidor, a reputação do local de compra, a experiência prévia e a recomendação de amigos e familiares (YEUNG; MORRIS, 2001; MELLO et al. 2005). Sendo assim, a análise da percepção de risco torna-se, então, importante, tendo em vista que esta pode influenciar o comportamento do indivíduo (SLOVIC, 1987).

Destaca-se ainda, que em estudos de autorrelato (como avaliação da percepção de riscos) são indicados a análise da desejabilidade social, que é um viés de medição (HÉBERT et al., 2008; MILLER et al., 2008; PAULHUS, 1991). A desejabilidade social consiste na tendência do indivíduo em conferir respostas que satisfaçam normas sociais (EDWARDS, 1953), e pode ser identificada por meio de escalas, como a de Crowne e Marlowe (CROWNE; MARLOWE, 1960).

A maioria dos comportamentos e traços da personalidade dos indivíduos é avaliada culturalmente e, dependendo da cultura na qual estão inseridos, algumas condutas comportamentais podem ser consideradas mais desejáveis do que outras (SCHMITT et al., 2007) assim como, opiniões, valores e atitudes também estão sujeitos às normas e sanções sociais (SCHMITT; STEYER, 1993).

Meston et al. (1998) explicam que pesquisas podem ser influenciadas indiretamente por "avaliações culturais" dos comportamentos estudados, devido à utilização do autorrelato como fonte de informações e, alguns comportamentos podem ser especialmente difíceis de obter informações "verdadeiras". A desejabilidade social pode ser entendida como um traço da personalidade do individuo, e por isso, métodos tem sido desenvolvidos para quantificar o grau de uma resposta socialmente desejável, que permita identificar e minimizar vieses de medição sobre pesquisas de autorrelato. (KURTZ; TARQUINI; IOBST, 2008; MCCRAE, 1986; MCCRAE; COSTA, 1983)

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4 MATERIAL E MÉTODOS